quinta-feira, 22 de junho de 2017

A ECONOMIA POLÍTICA E O GRANDE SALTO ATRÁS



Os banqueiros dominam a produção, controlam os palácios, não pagam impostos. As sociedades tornam-se impotentes. A democracia reduz-se a ficção. Diante da crise da modernidade, o neoliberalismo propõe marcha à ré

Luis Casado, Politika | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Alamy Shutterstock, The Economist

A gruta de Lascaux (Dordogne, França) possui uma das mais impressionantes amostras de arte rupestre do Paleolítico. Em 80 a 90 metros de comprimento, foram classificadas 1.963 unidades gráficas entre pinturas e gravações, 915 das quais são de animais. Ao lado de Altamira (Cantabria, Espanha) e Chauvet (Ardèche, França), ela constitui o que os entendidos chamam de Capelas Sistinas da arte pré-histórica, ainda que as imagens não mostrem nenhum querubim.

Apesar de Lascaux não ter as atrações ou a variedade de um shopping e, diga-se o que quiser, não ser tão emocionante como a Eurodisney ou o final da Liga dos Campeões, até 1955 recebia mais de 1.200 visitantes por dia. O dióxido de carbono produzido pelos turistas começou a danificar as obras que o Homo sapiens sapiens pintou há uns 15 a 18 mil anos, de modo que, para garantir sua preservação, a gruta de Lascaux foi fechada ao público em 1963: triste fim de uma oportunidade de negócio.

Conta-se que Picasso esteve entre os privilegiados que chegaram a visitar Lascaux. Ao sair, os jornalistas perguntaram sua opinião. O pintor, impressionado pelo que havia visto, declarou: “não inventamos nada”.

Nem o abuso de criatividade de Picasso, que no seu auge pintava de diferentes maneiras, sem jamais satisfazer-se com o resultado, conseguiu superar as técnicas e a arte que praticaram os cro-Magnons do Paleolítico.

Por isso, entre outras razões, não me surpreendeu que Bernard Maris assegurasse, num de seus livros, que a Teologia e a Economia não descobriram nada nos últimos séculos. Questão de fé, há mais de dois mil anos é a mesma cantilena: o padre, o filho e o espírito santo. Amém. Por sua vez, quando perguntavam a Milton Friedman, “O que há de novo?”, Milton, que era um gozador, respondia “Adam Smith” — e morria de rir.

TIMOR-LESTE | PR pede respeito e ambiente de paz e estabilidade para voto de 22 julho



O Presidente da República de Timor-Leste apelou ontem aos eleitores que votem com responsabilidade e ajudem a garantir que a campanha para as eleições de 22 de julho, que começa terça-feira, decorre num ambiente de respeito, paz e estabilidade.

"A todos os cidadãos apelo a que votem com sentido de responsabilidade e respeito. Participem no processo de campanha para ajudar a esclarecer o povo timorense. O voto é muito importante para o país", afirmou Francisco Guterres Lu-Olo numa mensagem em vídeo.

"As forças de segurança garantirão a segurança. Sei que o povo votará com sentido de responsabilidade", afirmou.

Numa mensagem transmitida na página da Presidência da República no Facebook, Francisco Guterres Lu-Olo dirige-se ao "povo de Timor-Leste" para recordar a responsabilidade de todos em eleger um Governo que terá a responsabilidade de conduzir a vida do país.

"São 21 forças políticas que correram para ter o vosso voto de confiança a 22 de julho. Uma corrida normal no sistema multipartidário e democrático que temos em Timor-Leste e onde não cabe a violência", disse.


"Peço-vos a todos que não profiram ou escrevam palavras que atinjam a dignidade dos outros. Que falem sempre respeitando os outros e as suas ideias", afirmou ainda.
O objetivo, disse Lu-Olo, é levar a cabo uma eleição "livre e democrática" em que "não haja violência organizada, sem conflito, num ambiente de paz e estabilidade".

Lu-Olo recordou que os líderes dos partidos "já assinaram a 16 de junho no Palácio do Presidente um compromisso de garantir a paz e a estabilidade" e apelou "a todos os militantes e simpatizantes dos partidos para que honrem esse compromisso".

Os eleitores timorenses escolhem a 22 de julho os 65 membros do Parlamento Nacional, tendo um boletim de voto com 20 partidos e uma coligação.

A campanha começa na terça-feira e decorre até 19 de julho, decorrendo antes do voto dois dias de reflexão e que permitem que os timorenses se desloquem para votar nos locais onde estão recenseados.

SAPO TL com Lusa

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Timor-Leste | PST ENTREGA MENSAGEM AO PRESIDENTE LU ÓLO



Mensagem do PST entregue ao Presidente da República de Timor-Leste durante o encontro com dirigentes partidários


Sua Excelência
Presidente da República Democrática de Timor-Leste
Dr. Francisco Guterres Lu Ólo

Exmos. Senhores líderes dos Partidos Políticos de Timor-Leste

Díli, 16 de Junho de 2017

Respeitosos cumprimentos.

Estamos hoje aqui reunidos no Palácio Presidencial para falarmos sobre a consolidação dos Partidos e sobre a paz e estabilidade em contexto de eleições legislativas.

A “paz” (do latim Pax) é uma palavra geralmente entendida como um estado de calma e tranquilidade, ou seja, quando estamos em “paz” não há preocupações, nem agitações.


Se “paz” significa bem-estar e felicidade, perguntamos, será que o povo timorense está em paz?

Será que os nossos agricultores e assalariados estão calmos, tranquilos e felizes? Estão em paz?

Estas são perguntas que devemos fazer a todos nós, com total responsabilidade, principalmente em contexto de eleições legislativas e enquanto candidatos ao Parlamento Nacional.

Ao pensarmos na Constituição da RDTL, em particular nos artigos referentes aos direitos e deveres económicos, sociais e culturais, depressa concluiremos que ainda há um longo caminho a percorrer para alcançarmos a paz.

Segundo a constituição da RDTL, entre outros objectivos:

O “Estado promove a criação de cooperativas de produção e apoia as empresas familiares como fontes de emprego”; “Todos os cidadãos têm direito à segurança e à assistência social nos termos da lei”; “Todos têm direito à saúde e à assistência médica e sanitária e o dever de as defender e promover”; “Todos têm direito para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar; “Todos têm direito à igualdade de oportunidades de ensino e formação profissional”.

Para o PST, Partido Socialista de Timor, o compromisso com a paz e a estabilidade estão directamente ligados aos objectivos defendidos no seu programa partidário conducente ao cumprimento da Constituição da RDTL, ao bem-estar do povo, e à construção da paz e da estabilidade.

A paz não é somente a ausência de guerra entre países ou entre pessoas.

Para o PST, paz é garantir que todos tenhamos casa com dignidade, que os agricultores possam trabalhar as suas terras, que os estudantes tenham apoios sociais diversos, e que todos os timorenses tenham acesso à saúde, à educação e ao trabalho, construindo-se o amor, a paz e a compreensão.

Nestes termos, o Partido Socialista de Timor,

Iluminado pelos princípios e objectivos enunciados na Constituição da República Democrática de Timor-Leste e na Carta Universal dos Direitos do Homem;

Sentindo que os partidos políticos timorenses podem e devem contribuir para a promoção e reforço da paz, da democracia, do Estado de direito, da segurança e do desenvolvimento do país;

Decidido em contribuir para a promoção dos valores universais e dos princípios da democracia e dos direitos humanos;

Preocupado em contribuir para a promoção de uma cultura de alternância política com base em eleições legislativas verdadeiramente justas e livres supervisionadas por um órgão eleitoral independente nos termos da Constituição da RDTL;

Defende que,

Os partidos políticos desempenham um papel fundamental na consolidação da democracia e da paz porque representam várias ideologias e convicções políticas existentes na sociedade.

Uma das principais razões e importância dos partidos políticos nas eleições legislativas é que estando devidamente registados e aprovados pelo Tribunal de Recurso podem apresentar candidatos ao Parlamento Nacional que por sua vez, depois de eleitos, irão debater e procurar soluções para os inúmeros problemas e desafios que atormentam a nossa sociedade.

A construção da paz e da estabilidade é um processo delicado e complexo que exige o empenho e dedicação de todos os partidos políticos, principalmente aqueles que integram os órgãos do poder e decidem sobre a definição das políticas necessárias à governação e ao desenvolvimento sustentável de Timor-Leste.

Muito obrigado pela Vossa atenção.

Viva a paz e a estabilidade em Timor-Leste! Viva o Povo Timorense!

Com a mais elevada consideração,

O Secretário-Geral do PST, M. Azancot de Menezes

O Vice-Presidente do PST, Constâncio dos Santos /Akita Tama Laka

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ANTES E DEPOIS | O verão da tolerância zero de António Costa



Bernardo Ferrão | Expresso | opinião

Haverá um antes e um depois do incêndio de Pedrógão para o Governo de António Costa? Há, sem dúvida.

No ano e meio que já leva de chefia de Governo, Costa conseguiu somar uma alta popularidade. Não era fácil para alguém que não ganhou as eleições e a quem a direita teimava em chamar “primeiro-ministro ilegítimo”. Mas além das conquistas alcançadas na frente económica e política, o primeiro-ministro trouxe a confiança que faltava aos portugueses.

Só que depois de Pedrógão um novo filme começou a correr. Na entrevista que deu à TVI, Costa quis fazer o chamado “damage control” e responder aos “porquês?”, mas saltou à vista o seu desconforto. A falta de confiança na atuação das autoridades. Logo ele, ex-ministro da Administração Interna, que sabe como poucos o que é lidar com fogos desta dimensão.

As coisas não correram bem e Costa não pôde deixar de admitir o óbvio: houve descoordenação no terreno. Mas, sublinhe-se, a situação foi de tal forma grave e rápida no tempo que redundou numa série de acontecimentos que correram da pior forma. Um exemplo perfeito da Lei de Murphy. Ainda sem culpados.

Não se trata aqui de apontar o dedo a ninguém. Haverá certamente culpas mas essa é tarefa da investigação. No entanto, acredito que depois de Pedrógão a vida deste governo não será exatamente a mesma. O nível de tolerância com o Executivo será menor. É difícil imaginar como será a reação do país se, nos próximos meses, surgirem novas mortes em incêndios descontrolados. Reparem que o verão ainda mal começou.

Dirá o leitor que estou a agoirar. Nada disso! O que vos falo é de um historial que conhecemos de cor. Décadas de incêndios, ano após ano, e de erros sistemáticos que nunca são corrigidos apesar das muitas promessas que se fazem quando as cinzas ainda estão quentes. Vejam a vergonha do SIRESP: custa uma fortuna mas serve-nos de pouco. O Estado já nos falhou muitas vezes, mas desta vez foi diferente. Há 64 mortos e mais de 200 feridos. A nossa confiança esmoreceu.

Num artigo duro sobre o que se está a passar em Portugal, o correspondente do “El Mundo” escrevia que esta tragédia pode por fim à carreira política de António Costa. A profecia parece-me claramente exagerada, mas toca numa questão que está ainda adormecida no debate: quais são as consequências políticas? É lícito concluir que se fosse com outro Governo, e sobretudo com outra oposição, a discussão política já teria subido de tom. A ausência e a fragilidade política de Passos Coelho, o discurso alinhado das esquerdas - que agora até “rezam” pela chuva - e os abraços “reconfortantes” de Marcelo no terreno têm evitado a contestação ao poder político.

Sim, ao poder político. Na verdade, não podemos olhar para o que se passou e concentrar as nossas acusações apenas e só na liderança de António Costa. As culpas repartem-se por quem nos governou nos últimos anos de mão dada com muitos interesses: o PS de António Costa esteve lá mas também o PSD de Passos Coelho. Fizeram-se muitas leis, mas faltou um olhar de conjunto para este enorme problema. O desígnio nacional que não existiu não pode agora ser resolvido à pressa como quer Marcelo no seu afã de agradar ao povo (e ficar bem na fotografia). 64 vidas… O verão será de tolerância zero para António Costa.

Agora é ele que representa o Estado, que uma vez mais não nos soube proteger.

Foto Reuters

DESORGANIZAÇÃO | Deputado do PSD diz que a sua filha foi mandada para a “estrada da morte”



Dois sociais-democratas que estiveram no terreno denunciaram esta manhã, na reunião do grupo parlamentar, uma campanha de “propaganda sem respeito pelo que aconteceu” durante os incêndios na zona Centro. Dizem que falhou a primeira resposta às chamas, o sistema de comunicação e a coordenação de meios. Um deputado contou que andou a deslocar familiares e que a sua filha foi mandada para a “estrada da morte”, mas decidiu tomar outro caminho

Foram testemunhos muito duros, comovidos e revoltados, conta quem assistiu: dois deputados do PSD que nos últimos dias estiveram nos locais dos grandes incêndios do centro do país, foram esta quinta-feira à reunião do grupo parlamentar social-democrata denunciar uma realidade que nada tem a ver com o discurso oficial de que foi feito tudo o que podia ter sido feito para combater os fogos.

"A Proteção Civil falhou redondamente", afirmou Pedro Pimpão, deputado eleito por Leiria, que por várias vezes se emocionou durante o seu relato. Também Maurício Marques, eleito por Coimbra, descreveu dias de confusão e descoordenação entre as autoridades, contando as dificuldades por que passou para conseguir tirar familiares de locais onde a Proteção Civil não chegou.

Pedro Pimpão, que desde sábado até quarta-feira esteve nos concelhos afetados, afirmou a sua revolta por ouvir um discurso oficial que não bate certo com a realidade em que esteve mergulhado nos últimos dias. "Custa-me ver esta propaganda sem respeito pelo que aconteceu", afirmou o deputado, ouvido em total silêncio pelos seus colegas de bancada, durante a reunião que decorreu, ao fim da manhã desta quinta-feira, à porta fechada.

De acordo com fontes sociais-democratas que estiveram no encontro, o deputado de Leiria reconheceu que é preciso respeitar o luto, mas acrescentou que "já chega" e que "é preciso que as pessoas saibam a verdade". E a verdade que relatou foi assim: falhou a primeira ajuda após o início do incêndio, falhou o sistema de comunicação e, por isso, falhou a coordenação de meios.

"TEMOS O DEVER DE NÃO DEIXAR ISTO SER SILENCIADO"

Pedro Pimpão deu conta de aldeias completamente isoladas, sem qualquer tipo de apoio, pessoas que pediram ajuda "a meio da tarde", "muito antes das mortes", sem que nunca aparecesse ajuda alguma. E, contou, o centro de saúde de Castanheira de Pera estava fechado e quando abriu não tinha material. "Os deputados do PSD têm o dever de não deixar isto ser silenciado", exortou o parlamentar leiriense.

Também Maurício Marques, deputado eleito por Coimbra e ex-autarca de Penacova, contou o que viveu no terreno: teve de se fazer à estrada para retirar vários familiares que não conseguiam o apoio das autoridades e chegou a receber instruções de um responsável da Proteção Civil para seguir por uma estrada que, afinal, estava fechada. Contou também que a sua filha foi encaminhada para a "estrada da morte", e só se salvou porque decidiu tomar outra direção. E viu gente a seguir em direção ao incêndio sem que qualquer autoridade os travasse.

O clima, durante a reunião, foi muito pesado e os relatos reforçaram a convicção de que há muitas perguntas por fazer e responsabilidades por apurar. "Já é óbvio para toda a gente que houve muitas falhas e que a falta de coordenação foi gritante", diz um deputado com ligação aos distritos atingidos, lamentando que Marcelo Rebelo de Sousa tenha sido o primeiro a lançar a ideia de que foi feito tudo o que era possível.

Filipe Santos Costa | Expresso | Foto Lucília Monteiro

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