quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

DE SNOWDEN AO RUSSIA-GATE: CIA E A GRANDE “MÍDIA-EMPRESA”



A ação de determinado setor da mídia comercial nos EUA, para a qual uma suposta ação de hackers russos teria tido interferência muito ativa nas eleições nos EUA, pode ter surgido de tentativas bem-sucedidas, dos serviços de inteligência dos EUA, para limitar a publicação dos arquivos da Agência de Segurança Nacional de que Edward Snowden conseguiu apossar-se.

Em maio de 2013, Edward Snowden fugiu para Hongkong e entregou documentos internos da Agência de Segurança Nacional a quatro jornalistas – Glenn Greenwald, Laura Poitras e Ewen MacAskill do Guardian e, separadamente, a Barton Gellman que trabalhava para o Washington Post. Alguns daqueles documentos foram publicados por Glenn Greenwald no Guardian, outros por Barton Gellman no Washington Post. Vários outros sites internacionais de notícias publicaram mais material, embora a massa dos papéis da ASN-EUA que Snowden teria com ele jamais viu a luz do dia, até hoje.

Em julho de 2013 o Guardian foi forçado pelo governo britânico a destruir a cópia que possuía do arquivo Snowden.

Em agosto de 2013 Jeff Bezos comprou o Washington Post por cerca de $250 milhões. Em 2012, Bezos, fundador, maior acionista e presidente executivo da empresa Amazon, já tinha uma ligação de cooperação com a CIA. Juntos, investiram numa quantum computing company canadense. Em março de 2013, a Amazon assinou contrato de $600 milhões para fornecer serviços computacionais à CIA.

Em outubro de 2013, Pierre Omidyar, proprietário de Ebay, fundou a First Look Media e contratou Glenn Greenwald e Laura Poitras. Consta que o investimento total previsto teria sido de $250 milhões. Só em fevereiro de 2014 a nova organização lançou o primeiro site, Intercept. Ali se publicaram apenas umas poucas matérias sobre a Agência de Segurança Nacional dos EUA. Intercept é site bastante medíocre. Consta que a administração seria caótica. Publicam-se ali raras matérias realmente interessantes, e cabe perfeitamente que se pergunte se teria sido concebido como veículo sério. Omidyar muito trabalhou com o governo dos EUA, para forçar a mudança de regime na Ucrânia. E teve laços profundoscom o governo Obama.

Snowden tinha cópias de algo entre 20 mil e 58 mil arquivos da ASN-EUA. Até hoje só 1.182 arquivos foram publicados. Bezos e Omidyar obviamente ajudaram a ASB-EUA a manter inacessíveis à opinião pública mais de 95% do arquivo Snowden. Os Snowden papers foram praticamente privatizados, fechados em mãos de bilionários do Vale do Silício que mantêm laços com os vários serviços secretos e com a administração Obama.

Ainda não é claro a motivação que teria levado Bezos e Omidyar a fazer tudo isso. Estima-se que a fortuna de Bezos chegue a escandalosos $90 bilhões. Para ele, comprar o Washington Post foi negócio de vinténs. Omidyar vale líquidos cerca de $9,3 bilhões. Mas não é novidade usar bilionários para mascarar operações que, na verdade, são operações de inteligência. A Fundação Ford serviu durante décadas como fachada da CIA; a “Sociedade Aberta” [Open Society] de George Soros é uma das mais ativas operações para “mudança de regime”, muito bem versada em instigar “revoluções coloridas”.

Seria razoável, se a cooperação entre esses bilionários e agências de inteligência tivesse sido encerrada, depois que os vazamentos de documentos da ANS tivessem sido contidos. Mas parece que a forte cooperação dos veículos de Bezos e Omidyar com a CIA e outros continua.

Intercept queimou uma vazadora de inteligência, Realty Winner, que confiara naqueles jornalistas para protegê-la. Caluniou o presidente da Síria, declarando-o neonazista, baseado numa tradução errada (intencionalmente errada?) de um de seus discursos. Como se não bastasse, contratou um apoiador sírio do golpe da CIA “para mudar o regime por ação de jihadistas” na Síria. Apesar da fachada de “jornalismo sem medo, de crítica”, Intercept praticamente jamais se desvia das políticas dos EUA.

O Washington Post, que tem alcance muito maior, é o principal veículo das falsidades que dão assunto ao Russia-gate, acusações falsas, inventadas por facções da comunidade de inteligência dos EUA e pela campanha da candidata Clinton, de que a Rússia teria influenciado as eleições nos EUA e até cometido crime de “colusão” com Trump.

Só hoje, Washington Post traz duas matérias e uma coluna assinada sem qualquer fato, puro opinionismo, em que repetem as mesmas acusações anti-Rússia, sem qualquer substância.

Em Trolls do Kremlin agitam toda a Internet, enquanto Washington debatia alternativas, os autores insinuam que um autor autônomo que publicou umas poucas peças em Counterpunch e noutros veículos seria parte de uma operação russa. Não oferecem qualquer prova que sustente as acusações. O que aquele autor escreve (vejam a lista ao final) pouco ou nada algum dia teve algo a ver com as eleições nos EUA. A coluna então se afunda em ciberoperações contra a Rússia já discutidas pelos governos Obama e Trump.

Uma segunda matéria no jornal de hoje baseia-se num “relatório sigiloso dos serviços de inteligência da Rússia que ao qual o Washington Post” teria tido acesso.” Diz que o serviço de inteligência militar russo, GRU, teria iniciado uma operação de mídias sociais um dia depois que o presidente Viktor Yanukovych da Ucrânia foi derrubado por golpe para mudança de regime orquestrado pelos EUA.

A matéria relaciona, como se fossem postados por fantoches dos agentes do GRU russo, conversas que não passam do corriqueiro na internet, nos grupos que se opuseram à mudança fascistizante de regime que foi forçada em Kiev. O Washington Post atropela, absolutamente sem qualquer explicação, a questão de quem teria entregado ao jornal um suposto relatório da inteligência militar russa, de 2014; quem impôs sigilo àquele relatório e como, se alguém o fez, verificou a veracidade do que ali se lia. Na minha avaliação, a matéria e tudo que ali se diz como se fosse fato, mas sem uma prova sequer, e todas aquelas supostas conclusões exalam forte fedor de merda de vaca.

Uma coluna assinada no mesmo Washington Post exala idêntico fedor. Vem assinada por conhecidos lacaios das agências de inteligência, Michael Morell e Mike Rogers. Morell sonhava ganhar a diretoria da CIA, se Hillary Clinton tivesse sido eleita. A coluna (que inclui grave erro de compreensão do conceito de “contenção”) afirma que a Rússia jamais interrompeu seus ciberataques contra os EUA:

As táticas russas de operações de informação desde a eleição são mais numerosas do que se podem listar aqui. Mas para se ter ideia da amplidão da atividade russa, considerem a quantidade astronômica de mensagens distribuídas por contas controladas pelo Kremlin no Twitter, que especialistas em cibersegurança de táticas para desinformação rastrearam como parte da Aliança do Fundo Marshall Alemão para Segurança da Democracia.

O autor acrescenta um link que leva a essa página que oferece o que seria uma lista de hashtags do Twitter usadas atualmente por agentes russos. Se o que ali se lê é informação aproveitável, o tema que os agentes russos especialistas em influenciar opiniões nos EUA mais promovem nesses dias é “#merrychristmas” [#feliznatal].


Quando os autores dizem que o número de operações russas é “alto demais para listá-las todas aqui”, estão na prática admitindo que não têm sequer uma operação, uma, que fosse, suficientemente plausível para ser denunciada. Trata-se de mentira e farsa, para justificar a exigência, que os autores apresentam, de mais e mais medidas políticas e militares contra a Rússia. Mais uma vez, tentativa para distanciar os norte-americanos que confiam nessa mídia-empresa das reais razões pelas quais Clinton perdeu a eleição, e iniciar o tema de uma nova Guerra Fria, que beneficiará os fabricantes de armas e o poder de influência dos EUA na Europa.

Nenhum dos episódios da saga conhecida como Russia-gate até agora resiste a qualquer análise séria. Nenhuma prova de coisa alguma, nada que faça qualquer sentido objetivo, nenhum indício real de que a Rússia tenha influenciado diretamente as eleições, nos EUA ou em qualquer lugar do mundo. E não há prova alguma de que a equipe de campanha de Trump tenha cometido crime de “colusão” com algum russo.

Uma das mais arrasadoras denúncias das mentiras que a mídia ainda insiste em repetir sobre esse assunto, pode ser lida no número mais recente da London Review of Books: “O que não se diz, ao falar do hacking russo” [ing. What We Don’t Talk about When We Talk about Russian Hacking]. Consortium News também publicou várias matérias sobre a mesma questão, além de análises e avisos sobre o que pode advir. Muitos outros autores já identificaram e desmascararam incontáveis incriminações, perfeitamente falsas. A revista Nation lista vários casos de jornalismo de má fé além de incontáveis mentiras sobre o caso conhecido como Russia-gate.

O pessoal que promove a sandice da “influência russa” são operadores políticos ou autores de aluguel. Tome-se por exemplo Luke Harding do Guardian, que acaba de publicar livro intitulado Collusion: Secret Meetings, Dirty Money, and How Russia Helped Donald Trump Win [Colusão: Encontros Secretos, Dinheiro Sujo e como a Rússia ajudou Donald Trump a vencer]. Foi convidado de um dos programas de Real News que o entrevistou (vídeo) sobre o livro. O entrevistador chama atenção para o fato de que o livro não oferece sequer uma prova, uma, que fosse, que confirme o que o autor escreve insistentemente, repetidas vezes. Quando diretamente questionado sobre provas, Harding assume posição defensiva e diz que está “contando uma história” –, em outras palavras, que escreve ficção. Harding já publicou um livro sobre Edward Snowden, em tudo semelhante a esse. Julian Assange disse do livro que não passa de “serviço de pena de aluguel, no mais puro sentido do termo”. Harding também é conhecido por plagiar. Quando trabalhou em Moscou copiou matérias e longas passagens da publicação hoje já inexistente, Exile, dirigida por Matt Taibbi e Mark Ames. O Guardian foi obrigado a publicar um pedido de desculpas.

O governo mexicano controla a mídia-empresa porque compra quantidade descomunal de espaço publicitário. Assim fazendo, garante que a empresa de mídia sobreviva, enquanto seguir caninamente a linha que interessa ao governo. O governo dos EUA tem seus próprios meios de também controlar a mídia-empresa. Dos anos 1950s até os anos 1970s, a CIA manteve a Operation Mockingbird [Operação Cotovia, provavelmente pq a cotovia canta ao amanhecer, no horário em que começam a circular os primeiros noticiários (NTs)] que lhe garantiu o controle sobre grande parte do noticiário e das colunas de opinião na mídia-empresa nos EUA. Naquele período, cerca de 400 dos principais jornalistas da grande mídia trabalhavam para a CIA.

O método de controle também mudou. O modo como lidaram com o affair Snowden permite assumir que a CIA induz bilionários a comprar os próprios veículos e a implementar, através deles, as políticas que a CIA favoreça em cada caso. Não se sabe o que os bilionários ganham em troca do serviço. A CIA sem dúvida tem muitos meios para garantir que recebam informação sobre os concorrentes ou para influenciar as leis e regulações comerciais em outros países. Uma mão sempre suja a outra.

James Clapper como Diretor da Inteligência Nacional; John Brennan como diretor da CIA; e James Comey do FBI “avaliaram” que a Rússia teria influenciado a eleição presidencial nos EUA. O Anexo B do relatório deles, que praticamente nenhum jornal ou jornalista deu-se o trabalho de citar, diz:

Nossas avaliações não visam a significar que tenhamos provas de que alguma coisa seja fato. As avaliações baseiam-se em informações coletadas, as quais muito frequentemente são incompletas ou fragmentadas, assim como a lógica, a argumentação e os precedentes.

Essa sentença é o coração do Russia-gate. São muitas acusações, afirmações e ‘sentenças’, mas absolutamente nenhuma prova de que qualquer parte da tal ‘influência russa’ tenha realmente acontecido.

Por provável influência descabida dos serviços de inteligência, os veículos e profissionais da mídia-empresa adotaram como aquele padrão do Anexo B, também para o trabalho jornalístico. Em relação à Rússia (e a outras questões) atualmente já basta que qualquer um diga qualquer coisa – nenhum jornalismo precisa investigar, buscar a verdade ou checar as ‘declarações’ e os diz-que-fulano-disse.

E como operará esse sistema de produção incansável de versões e mentiras, sem nenhum fundamento na realidade, no caso de um acidente, se algum jato foi derrubado, e se a guerra escalar? Será que ainda restará repórter nos veículos da mídia-empresa dominante, que tenha permissão dos editores e patrões para fazer perguntas reais, interessado em obter respostas reais?

Traduzido por Vila Vudu | em Oriente Mídia

PORTUGAL | Porcos a andarem de bicicleta no parlamento, estamos a ver



Mário Motta, Lisboa

Carregámos o título e o texto do jornal Sol (a seguir), sobre o que chamaram “negociata” de quase todos os partidos políticos com assento na Assembleia da República. É a “Lei do financiamento partidário” com que os trouxas dos portugueses sustentam os partidos políticos – e a “redondilha da dita esquerda está lá bem expressa e unânime no acordo “democrático”. Até o PSD galifão.

A sucedânea de Paulo Portas no CDS, Assunção Cristas, é que não esteve pelos ajustes, fosse o Portas e também alinharia em uníssono porque nem sempre há submarinos e outros veículos ou inertes para comprar, baralhar e dar de novo. Deram de barato à Cristas para continuar na crista da onda do populismo. Ora tomem lá!

Também o partido das pessoas e dos animais não entrou naquela “cartada” de jogo sujo sobre a tal lei. Disse o deputado do referido partido que “não era o momento próprio (Natal e Ano Novo)”, assim como adendas “mistério” que foram votadas pelos 5 da Vida Airada - PSD, PS, PCP, PEV e BE. O PCP e o Bloco… Surpresa!

Já não é surpresa a dupla PS e PSD. O slogan “a mamar é que a gente se entende” está-lhes bem e assenta-lhes que nem luvas feitas à medida. Mordomias e mais mordomias é com eles. E o povo, pá? Atónito, devido ao seguidismo vicioso do PCP, PEV e Bloco de Esquerda.

Saliente-se que, surpresa, em não concordar com a “marosca” e -aparentemente - se estar a borrifar para mais mordomias e até contestá-las é uma manobra populista do CDS. Que irá capitalizar em votos este seu desprendimento em nos surripiarem mais euros das carteiras.

Verdade seja dita que o momento foi muito bem pensado, quando já em Portugal se andava a respirar o espírito de natal e a distração era mais que muita. Isso diz bem da desonestidade e opacidade das mentes deputadas. Há até aqueles que lhe chamam sacanisse. Pois. A procederem assim o que é que eles esperavam que os Zés Pagantes dissessem? E, pelo visto, têm razão quando medem a eito os deputados quando dizem alto e bom som que o que “eles querem é mama” ou o que “querem é encher-se à nossa conta”.

Desilusão, é o que muitos portugueses agora experimentam com esta “história”. O PCP, o PEV, o BE? Esses, a espalharem-se ao comprido nesta treta toda! Qual PS, PSD ou CDS!

Pelo visto o BE já está a dar o dito por não dito. Peculiar? Não. Há aquela velha frase em que é dito que “o Poder corrompe” ou que é meio caminho andado para se abandonar a ralé. E quer queiramos ou não a maioria dos governados e pagantes somos ralé, o povo, os plebeu. Ora aí está. Ver para crer e não esquecer nem nos distrairmos.

Agora podem dizer em comunicados ou não trinta por uma linha para se “limparem”. Pois, então digam… Parvos serão os que acreditarem. É muito mais recomendável sentirmos a desilusão a corroer-nos. Assim, a modos como num casamento exemplar e duradoiro um dos conjugues encorna o outro…

E vá-se lá dizer que nunca vimos porcos a andarem de bicicleta. Olhem bem, abram os olhos, lá vão eles! Usando a estrada da democracia mas a enveredarem por caminhos alternativos muito esconsos.

Leiam a seguir, do SOL (podia ser em qualquer outro jornal). Blá, blá, blá… Pois.

MM | PG

Lei do financiamento partidário não aumenta encargos públicos, dizem PSD, PS, PCP e PEV

BE não assinou o comunicado conjunto.

André Vinagre | SOL

PSD, PS, PCP e PEV divulgaram um comunicado conjunto onde explicam que a nova lei do financiamento partidário não aumenta os gastos públicos.

O BE e o CDS-PP, que também integraram o grupo de trabalho, não assinaram este comunicado.

No comunicado, os partidos dizem que da nova lei “não resulta nenhum aumento de subvenção estatal ou quaisquer encargos públicos adicionais para com os partidos políticos”.

A nova lei do financiamento partidário foi aprovada na passada quinta-feira. CDS-PP e PAN votaram contra.

No comunicado, PSD, PS, PCP e PEV afirmam que as alterações à lei foram feitas “num quadro de consenso alargado” que não mereceu “acolhimento pontual” do CDS-PP.

PORTUGAL | O sobressalto da Altice e a embaraçosa agonia da ERC

Há pouco mais de um ano, o mercado dos media foi tomado pelo sobressalto do anúncio da intenção da multinacional de origem francesa Altice de adquirir o importante grupo Media Capital e, muito especialmente, a estação de televisão TVI, a produtora de conteúdos Plural e o respectivo grupo de rádios, de grande audiência.

Alfredo Maia | AbrilAbril |
opinião

Por um lado, o grupo espanhol Prisa, proprietário do «diário global» El País e da Cadena SER, nomeadamente, necessitava de resolver a pesada dívida acumulada com vários investimentos, entre os quais se inclui, precisamente, a aquisição da Media Capital, entre outras empresas do portefólio da sua expansão internacional.

Por outro lado, a Altice, que tem feito sucessivos investimentos na infra-estrutura de telecomunicações, Internet e meios de comunicação social em França, Estados Unidos, República Dominicana e Israel, bem como em Portugal, com a compra da Portugal Telecom, anseia por possuir conteúdos para a rentabilizar, ao mesmo tempo que somaria um poder de influência no espaço público que nenhum outro operador possui e que representaria uma ameaça muito grave para as garantias constitucionais de não concentração e de diversidade informativa.

Ao longo de 2017, o negócio, anunciado em meados de Agosto como cifrado em 440 milhões de euros, despertou vigilância e preocupação. Entre os motivos, estão a concentração manifestamente excessiva da capacidade de recolher, tratar e difundir informação e entretenimento, isto é, de condicionar o pluralismo e de formatar as opiniões, mas também do controlo do próprio mercado publicitário, como analisa a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), num parecer que não chega a ser um parecer, pelo menos com decisão assumida, para o bem e para o mal, pelo Conselho Regulador.

A consumar-se, o negócio permitirá à Altice somar à sua importante colecção de meios (PT, Meo, portal Sapo e TDT) todos os canais da TVI (um generalista, em sinal aberto, e cinco por cabo), as estações de rádio com enorme penetração e audiência Radio Comercial, M80, Cidade, SmoothFM e VodafoneFM, o portal IOL, a produção de conteúdos, a edição musical e eventos e operações no mercado publicitário. Não está sequer descartada a hipótese de aquisição de jornais e outras publicações periódicas.

Trata-se de replicar em Portugal um modelo com lastro preocupante, nomeadamente em França, onde a Altice Media detém meios como a revista L’Express, o jornal Libération e duas dezenas de rádios e de canais de televisão (vários da BFM TV e da Sport) – todos também presentes na Internet, através de portais que controla igualmente.

Para construir este império, as dívidas contraídas para a acumulação de investimentos ascendem à preocupante soma de 50 mil milhões de euros, que pelos vistos traz intranquilos os banqueiros, com um volume de crédito tão significativo.

Mas estão também as práticas laborais do grupo, com o fito de reduzir custos de produção e potenciar mais lucros, de que são exemplos os despedimentos e os «emagrecimentos» forçados nomeadamente na PT, com o recurso a truques como a transmissão de estabelecimentos.

Face à clivagem do fragilizado Conselho Regulador da ERC, que inviabilizou um pronunciamento formal sobre uma matéria da sua competência, mas que, apesar de tudo, produziu um quase parecer elucidativo sobre a avaliação dos riscos da compra e da concentração para o pluralismo, aguarda-se com grande expectativa o desfecho que a Autoridade da Concorrência dará ao assunto, assim como a resposta dos restantes operadores de telecomunicações e de televisão e grupos de media, que se têm manifestado contra esta operação de concentração.

Há quem avente uma aliança entre a NOS e o grupo Impresa (SIC, Expresso, etc.), levando a uma operação semelhante…

A resposta, no entanto, não pode deixar de ser dada pelos poderes públicos e até pelo poder político, sendo necessário colocar na ordem do dia a necessidade de travar as operações de concentração em curso e o sobretudo o regresso da Portugal Telecom ao controlo público, esfera da qual nunca deveria ter saído.

Um papel decisivo deve caber ao novo Conselho Regulador da ERC, finalmente empossado no passado dia 14, ao cabo de um atribulado e comprometedor processo de nomeação, pela Assembleia da República, dos membros para o novo mandato, na realidade findo há mais de um ano (8 de Novembro de 2016) mas artificialmente prolongado, agonizante e gravemente manietado para tomar decisões que exigissem mais do que o consenso entre os três sobreviventes (de cinco) a que o órgão estava reduzido.

O atraso comprometedor na escolha da nova equipa, no âmbito da negociata entre os partidos do arco da maioria qualificada – o PS e o PSD –, e as embaraçosas votações falhadas no Parlamento, com o número de votos favoráveis inferiores aos necessários para garantir a designação de quatro elementos, e, sobretudo, a pugna indecorosa pela «cooptação» do quinto elemento (na prática, agora reiterada, o presidente), ora reivindicada pelo PSD, ora reclamada pelo PS, confirmam a captura do processo pelos dois maiores partidos.

Apesar de a Lei da ERC determinar que é aos quatro elementos do Conselho Regulador designados pelo Parlamento que cabe cooptar um quinto membro, devendo os cinco escolher de entre si aquele que presidirá, novamente a escolha envolveu conversações prévias envolvendo as direcções das bancadas parlamentares, a fazer fé no Público1, o jornal habitualmente bem informado sobre os bastidores negociais.

Enquanto a lei não mudar e não se alterar – para melhor – a composição e a forma de extracção dos membros do Regulador dos media, o Conselho Regulador e, especialmente, o seu presidente continuam a carregar um ónus pesado: o de demonstrar que não estão reféns do poder político que os nomeou, mas também o de resistir às pressões do poder económico (o patronato dos media). Que existem e não são fantasia de conspiradores…

Nota: 1.Edição de 29 de Novembro de 2017

Foto: António Pedro Santos / Agência Lusa

PORTUGAL | Lei de financiamento dos partidos é "uma negociata feita pela calada"

A nova lei foi aprovada com os votos contra do CDS e do PAN, mas o processo foi secreto. O presidente da Associação Transparência e Integridade fala de "um conluio que mancha de lama os partidos".

A Associação Transparência e Integridade considera, em declarações à TSF, que a lei de financiamento dos partidos é o resultado de um conluio partidário para aprovar "pela calada um conjunto de benesses privadas".

João Paulo Batalha, presidente da associação, lembra que não houve qualquer estudo ou audição da sociedade civil nas alterações feitas à lei e realça que a votação aconteceu na véspera de Natal, "na esperança de que os portugueses não se apercebessem".

A Associação Transparência e Integridade apela, por isso, ao presidente da República para que vete o diploma de alteração da lei de financiamento dos partidos.

Ao contrário do que é habitual, a consulta ao site do Parlamento não permite perceber, afinal, quem propôs o quê nas alterações à lei que altera os limites globais das doações aos partido políticos. Sabe-se que as alterações foram preparadas por um grupo de trabalho criado na Assembleia da República para dar resposta às dúvidas sobre a constitucionalidade da lei em vigor, levantadas pelo presidente do Tribunal Constitucional (TC). E pouco mais.

Conta o jornal Público que não há registo das actas das reuniões, não há registo da audição do presidente do TC, tampouco das propostas de redação da lei. A este propósito, o jornal revela que teve acesso a um e-mail trocado entre os deputados do grupo de trabalho onde constam três propostas de alteração identificadas não com a indicação do partido que sugere as alterações, mas com a designação de proposta A, B e C.

Contactado pelo Público, José Silvano, deputado do PSD que presidiu ao grupo de trabalho, justifica a ausência de registos dos trabalhos com o facto de o grupo ser informal. Explica que as propostas eram feitas de forma oral e sem votação.

Facto estranho, nota Pedro Bacelar Vasconcelos, deputado que preside à comissão de Direitos Constitucionais de que dependia o grupo de trabalho. O parlamentar abre mesmo caminho à necessidade de rever o estatuto e funcionamento dos grupos de trabalho em nome da transparência.

Ainda segundo o Público, o objetivo inicial era aprovar as alterações à lei antes do final do verão, a tempo das eleições autárquicas de outubro.

A oposição do CDS às mudanças propostas inviabilizou esta pretensão. As alterações só vieram a ser aprovadas a 21 de dezembro depois de o tema ter sido levado a conferência de líderes E foi tudo de uma assentada - votação na generalidade, votação na especialidade e votação final global, tudo no mesmo dia.
CDS e PAN votaram contra.


Miguel Videira | TSF | Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens

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