Dois
sociais-democratas que estiveram no terreno denunciaram esta manhã, na reunião
do grupo parlamentar, uma campanha de “propaganda sem respeito pelo que
aconteceu” durante os incêndios na zona Centro. Dizem que falhou a primeira
resposta às chamas, o sistema de comunicação e a coordenação de meios. Um
deputado contou que andou a deslocar familiares e que a sua filha foi mandada
para a “estrada da morte”, mas decidiu tomar outro caminho
Foram
testemunhos muito duros, comovidos e revoltados, conta quem assistiu: dois
deputados do PSD que nos últimos dias estiveram nos locais dos grandes
incêndios do centro do país, foram esta quinta-feira à reunião do grupo
parlamentar social-democrata denunciar uma realidade que nada tem a ver com o
discurso oficial de que foi feito tudo o que podia ter sido feito para combater
os fogos.
"A
Proteção Civil falhou redondamente", afirmou Pedro Pimpão, deputado eleito
por Leiria, que por várias vezes se emocionou durante o seu relato. Também
Maurício Marques, eleito por Coimbra, descreveu dias de confusão e
descoordenação entre as autoridades, contando as dificuldades por que passou
para conseguir tirar familiares de locais onde a Proteção Civil não chegou.
Pedro
Pimpão, que desde sábado até quarta-feira esteve nos concelhos afetados,
afirmou a sua revolta por ouvir um discurso oficial que não bate certo com a
realidade em que esteve mergulhado nos últimos dias. "Custa-me ver esta
propaganda sem respeito pelo que aconteceu", afirmou o deputado, ouvido em
total silêncio pelos seus colegas de bancada, durante a reunião que decorreu,
ao fim da manhã desta quinta-feira, à porta fechada.
De
acordo com fontes sociais-democratas que estiveram no encontro, o deputado de
Leiria reconheceu que é preciso respeitar o luto, mas acrescentou que "já
chega" e que "é preciso que as pessoas saibam a verdade". E a
verdade que relatou foi assim: falhou a primeira ajuda após o início do
incêndio, falhou o sistema de comunicação e, por isso, falhou a coordenação de
meios.
"TEMOS
O DEVER DE NÃO DEIXAR ISTO SER SILENCIADO"
Pedro
Pimpão deu conta de aldeias completamente isoladas, sem qualquer tipo de apoio,
pessoas que pediram ajuda "a meio da tarde", "muito antes das
mortes", sem que nunca aparecesse ajuda alguma. E, contou, o centro de
saúde de Castanheira de Pera estava fechado e quando abriu não tinha material.
"Os deputados do PSD têm o dever de não deixar isto ser silenciado",
exortou o parlamentar leiriense.
Também
Maurício Marques, deputado eleito por Coimbra e ex-autarca de Penacova, contou
o que viveu no terreno: teve de se fazer à estrada para retirar vários familiares
que não conseguiam o apoio das autoridades e chegou a receber instruções de um
responsável da Proteção Civil para seguir por uma estrada que, afinal, estava
fechada. Contou também que a sua filha foi encaminhada para a "estrada da
morte", e só se salvou porque decidiu tomar outra direção. E viu gente a
seguir em direção ao incêndio sem que qualquer autoridade os travasse.
O
clima, durante a reunião, foi muito pesado e os relatos reforçaram a convicção
de que há muitas perguntas por fazer e responsabilidades por apurar. "Já é
óbvio para toda a gente que houve muitas falhas e que a falta de coordenação
foi gritante", diz um deputado com ligação aos distritos atingidos,
lamentando que Marcelo Rebelo de Sousa tenha sido o primeiro a lançar a ideia
de que foi feito tudo o que era possível.
Filipe
Santos Costa | Expresso | Foto Lucília Monteiro
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