Martinho Júnior | Luanda
As
vitórias da ocupação portuguesa "além-Cunene" e do Sudoeste
Africano pelos sul-africanos sob comando do general boer Louis Botha (durante a
segunda década do século XX), são também rescaldo destes acontecimentos,
evocados no trabalho do camarada António Jorge e publicado na sua página no
Facebook, de que o poder colonial na altura tirou todo o proveito!...
Na
minha infância foi um mundo perverso que encontrei desde que fui abrindo os
olhos e, logo que atingi a maioridade e a consciência histórica e antropológica
do que se passava, só podia ter um caminho: integrar as fileiras do Movimento
de Libertação em África, com o coração ardente, a cabeça fria e as mãos limpas,
dando a minha modesta contribuição aos imensos resgates que há que realizar!
Fui
instrutor no campo secreto da Funda, quer do People Liberation Army of Namibia,
quer do Umkhonto we Sizwe, os braços armados da SWAPO e do ANC… e estava
disposto a ir com meus instruendos para as frentes, há precisamente 40 anos, às
ordens do então Ministro da defesa, Iko Carreira e do Comandante N’Zagi, este
último assassinado no dia como o de hoje, há 40 anos…
Só
não fui por que recebi ordens para outras missões, entre elas a formação do
primeiro Batalhão de Forças Especiais do Bié, as forças que mesmo já
desmobilizadas defenderam com heroísmo durante meses de combate a cidade do
Kuito, muitos deles hoje membros da Acção Social Para Apoio e Reinserção,
ASPAR, onde sou actualmente Secretário-Geral em final de mandato.
Mesmo
sendo por vezes tão incompreendido, mesmo enfrentando obstáculos e sacrifícios
de toda a ordem, esse tem sido o caminho da minha trajectória e hoje, já com os
cabelos brancos, é um tesouro que guardo como uma pequena chama, até ao fim da
minha efémera passagem em vida pela Terra!
Quantas
razões não haviam e continuam a haver, para dar seguimento a essa saga em
África que vai necessitar ainda de tantas gerações para se poder encontrar um
ponto de equilíbrio que se aproxime da dignidade!?
Hoje
por via da luta contra o subdesenvolvimento, numa lógica com sentido de vida,
há que dar continuidade e sequência a esse rumo do Movimento de Libertação em
África, em benefício dos povos africanos e de toda a humanidade!...
Martinho
Júnior, 27 de Maio de 2017
O
texto seguinte é da autoria do camarada António Jorge. Genocídio
dos povos hereros e namaquas... no Sudoeste Africano.
O
primeiro genocídio do século XX
O
genocídio dos hererós e namaquas ocorreu no Sudoeste Africano Alemão, onde hoje
se localiza a Namíbia, entre 1904 e 1907, durante a partilha de África.
É
considerado o primeiro genocídio do século XX.
Em
12 de janeiro de 1904, os hererós, sob a liderança de Samuel Maharero,
organizaram uma revolta contra o domínio colonial alemão.
Em
agosto, o general alemão Lothar von Trotha derrotou os hererós na batalha de
Waterberg, depois desta batalha, todos os hereros armados ou desarmados foram
assassinados e as mulheres e as crianças foram dirigidos para o deserto de
Omaheke, na Namibia, onde morreram pela fome e pela sede.
Em
outubro, os namaquas também pegaram em armas contra os alemães e foram tratados
de forma semelhante.
No
total, entre 24.000 e 65.000 hererós (todos os valores são estimados como sendo
50% a 70% da população Herero total) e 10.000 namaquas (50% da população total
namaqua) morreram.
Duas
características do genocídio foram a morte por inanição e o envenenamento de
poços da água, utilizado contra os hererós e populações namaquas que foram
presos no deserto da Namíbia.
Em
1985, as Nações Unidas reconheceram a tentativa da Alemanha de exterminar os
povos hererós e namaquas do Sudoeste da África, como sendo uma a primeiras
tentativas de genocídio no século XX.
O
governo alemão, só pediu desculpas por este genocídio em 2004.
Os
hereros são um povo próximo dos Himba que existem em Angola e na Namibia.
Ilustrações:
O herói namibiano e de toda a humanidade, Hendrick Witboy; A batalha de
Waterberg em que a resistência namibiana foi derrotada pelos colonialistas
alemães; Hereros presos depois de vencidos, foram manancial de trabalho-escravo
para os colonialistas alemães; Panfleto da SWAPO em tempo de Luta de
Libertação
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