quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Mortes de guineenses na fronteira com Senegal gera forte descontentamento


Polícia de Bissau proibiu esta quarta-feira (14.02) uma vigília dos Cidadãos Inconformados frente à embaixada do Senegal para protestar contra assassinatos de guineenses na fronteira entre os dois países.

A morte de um cidadão guineense pelas forças de seguranças senegalesas na linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e o Senegal a 8 de fevereiro deixou as organizações da sociedade civil guineense revoltadas.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos enviou uma carta aberta as autoridades senegalesas para exigir a abertura urgente de um inquérito, "transparente e conclusivo”, com vista a responsabilização criminal e disciplinar dos autores morais e materiais da morte do cidadão guineense Amadu Tidjane Baldé, 58 anos, assim como de 3 outros assassinatos cometidos nas florestas de Borofaye, no território senegalês.
Como aconteceu o assassinato?

Agentes senegaleses do controlo fronteiriço entre os dois países teriam alegadamente disparado contra cidadãos da Guiné-Bissau que se dirigiam para uma cerimónia religiosa no Senegal.

Segundo testemunhas, citadas por uma fonte do Governo, os guineenses teriam considerado injusta uma taxa que era exigida pelos guardas senegaleses para os deixar seguir viagem em direção à localidade de Madina Gounas, onde iriam assistir a uma cerimónia religiosa no sábado (10.02). A alegação dos passageiros guineenses seria de que há 30 anos que atravessam a mesma fronteira em direção a Madina Gounas sem que nunca lhes fosse exigido o pagamento de qualquer taxa monetária.

Na missiva enviada pela Liga Guineense dos Direitos Humanos e que a DW-África teve acesso, lança-se um alerta sobre os perigos da inação das autoridades senegalesas face aos sucessivos atos abusivos das forças sob suas ordens, capaz de pôr em causa os princípios de boa vizinhança e da convivência pacífica entre os dois países e exige a adoção de medidas céleres e adequadas, para pôr fim à impunidade no seio das forças de segurança afetas às zonas fronteiriças, criando assim condições para a existência de um ambiente de paz e tranquilidade entre os dois povos.

Proibição da vigília

Na capital da Guiné-Bissau estava agendada para esta quarta-feira (14.02) uma vigília organizada pelos Cidadãos Inconformados frente à embaixada do Senegal para protestar contra os assassinatos dos guineenses nas regiões da fronteira entre os dois países, mas acabou por ser impedida pela polícia.

O porta-voz dos Inconformados, Sumaila Mané, considera "ser lamentável” que as autoridades guineenses tenham impedido manifestações desse género, ao mesmo tempo que não têm a capacidade de resposta perante os ataques contra os seus cidadãos na fronteira.

"Impedir a manifestação de guineenses no exercício livre dos seus direitos contra um ato bárbaro é uma vergonha. Reunimo-nos à frente da embaixada do Senegal como estava previsto. Mas, antes, informamos as autoridades competentes. De manhã, havia um grupo de policiais a garantir segurança à vigília, mas, de repente, chegou um outro grupo para dispersar os cidadãos que estavam preparados para uma vigília pacífica e ordeira”, explica o porta-voz dos Cidadãos Inconformados.

Falta tomada de posição

Sumaila Mané lamenta o silêncio das autoridades nacionais face aos sucessivos casos de assassinatos e agressões por parte das forças de segurança de Senegal. Ele firma que, da parte guineense, "nem sequer houve um questionamento quanto mais um pronunciamento público”. Mas, mesmo assim, sublinha, que "as autoridades decidem impedir que cidadãos conscientes e inconformados demonstrem a sua revolta junto da representação diplomática senegalesa em Bissau, face ao que aconteceu na semana passada”.

O porta-voz dos Inconformados, movimento que já organizou várias ações de rua nos últimos dois anos, para, entre outros, exigir ao Presidente guineense, José Mário Vaz, que renuncie ao cargo, por ser o principal responsável pela crise política no país, afirma que a inércia das autoridades se deve ao facto de o Presidente do Senegal, “Macky Sall ser o principal aliado do seu homólogo guineense” .

“Este silêncio nos surpreende, infelizmente. Nós temos um Presidente da República que não sabe tomar uma decisão, sem viajar para o Senegal. Ou seja, escolhemos um Presidente que tem o seu Presidente e que para governar precisa das orientações de Macky Sall”, afirma Sumaila Mané.

Entretando, este cidadão defende que a Guiné-Bissau não pode estar a “reboque” de nenhum outro Estado do mundo. E lamenta que, “quando temos um Presidente que não sabe tomar uma decisão e não deixa os cidadãos tomarem conscientemente as suas decisões é vergonhoso”. 

Braima Darame (Bissau) | Deutsche Welle

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