Rui Sá | Jornal de Notícias |
opinião
Creio que, hoje, a maior parte
das pessoas já entendeu que, afinal, a alteração à lei do financiamento dos
partidos políticos não teve a "gravidade" que alguns - e sabemos os
seus inconfessáveis propósitos - lhe atribuíam. Afinal não houve secretismo nem
falta de transparência, antes um procedimento habitual na Assembleia da
República (criação de grupos de trabalho constituídos por todos os partidos
para adiantarem trabalho). E as alterações não passaram por aumentar a
subvenção pública, mas antes para aumentar a capacidade de os partidos se
autofinanciarem através da sua própria atividade. E, quanto ao IVA, houve uma
clarificação da situação (que possibilitava diferentes interpretações, como,
aliás, acontece em diversas outras áreas da atividade económica) - que poderá,
efetivamente, aumentar isenções (e consequente aumento da receita), mas cujo
objetivo foi, apenas, precisar o que é e o que não pode ser considerado como
atividade política.
Mas, ultrapassada esta situação,
que o CDS, em particular e com a demagogia populista da sua própria matriz
(lembram-se dos cartazes deste partido com as panelas para demonizar a
regionalização - que resumiam à criação de mais "tachos?), tentou
cavalgar, novos elementos inquinam a credibilidade do funcionamento partidário
- aqui com factos que, objetivamente, o descredibilizam, dado que a maior parte
das pessoas não distingue, por ignorância, por facilitismo ou por interesse, a
árvore da floresta...
Refiro-me ao pagamento, em massa,
de quotas de militantes para poderem votar nas eleições partidárias (diretas ou
não), bem como ao arrebanhamento de "militantes" para votarem em quem
o cacique manda..."Fenómeno" que ganhou mais relevância pública no
PSD, onde, dizem, 20 mil militantes pagaram quotas atrasadas num dia e se descobriram,
em Ovar, carrinhas a arrebanhar militantes para votarem e "militantes-
-fantasmas" que vivem, em magotes, na mesma casa cujos moradores dizem
nada ter a ver com o PSD (Rio envelheceu mesmo, dado que, há 20 anos, lutou
pela refiliação dos militantes do PSD para, dizia, impedir estas
situações!...). Mas que se repetiu nas diversas eleições concelhias do PS onde,
dizem-no dirigentes do próprio PS, há pessoas que são apelidadas de "sacos
de votos", pelo poder cacique que exercem sobre gente cuja militância
apenas se revela no instante das eleições internas partidárias...
E, aqui, podemos estar perante
fenómenos de financiamentos encapotados de empresas a partidos - é sabido que
as quotas de centenas de militantes são pagas por uma única pessoa (sendo
difícil provar a verdadeira origem dessas verbas). Mas, essencialmente, estamos
perante um desvirtuamento das regras democráticas partidárias.
E isto faz-me refletir sobre a
imposição que partidos que permitem estes comportamentos fizeram, em 2003, aos
outros partidos, principalmente o PCP. De facto, foi nessa altura que PSD, PS e
CDS decidiram impor, à sua própria imagem, um conjunto de regras, uma das quais
a de que a eleição dos órgãos dirigentes partidários deve ser por voto secreto.
Regra imposta ao PCP que, como se sabe, permitia que fossem os próprios
militantes a decidirem, por braço no ar, o método de votação. Imposição que
procurava fazer crer que o PCP não era democrático porque elegendo a direção
por braço no ar (como acontece na generalidade das associações e mesmo em empresas...)
os militantes estariam condicionados, pelo medo de assumirem as suas
divergências.
Eu, militante que tantas vezes no
interior do meu partido expressei as minhas discordâncias com esta ou aquela
posição, com este ou com aquele camarada, continuo a achar que o grau de
democraticidade partidária não se mede pelo método de votação mas sim pela
cultura democrática dos partidos. Que, pelos exemplos que referi, não abunda em
alguns lados...
Engenheiro
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