sexta-feira, 23 de junho de 2017

A detenção prisional de camarada Comandante Manecas é grande asneira, uma desgraça nacional



GUINÉ-BISSAU

Abdulai Keita* | opinião 

A detenção prisional de camarada Comandante Manecas, um alto oficial das nossas gloriosas FARP na reserva, tendo-se desengajado dessa nossa sociedade castrense sem mácula nenhuma, ao contrário, só com distinções, é uma asneira grande. E pensada no fundo, no fundo, é uma DESGRAÇA NACIONAL. Condenável e a condenar, exigindo a sua libertação imediata, pelas seguintes razões.

1 – Os membros da sociedade castrense de todo o mundo e desde sempre, são cidadãos comuns à partida, como todos os outros cidadãos. Os membros das nossas gloriosas FARP, sobretudo, aqueles da geração de camarada Comandante Manecas, dos anos entre 1963 e 1980 e que sempre se mantiveram firmes na linha originária desta nossa instituição não escapam a esta regra. Uns já nos deixaram e outros ainda encontram-se no nosso seio, estando ainda de vida.

Visto portanto em geral, são cidadãos comuns, mas caraterizados por um elemento particular de destaque das suas vidas. Decidiram ou são os que foram/são chamados a defenderem todos os membros das suas sociedades contra todos os mais feios géneros de ameaças de destruição imediata, particularmente do tipo bélico. Isso, em qualquer momento e sob quaisquer circunstâncias. Tudo sob o empenhamento total e direto das suas vidas.

Por isso é que, os membros da sociedade castrense em todo o mundo, sobretudo quando são elementos dos mais destacados no seu seio, os altos oficiais, tendo cumprido todo o período dos seus serviços sem mácula; portanto, altos oficiais na reserva, são sempre respeitados. Muito respeitados.

Em outras palavras, não podem ser tratados de qualquer maneira. Porque são gente merecedora de grande respeito e honra. E isso se faz e é assim porque beneficia eternamente toda a sociedade. Beneficia toda gente em cada sociedade, em termos da criação permanente e do cultivo de referências benéficas a sua preservação sã no espaço (de imediato) e perpetuação sã no tempo (no futuro).

O camarada Comandante Manecas pertence a esta categoria dos mais destacados altos Oficiais na reserva, das nossas gloriosas FARP. Ele como tantos outros da sua geração que ainda estão de vida, como os camaradas Comandantes Luís Correia,  Lúcio Soares que me vêm agora assim de imediato na memória e que já estão na reserva.

Estes cidadãos nossos, devem e merecem muito respeito e honra, pelo bem da nossa sociedade inteira. Por isso, tratar mal qualquer um deles, tal como no caso aqui in causa, significará sempre, pensado no fundo, no fundo, uma desgraça nacional, e portanto, uma asneira grande, quando perpetrado pelos próprios agentes do nosso poder estatal.

2 – Mas há mais. Porque esta detenção prisional agora do camarada Comandante Manecas, acontece pelas simples razões deste ter dito numa longa entrevista de pelo menos 10 páginas, entre várias outras coisas, de que, se o nosso atual S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV continuar não querer ir (marcar) para as eleições legislativas, nem antecipadas e nem regulares, numa posição totalmente anticonstitucional, pode haver daqui a um ano e meio um Golpe de Estado Militar na Guiné-Bissau.

Essa detenção, assim executada pela simples razão portanto desta afirmação, é uma afronta, um gritante atropelo a um dos direitos fundamentais nos Regimes de Democracia Parlamentar Representativa e de Estado de Direito. O direito à liberdade de expressão de opiniões.

Mas sendo o camarada Comandante Manecas, um alto dirigente do PAIGC, o Partido que o nosso atual S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV, veio forçar para a oposição contra ele mesmo (JOMAV), desde o dia 12 de Agosto de 2015; quando é detido esta personalidade política e apenas por esta tal razão, este ato então não constitui simplesmente um ato de abuso de poder, contra única e exclusivamente só este Partido PAIGC, mais sim contra todos os Partidos do atual mosaico de uma trintena existente no nosso país. E é por isso que, este ato, pensado no fundo, no fundo, é mesmo também e até, contra aqueles que mandaram perpetrá-lo eles mesmos. E eis, também aqui e sendo assim, não pode ser outra coisa senão uma asneira grande, um ato de desgraça nacional.

3 – E agora uma interrogação. Então, essa tal afirmação de camarada Comandante Manecas, pela qual é detido agora, o que é na realidade?

Resposta. Na realidade e com efeito, é uma afirmação de alerta. Tida corajosamente, publicamente e em voz alta. Uma alerta dirigida, mais uma vez, nesta forma, a nós todos bissau-guineenses. É a afirmação de uma verdade de todas as verdades sobre a dinâmica lógica podendo resultar  a qualquer momento da nossa atual situação política de crise vergonhosa vigente no país desde há já 21 meses e pico.

Uma situação vigente desnecessariamente. Porque construída, instalada e sustentada, apenas pela teimosia do nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV. Ele que se destacou de ser aquele que não aceita conselhos sábios nenhuns de ninguém. Desde que são conselhos indo no sentido do respeito irrestrito das leis da governação do nosso país nestes tempos. Ele, à frente de tudo, com os apoiantes de todos os bordos da sua posição totalmente errada e equivocada.

Tudo. Errada e equivocada em relação aquilo que devia e deve ser constitucionalmente, atualmente e hoje mesmo nestes segundos, o papel de um Presidente da República da Guiné-Bissau na governação deste país, na Democracia, após o “caso 12 de Abril” de 2012, entre outros e tudo mais.

Pois é então, sendo tudo assim e conhecendo bem a nossa história bem recente, só quem tem a pedra na totona não reconheça analiticamente neste momento, a veracidade de uma tal afirmação. De que o nosso país vive de facto, neste momento, no risco da eminência de um eventual Golpe de Estado Militar.

E repito, só quem não quer ver analiticamente e quase a olho nu, que se esquivará desta verdade. Existe sim Senhor, neste momento na Guiné-Bissau, o grande risco da probabilidade eminentíssima do cenário de um eventual Golpe de Estado Militar. Este pode tornar-se, infelizmente e ai, uma realidade pura e dura nesses tempos neste país e a qualquer momento.

Portanto, mandar deter alguém, do gabarito de camarada Comandante Manecas por ter chegado a esta conclusão nas suas análises, exprimindo-a corajosamente em voz alta, advertindo-nos, nós todos, bissau-guineenses, não passa, como já registado, de uma asneira grande. E como tratando-se evidentemente, precisamente de camarada Comandante Manecas, e não de outro alguém, um destacado alto oficial na reserva, das nossas gloriosas FARP, não é e não pode ser algo de outra coisa nenhuma, senão esta asneira grande e desgraça Nacional.

4 - É asneira grande e desgraça nacional ao par! Talvez que os seus perpetradores não o saibam assim ainda hoje. Não estão em condições de tomarem consciência clara disso. Pela simples ignorância ou porque tapados por uma lógica centrada pura e simplesmente na singularidade dos seus interesses mesquinhos. Não são capazes de ver o que é comum. O que deve constituir “Tabus” protetores, já foi dito mais acima, de toda gente na nossa sociedade toda. Uma proteção válida no espaço e no tempo, para todos.
        
E chegado a este ponto, eis a imperatividade de mais uma interrogação. Vejamos. Nós todos, bissau-guineenses, colocados diante de tudo tido e visto até a preste data, no desenrolar dos 21 meses e pico desta ainda sempre prevalecente situação política de crise vergonhosa no nosso país; colocados diante de tudo que se viu acontecer portanto até aqui, onde é que está nesta história de detenção de camarada Comandante Manecas, a igualdade dos cidadãos perante à Lei? Por causa do declarado na sua afirmação. Onde?

Sabendo que, por exemplo, o Sr. Botche Candé, o atual Ministro de Estado e do Interior (do atual 2º Governo de Iniciativa Presidencial desta presente IX Legislatura, ilegal desde já há 107 dias), convidou bem recentemente e publicamente a gente (jovens), sob olhares do nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV em Gabú, de ir atacar/invadir a ANP (o Parlamento) em Bissau.

O que é que se fez contra este ato? Nada! Nem um puto do desmentir pela parte do Governo e muito menos pela parte do nosso S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV. Tanto mais para se distanciarem e condenarem um tal ato de incitamento direto à violência, assim como, pelo menos, para mandarem destituir este governante. Pela perpetração in flagrante à vista e sob ouvido de todos, de um tal crime de incitamento direto e público à violência.

E, agora venham aí deter alguém, do gabarito de camarada Comandante Manecas pelo crime de “simulação” de uma eventual violência. Eis uma vergonha! Asneira grande! Desgraça nacional e tudo mais. Não tenho outra qualificação.

5 – Enfim e finalmente, eis de outro lado, a minha posição pessoal diante desta afirmação de camarada Comandante Manecas, subscrevendo tudo o antes aqui registado. Em como analista, sociólogo bem versado na área da Sociologia política, com atenção centrado (entre outros) nos Estudos de relações de poder no quadro do exercício da Democracia Parlamentar Representativa e de Estado de Direito na Guiné-Bissau. Portanto, a minha posição pessoal em como quadro bissau-guineense, um intelectual engajado, mas sempre mantendo o seu papel e responsabilidade do intelectual.

Eis então a minha posição pessoal diante desta afirmação de camarada Comandante Manecas.

Com efeito, esta detenção executada, pelas razões desta tal afirmação livremente exprimida, deste Comandante, e repito, um destacado alto oficial das nossas gloriosas FARP na reserva, encontrando-se doente, internado numa clínica; esta detenção numa tal circunstância é cúmulo de tudo. Bárbaro! Porque é, em primeiro lugar e muito particularmente, uma falta de respeito gritante do simples ponto de vista humano, contra todos os membros das nossas gloriosas FARP, antigos e novos, no ativo e na reserva. E, em segundo lugar, em geral, contra todos os cidadãos muito conscientes do seu papel e obrigação do exercício de cidadania.

É um ato forte, gritante, grosseiro e bárbaro de atentado contra a democracia e implantação do Estado de Direito na Guiné-Bissau. Porque, questiona-se. Podendo-se agir assim contra este nosso conterrâneo cidadão muito destacado, onde estará o limite da gente estando agir agora assim exatamente desta forma contra todo o mundo.

Bom, por isso, este ato, na minha posição pessoal, não é qualificável senão, tendo sido pensado, ordenado e perpetrado apenas por quem ainda não entendeu e não entende nada! Do mínimo do que é a noção do Estado. Mas que se encontra a governar-nos. Efeitos perversos da democracia. Uma desgraça nacional, total.

Desgraça! Porque pois, agir assim tal como procedido, não passa disso. De mais uma das maiores asneiras, tal como tantas quantas muitas outras já a figurarem no catálogo já muito repleto dos atos do género, já perpetrados neste fanfarrão do Regime de não-sei-quê, que o nosso atual S. Exa. So Presi, Dr. JOMAV quer instalar no nosso país. Errado! Não passará puto!

Estou escandalizado e muito indignado. Pelo que condeno e exijo ao par, em voz gritante, a libertação imediata deste nosso conterrâneo e camarada de luta. Nosso mais velho. E que, todos e todas daquele bordo que assim estão agir nestes minutos, leiam bem os dados da República da Guiné-Bissau neste capítulo da perpetração das asneiras grandes e desgraças do género; dados da nossa história bem muito, muito recente; para que saibam que, com este tipo de asneiras, cá, aí, ninguém vai longe. A ver vamos.

Ao camarada Comandante Manecas, grande filho do nosso povo bissau-guineense, de Cabo Verde e de África inteira, coragem! Minha total indignação e condenação forte deste mais um ato de asneira grande dessa atual gente governante do nosso país. Asneira e desgraça nacional.

LIBERTAÇÃO IMEDIATA DE CAMARADA COMANDANTE MANECAS. IMEDIATA!
        
Obrigado.
Que reine o bom senso.
Amizade.
A. Keita

*Pesquisador Independente e Sociólogo (DEA/ED) | E-mail : abikeita@yahoo.fr

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