Martinho Júnior | Luanda
1- Enquanto as maiores potências
estratégicas involucradas no teatro operacional da Síria procuram manter-se à
distância uma da outra (Rússia e Estados Unidos), as potências tácticas (Irão,
Turquia, Síria e Israel) embrulham-se à medida dos alucinados labirintos
propiciados pelos falcões de Trump e seus “pares”, os falcões sionistas!
A Rússia manobra
geoestrategicamente sem equívocos e consolidada em função da defesa do estado
sírio contra o que resta do Estado Islâmico e contra algumas bolsas dos
sucedâneos da Al Qaeda, mantendo-se numa espectativa reservada em relação a
Rojava e, por tabela em relação às contradições entre a Turquia e Estados
Unidos (Israel na sombra).
Os Estados Unidos estão enleados
em labirínticas ambiguidades, bem à medida da degradante imagem internacional
do presidente Trump, enleamentos do Pentágono e da CIA que agora se estendem ao
próprio carácter da NATO, sobretudo em função das tensões contra os interesses turcos
na região, mas com os sentidos orientados a partir de Rojava, em direcção à
Turquia, ao Irão, ao Afeganistão e à Ásia Central.
Essas ambiguidades permitem um
sistema de transvases entre os diversos grupos rebeldes e suas milícias,
misturando e dando de novo as cartas, conforme as conveniências, desde o Estado
islâmico até ao Exército Libre da Síria.
Há coerência geoestratégica de
relacionamentos, diplomática, de inteligência e militar das linhas e das acções
do lado russo na Síria, se tivermos em conta quanto a sua perspectiva dá
seguimento às vitórias conseguidas no Cáucaso (Chechénia e Geórgia),
indispensáveis para o delineamento da “rota da seda”, o que não
acontece com as linhas e as acções dos Estados Unidos que tentam recuperar-se
das desconecções provocadas pelo caos e pelo terrorismo de suas iniciativas
anteriores, recorrendo aos falcões de Israel numa perspectiva que se esvai num
imenso labirinto, com os curdos no fulcro da desagregação artificiosa que
procuram arquitectar e injectar.
2- A Síria, potência táctica
decisiva e “dona do terreno”, está agora mais empenhada em destruir as
bolsas da Al Qaeda em Idlib e Alepo, de forma a guardar para o fim as questões
que se prendem a Rojava, particularmente a norte do rio Eufrates, na espectativa
de assim reduzir o sistema evasivo de transvases.
Isso irá reforçar a sua posição
nas conversações (Genebra, Astana e Sochi), com o campo rebelde a fragilizar-se
irremediavelmente no terreno e na via diplomática.
Com esse objectivo há uma pequena
guerra de movimentos contínuos dentro e em torno das bolsas, num conjunto de
manobras que podem demorar alguns meses pois os agrupamentos terroristas
receberam reforços em efectivos externos (incluindo restos do Estado Islâmico)
e meios militares, que lhes conferem outro tipo de disponibilidades,
distanciando-se das concepções tácticas do Daesh.
A Turquia tem contudo pressa em
destruir o curdistão sírio (Rojava), começando por ameaçar atacar Aflin, o que
pressupõe também um jogo de espelhos militares com seus vizinhos do sul…
Os Estados Unidos estão a
construir um “exército de fronteira” de 30.000 homens em Rojava,
integrando iniciativas “privadas”, com mercenários de várias
nacionalidades, aproveitando as correntes anarquistas que provenientes do
exterior se foram aliando aos curdos sírios.
Parte do armamento, foi injectado
a partir de bases estado unidenses na Itália, via Jordânia.
As hesitações comuns são notórias
entre sírios e turcos, em termos de definições de sua recíproca
operacionalidade, mas isso não está a fazer parar as fortes unidades sírias que
operam em Idlib e Alepo, acompanhadas pela aviação de combate russa.
A sul nas proximidades do Golan,
a Síria está a consolidar também posições em conjunto com o Hezbolah, limitando
as movimentações de agrupamentos rebeldes ou de terroristas e com os israelitas
comprimidos nas suas posições terrestres uma vez que estão a perder pouco a pouco
o domínio do espaço aéreo, ou a encarar as suas possibilidades aéreas agora com
muito mais reserva.
3- A Turquia está incomodada
sobretudo de duas maneiras:
Geoestrategicamente com o jogo da
meio alucinada e decrépita conveniência dos Estados Unidos, agora patronos de
forçada desagregação na região, remetidos ao serviço da geoestratégia sionista
e reconstituindo sucessivamente agrupamentos evasivos;
Tacticamente com a rebeldia de
Rojava, capaz de suportar manobras em reforço do PKK (Partido dos Trabalhadores
do Curdistão, banido na Turquia) muito para dentro de território turco.
A manobra geoestratégica dos
Estados Unidos arrastando consigo a coligação, combina com o esforço táctico de
Rojava e isso provoca um aumento de tensões contra os turcos fragilizando a
própria NATO, o que pode levar à saída turca da aliança, reforçando o cinturão
turco-iraniano.
A Turquia indicia sentir-se numa
posição instável em conformidade com um período de transição com muitas
indecisões, mas mais cedo que tarde vai ter de encontrar melhor solução em
relação ao seu contencioso para com os curdos e a Síria…
4- Enquanto tudo isso se
desenrola alucinadamente sob nossos olhos, labirinto atrás de labirinto, o
presidente Putin faz o que ele consegue fazer como ninguém: espera sentado pelo
amadurecimento dos contenciosos tácticos, a fim de aprofundar a crise
geoestratégica dos Estados Unidos, que aos olhos de muitos parece ser já
irreversível no enorme continente euroasiático, pois o sionismo por si tem
limitações!...
…Em breve a China entrará em jogo
dando início às projecções de recuperação económica da Síria e o tabuleiro
geoestratégico inclinar-se-á de forma ainda mais visível, em benefício das
projecções dos que pretendem levar por diante a “rota da seda”!...
Martinho Júnior - Luanda, 18 de Janeiro de 2018
Ilustrações:
- Mapa do labirinto táctico do
norte da Síria, onde o Estado Islâmico perdeu espaço vital e está no estertor,
enquanto subsistem as bolsas precárias de curdos (Rojava) e de agrupamentos da
Al Qaeda;
- Manobras de combate em torno de
Idlib (13 de Janeiro de 2018);
- Foto dum exemplar capturado,
pertencente a um enxame de drones que foi neutralizado pela Força
Aérea-Espacial russa;
A consultar de Martinho Júnior:
Os falcões primeiro – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/os-falcoes-primeiro.html
Rojava, uma pequena luz no meio
das trevas – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/rojava-uma-pequena-luz-no-meio-das.html#more
Uma Síria a retalhos – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/04/uma-siria-retalhos.html
A terceira vitória militar das
Forças Armadas Sírias – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/a-terceira-vitoria-militar-das-forcas.html
Assalto a Raqqa põe a descoberto
arrogância dos Estados Unidos e dos seus vassalos – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/06/assalto-raqqa-poe-descoberto-arrogancia.html
Deir es-Zor, a viragem final
aproxima-se – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/10/deir-ez-zor-viragem-final-aproxima-se.html
Outras consultas:
3 maiores êxitos da Rússia que
mudaram completamente situação militar na Síria – https://br.sputniknews.com/opiniao/201710029491402-russia-siria-campanha-militar-sucesso/?utm_source=adfox_site_41923&utm_medium=adfox_banner_2238739&utm_campaign=adfox_campaign_624450&ues=1
Ataques aéreos e terrestres:
mídia revela planos da Turquia na Síria – https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2018011610288504-turquia-siria-curdos/
Aviación rusa pulveriza
posiciones rebeldes en el sur de Idlib – http://www.hispantv.com/noticias/siria/365546/rusia-ataca-rebeldes-idlib-ejercito-sirio
Damasco advierte a Israel de
‘graves secuelas’ de ataques a Siria – http://www.hispantv.com/noticias/siria/365080/ataque-aereo-israel-damasco-respuesta
Legitimizing Terrorism: Inviting
Al Qaeda “Moderates” to Washington for “Consultations” – https://www.globalresearch.ca/legitimizing-terrorism-inviting-al-qaeda-moderates-to-washington-for-consultations/5625397
How the Mainstream Media
Whitewashed Al-Qaeda and the White Helmets in Syria – https://www.globalresearch.ca/how-the-mainstream-media-whitewashed-al-qaeda-and-the-white-helmets-in-syria/5624930
U.S. Creates Kurdish/Terrorist
“Border Force” in Syria to Define Borders of Kurdistan – https://www.globalresearch.ca/u-s-creates-kurdishterrorist-border-force-in-syria-to-define-borders-of-kurdistan/5626420
Gran número de extranjeros se
unen a terroristas en Idlib, Siria – http://www.hispantv.com/noticias/siria/365599/extremistas-terroristas-extranjeros-ofensiva-idlib
O projecto francês
de reconhecimento do «Rojava» – http://www.voltairenet.org/article199316.html
US to Set Up 30,000-strong
“Border Force” in Syria – https://www.globalresearch.ca/us-to-set-up-30000-strong-border-force-in-syria/5626331
“Two Channels”, Pentagon and CIA:
Don’t Be Fooled, the CIA Was Only “Half the Problem” in Syria – https://www.globalresearch.ca/dont-be-fooled-the-cia-was-only-half-the-problem-in-syria/5602010
‘Intervención turca en Siria crea
más tensión y enfrentamientos’ – http://www.hispantv.com/noticias/siria/365969/intervencion-turquia-afrin-tension-kurdos
Terroristas en Siria obtuvieron
tecnología para lanzar ataques con drones en cualquier país – https://actualidad.rt.com/actualidad/259397-terroristas-siria-drones-ataque
Un avión de EE.UU. patrullaba el
Mediterráneo durante el ataque del EI con drones en Siria – https://actualidad.rt.com/actualidad/259471-avion-eeuu-ataque-drones-siria
Análise aos drones que atacaram
Hmeimim – http://www.voltairenet.org/article199381.html
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