sábado, 20 de janeiro de 2018

ANGOLA | O uso dos solos e a maka das ravinas

Jornal de Angola | editorial

Nos últimos 10 anos, as ravinas atingiram todo o país e com maior destaque para as províncias de Luanda, Uíge, Huambo, Bié, Moxico, Zaire, Lunda-Sul, Lunda-Norte e Cuando Cubango.

Estas são as conclusões de uma engenheira ambiental que, há três meses, em entrevista ao Jornal de Angola, avançou um quadro preocupante relativo ao fenómeno que corrói estradas, terras cultiváveis, moradias. Isto, além de contribuir para separar comunidades inteiras e deixar, muitas vezes, pessoas em risco de vida, não raras vezes, por acção directa e indirecta da mão humana. E, embora se trate essencialmente de um fenómeno natural, segundo a especialista que falou ao Jornal de Angola, muito dos feitos das mulheres e homens sobre o solo acabam também por contribuir para aceleração das condições que propiciam as ravinas. 

De facto, a pressão humana sobre o solos constitui um problema sério, razão pela qual são completamente evitáveis muitas das causas ligadas ao fenómeno das ravinas em todo o país. 

Em muitas cidades e localidades do país, como as já mencionadas, o quadro em que avançam as ravinas constitui um repto permanente a todos no sentido de se reflectirem as condições de ocupação e uso dos solos. 

Definida como erosão hídrica que causa movimento de massa de terra, que se pode entender como um fenómeno geológico que consiste na formação de grandes buracos, as ravinas constituem hoje dos maiores desafios com que se confrontam as várias localidades do país. E vale a pena persistir na componente pedagógica, na medida em que, curiosamente, em muitas comunidades o fenómeno ravina não é ainda inteiramente conhecido. A forma como inesperadamente se abrem buracos de dimensão gigantesca leva, em muitas comunidades a leituras que associam o fenómeno a alguma maldição ancestral e que se aproximam do obscurantismo, facto que exigem explicações.

E estas devem, naturalmente, ser acompanhadas da sensibilização para que as comunidades sejam capazes de compreender devidamente algumas das causas por detrás do fenómeno natural, as suas consequências, mas fundamentalmente os passos para os evitar. Como defendeu a cientista ambiental, é possível evitar ou mitigar os efeitos das ravinas, sobretudo se as comunidades forem capazes de evitar a destruição da vegetação, por via das queimadas, desmatamento e desflorestação para a construção de estradas e casas, entre outros. 

É preciso informar as pessoas e instituições que, como disse a engenheira ambiental, a alteração do sistema natural de escoamento e drenagens de águas pluviais e a criação de sistema de irrigação artificial estão, também, entre as causas do surgimento das ravinas.

Devemos reflectir seriamente sobre a ocupação e uso dos solos, numa altura em que a pressão demográfica tende a levar, naqueles lugares em que a densidade populacional é notória, ao aumento das actividades humanas nem sempre consentâneas com as medidas para inviabilizar o fenómeno.

Aprendamos mais com a natureza cujos processos de reciclagem, de degradação e auto-reaproveitamento contribuem para a manutenção do equilíbrio e continuidade de maneira exemplar para os seres humanos. Não podemos fazer aproveitamento dos solos, da flora e fauna de maneira insustentável, sem um diagnóstico apurado sobre o impacto da acção humana, sem um amplo processo de auscultação das comunidades, entre outras acções preventivas. Assim, o fenómeno natural conhecido como ravina pode ser completamente controlado, nalgumas circunstâncias evitado e ao menos contribuir para retardar ou acautelar a erosão hídrica que causa movimento de massa de terra.

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