Detenção
de Manuel dos Santos ("Manecas") é "deplorável" e demonstra
receio que o poder político da Guiné-Bissau tem "até da própria
sombra", afirma escritor e jornalista Tony Tcheka.
"A
detenção de Manecas Santos é deplorável e motivo de uma enorme indignação.
Nenhum cidadão guineense, independentemente das suas razões e questões
ideológicas, pode estar tranquilo com uma atitude dessa natureza",
sublinhou à agência de notícias Lusa o também vice-presidente da Associação de
Escritores da Guiné-Bissau (AEGB).
A
detenção na segunda-feira (19.06.) de "Manecas" Santos surgiu na
sequência de uma entrevista dada em abril ao jornal português Diário de
Notícias, em que o veterano comandante, de naturalidade cabo-verdiana, alertou
para a possibilidade, face ao impasse político vigente há cerca de dois anos,
de um novo golpe militar na Guiné-Bissau.
O
veterano da luta armada pela independência da Guiné-Bissau tinha sido ouvido,
há cerca de um mês, pelo Ministério Público, em Bissau, para esclarecer as
declarações.
Motivações
políticas?
Questionado
esta terça-feira (20.06.) pela Lusa, Tony Tcheka, afirmou não ver qualquer
outra razão para a detenção de "Manecas" Santos que não
"motivações políticas".
"Trata-se
de uma perseguição feita em lume brando, hoje isto, amanhã aquilo. Qual o mal
que tem um homem que, com o passado de Manecas Santos, vivendo na Guiné-Bissau,
faça uma análise da situação social e política", questionou.
"O
grande crime de 'Manecas' Santos é que as circunstâncias, tudo o que envolve a
Guiné-Bissau de hoje, pode indiciar situações mais complicadas, entre elas a
possibilidade de um golpe de Estado. Temos um passado recente complexo, sabemos
como foi o conflito político-militar de 1998/99, como aconteceu, Manecas Santos
estava presente no terreno, de maneira que nada melhor do que alertar",
acrescentou.
Tony
Tcheka salientou, por outro lado, a ideia de que quem pretende levar a cabo um
golpe de Estado não o anuncia.
"Quem
vai dar um golpe de Estado, quem está alinhado em golpes de Estado, não ameaça
nem diz que vai fazer um golpe de Estado. 'Manecas' não disse que vai dar, ou
que vai participar ou que faz a apologia do Golpe de Estado. Simplesmente disse
que o cenário existente pode conduzir a uma situação de golpe de Estado",
explicou.
Guiné-Bissau
sob a batuta de Jomav
Para
o jornalista, escritor e poeta guineense, os "atuais senhores" da
Guiné-Bissau "acabam por ter medo de tudo e todos, até da própria
sombra".
"Têm
tudo o que é poder, o que são forças da Nação, ao seu serviço, não em defesa da
Constituição da República, não em defesa das leis, mas sim em defesa dos seus
próprios interesses. Quem não alinha nesse festim, quem não bate palmas,
automaticamente é eleito como inimigo a abater, a eliminar".
"Isso
é deplorável, é lamentável, e mostra exatamente os caminhos por que a
Guiné-Bissau está a seguir sob a batuta do Presidente da República", José
Mário Vaz, concluiu.
PAICV
apela à libertação "imediata e incondicional" de 'Manecas'
O
Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) apelou esta terça-feira
(20.06.) à libertação "imediata e incondicional" de 'Manecas' Santos,
classificando a sua detenção como um "ato inqualificável" e
"injustificado" que configura "violação dos direitos
humanos".
"A
detenção do comandante 'Manecas' Santos, uma figura carismática da luta de
libertação nacional de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, é um ato inqualificável,
que demonstra uma grande falta de respeito e uma vã tentativa de humilhar um
alto dirigente do PAIGC", considerou o PAICV em comunicado.
Para
o PAICV, mandar deter 'Manecas' Santos, por "ter emitido uma opinião,
enquanto cidadão, e numa sociedade que se diz livre, democrática e pluralista,
consubstancia um ato injustificável e com laivos de autoritarismo, e constitui,
ademais, uma grave violação dos direitos humanos".
Por
isso, os responsáveis do partido cabo-verdiano condenam o que consideram uma
"detenção ilegal", solidarizam-se com 'Manecas' Santos e apelam
"à sua libertação imediata e incondicional".
Agência
Lusa | Deutsche Welle
Imagem
| Foto de arquivo: Manuel dos Santos "Manecas" ao lado de Amílcar
Cabral (esq.) (1972)
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