Eugénio Costa Almeida* | opinião
Em final de ano é habitual
fazer-se uma análise do ano civil que encerra. Só que, se me permitem, irei
fazer não uma análise, mas tentarei trazer à colação factos, internos e
externos, que estão a ocorrer neste final de mês de Dezembro e que poderão ter implicações,
seja onde as mesmas ocorreram ou ocorrem, como na cena internacional; e, como
em certas ocorrências internacionais, poderão, também directa ou indirctamente,
ter influência na nossa vida política e económica.
a). Comecemos pelos factos
internos que me parecem mais importantes ou que mais impacto imediato e futuro
poderão ter:
1. O presidente João Lourenço, na
linha o que declarou nos comício eleitorais está a levar por diante uma das
suas máximas: combate à corrupção, ao nepotismo – no que foi sublinhado pelo
antigo presidente dos Santos no Seminário do MPLA sobre estas matérias –; e um
dos meios que o presidente Lourenço vê como sendo uma das formas de combater
estes dois cancros da nossa sociedade é “exigir” o retorno de capitais
exportados ilicitamente para o exterior e, caso reinvestidos no País, não serem
objecto de escrutínio quanto à forma e como foram obtidos e saíram.
Ora, este é precisamente um
problema com que passarão alguns dos nossos financiadores no exterior. Como
retornar parte substancial deste capital – estando aplicados, não poderão sair
totalmente do exterior – sem que sejam questionados a sua deslocação e como
terão sio obtidos. Algumas notícias recentes mostram que alguns desses capitai,
mais que obtidos e forma pouco clara, terão sido conseguidos com manobras pouco
ou nada transparentes e com efeitos negativos de onde foram recolhidos. Veremos
como o Presidente João Lourenço conseguirá, jurídica e politicamente obter uma
vitória económica.
2. E por falar em economia, o OGE
para 2018 apresentado na Assembleia Nacional, além de patentear alguma
contenção nas despesas, com particular evidência nas que ocorrem com os
detentores de cargos públicos e antigos governantes – ui! isto vai dar maka –
que vão ver parte dos direitos e regalias cortados ou suspensos, como suspensão
da atribuição de veículos do Estado para apoio à residência aos titulares de
cargos políticos, magistrados e outros beneficiários, ou os bilhetes de viagem
dos titulares de cargos políticos, magistrados, deputados e respetivos
cônjuges, passarem da 1.ª classe para a classe executiva e, dos titulares de
cargos de direção e chefia, da classe executiva para a classe económica, vai
apresentar, pelo 5º ano consecutivo um défice de um défice de 697,4 mil milhões
de Kwanzas (cerca de 3,6 milhões de euros ou 4 mil milhões de dólares
norte-amricano), equivalente a 2,9% do PIB – ainda assim, bem inferior aos
precedentes – e as admissões função pública continuarão congeladas (quero crer
que esta medida poderá ser revertida dada a necessidade de aumentar os
efectivos policiais e , provavelmente, o número de professores. Veremos o
impacto social do primeiro OGE de João Lourenço e como sairá o veredicto da
Assembleia Nacional que o Presidente quer que passe a ser mais fiscalizador do
Executivo.
b). Na cena internacional quatro
factos importantes, três dos quais com evidente impacto directo ou indirecto no
nosso País:
3. As relações com Portugal que,
ultimamente, estão um pouco frias, devido, em grande parte, a um processo
judicial em que está envolvido o anterior vice-Presidente Manuel Vicente.
Angola deseja que o processo seja tratado no País, devido à questão da
imunidade jurídica por que detém Vicente. Ora, as interpretações jurídicas não
coincidem, pelo facto de o processo ter começado antes de se tornar
vice-presidente e, pelo meio, estar em causa um processo civil e económico onde
a Sonangol estará, ainda que indirectamente, envolvida, por causa do cargo que
Vicente lá detinha.
É que uma eventual auditoria, que
venha ser levada a efeito na Sonangol, e que incida sobre todos os anteriores
gestores, poderá tornar a situação jurídica dos visados, mais alarmante.
4. A questão da República
Democrática do Congo, quer nas razões internas – a persistente teimosia de
Joseph Kabila (jr.) Kabange em se manter no poder estar constantemente a
protelar as eleições gerais, assim como as insurreições internas com os
refugiados a colocar problemas nos países vizinho, como, recentemente, em
Angola –, quer na área externa com o problema da região dos Grandes Lagos onde
a instabilidade política, administrativa e militar da RDC se fazem, também,
sentir.
De notar, que João Lourenço já
procurou dar um contributo para que as makas congolesas se diluam. Veremos.
5. A eleição de Cyril Ramaphosa,
actual vice-presidente sul-africano, na passada segunda-feira, como o novo
líder do ANC, aparecendo como o possível sucessor do actual chefe de Estado,
Jacob Zuma, que vê a sua posição política e social cada vez mais contestada. E
aqui, vamos verificar como Presidente Zuma irá sobreviver tendo como
vice-presidente, o seu novo líder político partidário. É que, ao contrário da
nossa vida política, em que o presidente do partido, MPLA, que sustém o
Executivo não faz parte deste, e o vice-presidente do MPLA é Presidente da
República, podendo fazer impor esta sua posição às normas estatutárias do
partido, na África do Sul, Zuma não só deixou de ter algum poder no ANC como a
sua posição quer dentro do partido como no meio político, jurídico e social
sul-africano é muito instável, pelo que é de prever que as eleições gerais
sul-africanas deverão ser antecipadas. A Cidade Alta vai ter de estar alerta
sobre quais vão ser as novas directrizes políticas que sairão de Petrória. Ramaphosa,
ao contrário da sua oponente derrotada, Nkosazana Dlamin Zuma, é visto como
muito menos “simpático” com os vizinhos da SADC. A nossa diplomacia terá de
estar muito atenta.
6. Finalmente, e ainda que não
nos afecte muito directamente – ou talvez, sim, dado ser um local de predileção
médica – quando este texto for publicado, já se saberá qual terá sido o
veredicto dos catalães nas eleições de quinta-feira. Se as sondagens estiveram
correctas ou se, uma vez mais, estas, na linha das recentes sondagens
eleitorais internacionais, foram derrotadas; ou se os independentistas mantêm a
maioria ou, se os constitucionalistas levaram a melhor, sendo que uma andaluza
constitucionalista, a advogada Inés Arrimadas, casada com um independentista
catalão, apoiada pelos Ciutadans (catalão para Ciudadanos), venceu as eleições
e se vai ter capacidade para entrar no Palácio da Generalitat.
A previsão é que estas eleições
terão tido, essa era a perspectiva e as sondagens assim o indicavam, a maior
participação de sempre de eleitores em eleições catalãs. Uma eventual vitória
dos independentistas poderá provocar um enorme maremoto – desculpem, mas porque
temos de usar um nipónico “tsunami” se existe a correspondente palavra
portuguesa? – nas algumas periclitantes fronteiras europeias e, por extensão,
poderá acontecer o mesmo em outros continentes.
Talvez seja um “flop” como a
chamada Primavera Árabe…
Nota Final: Em plena época
natalícia aproveito para desejar a todos os colaboradores e leitores do Novo
Jornal votos de um, tanto quanto possível, Bom Natal e um pedido ao Presidente
João Lourenço que 2018 seja o princípio da retoma e da total liberdade e
política, social e afirmação de todos os nossos direitos políticos e sociais –
o recente caso de Cabinda, onde uma manifestação não proibida foi impedia de
ser realizada e alguns dos seus mentores detidos, não foi um bom princípio –
para que Angola entre, definitivamente e sem mais sobressalto na senda da
verdadeira recuperação económica para que os nossos descendentes se orgulhem de
Nós! Feliz Ano 2018!
*Investigador do CEI-IUL e
Pós-Doutorando da FCS-UAN
Publicado no semanário Novo
Jornal, edição 514, de 22 de Dezembro de 2017, página 13 (http://www.novojornal.co.ao/opiniao/interior/morra-2017-viva-2018-mas-48134.html)
*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico
angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e
Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais - nele
poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a
actividade académica, social e associativa.
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