quinta-feira, 14 de julho de 2016

Brasil. ESTADO DECLARA QUE AS OLIMPÍADAS OCORRERÃO BEM. MAS E DEPOIS?



A terrível situação financeira do Rio de Janeiro ofuscou as preparações para a primeira Olimpíada da América do Sul, que terá sua abertura em 5 de agosto.

Dom Phillips, The Washington Post - Carta Maior

RIO DE JANEIRO — O estado do Rio está tão quebrado que está vendendo a residência de verão do governador e a pequena ilha em que está situada. Mas, por causa de um resgate recente do governo federal, as Olimpíadas de verão ocorrerão bem, dizem oficiais.

O problema é o que irá acontecer depois dos Jogos.

“Um medida isolada não resolve os problemas do estado”, disse Leonardo Espíndola, chefe de gabinete do governador. “A crise afeta todos os setores.”

A terrível situação financeira do governo do estado ofuscou as preparações para os primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul, que terão sua abertura em 5 de agosto. Esta em andamento um déficit de cerca de $6 bilhões ao ano, disse Espíndola em uma entrevista na quinta-feira, e pulou de uma crise para outra desde o ano passado, quando os hospitais do estado estavam sem suprimentos básicos. 

Lutando para pagar salários e pensões e para manter as entidades publicas operando, representantes se voltaram para uma retórica apocalíptica para tirar dinheiro do governo central e reverter um desastre nas Olimpíadas.

Em abril, Espíndola avisou sobre um “colapso social” iminente. Em junho, o governador em exercício, Francisco Dornelles, representando o governador Luiz de Souza, que está passando por tratamento de câncer, declarou “estado de calamidade pública na administração financeira”. Espíndola disse que a ação de Dornelles foi decisiva para a concessão de $870 milhões do governo federal que, combinados com medidas de austeridade, estabilizaram a situação.

Agora, representantes dizem que tudo está em seu devido lugar para que o Rio sedie um Olimpíada memorável – no entanto, muitos analistas duvidam até disso. A maior parte do resgate federal foi usado para cobrir gastos de segurança e pagar salários da polícia, bombeiros e agentes penitenciários. Menos de um mês antes do início dos Jogos, alguns centros de saúde emergenciais reduziram suas horas e estão batalhando para pagar fornecedores. Os professores estão em greve. Policiais e bombeiros já protestaram duas vezes no aeroporto internacional do Rio, alertando que a segurança dos visitantes não pode ser garantida e protestando por salários não pagos.

Residentes em algumas áreas doaram papel higiênico, produtos de limpeza e até combustível à batalhões da polícia que estão sem suprimentos, disse Fernando Bandeira, diretor de um sindicato de investigadores. “Essas condições são um pouco precárias,” ele disse.

Um sargento de polícia recentemente aposentado, que falou em anonimato por causa da delicadeza dos assuntos, disse que as Olimpíadas não serão seguras para os visitantes mesmo com o envio de 85.000 soldados e policiais.

Ao invés, ele disse, comandantes locais podem escolher lidar com as gangues armadas que controlam muitas das comunidades de baixa renda, chamadas de favelas, onde muito do crime está concentrado. Se os traficantes reduzirem o numero de assaltos na área, ele disse, a polícia deixa o tráfico em paz.

“Isso acontece”, ele disse. “’É a prática.”

Enquanto isso, alguns residentes cariocas já estão usando um novo aplicativo de celular divulgado pela filial da Anistia Internacional no Brasil para evitar lugares que ocorreram tiroteios. É chamado de Fogo Cruzado.

“A preocupação, no entanto, é que mesmo que os Jogos aconteçam calmamente, o desastre foi meramente adiado. Outro sargento de polícia, também no anonimato, caracterizou o resgate como uma medida de curto prazo e com alvo na segurança.

“Isso é para nós trabalharmos durante as Olimpíadas, para nos calar”, ele disse. “Não sabemos o que vai acontecer depois”.

Espíndola reconheceu, dizendo que cortes de gastos e resgates do governo são “medidas paliativas” e que maiores mudanças estruturais são necessárias, incluindo leis que permitam que o estado reduza o sistema de pensões.

As generosas leis de pensão brasileiras permitem que todos os servidores públicos se aposentem aos 50 anos, prejudicando muitos estados que já enfrentam dificuldades financeiras. O Rio tem mais pessoal aposentado do que trabalhando, disse Espíndola, e seus custos representam mais da metade do déficit. Mas o Rio está pior que os outros, de acordo com José Afonso, pesquisador do Instituto de Economia da Fundação Getulio Vargas, porque também depende fortemente do rendimento fiscal da produção de petróleo – e os preços do petróleo baixaram.

Uma crise de corrupção gigantesca na companhia de petróleo estatal Petrobras, sediada aqui, também reduziu a construção de plataformas de petróleo e equipamentos e atingiu companhias fornecedoras no Rio, com um efeito em cadeia para o estado.

A receita fiscal de petróleo do Rio caiu de um quinto de sua renda para 10% em dois anos, disse Afonso.

O estado também foi atingido pela recessão que está atingindo o país como um todo, a pior em décadas. O presidente interino Michel Temer, colocou as medidas de austeridade como plataformas principais depois de tomar o lugar de Dilma Rousseff, que está suspensa do cargo esperando um julgamento controverso de impeachment.

“O cenário é sombrio para os próximos anos”, disse Afonso.

Para visitantes e atletas que ficam nas principais áreas Olímpicas, a crise do Rio só será visível se ficarem doentes ou forem vítimas do crime.

Os centros emergenciais de saúde do estado viram o orçamento quase reduzir à metade, disse Rubem Fernandes, diretor do grupo sem fins lucrativos, Viva Rio, que gerencia seis deles.

“Reduzimos o número de médicos, enfermeiras e assistentes”, disse Fernandes. “Mas temos mais filas”.

No entanto, o governo federal contratou 2,500 profissionais médicos extras para os Jogos do Rio, baseados em seis hospitais federais. Dois hospitais estaduais foram tomados pelo governo da cidade, que é responsável pela maior parte dos locais Olímpicos e está em melhor forma financeira.

Alguns críticos dizem que a corrupção influencia a bagunça financeira do Rio. Um colaborador chave no escândalo da Petrobras acusou ambos ex-governador do Rio, Sérgio Cabral e o ex-deputado e sucessor, o aliado de Souza, de suborno no valor de milhões de dólares em contratos para uma refinaria de petróleo.

Outros colaboradores disseram que Cabral, que governou o Rio até 2014, recebeu propinas em contratos para a nova linha de metrô do Rio de $2.7 bilhões. Ambos negaram as acusações.

Cerca de $90 milhões do recente resgate federal foram para o término da linha, financiada com empréstimos dos governos brasileiro e francês e programada para ser inaugurada com atuação limitada apenas quatro dias antes dos Jogos. Alguns experts sobre transporte disseram que isso deixa pouco tempo para testes com passageiros. Os documentos de licitação prometeram a linha para 2014.

“A construção deveria estar completa”, disse Paulo Ribeiro, professor de engenharia do transporte da Universidade Federal do Rio. “Como não está, espero que esteja segura”.

Alexandre Rojas, professor de engenharia do transporte da Universidade Estadual do Rio, disse que normalmente os testes durariam dois ou três meses. Mas disse que a linha teria garantias de segurança de padrão internacional.

O secretariado de transporte do Rio disse que a linha será operada manualmente durante os Jogos e acessível somente a passageiros com credencial Olímpica e ingressos dos eventos. Será fechada durante as Paralimpíadas que seguirão e será iniciado um serviço automático em Setembro por quatro horas ao dia.

A situação acerca da linha do metrô é um sinal de como, longe das fabulosas novas instalações, o Rio pode passar raspando pelas Olimpíadas, separando os visitantes dos seus moradores pobres.

Outro sinal veio em quatro de julho, quando o prefeito Eduardo Paes, inaugurou a terceira linha BRT da cidade, ligando as áreas dos Jogos ao resto da cidade. Conecta a Barra da Tijuca, um bairro no oeste da cidade, a um segundo núcleo Olímpico em Deodoro, na zona oeste, passando por favelas e bairros de baixa renda.

“Isso muda a vida das pessoas”, disse Paes. Ele disse que a crise financeira do estado e as preocupações com a segurança “não são um problema”.

Como a nova linha do metrô, essa BRT estará disponível durante os Jogos somente àqueles com credenciais Olímpicas e ingressos. Para o resto da população, o acesso virá depois, assim como a ressaca pós-Olímpica – isso, se o estado conseguir financiamento para terminar o trabalho na linha do metrô.

Créditos da foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

BRICS PREPARAM-SE PARA UM “BRAEXIT”: ADEUS, BRASIL!



"Só para lembrar: a última vez que os EUA instalaram governo fantoche foi em 2014, quando, em mais um "golpe sem derramamento de sangue" (sic), derrubaram o presidente da Ucrânia e lá instalaram um bilionário oligarca. É cenário comparável ao do Brasil, em 2016" (Zero Hedge, 13/5/2016).

É possível que o novo governo pró-EUA no Brasil force uma "Braexit" e derrube a muralha que protege os BRICS? Segundo Oliver Stuenkel, professor assistente de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, "muitos (sic) brasileiros acreditam que é hora de deixar" os BRICS.

Há apenas três anos, a maior nação da América do Sul declarou quedesejava desconectar-se da Internet controlada pelos EUA, por causa da vigilância ilegal que a Agência de Segurança Nacional dos EUA sobre o país, que incluíam gravar as conversas telefônicas da (então) presidenta Dilma Rousseff. Hoje, o mesmo país, sob governo (interino) de Michel Temer, considerado por muitos em todo o mundo como informante dos EUA, tende fortemente na direção do campo norte-americano. Parece também estar-se movimentando para longe do grupo BRICS, do qual o Brasil é membro fundador.

A 'conversão' do governo brasileiro não acontece por acaso. É efeito do descomunal revide contra o Partido dos Trabalhadores de Dilma Rousseff, orquestrado por uma coalizão de direita praticamente dominada por população crescente de extremistas evangélicos. De apenas 5% da população em 1970, os evangélicos já são hoje 22% dos 200 milhões da população do Brasil. Estão a caminho de se tornarem maioria já em meados do século.

As igrejas evangélicas com conexões fortes com quartéis-generais nos EUA - e não raras vezes controladas pelas 'matrizes' - já são atores muito ativos nas eleições no país, e já conseguiram reverter várias leis sociais brasileiras progressistas. É muito provável que os fiéis dessas igrejas 'de televisão', criadas à imagem de muitas que há nos EUA, logo passem a interferir também na política exterior do Brasil. Com isso, certamente o Brasil se afastará - e provavelmente se porá em campo adversário - de países como Rússia e Índia, onde ainda predomina um ethos liberal progressista.

"Campanha contra os BRICS confirma a importância dos BRICS" - Ryabkov

Em apenas 35 anos, é possível que o Brasil tenha população majoritariamente pró-EUA. É tempo mais do que suficiente para que os BRICS preparem-se para a vida sem Brasil. Há quatro vias claras para conseguir isso.

Expandir, expandir, expandir!

Ser pequeno só é virtude se você for anão em circo de excentricidades. Se a OTAN pode trabalhar com 28 membros, os BRICS, claramente muito mais importantes que a OTAN, também podem. Tendo surgido e amadurecido em torno de um núcleo de cinco nações, os BRICS devem agora se abrir para outras frentes, para ganhar mais tração. O grupo capturou a imaginação mundial como corpo capaz de pôr fim à fracassada agenda neocolonial do Ocidente. Outro trunfo dos BRICS é a ideia de crescimento equitativo, que é atrativa para um conjunto diversificado de nações.

O grupo deve investir nessa boa-vontade e convidar economias de dimensões medianas como Indonésia, Malásia, Argentina, Nigéria e Egito. Algumas dessas economias nem precisarão ser convidadas, porque querem vir. A Argentina seria excelente candidata, porque pode substituir o Brasil como representante da América do Sul. Além disso, se o Brasil decidir sair, a inclusão da Argentina obrigará o governo golpista a repensar a decisão. Ninguém no Brasil aceitará sem protesto que seu grande rival do sul substitua o Brasil numa organização poderosa como os BRICS.

Temer, o Interino 

Wikileaks revela que o presidente interino do Brasil, Michel Temer, forneceu informações de inteligência ao Conselho de Segurança Nacional e a militares dos EUA, quando ainda na função de líder do partido PMDB que integrava a coalizão governante. Conforme aquela organização internacional de divulgação de informação considerada 'secreta' pelos interessados em ocultá-la, Temer manteve contato extraoficial com a embaixada dos EUA no Brasil e forneceu informação que o governo dos EUA considerou "sensível", para conhecimento "exclusivo do governo dos EUA". Dois telegramas chamam especialmente a atenção: um, datado de 11/1/2006, o outro de 21/6/2006. Um é documento enviado de São Paulo, Brasil, para - dentre outros destinatários - o Comando Sul dos EUA em Miami.

Mas em que sentido isso diz respeito aos BRICS? Se Temer é efetivamente instrumento da ação política dos EUA, pode bem introduzir uma cunha na maquinaria do grupo BRICS e paralisá-lo, mais ou menos como a Grã-Bretanha operou como cavalo de Troia dos EUA na União Europeia.

Temer, um dos articuladores do golpe para derrubar a presidenta Rousseff, ativa defensora dos BRICS, está, ele próprio sob investigação policial.

É provável que Temer e seu grupo lancem o Brasil em período de agitação e instabilidade. Como se lê no website "Zero Hedge" de inteligência financeira: "Só para lembrar: a última vez que os EUA instalaram governo fantoche foi em 2014, quando, em mais um "golpe sem derramamento de sangue" (sic), derrubaram o presidente da Ucrânia e lá instalaram um bilionário oligarca. É cenário comparável ao do Brasil, em 2016."

O grupo BRICS deve garantir que Temer não tenha meios para sabotar a coesão dos BRICS, que já está tendo de lidar com a tensão geopolítica entre Índia e China, por causa da presença de uma considerável frota da Marinha da Índia no Mar do Sul da China e da recusa, por Pequim, de aceitar New Delhi no Grupo de Fornecedores Nucleares.

Aprender com o destino de Dilma Rousseff

No governo da presidenta Rousseff, a economia brasileira andava devagar, mas andava. Contudo, como pilar fundamental do grupo BRICS, o Brasil parece ter atraído a ira dos EUA. A coalizão de partidos anti-Dilma, como o PMDB de Temer, e os grupos das igrejas evangélicas - com certeza teleguiados por Washington - criaram tantas e tais dificuldades, que a presidenta foi forçada a governar praticamente por decretos, durante a maior parte de seu segundo mandato.

Como se viu acontecer na Ucrânia, que está hoje em total desarranjo, o PIB do Brasil encolheu 3,8% em 2015, e tudo indica que encolherá outro tanto em 2016. Inflação e desemprego estão acima de 10%. O mercado de ações caiu 7% durantes as duas primeiras semanas do governo Temer; e o real perdeu 3,5% do valor em relação ao dólar norte-americano.

Índia, que assume agora a presidência dos BRICS, fará avançar as iniciativas russas

Primeiro a Ucrânia, depois o Brasil, o que virá depois? A China parece impenetrável aos esforços de desestabilização e revoluções 'das flores' dos EUA - mas a Revolução dos Guarda-Chuvas em Hong Kong foi claramente inspirada pelo ocidente. A Rússia já expulsou as agências USAID e o British Council, por interferência na política russa. Resta a Índia, que é vulnerável às táticas de desestabilização da CIA-EUA. A ascensão do Partido Aam Admi, que recebe fundos da Fundação Ford - um dos corpos operados e mantidos pela CIA - é prenúncio do que está por vir.

Livrem-se do nome "BRICS"

BRICS é sigla elegante - todos parecem adorar o som e o modo como desliza sobre a língua. Mas há um problema com siglas de organizações baseadas em nomes dos membros. Se o Brasil se afasta, a sigla encurta para RICS? Se a África do Sul deixa o grupo, o nome passa a ser BRIC?

Além disso, a sigla BRICS tem problemas também de crescimento, porque não se pode encompridar indefinidamente a sigla. De BRIC para BRICS foi fácil, mas o que acontecerá se Indonésia ou Argentina se incorporarem ao grupo. BRICSI? BRICSA?

Algum novo nome não precisa ser necessariamente harmonioso, como som. Por exemplo, o banco dos BRICS é conhecido como Novo Banco de Desenvolvimento - nada muito extraordinário, mas excelente e importante alternativa ao grandiloquente Banco Mundial. Nessa linha, todo o grupo hoje BRICS poderia ser renomeado: Novo Grupo Econômico (NGE), em inglês New Group Economic, NGE [ou, mesmo, NEW [ing. "novo"] - prosaico, mas, melhor denominação que antes.


Na foto: O grupo BRICS deve trabalhar para que Temer não consiga impactar a coesão dos BRICS / EPA

UMA HISTÓRIA SOB O NAZISMO – E A SUA ATUALIDADE


Após assistir “Uma vida alemã”, Pomsel reconheceu: “É importante, no fim da vida, ser colocada diante do espelho e reconhecer tudo o que se fez errado”

Documentário alemão dá voz a ex-secretária de Goebbels. Sua atitude é a dos milhões que colaboraram passivamente com regime. Diretores ressaltam: “desinteressar-se por política é uma forma de culpa”

Jochen Kürten, na Detusch Welle – em Outras Palavras

Estreou no Festival de Cinema de Munique, na última quarta-feira (6/7), um filme-entrevista sobre uma notável testemunha da era nazista: hoje com 105 anos de idade, Brunhilde Pomsel foi estenógrafa e secretária pessoal de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler, nos últimos três anos da Segunda Guerra Mundial.

A partir de várias horas de entrevistas, quatro diretores – Christian Krönes, Olaf Müller, Roland Schrotthofer e Florian Weigensamer – montaram um documentário elucidador. A concepção de Ein deutsches Leben (Uma vida alemã) é quase minimalista: em preto e branco, suas longas sequências de diálogo só são interrompidas por breves cenas documentais.

Ao enfocar de forma distanciada uma contemporânea da época nazista que servia em posição subalterna, o resultado é mais convincente do que muitos dos incontáveis e pomposamente encenados programas da TV alemã sobre a Segunda Guerra e o Holocausto. A própria protagonista aprovou, comentando: “É importante, no fim da vida, ser colocada diante do espelho e reconhecer tudo o que se fez errado.”

A Deutsche Welle entrevistou dois dos diretores, Christian Krönes e Florian Weigensamer.

Brunhilde Pomsel mostrou-se imediatamente disposta a participar de Ein deutsches Leben?

Christian Krönes: Nós encontramos a senhora Pomsel por acaso, no decorrer de uma outra pesquisa. Esse não mais esperado encontro com uma lenda viva foi, então, pretexto para nós arriscarmos a tentativa. Quando começamos a rodar, ela estava com 101 anos. Nós sabíamos que não íamos ter muito tempo mais, mas queríamos fazer esse filme de todo jeito.

Como transcorreram os preparativos e a filmagem?

CK: Levou um tempo para ela relaxar, pois tinha tido experiências muito ruins com a mídia, que apresentou a história dela e as entrevistas de forma muito abreviada. Levou algum tempo para convencê-la. Quando estava pronta, enfrentou com grande concentração e disciplina os trabalhos de rodagem, certamente muito cansativos para ela. Foi realmente a primeira vez que se abriu de forma abrangente.

O espectador tem a impressão de que a Pomsel se expressa e também reflete com honestidade. Vocês também tiveram essa sensação durante as gravações?

CK: Não acredito que ela tivesse recalcado os fatos. Certamente refletiu. Também participa muito dos acontecimentos atuais, reflete sobre o presente, sobre a própria vida. Sem dúvida, na narrativa dela há fórmulas de expressão que se repetem. Com certeza ainda há um detalhe ou outro, uma história ou outra, que ela não nos contou e que nunca contou.

Por outro lado, de certa forma ela fez uma confissão sobre a própria vida. Quando lhe mostramos o filme, de que gostou muito, ela pronunciou uma frase francamente admirável: como é importante, no fim da vida, ser colocada diante do espelho e reconhecer tudo o que se fez errado.

Ela oscila entre “rechaçar a culpa” e “confessar”. Isso ainda é o reflexo do comportamento de muitos após a Segunda Guerra?

CK: Acho que Pomsel é representativa de milhões de outras pessoas, de milhões de colaboradores passivos que tornaram possível esse sistema. Isso é provavelmente o aspecto que torna esse filme histórico, esse documento da história recente, tão interessante para o presente. O filme conta sobre uma sociedade funcional que sai dos eixos: crise econômica mundial, desemprego, ascensão dos nacional-socialistas – menos de uma década mais tarde, isso desemboca na maior catástrofe da história da humanidade.

No presente estamos, de certa maneira, numa situação muito semelhante, o que torna o filme moderno e atemporal. Superamos uma crise econômica e somos atingidos por uma onda de refugiados. Por toda a Europa, os partidos de direita se fortalecem. O problemático é que não é apenas um país, como a Alemanha naquela época, mas desta vez é o continente europeu como um todo que de certa maneira vai resvalando para a direita.

Uma cena mostra a Pomsel reagindo de forma emocional, que é quando ela fala da morte dos filhos de Goebbels. Em relação às outras vítimas, ou seja, judeus, civis, etc., a reação dela é menos emocional. O que isso revela?

Florian Weigensamer: Há ainda uma segunda cena, que trata deSophie Scholl e da resistência. Pomsel diz: “Esses pobres jovens, executados por causa de um panfleto…” Ambas as cenas demonstram muito bem, acho, que para a Sra. Pomsel o que estava em jogo eram sempre as emoções pessoais, e nunca o “estar acima dos fatos”, o panorama político global. Isso, ela nunca viu.

Ela tem pena dos dois pobres jovens executados por causa de um panfleto: “Se eles tivessem ficado de boca fechada, estariam vivos até hoje.” Em si, isso é uma constatação absurda, mas que, no mundo dela, tem lógica. Pois ela só se importa com essas duas pessoas. E, como com os filhos de Goebbels, o que conta para ela são apenas as emoções pessoais: “As pobres criancinhas…” Para ela, todo o desvario em volta não conta.

Vamos falar de estética cinematográfica: vocês trabalham em preto e branco e sem comentários, e inserem apenas breves documentários entre os blocos de entrevistas, filmes de propaganda nazista ou rodados pelos Aliados logo após a libertação dos campos de concentração.

CK: O tema em questão é atemporal. Nós queríamos experimentar dar-lhe uma estética também atemporal. Optamos pela variante em preto e branco, que dá esse caráter; mediante a situação de estúdio, situamos Brunhilde Pomsel fora do espaço e do tempo.

FW: O material de arquivo não se pode comentar: em si, ele já é propaganda. Intervir novamente aí seria propaganda ao quadrado, disfarçada de material histórico. Nós queríamos deixá-lo intencionalmente dessa forma, sem música, sem cortes, sem a nossa intervenção. Queríamos caracterizar o material pela finalidade para que foi produzido. Aí, ele conta uma história diferente da que se costuma ver nos especiais de televisão.

Se bem que não se trata só de propaganda nazista: também as sequências registradas por americanos e russos depois da libertação são mostradas sem comentários. Por quê?

FW: É claro que, de certo modo, é para ser também um contraponto à visão da Sra. Pomsel sobre essa época. “Ah, meu Deus, os judeus… Eu nem percebi nada… os campos de concentração…” Então é simplesmente preciso mostrar o que foi e que era perfeitamente possível saber, sim, se se quisesse, e se tivesse visto essas imagens.

Essa é a única acusação e a única culpa que ela carrega. Olhar para o lado é culpa, sim, e ser apolítico já é culpa suficiente. A intenção não foi desmascará-la como nazista. Isso ela decerto não era. Ela só era desinteressada – e isso é, justamente, uma forma de culpa.


A NOVA POLÍTICA ESTRANGEIRA BRITÂNICA


Thierry Meyssan*

A imprensa ocidental não cessa de o repetir: ao deixar a União Europeia, os Britânicos isolaram-se do resto do mundo e deverão enfrentar terríveis consequências económicas. Ora, a baixa do valor da Libra poderá ser uma vantagem no seio da Commonwealth, uma família mais vasta que a União e presente nos seis continentes. Pragmática, a City poderá rapidamente tornar-se o centro mundial do yuan e implantar a moeda chinesa no próprio seio da União.

 Estados Unidos continuam preocupados quanto à sua capacidade para convencer a União Europeia a participar activamente na OTAN, e quanto à vontade do Reino Unido de prosseguir a aliança militar, que eles construíram desde 1941 para dominar o mundo. Porque, contrariamente às alegações dos dirigentes europeus, o Brexit não isola o Reino Unido mas, sim, permite-lhe voltar à Commonwealth e desenvolver contactos com a China e a Rússia.

O alinhamento dos Europeus na OTAN

Os Estados Unidos e o Reino Unido tinham previsto empurrar os membros da União a anunciar o aumento do seu orçamento militar, em 2% do PIB, durante a Cimeira da Aliança em Varsóvia (8 e 9 de julho). Além disso, um plano de colocação de forças na fronteira russa devia ser adoptado, incluindo a criação de uma unidade de logística conjunta da OTAN e da UE, permitindo compartilhar helicópteros, navios, drones e satélites.

O Reino Unido era, até ao momento, o mais importante contribuinte para a União em matéria de defesa, com cerca de 15% do orçamento de defesa desta. Além disso, dirigia a operação Atlante para proteger os transportes marítimos ao largo do corno de África e tinha posto à disposição navios no Mediterrâneo. Por fim, estava previsto que forneceria tropas para a constituição do grupo de combate da UE. Com o Brexit, todos estes compromissos serão revogados.

Para Washington, a questão é saber se Londres aceitará ou não aumentar o seu investimento directo na OTAN —da qual já é o segundo contribuinte— para compensar o que fazia no seio da UE, mas sem daí tirar proveito particular. Muito embora Michael Fallon, o actual ministro da Defesa britânico, tenha prometido não minar os esforços conjuntos da OTAN e da UE, ninguém consegue ver porquê Londres aceitaria colocar novas tropas sob um comando estrangeiro.

Por conseguinte, e acima de tudo, Washington interroga-se sobre a vontade de Londres em continuar a aliança militar que construiu com a Coroa desde 1941. É claro, não deve excluir-se que o Brexit possa ser uma encenação dos Britânicos para renegociar, com vantagem, a sua «relação especial» com os «Americanos». No entanto, é muito mais provável que Londres pretenda estender as suas relações a Pequim e a Moscovo sem, no entanto, largar os benefícios do seu entendimento com Washington.

As agências secretas anglo-saxónicas

Durante a Segunda Guerra mundial e antes mesmo da sua entrada na guerra, os Estados Unidos concluíram um pacto com o Reino Unido explicitado na Carta do Atlântico [1]. Tratava-se para os dois países de se unirem afim de garantir a livre circulação marítima e de expandir o livre comércio.

Esta aliança concretizou-se com o Acordo dos «Cinco olhos», que serve actualmente de base à cooperação entre 17 Agências de Inteligência (Serviços Secretos- ndT) de 5 Estados diferentes (os Estados Unidos e o Reino Unido, assim como três outros membros da Commonwealth : a Austrália, o Canadá e a Nova Zelândia).

Os documentos revelados por Edward Snowden atestam que a rede Echelon, na sua forma actual, constitui «uma agência de inteligência supranacional que não responde perante as leis dos seus próprios Estados-membros». Assim, os «Cinco olhos» tanto poderiam espiar personalidades, como o Secretário-geral da ONU ou o Chancelerina alemã, como praticar uma vigilância em massa sobre os seus próprios cidadãos.

Identicamente, em 1948, os Estados Unidos e o Reino Unido fundaram uma segunda Agência supranacional, o Gabinete de projetos especiais (Office of special Projects) que comanda as redes stay-behind (redes de retaguarda- ndT) da OTAN, conhecidas sob o nome de Gládio.

O Professor Daniele Ganser demonstrou que este Gabinete tinha organizado uma quantidade de golpes de Estado e de operações terroristas na Europa [2]. Se numa primeira fase se verificava que a «estratégia de tensão» visava prevenir a chegada ao poder, por via democrática, de governos comunistas na Europa, viu-se que visava, sobretudo, alimentar a fobia do comunismo e justificar a proteção militar anglo-saxónica. Novos documentos desclassificados mostraram que este dispositivo existe fora da Europa organizado para o mundo Árabe [3].

Finalmente, em 1982, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália criaram uma terceira agência supranacional, que incluía pseudo-ONG.s —a NED e as suas quatro filiais : a ACILS, o CIPE, o NDI e o IRI— formando a parte visível [4]. Ela especializou-se na organização de golpes de Estado camuflados em «revoluções»

Muito embora haja uma impressionante literatura sobre estes três programas, ignora-se tudo sobre as agências supranacionais que os tutelam.

A «relação especial»

Os Estados Unidos, que se proclamaram independentes separando-se para isso da Coroa, só se reconciliaram com o Reino Unido no fim do século XIX (a «Grande reconciliação»). Os dois Estados aliaram-se durante a guerra contra os Espanhóis em Cuba, depois para a exploração dos seus balcões coloniais na China. Quer dizer no momento em que Washington descobriu uma vocação imperialista. Em 1902, um clube transatlântico foi formado para selar a amizade reencontrada, a Associação dos Peregrinos (The Pilgrims Society). Ela é tradicionalmente presidida pelo monarca inglês.

A Reconciliação foi selada em 1917 com o projecto conjunto de criação de um Estado judeu na Palestina [5]. E, os Estados Unidos entraram na guerra ao lado do Reino Unido. Desde então, os dois Estados partilham diversos meios militares, neles incluído, de seguida, a bomba atómica. No entanto, aquando da criação da Commonwealth, Washington recusou fazer parte dela, considerando-se no mesmo pé de igualdade com Londres.

Apesar de alguns confrontos, aquando dos ataques britânicos contra o Egipto (canal de Suez), ou contra a Argentina (a guerra das Malvinas-«Falklands»), ou ainda aquando do ataque norte-americano contra a Granada, as duas potências sempre se apoiaram intimamente.

Em 2008, a Coroa assegurou o financiamento do início da campanha eleitoral de Barack Obama, fazendo correr generosas contribuições através do negociante de armas iraquiano-britânico Francisco Auchi. Aquando do seu primeiro mandato, um grande número de colaboradores directos do novo Presidente eram, secretamente, membros da Associação dos Peregrinos, cuja secção norte-americana era, então, presidida por Timothy Geithner. Mas, o Presidente Obama foi-se gradualmente afastando, dando a impressão à Coroa que ela não era retribuída em troca. As coisas pioraram com as suas acerbas declarações contra David Cameron na Atlantic [6], e a visita do casal Obama à rainha Isabel II, pelo seu aniversário, não recolou os cacos.

A Commonwealth

Ao separar-se da União e ao afastar-se dos Estados Unidos, o Reino Unido não fica nada isolado, pode, aliás, voltar de novo a jogar o seu grande trunfo: a Commonwealth.

Esquecem por completo que, em 1936, Winston Churchill lançou a ideia de incorporar os actuais Estados da União Europeia no seio da Commonwealth. A sua proposta colidiu com a ascensão dos perigos e a Guerra mundial. Só após a Vitória é que o mesmo Churchill lançou a ideia dos «Estados Unidos da Europa» [7] e convocou a Conferência do Movimento Europeu em Haia [8].

A Commonwealth é uma organização de 53 Estados-Membros que têm uma política comum apenas em matéria de valores ingleses de base: igualdade racial, estado de direito, direitos do homem face à «Razão de Estado». No entanto, ela propõe aos seus membros desenvolver os negócios e o desporto (esporte-br). Além disso, ela providencia peritos em todos os domínios.

A Rainha Isabel II, que é a soberana de 16 Estados-Membros, é o chefe da Commonwealth (título electivo não hereditário).

O que querem os Britânicos ?

Visto de Londres, foram os Estados Unidos quem quebrou a «relação especial», cedendo à desmesura (arrogância) do mundo unipolar e ao conduzir a sós as suas políticas financeira e externa. E, isto, numa altura onde deixaram de ser a principal potência económica do mundo e a primeira potência militar convencional.

Desde logo o interesse do Reino Unido é o de não colocar mais «todos os ovos na mesma cesta»; de conservar os instrumentos comuns que possui com Washington ao mesmo tempo que se apoia na Commonwealth, e ao estabelecer novas relações com Pequim e Moscovo, seja directamente, seja via Organização de Cooperação de Shanghai (OCS).

Precisamente no dia do Brexit a OCS aceitava, no seu seio, dois membros da Commonwealth, a Índia e o Paquistão, ela que até ali não incluía nenhum [9].

Se ignoramos tudo sobre os contactos que o Reino Unido já teve que estabelecer com a Rússia, podemos constatar a sua aproximação com a China.

Em Março último, a Bolsa de Londres, que gere as Bolsas de valores da City e de Milão, revelou o seu projecto de fusão com a Deutsche Börse (Bolsa Alemã), que gere a Bolsa de Frankfurt, a Câmara de Compensação Clearstream e o Eurex. Estava previsto que as duas sociedades concretizavam a operação logo após o referendo sobre o Brexit. Este anúncio foi tanto mais surpreendente quando os regulamentos Europeus interditavam formalmente esta operação, que equivaleria a criar uma «posição dominante». Ele pressupunha, pois, que as duas sociedades antecipavam a saída do Reino Unido da União Europeia.

Além disso, a Bolsa de Londres anunciava um acordo com oChina Foreign Exchange Trade sistema (CFETS) e tornava-se, em Junho, a primeira Bolsa no mundo a cotar os Títulos do Tesouro chinês. Todos os elementos estavam prontos para fazer da City o cavalo de Tróia chinês na União Europeia, em detrimento da supremacia norte-americana.

Thierry Meyssan* - Voltaire.net - Tradução Alva

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Notas 
[1] “The Atlantic Charter”, by Franklin Delano Roosevelt, Winston Churchill, Voltaire Network, 14 August 1941.
[2] Nato’s Secret Armies: Operation Gladio and Terrorism in Western Europe, Daniele Ganser, Cass, London, 2004.
[3] America’s Great Game: The CIA’s Secret Arabists and the Shaping of the Modern Middle East, Hugh Wilford, Basic Books, 2013.
[4] « La NED, nébuleuse de l’ingérence "démocratique" », et « La NED, vitrine légale de la CIA », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 22 janvier 2004 et 6 octobre 2010.
[5] “Quem é o inimigo?”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 4 de Agosto de 2014.
[6] “The Obama Doctrine”, by Jeffrey Goldberg, The Atlantic (USA) ,Voltaire Network, 10 March 2016.
[7] “Winston Churchill speaking in Zurich on the United States of Europe”, by Winston Churchill, Voltaire Network, 19 September 1946.
[8] « Histoire secrète de l’Union européenne », par Thierry Meyssan,Réseau Voltaire, 28 juin 2004.
[9] «La India y Pakistán entraron en la OCS el día del Brexit», por Alfredo Jalife-Rahme, La Jornada (México) , Red Voltaire , 1ro de julio de 2016.


DURÃO, O MORDOMO DAS ELITES



Rafael Barbosa* – Jornal de Notícias, opinião

A "Elite do Poder" é uma das obras mais importantes do sociólogo Charles Wright Mills. Uma análise à forma como as elites económicas e militares se apropriaram do poder, remetendo as elites políticas para um lugar secundário, marionetas de um palco que já não controlam.

A investigação de Mills (sim, em ciências sociais também se fazem investigações importantes) foi publicada nos anos 50 do século XX e tinha como objeto de estudo os EUA, mas não só é útil para perceber a forma como funcionam as elites globais, como o tempo não a desatualizou. Bem pelo contrário. Se alguma alteração teria de fazer o sociólogo texano, seria nos termos em que descreve as elites económicas, que ainda podiam, nessa altura, ser definidas como um conjunto de empresas e empresários, mas teriam de ser agora associadas à especulação e à alta finança, refletindo uma mudança fundamental do último meio século: a passagem de um capitalismo industrial, baseado na reprodução de riqueza, para um capitalismo financeiro, vocacionado para a reprodução de capital.

Prosseguindo esta espécie de resumo (exercício arriscado pela excessiva simplificação), Mills observa que o capitalismo resulta da coincidência de interesses das elites militares e económicas e que essa coincidência fortalece esses dois vértices da elite do poder e "subordina ainda mais o papel dos homens simplesmente políticos". Se quisermos usar uma linguagem um pouco mais crua e menos académica, os políticos foram-se transformando numa espécie de mordomos dos que comandam a sociedade (não, não são os mercados, é gente com nome).

E é aqui que entra a atualidade política. Não há melhor exemplo da atual subserviência da elite política do que a mais recente nomeação de Durão Barroso para vice-presidente do banco de investimento (designação que apenas procura disfarçar a sua natureza especulativa e predadora) Goldman Sachs. Acresce que o ex-presidente da Comissão Europeia até já tinha no currículo, enquanto primeiro-ministro de Portugal, o papel de mordomo da cimeira dos Açores, em que dois líderes políticos a soldo do complexo militar-industrial (Bush e Blair) acertaram os pormenores da guerra no Iraque. A guerra em que, a pretexto de derrubar um déspota sanguinário, se abriu caminho para uma amálgama de extremistas religiosos e homicidas globais, que ajudam a sedimentar o "capitalismo militar" que denunciava Wright Mills.

Convenhamos que Durão fez por merecer o direito a meter a mão no saco de ouro (sim, eu sei que é um jogo de palavras tosco a partir de Goldman Sachs). Prestou-se e presta-se a servir interesses que não os da comunidade - demonstrando a atualidade e a pertinência da crítica de Mills -, mas já não precisa de passar férias a bordo dos iates dos amigos milionários. Pode comprar um só para si.

* Editor executivo

TRATAMENTO CAPILAR A HOLLANDE... E A “CARECADA” QUE ELE DÁ A DURÃO BARROSO




Primeiro o tratamento capilar a Hollande, depois a “carecada” que Hollande dá a Durão Barroso (PG)

Por 9900 euros mês, Net sugere penteados alternativos a Hollande

Um jornal satírico revela que o cabeleireiro do presidente francês tem um salário mensal bruto de 9895 euros. Sob o mote "por esse preço quero o presidente assim", a Net sugere penteados alternativos a François Hollande.

Hollande considera "moralmente inaceitável" Durão no Goldman Sachs

O Presidente francês, François Hollande, condenou hoje como "moralmente inaceitável" o emprego do ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso no banco Goldman Sachs.

O banco norte-americano Goldman Sachs anunciou na semana passada a contratação de Durão Barroso como presidente não-executivo da instituição e de consultor, num momento em que o setor financeiro foi abalado pelas dúvidas sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.

Jornal de Notícias – Ver mais fotografias de Hollande

CAVACO SILVA: O ÚNICO OU DOS POUCOS EM PORTUGAL A FAVOR DAS SANÇÕES DA UE




No Conselho de Estado do dia 11 de Julho, uma voz levantou-se para justificar a aplicação de sanções pela Comissão Europeia a Portugal: Cavaco Silva. Segundo o jornal Público, o ex-Presidente da República recordou o Tratado Orçamental e os programas de estabilidade a que Portugal está vinculado como possíveis motivos para legitimar as sanções.

Se o Tratado Orçamental inclui um limite de défice até 3% do PIB, os programas de estabilidade prevêem défices ainda menores, recorda o jornal. A posição de Cavaco Silva não recebeu referência no comunicado final da reunião, que indica apenas "a premência de uma contínua reflexão aprofundada sobre os desafios colocados à União Europeia, em termos económicos, financeiros, sociais e políticos, e que deve merecer o acompanhamento do Conselho". Deste modo, adianta o Público, evitou-se desconforto ou rejeição de parte do comunicado – que deve ser aceite por unanimidade.

Cavaco Silva desvalorizou o contexto económico internacional, por este ser igual para todos, e a influência das situações económicas de certos países na economia portuguesa.

O primeiro-ministro foi ouvido na véspera da reunião do Ecofin e apresentou dois cenários: que nenhuma sanção fosse aplicada até Janeiro de 2017, para ver se Portugal cumpria a meta do défice em 2016 (de 3%); ou a aplicação de uma sanção simbólica, na forma de uma multa de valor irrisório, detalha o Público. O Conselho Ecofin decidiria pela aplicação de sanções, cujo montante deve ser agora decidido pela Comissão Europeia.

Marcelo Rebelo de Sousa mostrou convergência com a posição do Governo, defendendo que "a Europa, na actual situação, devia ir para uma solução mais salomónica: não deixar de aplicar uma sanção, mas ser zero ou quase zero", cita o Público.

O Brexit também foi debatido no Conselho de Estado, em que se defendeu a escolha de uma posição moderada com o Reino Unido. Jorge Sampaio sugeriu que se criasse um grupo de trabalho na Assembleia da República sobre um novo modelo de governance da União Europeia. Já Cavaco Silva recordou um relatório elaborado pelos cinco presidentes das estruturas da União Europeia, com uma proposta para aprofundar a União Económica e Monetária até 2025. O Público completa que Francisco Louçã reforçou a ideia de um referendo ao Tratado Orçamental. 

Leonor Riso – Sábado – Foto: Tiago Petinga/Lusa - Título PG

DURÃO DE SAQUES E CRIMES. HOLLANDE DESPENTEADO MENTAL. CAVACO DO CIFRÃO



O futebol entranha-se e quase não há prosa que não o aborde. Mais concretamente sobre o Euro2016. Ainda hoje abre o Expresso Curto com cafeína de Miguel Cadete, lá do burgo da Quinta da Marinha, do Bilderberg… Ai, ai. Perdão, do tio Balsemão. Sim, esse, que está a concorrer para superar o recorde de Manuel Oliveira e a ver se chega aos 111 anos. Sabemos que o tio gosta muito de capicuas. Pior é se o cão lhe dejeta no caminho da durabilidade e chega só aos 88 ou 99 anos. Já não é mau, oh tio!

Tretas fúteis à parte vamos lá ao futebol… Pois. Mas aqui temos de abordar o Durão Barroso por estar dentro do contexto dos “mes amis gaulois frustrés que la crête flétrissement des coquelets”. Ah pois andam de crista murcha. Disso toma nota e faz constar o Miguel Cadete, mais em baixo. Aqui a vaca fria é o Barroso que vai para os mafiosos dos Goldman Sachs depois de ter alinhado com os criminosos de guerra Bush, Blair e Aznar, fazendo-se um deles na gula, nas mentiras e nos crimes horrendos que perduram até hopje e nunca mais param. Esse Barroso, Durão, saltou de PM em Portugal para presidente da Comissão Europeia num ápice. Lá, engordou, engordou, engordou… E até parecia que ia rebentar. Nada. Ele tem depósito para mais uns avultados tachos e mamas. E lá ia e vai mamando…

Eis que surge a teta enorme e Durão Barroso abocanha-a com sofreguidão. Vá de mamar na teta ultra mafiosa da Goldman Sachs – que vale quase uma centena de milhões por ano. Xiiii.

Vai daí surge um gaulês do dito governo de Hollande que faz título no PG, assim: GOVERNANTE FRANCÊS PEDE A BARROSO QUE REJEITE CARGO na Goldman Sachs. O púdico governante pede isso a Durão Barroso. Pede mesmo. Diz que é uma vergonha, uma indecência, um descrédito que macula os políticos e desacredita a a Fossa da União Europeia. E etc. E etc. O homenzito diz cobras e lagartos, armado em Chico Honesto (se calhar até é… ou foi). Qual quê. O Durão ia lá largar mama tão grande, fecunda e que já estava  em reserva para ele desde há tempos atrás! O alinhar nos crimes de guerra no Iraque e, consequentemente, em outras borgas, tiveram e têm um preço que foi acordado com o maioral criminoso de guerra e contra a humanidade George W. Bush. Nada custa admitir isso se verificarmos a ascendência meteórica da “carreira” de Durão, e de Blair… e de Aznar. E os lucros farfalhudos do alcoólatra e toxicodependente (dito ex) George W. Bush.

Teríamos baganha para toda a semana se continuássemos neste rantantam. Viremos a prosa. Ainda em França. Fígaro cobra 10 mil euros a Hollande por um corte de cabelos… Uns cabelitos aparados e toma lá 10 mil “dele”. Dele, do Hollande não é, não são. E os otários dos franceses pagam e não bufam. Provavelmente até ficam todos orgulhosos por terem um arremedo de presidente, um falso socialista, um despenteado mental, que lhes estoira com as massas à toa num Fígaro de meia-tijela. Compreende-se. Já que o orgulho foi pelo cano no Euro2016 tiveram de encontrar substituto. Fúteis e bem cheirosos lá andam a adular o despenteado mental do Hollande. E com coisas tão boas e bonitas para sentirem orgulho ao longo da história. Até os perfumes. Bem, mas isso aí compreende-se, a necessidade. Foram (são ainda?) uma grande potência do desenvolvimento da manufaturação dos perfumes porque raramente tomavam banho e cheiravam mal se não se perfumassem a rodos. Agora tomam banho… com água. Mas por dentro, quer parecer, andam a atirar para o badalhoco. E o mundo que já tem tantas cabeças sujas por aí, dentro e fora dos poderes. Até tem despenteados mentais, como Hollande.

Chega. Isto devia ser só uma breve abertura. Não para ser longa e cheirar mal.

Tenham um bom dia. Não é mau terminar com a abordagem a Cavaco Silva. O tal que foi a favor das sanções da UE a Portugal no Conselho de Estado. Admiraram-se? Admiram-se? Mas quantas vezes é que já aqui foi dito que o basbaque tem por pátria o cifrão? Quantas vezes já aqui foi dito (escrito) que o salafrário não é português mas sim do cifrão. Para Cavaco o que conta são os números. De certeza que ele encontraria um modo de Hitler ter muito mais lucros com a exterminação dos judeus, negros, ciganos, velhos, paralíticos, loucos… e etc. Para Cavaco é tudo uma questão de números. São esses os valores maiores do safardana. Cifrão, a sua pátria.

Inté. Saúde.

Mário Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Miguel Cadete – Expresso

Adeus Euro, a má vida continua

Éder foi ao Jornal da Noite da SIC e disse que eles “vão perceber que somos justos vencedores”. Eles, neste caso, são os franceses; os mesmos que ainda não parecem ter digerido a vitória de Portugal no Euro 2016.

Ou os dirigentes da UEFA (o organismo que gere a Europa do futebol). Eles, que atribuíram o melhor golo do torneio que terminou domingo a um golo vulgar contra Portugal, eles que não iluminaram a Torre Eiffel com as cores da bandeira portuguesa, eles os que já tinham a festa da vitória preparada mesmo antes da vitória acontecer, “eles” ( o mesmo “eles” de “O Processo”, de Kafka), os que, como o jornal desportivo “L’Équipe”, não reconheceram a façanha de Éder enem sequer lhe atribuíram pontuação naquele jogo.

O jogo em que o português resolveu a final do Euro 2016 com um golo que hoje podemos continuar a ver nas redes sociais com as mais diversas bandas sonoras (aqui com banda sonora de Carlos Paredes) foi o “patinho feio” (palavra de Fernando Santos) que se transformou em cisne negro da primeira competição maior conquistada pelo futebol português.

Bem, eles não sabem o que dizem. Mas nós iremos agradecer a Éder até ao resto das nossas vidas.

Ao Éder que viu a brecha capaz de abrir o caminho para a baliza e para a glória, mas que o Governo português não está a conseguir encontrar: aquela aberta no muro defensivo dassanções impostas pela Comissão Europeia, a UEFA do outro Euro.

Um braço de ferro que parece muito mais difícil de ultrapassar que todos obstáculos que a França e a UEFA terão colocado, dentro e fora de campo, à Seleção de Portugal. O “Diário de Notícias” escreve hoje na sua manchete que António Costa “recusa visto prévio” e que o Orçamento do Estado para 2017 irá chegar em simultâneo a Bruxelas e ao Parlamento português.

“Comissão queria ver um esboço de cortes adicionais no défice deste ano e no do próximo antes de o Orçamento do Estado para 2017 chegar à Assembleia. Mas o governo rejeita a ideia. O documento chegará a ambas as instituições a 15 de outubro, depois de acertadas as medidas com o Bloco e PCP”, pode ler-se na primeira página daquele diário de Lisboa.

Esperemos então, provavelmente sentados, que ainda antes do 79º minuto desta partida entre em campo o Éder que vai resolver a contenda. Aguardemos pela entrada em campo do ponta de lança capaz de marcar o nosso golo de ouro e virar o resultado do Euro (mesmo que o jogo já tenha registado um autogolo marcado por uma anterior equipa de Portugal).

Por ora, ainda se discute se a equipa em campo é menos beneficiada pela UEFA de Bruxelas do que a anterior. E mesmo que o resultado final seja salomónico, como se atreveu a sugerir o presidente Marcelo, a questão já está, para a maioria dos espectadores, do lado da politiquice.

As sanções são “injustas e contraproducentes”, disse justamente o primeiro ministro, porque esta equipa não está, como não estava o Portugal de Éder, a jogar em casa, ao contrário do Executivo anterior.

Será mister Fernando Santos o único capaz de resolver mais este imbróglio?

No “Jornal de Negócios” diz-se que a desvantagem no marcador ainda pode ser agravada e que o “défice de 2015 ainda pode mudar” devido a um contributo negativo da banca ameaçar as promessas deste Governo.

A banca, está de bom de ver, ainda pode ser o Payet que lesiona o nosso capitão de equipa e põe fora desta final o melhor trunfo de Portugal.

OUTRAS NOTÍCIAS

Theresa May tomou ontem posse como chefe do Executivo britânico. Nas suas primeiras palavras na qualidade de Primeiro Ministro, May prometeu unir o seu eleitorado, que vale a pena lembrar está partido entre quem quer ficar na União Europeia e quem pretende sair. Entre o campo e a cidade, entre ricos e pobres ou entre a Inglaterra e a Escócia.

Mas a ideia de convergência pode ter ficado por aí. Theresa Maynomeou Boris Johnson, o mais mediático defensor do Brexit, chefe da diplomacia britânica. E despediu George Osborne, o anterior responsável pelas finanças no Governo de David Cameron, por Philip Hammond, que volta a entrar em campo depois de ter ocupado o lugar que agora foi entregue a um jogador truculento como o louro Boris.

Apesar do tom conciliatório, o governo de Theresa May acolhe neste Governo a fação mais à direita do Partido Conservador, além de muitos defensores do Brexit.

Espanha: terceiras eleições à vista? Essa é a solução que ninguém pretende, conclui-se depois de Mariano Rajoy, líder do PP, ter terminado a primeira ronda de conversações com as restantes forças partidárias. Sucede que os partidos espanhóis, mais uma vez, não se entendem. Pedro Sánchez, do PSOE, jura a pés juntos que “no dia de hoje”, votaria contra um novo governo do PP, não garantindo então uma solução governativa. O braço de ferro prossegue.

Más notas a Português e Matemática. Os resultados dos exames nacionais do ensino secundário, ontem conhecidos, mostram que os alunos responderam mal na prova de História, onde a média nacional não ultrapassou os 9,5. Lê-se na notícia que faz manchete do “Público”, que acrescenta terem sido melhores os resultados de Biologia, por contraste com as notas a Português e Matemática, onde as médias baixaram.

Banca chumba Ongoing. 99% dos credores rejeitaram o plano de reestruturação da Ongoing. A empresa de Nuno Vasconcellos segue para insolvência, diz o “Jornal de Negócios”, também na primeira página.

Festivais recomeçam hoje. Elton John no Marés Vivas, o festival de Vila Nova de Gaia, e The National no Super Bock Super Rock, em Lisboa, são os principais nomes de uma nova jornada festivaleira que tem início esta quinta-feira. Os espectáculos prosseguem amanhã e depois, com Kendrick Lamar e Iggy Pop (em Lisboa) e James Bay e Tatanka (em Gaia).

Sporting perde na estreia. A equipa de Alvalade sofreu ontem uma pesada derrota no primeiro jogo, ainda que amigável, desta temporada. A equipa de Jorge Jesus perdeu por 4 – 1 com o Monaco, treinado por Leonardo Jardim. A imprensa especializada é, porém, unânime, a destacar a exibição de Podence, aparentemente a nova pérola do centro de formação dos leões.

FRASES

“Vamos ser eternos”. Éder, em “A Bola”

“Martin (Schulz) fala comigo ao telefone todas as manhãs. A nossa amizade vai além da política”. Jean-Claude Juncker, no “DN”

“Não termos sempre a mesma opinião é algo que acontece constantemente”. Martin Schulz, no “DN”

“A Grã Bretanha terá um novo papel no mundo”. Theresa May, no discurso que sucedeu à sua tomada de posse

“Eles trazem drogas. Eles trazem o crime. Eles são violadores”.Donald Trump discursando sobre os mexicanos

O QUE VOU QUERER LER

O novo livro de Gay Talese, o jornalista de 84 anos que entre muitos outros feitos produziu uma das melhores biografias alguma vez publicadas de Frank Sinatra. Apesar de nunca ter falado com The Voice.

“The Voyeur’s Motel” é obra envolta em controvérsia, tal como já teve ocasião de explicar o meu camarada Valdemar Cruz. Mas é coisa que promete, apesar de ainda não ter sido anunciada data para o seu lançamento em Portugal.

Começando pelo fim, o próprio Talese renegou o livro por “falta de credibilidade” quando o “Washigton Post” pôs em causa as suas fontes. E de que trata então? Vale a pena ler a pré-publicação na revista “New Yorker” mas isto anuncia-se como o relato minucioso do que se passou num motel durante vários anos, em que o seu proprietário montou um sistema que permitia vigiar a intimidade dos hóspedes.

O livro de Talese é, por isso, um encontro com a privacidade que, diz quem já o leu, transforma cada pormenor sem a mínima importância das nossas vidas em algo realmente maior que a própria vida.

Esta promete ser a história da vida conjugal que ainda não foi escrita, de casais heterossexuais, de casais lésbicos, de como nos comportamos de forma mais ou menos repressiva na intimidade, do que sucede verdadeiramente quando, supostamente, ninguém está a ver.

São pessoas – o que contam são as pessoas – expurgadas de contexto (ou com nada mais senão contexto), num mundo em que o dinheiro desapareceu. Um universo onde predominam corpos e as ações desses corpos.

Como nos relacionamos uns com os outros? O normal existe? Um mergulho na vida real, como nenhum reality show pode prometer até hoje.

A não perder: a partir de sábado, o Expresso oferece boa literatura a todos os seus leitores. A coleção Camilo Castelo Branco começa com o inevitável “Amor de Perdição” e conta com mais sete volumes resgatados de uma grandiosa obra. A coordenação editorial coube a João Bigotte Chorão.

Por hoje é tudo. Todas as notícias serão atualizadas no Expresso Online. Lá para as 18 horas, chega mais um Expresso Diário.

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