Marko Langer | opinião
Temos muito a agradecer a ela,
mas a verdade é que a Angela não consegue mais formar maioria no
Parlamento. O tempo dela passou, opina o jornalista Marko Langer.
Pode-se mesmo, em tom sério,
escrever por estes dias uma declaração de amor aos social-democratas
alemães? A este pobre, maltratado e depenado SPD, que vai de um recorde
negativo ao outro? A esta trupe em que a esquerda não sabe o que a direita
pensa? Alguém consegue realmente achar estupendo, por exemplo, o que estão
fazendo o presidente dos jovens socialistas e todos os outros correligionários
que não têm mais saco para a "Groko" [grande coalizão] e
querem exatamente o oposto do que o chefe deles quer?
Eu consigo! Talvez seja esse meu
amor pela contradição, pela oposição. Eu acho estupendo o que está
acontecendo no SPD. Nada de "só o que o chefe manda", de jeito
nenhum. Eu admito: qualquer empresa iria à falência se cada funcionário
resolvesse fazer o que bem entendesse. Isso é anarquia! Lindo!
Por outro lado, quem está sentada
naquela grande casa (chamada Chancelaria Federal), no endereço
Willy-Brandt-Strasse 1 (esse, aliás, era um social-democrata), é Angela Merkel,
e ela vai tocando de forma interina o governo interino da Alemanha. Alguns
contemporâneos dizem que isso bem que poderia ficar assim. Afinal, essa física
com PhD conseguiu passar superbem pela crise do euro, a crise bancária, a crise
grega etc e tal.
Sim, sim, tudo verdade. Só
que isso é passado! Agora temos, por exemplo, a crise dos refugiados. E também
um pouquinho de crise da democracia. Afinal, 92 extremistas de direita
estão sentados na bancada da AfD no Bundestag e esperam de forma disciplinada e
coesa que, na próxima vez, os eleitores digam: ah, até que eles
não são tão maus assim. E a senhora Weidel anda sempre tão bem vestida.
Brrrr, só de pensar já fico com calafrio.
E para essas crises, a louvável
chanceler e presidente da CDU não tem resposta alguma. E muito menos para as
aposentadorias irrisórias, o ritmo vagaroso da infraestrutura digital e o
preço impagável dos aluguéis nas grandes cidades. Já a rainha da política
das mãos em forma de diamante repetiu seu gesto típico após as 24 horas da
reunião de encerramento das sondagens com os social-democratas na última
semana, como se dissesse "bom, vamos ver o que acontece agora".
Desculpe, mas nossa chanceler não
pode continuar assim! Não somos um experimento físico, no qual vê-se quais são
as reações no final. Merkel escreveu certa vez uma tese sobre, entre outras
coisas, o "mecanismo das reações de desintegração". Não entendo o
conteúdo, mas essa formulação aparece já no título da tese. Reações de
desintegração: é o que estamos vendo também na política.
E o pérfido nisso
tudo é: sempre os outros é que são os culpados! Quando fracassam as
sondagens para a coalizão Jamaica, aquela opereta de sacada, quem é o culpado:
Christian Lindner! Quando os democrata-cristãos não encontram uma abordagem
comum para o problema dos refugiados, quem é o culpado? Horst Seehofer. E quem
será o culpado caso o SPD decida não participar da ação "precisamos urgentemente
de uma Groko porque senão não conseguimos formar um governo"? Exatamente:
o Schulz é o culpado. Ou o Gabriel. Ou a Nahles. Na verdade, tanto faz. Só
a chanceler é que não é.
Angela Merkel não quer um governo
de minoria? Então que desista! Será que ela, na situação atual, obteria
uma maioria se se apresentasse à reeleição perante o Bundestag? Eu não
apostaria nisso. Reações de desintegração, como já dito acima.
Pode ser que, no caso de uma nova
eleição, o SPD caia para 18%. Também não é nada improvável que Martin Schulz
não permaneça mais por muito tempo presidente desta orgulhosa legenda. E é
verdade também: o SPD não está exatamente louco pra governar, muito antes
pelo contrário. Se tivesse ido de forma sincera e honesta às sondagens, o
partido teria dito: "Sim, formamos uma coalizão – sob uma condição: Merkel
tem que sair!"
Mas provavelmente Schulz, o
Triste, e Nahles, a Robusta não apresentaram tal exigência. E agora
assistem às reações de desintegração de sua base interna de poder. Depois desta
semana sofrida e depois de um congresso provavelmente muito agitado no
próximo domingo, em Bonn, pode ser que a liderança do partido receba, a duras
penas, um aval para as negociações de coalizão. Mais tarde, o triste Martin e a
robusta Andrea terão que apresentar o resultado para votação dos 440 mil
membros do partido. Vocês também querem, não querem?
Então: de um lado, a anarquia. E
do outro? É um tolo aquele que se deixar levar por esse pérfido jogo
de poder de Merkel. As coisas são diferentes na Alemanha desde 24 de setembro
de 2017. Temos seis bancadas no Parlamento. E se todos fossem francos, pelo
menos quatro dessas bancadas deveriam perceber: ninguém mais quer brincar com a
Angela! Nós, alemães, temos muito a agradecer a ela. Mas ela não consegue mais
formar uma maioria. O tempo dela passou.
Marko Langer (md) | opinião |
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