Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* | Porto Alegre | Brasil
“Não
é só a morte que iguala a gente. O crime, a doença e a loucura também acabam
com as diferenças que a gente inventa.” (Lima Barreto)
Há
136 anos, numa sexta-feira, em 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro, nascia
Afonso Henriques Lima Barreto. Filho de descendentes de escravos, seu pai João
Henriques de Lima Barreto era tipógrafo da Imprensa Nacional e sua mãe Amália
Augusta, professora primária. O casal teve quatro filhos. Ao completar sete
anos de idade, o futuro escritor e jornalista ficou órfão da figura materna,
que o introduziu no universo das primeiras letras. Lima Barreto iniciou os seus
estudos no Liceu Popular de Niterói.
Ao
perder o emprego, o pai passou a trabalhar como almoxarife numa colônia de
alienados na Ilha do Governador (RJ). A nova atividade fez com que a família se
mudasse para uma casa que se localizava dentro da área do hospício, onde lá
permaneceu por quase dez anos.
Seu
pai, diante das dificuldades econômicas, contou com o apoio de Afonso Celso de
Assis Figueiredo (1836-1912) - visconde de Ouro Pedro - que era padrinho de
Lima Barreto. Este viabilizou, com o seu prestígio político, o ingresso do
menino no Ginásio Nacional (Pedro II). No ano de 1897, Lima Barreto passou a
frequentar o curso de Engenharia da Escola Politécnica, que não foi concluído.
Nesta escola, ele era o único aluno negro.
O
funcionário público
A
vida seguia seu curso normal, quando, em 1902, Lima Barreto se deparou com o
inesperado: a loucura de seu pai e a responsabilidade de assumir o sustento da
família. Embora os problemas enfrentados, ele estreou, naquele ano, na
imprensa estudantil, escrevendo artigos na revista universitária A Lanterna,
não poupando os vaidosos professores. Ainda neste período, mudou-se com
sua família para o subúrbio do Rio de Janeiro. Na capital do Império,
candidatou-se, em 1903, a uma única vaga na Secretária de Guerra num concurso
público, obtendo 2ª lugar. Devido à desistência do candidato concorrente,
assumiu o cargo de escrevente, aos 22 anos de idade, recebendo, como
escrevente, um modesto honorário.
Surge
o romancista
Empregado,
ele se mudou para o bairro Todos os Santos no Rio de Janeiro. Em sua nova
residência, em 1904, começou a escrever a primeira versão do seu romance “Clara
dos Anjos”, tratando, com preciosismo, questões socioeconômicas ligadas à
escravidão no Brasil. Fato curioso é que Lima Barreto nasceu, no dia 13 de
maio, sete anos antes da Abolição da Escravatura (1888), cuja data tornar-se-ia
uma efeméride alusiva à assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel.
O
livro “Clara dos Anjos” foi concluído entre os anos de 1920 e 1922. Lima
Barreto não chegou a vê-lo publicado, pois foi editado somente em 1948. A obra,
na realidade, diferencia-se do seu esboço original. O próprio autor assim
declarou: “Saiu coisa bem diferente, se bem que o fundo seja o mesmo”. Em suas
duas versões, a protagonista Clara é vítima da sua condição de mulher negra e
pobre. Na realidade, o cerne da trama permaneceu inalterado: trata-se da
estória de uma jovem mulata que se envolve, amorosamente, com um rapaz branco e
de condição socioeconômica superior, que se recusa a contrair matrimônio, para
consertar o “malfeito”.