A declaração final da cimeira da
União Africana reafirma o posicionamento claro sobre o direito de
autodeterminação do povo saharaui, e apela a boicote a evento promovido
por Marrocos.
Isabel Lourenço* |
Tornado
A declaração final da 30ª cimeira
da União Africana (UA), que teve lugar em Adis Abeba (Etiópia), reafirma o
posicionamento claro desta organização sobre o direito de autodeterminação do
povo saharaui, reiterando:
"O SEU APOIO à retomada do processo de negociação entre Marrocos e a República Árabe Saharaui Democrática (RASD), com vista a se alcançar uma solução duradoura consistente com a letra e o espírito das decisões relevantes da OUA/UA e das resoluções da ONU. A Conferência REITERA O SEU APELO aos dois Estados-Membros para realizarem, sem pré-condições, negociações directas e sérias facilitadas pela UA e pela ONU para a realização de um referendo livre e justo para o povo do Sahara Ocidental. Enquanto a UA está pronta para operacionalizar, se e quando necessário, o seu Comité de Chefes de Estado e de Governo sobre o Sahara Ocidental, a Conferência APELA às duas partes para que cooperem plenamente com o Alto Representante da UA para o Sahara Ocidental, o ex-presidente de Moçambique, Joaquim A. Chissano, e o Enviado Pessoal do Secretário-Geral das Nações Unidas, Sr. Horst Kohler."
Direito à autodeterminação do
povo saharaui
Segundo a imprensa marroquina, os
diplomatas do Reino de Marrocos afirmam que há “passagens em contradição com a
linguagem da ONU” neste texto. Uma técnica utilizada por Marrocos ao longo dos
anos que lança sistematicamente comunicados em que diz que a ONU não defende o
direito de autodeterminação do povo saharaui, afirmação que não corresponde à
verdade como se pode ver nos inúmeros documentos da ONU publicados desde 1975 (UN Documents for Western Sahara) e a presença da missão da
ONU – MINURSO (Missão para o Referendo no Sahara Ocidental) no território do
Sahara Ocidental.
No mesmo ponto a UA exige o
estabelecimento de uma missão de monitoramento de direitos humanos no
território do Sahara Ocidental, um assunto altamente sensível para o Marrocos,
que conseguiu derrotar um projecto similar na ONU, em 2013 e que não se poupa a
esforços para impedir a presença de observadores internacionais nos territórios
ocupados, tendo expulsado centenas de activistas de direitos humanos,
organizações não governamentais, jornalistas, professores, sindicalistas e
eleitos europeus nos últimos dois anos.
A Conferência SOLICITA a
Marrocos, como Estado-Membro da UA, que permita que a Missão de Observação da
UA volte a Laayoune, Sahara Ocidental, bem como permita uma monitorização
independente dos direitos humanos no Território.
Fontes diplomáticas de Marrocos
citadas em vários blogs marroquinos anunciaram já a sua intenção de fazer
bloqueio dentro da União Africana.
Boicote do Forum Crans Montana
Outro ponto que desagradou a
Marroco foi o facto da União Africana apelar ao boicote da realização do Forum
Crans Montana em Dakhla, territórios ocupados do Sahara Ocidental.
A Conferência REITERA os seus
apelos, repetidamente formulados, em particular a sua declaração aprovada na
sua 24ª Sessão Ordinária, realizada em Adis Abeba, de 30 a 31 de Janeiro de
2015, sobre o Fórum Crans Montana, uma organização com sede na Suíça, para
desistir de realizar as suas reuniões na cidade de Dakhla, no Sahara Ocidental,
e APELA a todos os Estados-Membros, Organizações da Sociedade Civil Africanas e
outros actores relevantes para boicotarem a próxima reunião, prevista para 15 a
20 de Março de 2018.
(ver mais sobre Crans
Montana)
Desde a sua adesão à União, em
Janeiro 2016, Marrocos têm evitado várias reuniões, e provocou vários
incidentes durante os encontros da organização continental, tendo como
objectivo o isolamento da RASD (República Árabe Saharaui Democrática), membro
fundador e de pleno direito da UA. Todas as tentativas de Marrocos têm sido
bloqueadas pelos líderes e maioria dos países membros, no espírito do acto
constitutivo da União.
A partir de Março próximo,
Marrocos assumirá oficialmente o seu lugar no Conselho de Paz e Segurança (PSC)
da UA, e segundo os blogues marroquinas iniciará uma campanha no sentido de
bloquear qualquer proposta hostil para o plano de autonomia marroquino para o
Sahara Ocidental, não contemplando a hipótese da realização do referendo que tem
sido obstaculizado pelo Reino Alauita desde 1992, em desrespeito do acordo de
cassar fogo que assinou em 1991.
* Observadora Internacional da
ONG "Por un Sahara Libre"
Sem comentários:
Enviar um comentário