Um “erro crasso” e “rendição”. É
assim que o jornalista angolano, Orlando Castro, classifica em entrevista à DW
África, a integração do Padre Casimiro Congo no novo Governo provincial de
Cabinda.
Na quinta-feira (08.02), o
governador de Cabinda Eugénio César Laborinho, anunciou que o Padre e ativista
Casimiro Congo vai ser o novo secretário provincial de Educação, Ciência e
Tecnologia de Cabinda. Também, surpreendeu as pessoas ao indicar para assumir a
pasta da Saúde, Maria Carlota Ngombe Victor Tati, esposa do deputado
independente pela UNITA, Raúl Tati. Na sequência do anúncio, surgiram várias
reações de diversos setores da sociedade a criticar, em particular, o Padre
Congo por ter aceitado o cargo e deixar de lado a sua luta pela independência
de Cabinda.
Para o jornalista e analista
angolano, Orlando Castro, estas nomeações "é uma jogada do Movimento
Popular de Libertação de Angola (MPLA), versão João Lourenço”. Ele
considera que para aqueles que sempre defenderam a "autonomia" e a
"independência" de Cabinda foi "um erro crasso esta rendição ao
MPLA”. Por outro lado, defende que "do ponto de vista de Angola, das
virtudes e da generosidade que o João Lourenço está a fazer em relação a
Cabinda, entendendo Cabinda como uma província de Angola, até pode ser bom”.
DW : As recentes nomeações para o
Governo provincial de Cabinda estão a dar que falar. Como é que interpreta as
escolhas do Governo?
Orlando Castro (OC) :
Interpreto como uma jogada de mestre do MPLA (Movimento Popular de Libertação
de Angola), versão João Lourenço. É uma forma de a massa cinzenta
intelectual de Cabinda ter atirado a toalha ao chão, rendendo-se ao poder do
MPLA ou ao poder de Angola.
DW : Estas nomeações podem
indicar uma nova abordagem de João Lourenço em Cabinda, mas de uma forma
negativa?
OC : Numa forma
negativa na perspetiva dos cabindas que sempre defenderam o
caminho da independência, como foi o caso do Padre Casimiro Congo. E
portanto, neste sentido, dos que defendem a autonomia até a independência de
Cabinda, acho que foi um erro crasso esta rendição ao MPLA. Do ponto de vista
de Angola, das virtudes e da generosidade que o João Lourenço está a fazer em
relação a Cabinda, entendendo Cabinda como uma província de Angola, até pode
ser bom. Acredito que venha a ser bom. Há, de facto, uma colisão entre estas
duas teses. A tese dos que defendiam a independência, como foi o caso do Padre
Congo, não se coaduna com esta aceitação de um cargo de um Governo que ele
chamava de colonial. O Padre Casimiro Congo dizia que o MPLA, Angola no caso,
era potência ocupante de Cabinda. E portanto, para esta gente que defendia
isto, aceitar estes cargos é uma rendição.
DW : Nas redes sociais, as
nomeações já estão a gerar alguma contestação. Entende portanto que os
cabindas, principalmente os mais críticos, têm razão para estarem
apreensivos?
OC: Têm nesta perspetiva,
digamos política, em relação àquele território. E estão sempre em confronto
estas duas teses. Do ponto de vista da população, que aceita, se é que aceita,
pacificamente, ser uma província de Angola, isto até poderá ser bom, porque o
MPLA está com uma nova filosofia em relação ao território e pode melhorar as
condições de vida do povo de Cabinda, o crescimento económico pode ser mais
sustentável e pode haver uma grande evolução em Cabinda, isso é um aspeto. Do
aspeto histórico, que por acaso é o que eu perfilho, que Cabinda não faz parte
de Angola, aí perdem toda a razão. Alias, já houve casos antecedentes: Bento Bembe
também tinha estas ideias e depois foi "comprado" pelo MPLA e passou
a integrar o Governo. O que nós estamos a assistir, é que as pessoas com mais capacidade
intelectual e política de Cabinda a renderem-se às mordomias que o regime do
MPLA lhes vai dando.
Raquel Loureiro Deutsche Welle
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