Zillah Branco* | opinião
O
Partido Socialista em Portugal, ao formar governo apoiado pela esquerda com a
qual alcançou a maioria eleitoral em 2015, abriu um novo percurso ao país
europeu tratado como um dos mais pobres do continente europeu. A elite de
direita que comandava o governo desde a eleição de Mario Soares em 1976 quando
aceitou as orientações de Kissinger, pelos Estados Unidos, e da Democracia
Social europeia, procurou apagar as conquistas da Revolução do 25 de Abril que
permitira ao povo organizado na reforma agrária e nos sindicatos construir um
caminho verdadeiramente democrático para toda a nação.
Em
alternados governos do antigo PS e do PSD, Portugal foi diluindo o respeito
pelas questões sociais que atendiam ao desenvolvimento humano e social da sua
gente, e prestando vénias à elite europeia filiada ao imperialismo
estadunidense com a criação da União Europeia. Tais vénias tornaram-se visíveis
pelos gestos de política subserviente nas acções invasoras da NATO no Oriente
Médio e Norte da Africa, além da participação na destruição da Jugoslávia, e no
recurso a créditos vorazes do Banco Europeu para obras megalómanas que serviram
interesses estrangeiros no "pobre" país enfeitado com recursos de
luxo para receber turistas e favorecer mercados externos. Enfim, a conhecida fórmula
da colonização que destrói as forças produtivas nacionais e importa os maus hábitos
do consumismo das sociedades ricas vestidos de "modernidade desenvolvimentista".
Mas
a história caminha com a dialética como parceira. As crueldades contra os dominados
despertam as consciências éticas e valorizam as associações para a luta do povo
unido. O pensamento progressista disseminou-se tanto pela via política de
esquerda como pela noção de dignidade e solidariedade dos que não se satisfazem
com riquezas supérfluas e costumam olhar com interesse a realidade social que
os cerca. E o grande partido de direita em Portugal, os aliados PSD e CDS-PP
ficou menor que a soma dos progressistas e perdeu a condição de governar. Dois
anos são passados e o PSD não perde a "dor de cotovelo" nem adquire
lucidez política. Empacou.
Segundo
o porta-voz do PSD no Parlamento, deputado Hugo Soares, o Governo PS está refém
da esquerda - PCP e BE - "para resolver apenas questões menores, comezinhas,
de reformas conjunturais" e precisa do apoio do PSD para realizar "o
mais importante para o país, que são as reformas estruturais". Traduzindo
em "bom português", as questões "menores e comezinhas"
dizem respeito à legislação trabalhista para repor salários e condições de
carreira para a maioria dos trabalhadores a todos os níveis, ao apoio
ao sistema de saúde nacional e ao do ensino público ameaçados pelos privilégios
da privatização, ao desenvolvimento de condições de sobrevivência com dignidade
aos pensionistas, ao fortalecimento da capacidade de sobrevivência da Caixa
Geral de Depósitos sob gestão do Estado, ao reordenamento das florestas de modo
a reduzir a destruição causada pelos incêndios, a redefinir as formas de
segurança social para defender com competência as populações surpreendidas por
acidentes climáticos e de origem criminosa, enfim a organizar o país para que a
população seja respeitada e tenha garantia de proteção social.
O
que o partido de direita, PSD, supõe ser "o mais importante, por referirem
as reformas estruturais", tem a ver com o favorecimento aos lucros dos
empresários nacionais e seus parceiros estrangeiros, ao reforço pelo Estado,
dos capitais em bancos privados, à submissão incontestável aos (des)mandos da
Troika que minou a soberania de Portugal e proporcionou o endividamento
responsável pela austeridade que foi suportada pela população mais pobre com o
desemprego, a emigração, a fome e a miséria em índices gravíssimos registados
pelas organizações internacionais.
Até
quando irá a capacidade do PS, no Governo de Portugal, de suportar a pressão
dos políticos de direita que estão na União Europeia e dentro de cada país
membro, a favor da acumulação do capital e contra os interesses dos povos pelo
desenvolvimento humano e nacional? A dúvida paira em relação à sobrevivência da
humanidade e da natureza em todo o planeta.
Os
processos de colonização hoje repetem-se, executados por elites nacionais de
cada país onde a democracia tornou-se uma ficção. Não só ocorre no Brasil, que
vai sendo oferecido em feira de saldos pelos traidores enquistados no Governo,
mas em outros paises onde as conquistas populares foram esmagadas a mais tempo
ou não chegaram a se instalarem como vitórias. É a moda da direita ocidental
que usa um discurso democrático e movimenta as armas através de mercenários ou
da NATO antecedida por uma falsa campanha em "defesa" do povo a ser
vitimado. Puras falsidades a encobertarem perfídia, como Gandhi
responsabilizava o Império Britânico, na luta pela independência da Índia ha
quase 70 anos.
Foram
aperfeiçoadas as formas de exploração e de escravidão, mas a perversidade das elites
atingiu níveis que ultrapassam a normalidade do ser humano. Passou a ser mais que
um mero egoísmo, ou uma simples alienação dos que vivem acima das dificuldades da
vida, é um fenómeno patológico que requer atenção, médica como o gosto pela violência,
pela visão do sofrimento alheio, pela extinção dos que os contrariam simplesmente
por existirem. O ódio aos pobres e às minorias étnicas, o desprezo pelas questões
sociais, revela-se na incapacidade da elite de distinguir povo de clientela, de
confundir desenvolvimento nacional com aumento de capital.
Povos
em luta, uni-vos!
Que
a solidariedade internacionalista desvende as diferentes formas de ameaças que mascaram
o novo colonialismo!
Zillah
Branco - *Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e
trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.
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