O
ministro Augusto Santos Silva, pelo governo socialista, e BE e PCP mostraram
visões irreconciliáveis sobre o futuro da União Europeia
Entre
o otimismo de Augusto Santos Silva e Pierre Moscovici e o pessimismo de
Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, a conferência do DN "Que Europa
queremos?", ontem realizada em Lisboa, foi um exercício de contraditório
que deixa pistas para equilíbrios difíceis na Europa, mas também no plano
nacional nos dois anos que faltam da atual legislatura.
O
líder comunista e a coordenadora bloquista deixaram avisos de que esta Europa
falhou. Jerónimo defendeu a necessidade de renegociar a dívida pública e
libertar Portugal "da submissão ao euro e das imposições e
constrangimentos da União Europeia", enquanto Catarina afirmou que se deve
reestruturar a dívida e nacionalizar empresas estratégicas "para retirar o
país do regime de protetorado em que se encontra".
Para
o líder do PCP, "a atual fase da vida política nacional" - "sem
prejuízo das possibilidades que abre e que não devem ser desperdiçadas" -
evidencia "ainda mais o indispensável objetivo de rutura com a política de
direita e a necessidade de uma outra política". Uma mudança que o PCP
considera "indispensável" para "libertar o país das limitações e
constrangimentos" impostos pelas instituições europeias. Já a
"reestruturação da dívida, a nacionalização de empresas e a política
orçamental contracíclica de que o país precisa", defendidas pela
coordenadora do BE, exige "uma postura em contracorrente com as orientações
das instituições". Catarina disse que "o projeto de integração
europeia que foi apresentado aos portugueses com tanta esperança tornou-se um
tremendo pesadelo", persistindo na "obstinação do euro" e
fazendo do país "uma colónia governada pelo medo".
Nos
antípodas de bloquistas e comunistas, o ministro dos Negócios Estrangeiros
passou em revista os grandes desafios da Europa, aproveitando para reafirmar os
compromissos de Portugal com o projeto europeu. Nomeadamente o do
aprofundamento da União Económica e Monetária. "Uma zona monetária incompleta
e imperfeita agrava as divergências", sublinhou Augusto Santos Silva, que
fez sorrir a sala ao afirmar que "o governo tem total confiança no
presidente eleito do Eurogrupo". BE e PCP dificilmente dirão o mesmo.
Quem
também falou de Mário Centeno foi o comissário europeu Pierre Moscovici, que
aproveitou a sua passagem por Lisboa, para participar na conferência do DN,
para definir com o recém-eleito presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças
português os desafios para 2018. Entre essas prioridades está a conclusão do
programa de assistência à Grécia. "Estou muito otimista que o programa se
conclua em agosto", apontou, esperando que Atenas avance para um novo
capítulo, apesar de persistirem reformas por fazer. O exemplo grego, somado ao que
Moscovici diz serem as boas perspetivas de Espanha e França, além da saída de
Portugal do programa de ajustamento, "prova que os procedimentos que
adotámos durante a crise funcionaram". Catarina Martins e Jerónimo de
Sousa discordam em absoluto.
Já
Assunção Cristas, presidente do CDS, esteve no Centro Cultural de Belém para
defender que "não precisamos de mais Europa, precisamos de melhor
Europa". Para a líder centrista, aquela que tem sido a resposta mais usada
pelos responsáveis europeus para responder aos problemas da construção europeia
já não serve. Nomeadamente quanto a "problemas estruturais" como o
inverno demográfico, as migrações ou o reacender dos populismos dentro das
fronteiras da UE. Em vez disso, defende Assunção, a resposta deve passar por
uma Europa mais descentralizada e mais flexível.
O
desígnio europeu é um caminho a que Portugal não pode escapar, defendeu o
embaixador Martins da Cruz. "Nós não temos alternativas à Europa, Portugal
está e tem de estar na União Europeia", disse o antigo ministro dos
Negócios Estrangeiros. "Enquanto existir a UE, e já agora o euro que
conhecemos, não temos alternativas nem opções válidas", apontou. E deve
"saber valorizar na Europa os outros eixos da nossa política externa,
sobretudo o vetor africano", e ter em Espanha "a nossa política
externa permanente".
Como
sintetizou Santos Silva na última linha da sua intervenção: "A Europa
estar viva é a melhor notícia que o mundo pode ter nos dias de hoje."
Miguel
Marujo e Susete Francisco | Diário de Notícias
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