terça-feira, 8 de novembro de 2016

A UNIDADE PROGRESSISTA EM TORNO DO MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA




DECISIVA PARA AS INDEPENDÊNCIAS, ESTÁ NA BASE DA PAZ COM HARMONIA DAS POLÍTICAS DO PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Os movimentos de libertação contra o colonialismo português procuraram sempre unidade de acção desde o dia 18 de Abril de 1961, quando em Casablanca, Marrocos (e com o apoio do Rei Mohamed V desse país), se constituiu a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP).

A vinda do Che para África reforçou a luta na parte austral do continente, pois determinou tacitamente dois pontos fortes da inteligência cubana, Dar es Salam e Brazzaville, numa linha que em 1965 reforçava os suportes da FRELIMO e do MPLA, tendo a 1ª coluna do Che a meia distância, a oeste do Lago Tanganika, o que reforçou tacitamente a acção militar no âmbito da CONCP em direcção à África Austral.

Por parte dos movimentos de libertação empenhados na luta contra o colonialismo português, a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP), que teve em 1965 a sua segunda plenária em Dar es Salam, permitia a expressão dessa linha nos termos da libertação da África Central e Austral, antecipando outra organização que surgiria depois da independência, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e a Linha da Frente, anos mais tarde, contra o “apartheid”.

Na IIª Reunião da CONCP em Dar es Salam, a presidência rotativa da CONCP passou do MPLA para a FRELIMO.

Desconheço se houve a formulação secreta duma estratégia para além das concertações político-diplomáticas, mas as linhas tácitas são expressivas, por que faziam frente à internacional fascista a sul, conforme a expressão do acordo secreto ALCORA. (que surgiria em termos práticos 3 anos depois da passagem do Che por África, em 1968, quando os sul africanos reforçaram os dispositivos militares portugueses no Cuando Cubango).

Essas linhas tácitas decidiram a abertura da Frente Leste do MPLA tendo como rectaguarda a Zâmbia, algo que foi minado pela inteligência da internacional fascista, manipulando o presidente Kenneth Kaunda.

Durante a luta de libertação entre a FRELIMO e o MPLA assegurou-se algum apoio mútuo na frente militar, sobretudo no concernente a suprimentos pontuais no campo da logística, pois que isso se tornava exequível entre a Frente Leste de Angola e a Frente de Tete em Moçambique, dado que o desdobramento dos fornecimentos ocorria na Zâmbia.

Delegações da FRELIMO visitaram Angola e as do MPLA Moçambique. O Presidente Neto visitou Nachingweia e o MPLA esteve representado no IIº Congresso da FRELIMO.

A ambiguidade do presidente Kenneth Kaunda em relação ao MPLA e a dissidência de Daniel Chipenda (Revolta do Leste) em 1973, revelam que, para além dum pacto militar, os processos de inteligência da internacional fascista interligavam-se e no que ao colonialismo português dizia respeito, tornava-se num ambiente mais favorável à elasticidade da AGINTER PRESS, do que em relação à quadrícula obrigatória da PIDE/DGS (daí o poder de manobra de Jorge Jardim no Malawi primeiro e na Zâmbia, precisamente em 1973).

A presença diplomática em Kinshasa (António Monteiro, natural do Luena, Angola), foi também um enquadramento inteligente da internacional fascista e daí a deriva posterior da FNLA, a que aderiu o coronel Santos e Castro na batalha pela independência de Angola.

Em 1975, para assegurar a independência a CONCP, através dos Governos de Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo-Verde, desempenhou um papel de grande relevo.

Numa primeira fase tropas da Guiné (B), a que se juntaram as da Guiné (C) e do Congo (B), partiram para Angola para assegurar a defesa da faixa a sul de Luanda, ameaçada pela invasão sul-africana.

Para a faixa Norte, onde a ameaça partia das forças de Mobutu, do FLNA e dos mercenários, Moçambique despachou todos os seus BM 21 e aviões de transporte, os NORD ATLAS, assim como meios adicionais de artilharia e munições.

Estes meios mostraram-se importantes para a derrota em Quinfangondo da invasão conjunta do FLNA, Zaire e mercenários (Operação Iafeature da CIA contra Angola, sob mando de Henry Kissinger).


 Lembrar tudo isso hoje, 51 anos depois da passagem do Che por África e quando Angola comemora 41 anos de independência, é avaliar o sentido do Movimento de Libertação em África e das razões profundas da necessidade de paz em harmonia, pois a luta contra o subdesenvolvimento é a sequência lógica de todo esse colossal esforço em prol da libertação dos povos africanos nas amplas regiões Central e Austral do continente.

Para termos a noção das linhas tácitas progressistas que catapultaram o MPLA e a FRELIMO até às independências, no âmbito da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP), que teve a sua segunda reunião ampla em 1965, recorde-se a expressão militar do acordo secreto ALCORA, cujos primeiros passos foram dados em Angola em 1968, o que viria a propiciar posteriormente a “Operação Savanah” das SADF contra Angola, na tentativa de colocar seus aliados (FNLA e UNITA), no poder em Luanda no dia 11 de Novembro de 1975.

Angola seria um presa dócil para a internacional fascista, ao nível do que foi o Zaíre com Mobutu no poder, se os seus planos tivessem vingado e provavelmente o seu território seria polvilhado de “bantustões”, tal como aconteceu com a Namíbia (Sudoeste Africano) ocupada e antes da batalha do Cuito Cuanavale (recorde-se: Namaland, Barterland, Damaraland, Kaokoveld, Ovamboland, Hereroland, Bushmanland, Kavangoland e Caprivi)…

**Fotos dum longo e decisivo percurso.

A consultar: 

JULIAN ASSANGE: “HILLARY É A CANDIDATA DO 1%”




Emails vazados pelo Wikileaks revelam: todo o establishment está com ela – em especial a oligarquia financeira e o complexo industrial-militar. Veja por quê.

Entrevista a John Pilger, em Outras Palavras

Julian Assange concedeu uma de suas entrevistas mais incendiárias, num encontro com John Pilger (John Pilger Special), cortesia de Dartmouth Films, na qual resume o que lhe parece mais crucialmente importante das dezenas de milhares de e-mails distribuídos por WikiLeaks esse ano.

Pilger, australiano como Assange, realizou a entrevista, de 25 minutos, na Embaixada do Equador em Londres, onde Assange está confinado desde 2012, por medida de segurança, para evitar ser extraditado para os EUA. Mês passado, a conexão de internet de Assange foi cortada, alegadamente por “interferência” na eleição presidencial dos EUA, pelo trabalho de seu website.

John Pilger: O que significa a intervenção do FBI nesses últimos dias da campanha eleitoral dos EUA, desta vez contra Hilary Clinton?

Julian Assange: O FBI tornou-se efetivamente a polícia política dos EUA. Demonstrou isso ao provocar a demissão do ex-diretor da CIA[general David Petraeus] porque passara informação secreta para a amante. Quase ninguém é intocável. O FBI está sempre tentando demonstrar que ninguém consegue resistir a ele. Mas Hillary Clinton resistiu muito acintosamente contra a investigação do FBI, o que gerou muita ira, porque fez com que a instituição aparecesse em posição de fraqueza aos olhos da opinião pública. Nós publicamos cerca de 33 mil emails de Hillary, de quando era secretária de Estado. São parte de mais de 60 mil emails, [dos quais] Hillary conservou cerca da metade, 30 mil. E nós publicamos a outra metade.

Depois, estamos publicando os “Podesta emails“. [John] Podesta é principal coordenador de campanha de Hillary Clinton, portanto há um fio que percorre todos esses emails; há muita “negociação” do tipo “pague para jogar”, pay-for-play, como eles dizem, muito acesso liberado a estados, indivíduos e empresas, em troca de dinheiro. [Esses emails] combinam-se com o encobrimento dos de Hillary Clinton, de quando foi secretária de Estado, que gerou um ambiente no qual aumenta a pressão sobre o FBI.

A campanha de Hillary disse que a Rússia está por trás dos vazamentos, que Moscou manipulou a campanha e que é fonte de onde WikiLeaks recebe seus emails.

O campo de Hillary conseguiu projetar esse tipo de histeria neo-macartista: a Rússia sempre é culpada por tudo. Hilary Clinton disse inúmeras vezes, mentindo, que 17 agências de inteligência dos EUA teriam concluído que a Rússia seria a fonte de nossas publicações. É mentira. Posso dizer, porque é absoluta verdade, que nossa fonte não é o governo russo.

WikiLeaks publica já há dez anos. Ppublicamos 10 milhões de documentos, vários milhares de publicações individuais, vários milhares de diferentes fontes, e ninguém jamais encontrou informes falsos no que publicamos.

Os emails que provam que se vendiam acessos [a autoridades], que se trocava acesso por dinheiro, e o modo como a própria Hillary Clinton beneficiou-se desse “mecanismo” e como ainda se beneficia politicamente. São documentos realmente extraordinários. Penso no representante do Qatar, que comprou e pagou com um cheque de 1 milhão de dólares, o “direito” de falar diretamente com Bill Clinton, por cinco minutos.

Do Marrocos, cobraram 12 milhões…

Exatamente, 12 milhões do Marrocos, é mesmo.

… para que Hillary Clinton comparecesse a uma festa.

Em termos da política externa dos EUA, e nesse setor os emails são especialmente reveladores, porque mostram a conexão direta entre Hillary Clinton e o surgimento do jihadismo, do Estado Islâmico (ISIS), no Oriente Médio. Você poderia comentar o modo como os e-mails demonstram essa conexão? Afinal, os que deveriam estar combatendo contra os jihadistas do ISIS, são, na verdade, os que ajudaram a criá-lo.

Há um email do início de 2014, de Hillary Clinton, pouco tempo depois de ela ter deixado o Departamento de Estado, dirigido ao coordenador geral de sua campanha, John Podesta. Hillary diz que o ISIS fora criado pelos governos de Arábia Saudita e Qatar. Esse é o email mais significativo de toda a coleção, e talvez seja o motivo pelo qual há dinheiro saudita e qatari em todos os cantos da Fundação Clinton. O governo dos EUA até admite que algumas figuras sauditas tenham apoiado o ISIS. Mas a fantasia que se criou sempre foi a de que seria dinheiro de alguns príncipes “do mal”, usando o dinheiro que lhes cabe do petróleo para fazer o que quisessem, mas que a ação seria desaprovada pelo governo saudita.

O que aquele email diz é que não. Quem pagava naquele momento para manter o ISIS eram os próprios governos saudita e qatari.

Os sauditas, qataris, marroquinos, bahrainis, particularmente os sauditas e os qataris, estão enchendo de dinheiro a Fundação Clinton, no exato momento em que Hilary Clinton é secretária de Estado, e o Departamento de Estado aprova negócios maciços de venda de armas, particularmente para a Arábia Saudita.

Aconteceu durante o mandato de Hillary Clinton o maior negócio de armas de toda a História, com a Arábia Saudita, [num total de] mais de 80 bilhões de dólares. De fato, durante o mandato dela como secretária de Estado, o valor total em dólares, das exportações de armas dos EUA, dobrou.

Claro, o outro lado dessa moeda é que o grupo terrorista conhecido como ISIS foi criado, em grande medida, com o dinheiro do mesmo pessoal que sustenta também a Fundação Clinton.

É.

É espantoso.

É verdade é que, no plano pessoal, Hillary Clinton me inspira muita pena, porque vejo uma pessoa que está sendo devorada ao longo da vida pelas próprias ambições, literalmente tão atormentada a ponto de adoecer. Ela desmaia, como resultado doentio das próprias ambições. Ela representa toda uma rede de pessoas e uma rele de relacionamentos com Estados determinados. A questão é determinar o modo como Hilary Clinton está encaixada nessa rede mais ampla. Ela é como um eixo de articulação que centraliza e distribui as “energias”. Há várias alavancas distintas em operação, desde os grandes bancos como Goldman Sachs e elementos importantes de Wall Street, e da inteligência, e pessoal no Departamento de Estado e os sauditas.

Ela é o eixo de articulação-distribuição que interconecta todos esses diferentes braços. É como a representação central de tudo isso; e “tudo isso” é mais ou menos o que se vê hoje na posição de mais poder nos EUA. É o que chamamos de establishment ou de “o consenso da capital” [ing. DC consensus]. Outro importante email de Podesta, que já distribuímos, foi sobre como se formou o gabinete de Obama; como mais da metade dos nomes que constituíram o gabinete Obama foram basicamente nomeados pelo CityBank. É impressionante.

CityBank é aquele que mandou uma lista…

Esse mesmo.

… com praticamente todo o gabinete Obama.

É.

Quer dizer que Wall Street decide quem fica e quem sai do gabinete do presidente dos EUA?

Se você acompanhava de perto a campanha de Obama naquela época, percebeu o quanto a campanha rapidamente se aproximou dos interesses dos bancos. Da mesma forma, ninguém pode compreender adequadamente a política externa de Hillary sem compreender a Arábia Saudita. As conexões com a Arábia Saudita são tão íntimas!

Por que Hillary manifestou-se tão entusiasticamente deliciada com a destruição da Líbia? Você pode por favor falar um pouco sobre o que os emails informam – sobre o que dizem a vocês –, do que realmente aconteceu na Líbia? Porque a Líbia é quase diretamente a fonte de muito do que hoje se vê acontecer na Síria: o ISIS, o jihadismo e tudo mais. E foi praticamente a invasão construída por Hillary Clinton. O que os emails nos contam sobre isso?

A Líbia é a guerra de Hillary Clinton, sim, mais do que de qualquer outra pessoa. Barak Obama inicialmente se opôs. Quem promoveu, sempre incansavelmente, aquela guerra? Hillary Clinton. Está claramente documentado nos emails dela. Ela pôs seu agente preferido, Sidney Blumenthal, nessa tarefa. São mais de 1.700 emails dos 33 mil emails de Hillary Clinton que publicamos até agora, só sobre a Líbia. Não porque a Líbia significasse petróleo barato. Mas porque ela viu a importância de derrubar Gaddafi e destruir o Estado líbio –, importante para ela mesma, porque viria a servir-se desse “feito” para concorrer à eleição geral para presidente.

No final de 2011 apareceu um documento interno chamado Tick Tock On Libya que foi produzido para Hillary Clinton, e é a descrição cronológica do que ela fez como figura central na destruição do Estado líbio, que resultou em cerca de 40 mil mortos na Líbia; então os jihadistas mudaram-se para lá, o ISIS instalou-se lá, as populações residentes foram expulsas, o que gerou o fluxo de refugiados e a crise dos migrantes para a Europa.

Não apenas gerou-se ali um fluxo de pessoas obrigadas a deixar a Líbia, a deixar a Síria, e a desestabilização de outros países africanos, por efeito direto do fluxo de armas para a região, mas o próprio Estado líbio foi desmontado e perdeu a capacidade de controlar os fluxos de migrantes que passaram a cruzar o país. A Líbia está diante do Mediterrâneo e sempre funcionou como a rolha que continha a pressão do resto da África. Por isso, pode-se dizer que [a destruição do Estado líbio é a origem de] todos os problemas, problemas econômicos e a guerra civil na África. Porque antes, os problemas não eram canalizados diretamente para a Europa: a Líbia operava como guardiã do Mediterrâneo.

Exatamente o que, naquela época, início de 2011, dizia o coronel Gaddafi: “O que esses europeus pensam que estão fazendo, tentando bombardear e destruir o Estado líbio? Haverá inundação de migrantes e jihadistas saídos da África, que entrarão diretamente na Europa.” Foi precisamente o que aconteceu, efeito direto da guerra de Hillary Clinton.

Você ouve reclamações de pessoas que dizem “O que é isso que WikiLeaks está fazendo? Estarão tentando pôr Trump na Casa Branca?”

Minha resposta é que Trump não será “autorizado” a vencer. Não lhe permitirão vencer. Por que digo isso? Porque Trump tem contra ele todo establishment, todos os vários campos do establishment. Não há uma única área ou setor do establishment a favor de Trump. Talvez só, no máximo, os evangélicos, se se pode dizer que sejam um establishment. Bancos, inteligência, empresas fabricantes de armas, dinheiro de fora etc. todos esses apoiam Hillary Clinton. E a mídia-empresa comercial, claro. Os proprietários das empresas comerciais de mídia e, também, os próprios jornalistas seus empregados.

Há também a acusação de que WikiLeaks estaria associado com os russos. Há quem diga “Ora, por que WikiLeaks não investiga nem publica emails sobre a Rússia?”

Publicamos cerca de 800 mil documentos de vários tipos, relacionados à Rússia. Muitos deles são criticamente importantes; e a partir do que publicamos surgiram vários livros sobre a Rússia, muitos deles de crítica à Rússia. Nossos documentos [sobre a Rússia] já foram usados em inúmeros processos judiciais, dentre outros de refugiados, de pessoas que fogem de algum tipo de declarada perseguição política de que seriam vítimas na Rússia. Em vários desses casos, nossos documentos foram citados em tribunais, como prova.

Como você, pessoalmente, vê as eleições nos EUA? Tem alguma preferência? Clinton ou Trump?

[Falemos para começar, de] Donald Trump. O que ele representa na mente dos norte-americanos e europeus? Representa o lixo norte-americano branco [que Hillary Clinton chamou de] ‘deplorável e imperdoável’. De um ponto de vista de um establishment letrado cosmopolita urbano, são gente que eles classificam como “lixo norte-americano branco”; são intratáveis, é impossível confiar neles. Porque Trump representa muito claramente – por suas ações e palavras, e pelo tipo de gente que participa dos comícios dele – gente que não está “no meio”, que claramente não é a classe média alta educada. Por isso, há esse medo de se aproximarem daquelas pessoas, um medo social que degrada o status de classe de quem quer que seja “acusado”, seja como for, de ajudar Trump — inclusive criticando Hillary Clinton. Se você analisa o modo como a classe média obtém o poder econômico e social que tem, aquele medo que afasta de Trump faz absoluto sentido.

Queria falar sobre o Equador, o pequeno país que lhe deu abrigo [e asilo político] nessa embaixada em Londres. Agora, o Equador cortou a internet aqui, no prédio da embaixada, onde estamos fazendo essa entrevista, pela clara, óbvia razão de todos terem medo de que você intervenha na campanha eleitoral dos EUA. Você pode falar um pouco sobre por que tomaram essa medida e o que pensa do apoio que o Equador lhe dá?

Voltemos a quatro anos atrás. Pedi asilo ao Equador, nessa embaixada, por causa do processo de extradição dos EUA. Um mês depois recebi resposta favorável ao meu pedido. Desde então, a embaixada tem estado cercada pela polícia: é uma operação policial muito cara, na qual o governo britânico admite que esteja gastando mais de 12,6 milhões de libras. Admitiram, faz mais de um ano. Agora, há policiais disfarçados e vigilância por câmeras robôs de vários tipos. Significa que tem havido confusão grave bem aqui, no coração de Londres, entre o Equador, país com 16 milhões de habitantes, contra o Reino Unido e os EUA, que colaboram com os britânicos. A ação do Equador é ação de coragem, na defesa de princípios morais.

Agora, está aí a campanha eleitoral nos EUA. No Equador, haverá eleições em fevereiro do próximo ano. E a Casa Branca sente a pressão política resultante da informação verdadeira que estamos publicando.

O WikiLeaks nada publica de dentro de território ou jurisdição do Equador, nada publica de dentro dessa Embaixada; publicamos da França, da Alemanha, da Holanda e de vários outros países. Assim sendo, a tentativa de chantagear o Equador se faz em torno do meu status de refugiado; e isso, sim, é absolutamente intolerável. [Significa] que [EUA] estão tentando atacar uma organização de mídia, uma organização que publica documentos. Estão tentando impedir a publicação de informação verdadeira, de alto interesse para o povo dos EUA e outros povos, relacionada ao processo eleitoral.

Diga-nos o que aconteceria se você saísse a pé desse prédio onde estamos.

Seria imediatamente preso pela polícia britânica e seria imediatamente extraditado para os EUA ou para a Suécia. Na Suécia nada há contra mim, já fui liberado [pela Procuradora Geral de Estocolmo, Eva Finne]. Não temos muita clareza sobre o que poderia acontecer na Suécia, mas sabemos que o governo sueco recusou-se a garantir que não me extraditaria para os EUA. Sabe-se que os suecos extraditaram 100% das pessoas cuja extradição foi requerida algum dia pelos EUA, desde no mínimo 2000.  Nos últimos 15 anos, todos que os EUA quiseram extraditar da Suécia foram extraditados. Os suecos recusam-se a garantir que não me extraditarão.

Muitas pessoas me perguntam como você consegue superar o isolamento, dentro desse prédio.

Ora… uma das melhores qualidades dos seres humanos é que são adaptáveis; uma das piores qualidades dos seres humanos é que são adaptáveis. Pessoas adaptam-se e passam a tolerar todos os tipos de violência e abuso, adaptam-se e começam a se envolver, elas mesmas, nos abusos, adaptam-se à diversidade e seguem adiante. Quanto à minha situação, sinceramente, já praticamente me institucionalizei – aqui [a embaixada] é o mundo. Visualmente, é o mundo para mim.

Mundo sem luz do sol, para ficarmos só nisso, não é?

É o mundo sem sol, mas faz tanto tempo que não vejo o sol, que já nem me lembro.

É.

É. Você se adapta. Para mim o que realmente me irrita é que meus filhos pequenos também se adaptam. Adaptam-se à vida sem o pai deles. É adaptação muito terrível, que eles nada fizeram para ter de suportar.

Você está preocupado com eles?

Sim. Preocupo-me com eles, preocupo-me com a mãe deles.

Alguns diriam “Ok, nesse caso por que não põe fim a isso tudo, sai pela porta desse prédio e se deixa extraditar para a Suécia?”

A ONU [o Grupo de Trabalho da ONU contra Detenção Arbitrária]  examinou detidamente toda essa situação. Passaram 18 meses em discussão, fizeram minha defesa formal, nos tribunais formais. Hoje, somos a ONU e eu, contra a Suécia e o Reino Unido. Quem está certo? A ONU concluiu que estou sob detenção arbitrária ilegal, privado de liberdade e que o que ocorreu não foi feito segundo as leis que Reino Unido e Suécia são obrigados a respeitar. Sou vítima de abuso e de prática ilegal. Quem pergunta formalmente é a ONU: “O que está acontecendo aqui?” “Qual a explicação legal pra o que está acontecendo aqui?” “[Assange] já requereu que todos reconheçam sua situação de asilado.” [E o que se vê é]

A Suécia já respondeu formalmente aos EUA para dizer que “Não reconheceremos [o que a ONU determina]”. Essa reação deixa sempre ativa a capacidade da Suécia para promover minha extradição.

Estranho muito que a narrativa real de toda essa situação não seja exposta na mídia. Mas sei que esses fatos não combinam com a narrativa do establishment ocidental. A verdade é que, sim, há presos políticos no Ocidente. Existem. Essa é a realidade, e não sou só eu, há muitos outros.

Prisioneiros políticos no Ocidente. Pois é. Há. Mas nenhum Estado ocidental aceita chamar de prisioneiros políticos as pessoas que esses estados prendem ou detêm por motivos políticos. O Estado chinês não fala de prisioneiros políticos na China, o Estado do Azerbaijão não fala de prisioneiros políticos no Azerbaijão, e o Estado norte-americano, o Estado no Reino Unido, o Estado sueco tampouco admitem que também mantêm prisioneiros políticos. São absolutamente incapazes de se verem como realmente são.

Temos aí o caso da Suécia, país no qual jamais fui condenado por qualquer crime, onde fui processado [pela Procuradora Geral em Estocolmo] e absolvido, onde a suposta “vítima” declarou que tudo não passou de encenação criada pela Polícia; onde a ONU declarou formalmente que todo o processo é nulo, porque é ilegal. O Estado do Equador também examinou exaustivamente o caso e concluiu que devia me conceder asilo. OK, os fatos são esses. Mas… e a retórica, qual é?

Sim, é diferente.

A retórica só faz mentir e repetir a mentira segundo a qual eu teria sido acusado de praticar um crime… sem jamais esclarecer que já fui absolvido naquele processo. Sem jamais dizer que a suposta vítima, naquele caso, já confessou que toda aquela ação foi urdida na e pela Polícia sueca.

[A retórica] tenta encobrir a verdade evidente de que a própria ONU já reconheceu formalmente que toda essa história é ilegal. Sem jamais esclarecer, sem sequer mencionar, que o Equador avaliou formalmente todo o processo e concluiu que, sim, sou vítima de perseguição política pelo Estado norte-americano.

PORQUÊ TRUMP PARA PRESIDENTE?



Leopoldo Baio, Luanda

Esta é a pergunta que vale milhares de Dólares Americanos e pode não se calar nas expressões de muitos seres pensantes, porque formatados pela lógica da Democracia Representativa Americana exportada para o mundo como o modelo mais bem acabado do exercício do “Poder Popular”, aliás a Democracia é exatamente isso, uma outra versão do Comunismo; olvidaram-se da simples lógica dos interesses globais da Aristocracia Financeira Mundial enraizada na dicotomia republicano-democrata do poder Americano.

Uma lógica que assenta nos interesses financeiros de dois lobbies: o Democrata, ligado aos minerais e o Republicano ao petróleo e à Indústria Armamentista. Aliás foi essa a lógica que defendi em 2004, em Havana-Cuba, quando em companhia do meu amigo “Martinho Júnior”, participamos como convidados ao III Encontro Internacional de Correspondentes de Guerra.

Na altura, sob o olhar incrédulo de personalidades jornalísticas de várias latitudes do mundo, defendíamos que a lógica do poder americano não nos aconselhava a dar como certa uma vitória do democrata John Kerr, naquela fase em que a Indústria Armamentista alimentava a guerra do petróleo no Iraque.

Uma análise que se apresentava contrária às sondagens, que, com menos de 30 dias para as eleições americanas que conduziram George W Bush para o seu segundo mandato, muito por conta da famosa votação na Florida onde seu irmão era Governador, dava clara vantagem ao candidato democrata.

Incompreendidos na altura, tal intervenção valeu-nos um convite para dissertar sobre o assunto no programa Mesa Redonda, da Televisão Cubana (com considerável audiência em Miami), porque o tema por nós proposto “As Guerras Esquecidas de Africa” expunha duas análises sistémicas das intensidades dos conflitos mundiais conforme Democratas ou Republicanos estivessem no poder nos Estados Unidos da América, assistindo-se ao empoderamento do loobie dos minerais dos democratas e consequente baixa de intensidade dos conflitos entre o Israel e a Palestina, a ascensão e estabilidade de países cuja economia assenta na exploração de minerais (realce-se a África Sub-sariana com a África do Sul na base da pirâmide) e consequente valorização no mercado dos produtos minerais, enquanto que com os republicanos são notórios o aumento de conflitos em zonas estratégicas de produção de petróleo, satisfazendo, por arrasto, a Indústria do Armamento.

Se esses fortes interesses reelegeram “fraudulentamente” Bush, não nos estranha que o venham a fazer nestas eleições com Donald Trump, porque na lógica da américa “rural” onde os negócios se sobrepõem à política (política é isso mesmo), não é crível que se percam mais cinco anos sem lucros para a Indústria do armamento, que se alimenta dos conflitos normalmente ateados pelos republicanos e do petróleo, cujo peço tende a subir em função dos interesses conexos.

Estando o cenário montado, com o Director do FBI (um Jurista Republicano) a despoletar a famosa surpresa de Outubro, baseada na reabertura das investigações ao caso dos emails da candidata Hilary Clinton a menos de dez dias das eleições, as incertezas e as dúvidas podem proporcionar mais uma fraude, em que se converteram todas as eleições americanas, porquanto não se pautam pela lógica de um homem – um voto remetendo as decisões para os chamados Colégios Eleitorais, que, verdade se diga, são pouco escrutináveis.

Aqui chegados, discordando com os que defendem ser a democracia americana o processo mais bem acabado do exercício do “poder popular” e de soberania, mesmo com os contrapoderes corporizados no denominado chek Balance, não acredito que a vitória da senhora Clinton esteja garantida.

As eleições nos Estados Unidos vão ser, certamente, uma verdadeira TRAMPAGEM.

ELEIÇÕES NOS EUA, DIA DOS NORTE-AMERICANOS ESCOLHEREM A DEFECAÇÃO PREFERIDA




Mário Motta, Lisboa

Eleições nos EUA, hoje. Na costa leste já se vota, o sol chega lá primeiro. Não tarda e todos os EUA – nem todos – acorrem às secções de voto a escolherem a defecação preferida para presidir à nação que mais crimes de guerra e contra a humanidade tem globalmente cometido, depois de Hitler. Chamam-lhes… e consideram-se a potência mundial, o império, com razão. A história diz-nos que todos os impérios caem. O império dos EUA já está a cair. O estrondo, a queda total, talvez só daqui por algumas décadas. Aguardem pacientemente, a história repete-se mesmo que demore séculos.

Em Portugal, como em qualquer aldeola do mundo, o tema eleições nos EUA é tão lembrado, publicitado e comentado como se de eleição do regedor da aldeola se trate. Afinal todas as aldeolas, quase todas, fazem parte da subserviência imposta àquele império – os da média tratam disso. Com muito mais acuidade no pseudo “mundo livre, democrático e ocidental”.

Nas eleições norte-americanas é notório que a manipulação assenta na dependência de dois candidatos, denominados democratas e republicanos. A comunicação social de quase todo o mundo ignora outros candidatos que também concorrem. Nesta campanha eleitoral-espetáculo as vedetas são Hillary Clinton e Donald Trump. E é sempre assim. Tem sido sempre assim. Os candidatos dos dois partidos que dominam e repartem os EUA e o mundo entre si – democratas e republicanos – impõem-se nas luzes da ribalta por domínio absoluto de que desfrutam na comunicação social. São praticamente ignorados e relegados à escuridão os outros candidatos que apesar de tudo vão à disputa e que fariam muito mais sentido serem eleitos. Mas tal não interessa às grandes corporações, aos sindicatos da corrupção, do armamento e da guerra, aos poderosos das finanças que sugam por quase todo o mundo os recursos pertencentes aos outros continentes, aos outros países e aos outros povos.

200 milhões de eleitores norte-americanos registaram-se para votar nas eleições de hoje nos Estados Unidos. São eles que vão determinar quem será o 45.º Presidente. Aparentemente a compita eleitoral é só entre Clinton e Trump, mas também Gary Johnson, ex-governador republicano do Novo México e candidato do Partido Libertário - terceiro maior partido dos EUA - e a candidata presidencial do Partido Verde, Jill Stein, estão na corrida eleitoral. Claro que desses quase ninguém no mundo sabe de suas existências. Fruto da comprovada manipulação dos órgãos de comunicação social de todo o mundo e, principalmente, dos EUA.

“Que venha o diabo e escolha” é o termo português para definir o que não presta entre pares. Nos EUA diz-se que têm de escolher e eleger para presidente “o mal menor”. Por isso hoje é dia da condenação dos eleitores norte-americanos terem de escolher a defecação preferida. É exatamente disso que se trata. E o que tem de ser tem muita força. Até um dia, porque é importante não esquecer que o mundo pula e avança – como se canta na “Pedra Filosofal” tão portuguesa… e global.

Mais lidas da semana