sexta-feira, 12 de maio de 2017

Portugal | O COELHINHO E O TACHO


Ana Alexandra Gonçalves*

Era uma vez um coelhinho inconformado. Inconformado com a sua situação, inconformado com o presente e com saudades de um passado cinzento que tanto o agradava. O coelhinho de fofo nada tem, contrariamente à imagem tradicional da espécie a que pertence, pelo contrário, o coelhinho perdido na floresta, rói-se de inveja daqueles que ocupam o lugar que ele ainda julga ser seu, por direito.

O coelhinho acusa o que agora ocupa o lugar que outrora fora seu de rapar o tacho, uma alusão desesperada e, em larga medida, assente na sua própria experiência de subsolo conhecida pelas piores razões – utilizou recursos de outros, sob falsos pretextos, esbanjando esses recursos. Essa experiência de subsolo ficou conhecida com tentativa de juntar tecnologia e forma na mesma palavra. Em suma, rapou o tacho.

O coelhinho que de fofo nada tem sente-se sozinho, apesar dos seus dois amigos. Todavia, sabe que o amigo javali mais dia menos dia cravará a suas presas no seu pequeno corpo, ocupando o seu lugar. A sua outra amiga, uma avestruz amarelada que esconde a cabeça na areia sempre que se fala do seu passado, olha para o coelhinho com a mesma candura que olha para os seus companheiros agiotas, não fazendo do coelhinho o ser especial que ele tanto almeja ser. Diz-se por aí que o coelhinho tem uns amigos pardais, mas como ele também bem sabe, os pardais, quando os ventos de mudança soprarem fortes, voarão para outras paragens.

Resta muito pouco ao coelhinho que, no seu íntimo, sabe estar a colher aquilo que semeou. Mas enquanto a coisa der, o coelhinho vai fazendo o seu caminho, acusando os outros de ser aquilo que ele próprio é. Até porque agora o coelhinho nem tacho tem para rapar, contentando-se com uma mera cenoura, fortemente alaranjada, mas ressequida.


ASSOCIAÇÃO DA GNR PROPÕE LOUVAR A ILEGALIDADE E O INCUMPRIMENTO DE REGRAS


Os "69" da GNR, Besta por cima, cavalo por baixo. Defesa da ditadura.
GNR DO MONTIJO ACUSADO DE ABUSO DE PODER

Faz sentido que as regras da GNR proíbam a ação do agente na repartição de finanças do Montijo, como podem constatar no artigo que compilamos via Expresso, o que não faz sentido é depararmos com um título como o que se segue por referência a uma associação dos profissionais da GNR: Associação Sócio-Profissional da GNR espera que detenção efetuada por militar nas Finanças “mereça público louvor”

Essa tal associação considera sem pejo que o incumprimento das regras da GNR e a agressão aos cidadãos sem justificação deve ser louvada… É uma associação que diz tudo o que contém no seu âmago e que é incompatível com o Portugal Democrático, que - pelo dito - muito pouco mudou para alguns dos que nos devem proporcionar segurança e não agressões injustificadas. Talvez só para alguns da associação e da GNR (esperemos que não seja assim para todos) o tempo está a voltar para trás e o respeito devido pelas regras da instituição que representam e pelos cidadãos foram mandados às urtigas. Assim podem voltar os "69" nas manifestações e "ajuntamentos". Esses mesmos podem, por nada, atirar os cavalos para cima das multidões mesmo sem justificação plausível. Há anos atrás eram esses tais 69 (besta por cima e cavalo por baixo), como nos tempos deploráveis da ditadura Salazar-fascista.

Sabemos que, felizmente, nem todos são saudosistas desses tempos horríveis na GNR, mas que uns quantos por lá existem já não dá para ter dúvidas depois de sabermos a opinião de um representante associativo e associação dos GNRs, que se devia pautar por regras e legalidade em democracia. Em vez disso pretende louvar a ilegalidade. Infeliz, impressionante e preocupante. Resta a consolação de, provavelmente, não serem muitos os profissionais da GNR que se revêem nas palavras e no sentir dessa tal associação e seu dirigente e porta-voz.

A seguir, do Expresso, sobre as regras que o agente não respeitou, investindo com violência contra um cidadão que nem por sombras foi violento.


Esperemos que a democracia e a legalidade funcionem  e sirvam de exemplo aos agentes das forças de segurança que não sabem respeitar as regras, a legalidade, os direitos dos cidadãos.

CT | PG

Regras da GNR proíbem ação de militar nas Finanças do Montijo

Uso da força física só está autorizado como reação a resistência ativa. Imagens não mostram qualquer comportamento agressivo por parte do cidadão brasileiro na Repartição de Finanças do Montijo

uso da força física por parte dos militares de GNR está previsto na lei e nas normas internas desta polícia mas tem fortes restrições baseadas no conceito da proporcionalidade. Segundo uma circular interna da GNR de 2014, a que o Expresso teve acesso, o uso da força deve ser sempre "uma opção do adversário". Isto é, a iniciativa nunca deve partir do militar.

De acordo com o documento, o contacto físico só deve ser utilizado quando "o adversário resistir ativamente" e o militar necessitar de "defesa pessoal". Nas imagens gravadas na Repartição de Finanças do Montijo esta terça-feira à tarde pelo próprio cidadão brasileiro, Jair Costa, nunca é visível qualquer ato de agressividade física ou de de resistência ativa embora o comunicado emitido pela GNR sobre o assunto refira uma "atitude imprópria e ofensiva" para com os funcionários das finanças. Nestes casos, e segundo as normas da GNR, o militar deveria ter-se ficado pelo contacto verbal e pela ordem de prisão.

O facto de a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) ter sido chamada para dirigir o inquérito significa que está em causa a suspeita de "abuso de autoridade".

A circular da GNR é taxativa: "Cada patamar do uso da força [da parte dos militares] deve ser completamente esgotado antes de passar para o patamar seguinte. A subida ou descida de patamar deve atender à adequabilidade, necessidade e proporcionalidade da resposta, face ao comportamento do adversário".

Uma ideia que é reforçada no Regulamento de Disciplina da Guarda Nacional Republicana, que defende que os militares devem utilizar “a persuasão como regra de atuação”, “só fazendo uso da força esgotados que sejam os restantes meios”. O regulamento diz ainda que tem de haver “proporcionalidade” e uma “resposta adequada”. Ou seja, se algum agente foi agredido ou se houver terceiros em perigo ou também agredidos.

De acordo com as imagens do vídeo, o militar imobiliza Jair Costa apertando-lhe o pescoço com um golpe usado nas artes marciais chamado "mata-leão", que o fez desmaiar por alguns segundos. A circular de 2014 da GNR classifica as zonas da cabeça e do pescoço como "vermelhas", sendo consideradas "de elevado risco de ocorrência de lesões graves e permanentes (ou de difícil recuperação)".

Nada de grave aconteceu ao brasileiro, que foi indiciado pelos crimes de desobediência e coação de funcionário. Ficou com a medida de coação mais ligeira: termo de identidade e residência.

O caso é investigado pela IGAI e o Ministério Público abriu um inquérito que abrange "toda a factualidade relacionada com a matéria".

Contactado pelo Expresso, o gabinete de comunicação da GNR não faz comentários sobre o caso. "O processo de averiguações interno está a decorrer conforme foi divulgado ontem. Não existem mais declarações", afirma um dos porta-vozes da Guarda.

Hugo Franco | Rui Gustavo | Expresso

AS VISÕES QUE O ESTADO NOVO SILENCIOU


Carlos Alberto diz que viu Nossa Senhora nove vezes. O caso encheu as primeiras páginas de muitos jornais nacionais em 1954. O vidente tinha 11 anos, foi observado por psiquiatras, esteve na casa do diretor da cadeia de Alcoentre e foi inquirido por autoridades civis e religiosas. A censura proibiu a circulação de um livro que relata o sucedido e a PIDE abriu um processo, pouco depois de Portugal ter perdido um enclave do império colonial na então Índia portuguesa. O culto continua, 63 anos depois

No domingo 16 de maio de 1954, a professora da escola da Asseiceira decidiu dar uma aula suplementar à sua dezena de alunos que iria fazer exame de instrução primária em julho. Como estava doente, os miúdos sentaram-se nas escadas exteriores da casa de D. Manuela. “A dada altura, o Carlos Alberto pediu para se ausentar, veio para este terreno onde havia árvores, silvas e um valado. Quando regressou, disse que tinha visto Nossa Senhora e que ela iria voltar a 16 de junho. Nenhum de nós duvidou. Nem a professora”, lembra Manuel Carreira, 74 anos, colega de escola e companheiro de brincadeiras de Carlos Alberto.

A família do Carlos Alberto vivia em “condições de pobreza extrema”, diz Manuel Carreira: “Eu estou a andar mais de 60 anos para trás e a ver-me aqui miúdo, descalço o ano inteiro. A escola era uma casa de telha vã, num primeiro andar, tinha vidros das janelas partidos e, no inverno, nós levávamos latas com brasas para nos aquecermos. Hoje... ninguém consegue imaginar como era”.

“Nessa altura [em maio de 1954], o Carlos Alberto morava nos Casais dos Quintinos, a dois ou três quilómetros daqui. Levava uma lancheirinha para a escola e à hora de almoço ia a minha casa aquecer a comida. Éramos muito próximos”, acrescenta o amigo.

CENTENAS DE PESSOAS NA SEGUNDA VISÃO

No dia 16 de junho de 1954 juntaram-se na Asseiceira centenas de pessoas. Muitas mais do que as que viviam naquela pequena aldeia à beira da Estrada Nacional nº 1, a menos de 80 quilómetros de Lisboa e de Fátima. As pessoas vieram a pé, de burro pelos campos e juntaram-se no terreno onde o vidente teve a primeira visão por volta do meio-dia solar.

Manuel Carreira não viu Nossa Senhora mas viu o amigo entrar em transe e começar a falar com o loureiro. E ouviu gente a dizer que estava a ver alguma coisa. Os habitantes da aldeia improvisaram um altar e começaram a rezar o terço todos os dias “à noitinha”. Ainda o rezam todos os dias.

Nesta altura, Carlos Alberto começou a ser interrogado pelas autoridades locais, civis e eclesiásticas. A visão de 16 de julho foi objeto de manchetes e reportagens de boa parte da imprensa nacional. Os relatos dos jornais estimam que tenham acorrido à Asseiceira entre 20 a 30 mil pessoas [consoante os títulos], vindas de todo o país, para assistirem à terceira visão de Nossa Senhora.


Fátima | CENTENÁRIO DAS ALEGADAS VISÕES (RESTRITAS), NÃO DAS APARIÇÕES


Neste momento o papa Francisco está no ar, a voar. Chega a Monte Real cerca das 4 horas da tarde. O programa da suas estadia em Fátima tem sido divulgado até à saturação, por isso não se justifica aqui usar espaço para também o divulgar. Em Fátima já lá estão imensos pagadores de promessas e crentes sinceros, na mistura também estão os hipócritas, os curiosos, os estudiosos, os vigaristas, os carteiristas, imensos elementos do clero, centenas de agentes de segurança sem mãos a medir para o serviço que têm de cumprir com eficácia, os da banca não oficial do Santuário de Fátima já estão a controlar o pilim (as notas e moedas) há uns dias, e a Fátima vai chegar o suprasumo papal Francisco. Homem que cativa e que quase nada tem que ver com os papas anteriores, da igreja dos ricos, dos pedófilos, dos cambalachos da banca ambrosiana cheia de podres. 

A PAZ EM PRIMEIRO LUGAR

Em Fátima temos e queremos ver a Paz em primeiro lugar, a tal nossa senhora é mesmo de barro e se alguém daquela figura tem de ser venerado é o artista que a moldou e a trabalhou. O provável "barrete" de Fátima permanece e chamam-lhe o centenário das aparições… Não. Na melhor das hipóteses poderá ser o centenário das visões. Provavelmente até foram visões só da Lúcia, que induziu os seus primos – todos miúdos e pastores – sobre a visão que teve (ou não). Até pode ter sido uma grande trapaça, que ela sempre manteve. Não sabemos. Mas, atenção: são visões e não aparições, pois muitos que ali foram para ver não viram nada, e assim declararam, está dito e redito, escrito e reescrito. Mesmo assim nada justifica que impere o respeito pela crença de outros, e são muitos. Afinal é um acontecimento que seja de origem ficcional, de patranha, ou real, só para uns quantos, merece ser tratado à luz da liberdade religiosa que é ponto marcante da Constituição da República Portuguesa. Assim seja. E que a paz seja o ponto principal deste encontro de tantas pessoas de fé, incluindo Francisco.

Não há santo que substitua Deus, dizem os menos apegados ao grande negócio de Fátima. E isso não é só uma visão limitada mas sim visão de um facto alargado à vista e entendimento de todos. Aquilo é um negócio que em tudo se pode comparar aos vendilhões do templo da era e descrições bíblicas. Vigaristas e gananciosos existem em todo o lado. No clero português também.

Siga para o Expresso Curto, por Ricardo Costa. Curto que também tem Fátima em destaque, como não podia deixar de ser.

MM | PG

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