sábado, 23 de dezembro de 2017

Angola | FAMÍLIAS CORTAM GASTOS

Ao contrário do que acontecia nos anos anteriores à crise,  os mercado de Luanda apresentam uma imagem de indiferença. Não há aquele habitual alvoroço que se regista em véspera de Natal. Era como se as famílias nada quisessem saber do evento.

Não se vêem pessoas a carregar grades de gasosa, de cerveja, sacos de batata e outros tipos de alimentos e bebidas de um lado para o outro. As paragens de táxi não estavam cheias e as pessoas andavam completamente descontraídas.  Os rostos não manifestavam ansiedade por se estar a escassos dias do Natal.

A realidade dos supermercados não é diferente da dos mercados paralelos. Nas lojas, há um número muito reduzido de pessoas a fazerem compras.

Quase às moscas

O primeiro estabelecimento a ser visitado foi a Max do Antigo Controlo, na Samba. Aqui, a instituição estava quase às moscas, se comparado com os outros dias. Um número bem ínfimo de clientes circulava pela loja, procurando pelos produtos que lhes interessava. Tentamos falar com o gerente, a fim de saber se o ambiente registado na loja, nessa véspera de Natal, era superior ou inferior ao do ano passado. Localizado, ele disse não ser a pessoa certa para fornecer tais informações e, por isso, indicou-nos a área de Marketing, que fica no Talatona, onde, por sorte, está a loja mãe. 

Não hesitamos e deslocamo-nos até lá. Fomos até a Área de Marketing e, mais uma vez, o mesmo cenário. O adjunto da área não aceitou falar porque não era de sua competência. O responsável principal não se encontrava presente, pelo que indicou-nos o director da loja. 

Fomos ter com ele, mas foi em vão. Também não aceitou falar. Como não nos davam informações, não tivemos outra opção que não fosse dar uma volta pela loja e medir o nível de frequência. Eram 14H00 e constatamos que, efectivamente, o número de clientes era muito reduzido.

Sem comparação possível 

Daí seguimos para o hipermercado Candando, que fica bem ao lado. Aqui, diferente do anterior lugar, encontramos uma funcionária que não deu voltas. Abriu-nos logo o livro. “Não há comparação possível. O ano passado, nessa fase, fomos mais visitados. A essa altura, já teríamos a loja completamente abarrotada. Não sei se é a crise que afectou o país ou se é pelo facto das famílias quererem economizar, mas o certo é que as famílias não estão a gastar como gastaram o ano passado”, disse a funcionária. 

A realidade não foi diferente no hipermercado Kero, do Gika. Apesar de não termos conseguido falar com a responsável da área de Marketing, pois não funciona naquele estabelecimento, conseguimos, ainda assim, saber de um alto responsável, que este ano a loja registou uma grande redução de clientes nessa fase, se comparado com o ano passado.  Este funcionário acredita que a redução de clientes deve-se ao facto das famílias decidirem, este ano, não gastar muito no Natal. “Acho que as famílias não querem gastar muito nessa quadra festiva”, disse o responsável.

Gastar menos

O palpite do responsável do Kero é certeiro. Teresa Pedro, dona de casa, que se encontrava no mesmo estabelecimento comercial a fazer compras, disse à reportagem do Jornal de Angola que este ano não vai fazer muitos gastos, pois pretende fazer “alguma” economia. “Com essa crise, mano, não dá para gastar muito. Não sabemos quando é que ela vai passar”, afirmou. 

Já a sua filha Iznóbia Romão, que prepara o seu primeiro Natal este ano, pois juntou-se agora ao marido, decidiu adoptar uma estratégia para não rotular Janeiro como Mês da Fome. “Normalmente em Janeiro as pessoas não têm dinheiro e os salários tendem a atrasar. Para contrapor a essa situação, vou abastecer a minha despensa não para consumir agora, mas sim em Janeiro”, disse a nova dona de casa. Iznóbia Romão deu ainda a conhecer que no Natal vai fazer apenas um almoço normal para a família.

Dionísio Velasco, um outro interlocutor interpelado pela nossa equipa de reportagem, tem uma abordagem diferente. Na sua opinião, os preparativos para o Natal este ano estão bem melhor que no ano passado. 

“Sem sombra de dúvida. As pessoas estão mais galvanizadas e mais satisfeitas”, afirmou. Dionísio Velasco disse que no ano passado as pessoas não tinham  ânimo de ir às lojas comprar alguma coisa para o Natal, mesmo tendo algum dinheiro.  Para este chefe de família, o povo tinha perdido a esperança por causa do mau momento que o país estava a atravessar. “Já este ano nota-se um ambiente diferente. Vemos as pessoas a irem atrás da árvore e de outros produtos para celebrarem o Natal”.

Crianças dizem-se satisfeitas

A nossa reportagem não se limitou a ouvir os adultos. Também deu espaço às crianças, que disseram o que acharam dos presentes que receberam dos pais este ano. Cássio de Oliveira, de sete anos, disse que gostou muito do presente que recebeu dos pais, era o que queria receber.

“Estou muito contente com o presente que recebi”, disse o menino.  Quem também gostou do presente que recebeu foi o pequeno Beteandro Mendonça, de dez anos, que recebeu dos pais um comboio. Perguntado se quer ser um maquinista quando crescer, Beteandro não dá volta: “quem sabe? Vou pensar”, disse, com um sorriso nos lábios.   

César Esteves | Jornal de Angola | Foto: Vigas da Purificação | Edições Novembro

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