Polícia de Bissau proibiu esta
quarta-feira (14.02) uma vigília dos Cidadãos Inconformados frente à embaixada
do Senegal para protestar contra assassinatos de guineenses na fronteira entre
os dois países.
A morte de um cidadão guineense
pelas forças de seguranças senegalesas na linha fronteiriça entre a
Guiné-Bissau e o Senegal a 8 de fevereiro deixou as organizações da sociedade
civil guineense revoltadas.
A Liga Guineense dos Direitos
Humanos enviou uma carta aberta as autoridades senegalesas para exigir a
abertura urgente de um inquérito, "transparente e conclusivo”, com vista a
responsabilização criminal e disciplinar dos autores morais e materiais da
morte do cidadão guineense Amadu Tidjane Baldé, 58 anos, assim como de 3 outros
assassinatos cometidos nas florestas de Borofaye, no território senegalês.
Como aconteceu o assassinato?
Agentes senegaleses do controlo
fronteiriço entre os dois países teriam alegadamente disparado contra cidadãos
da Guiné-Bissau que se dirigiam para uma cerimónia religiosa no Senegal.
Segundo testemunhas, citadas por
uma fonte do Governo, os guineenses teriam considerado injusta uma taxa que era
exigida pelos guardas senegaleses para os deixar seguir viagem em direção à
localidade de Madina Gounas, onde iriam assistir a uma cerimónia religiosa no
sábado (10.02). A alegação dos passageiros guineenses seria de que há 30 anos
que atravessam a mesma fronteira em direção a Madina Gounas sem que nunca lhes
fosse exigido o pagamento de qualquer taxa monetária.
Na missiva enviada pela Liga
Guineense dos Direitos Humanos e que a DW-África teve acesso, lança-se um
alerta sobre os perigos da inação das autoridades senegalesas face aos
sucessivos atos abusivos das forças sob suas ordens, capaz de pôr em causa os
princípios de boa vizinhança e da convivência pacífica entre os dois países e
exige a adoção de medidas céleres e adequadas, para pôr fim à impunidade no
seio das forças de segurança afetas às zonas fronteiriças, criando assim condições
para a existência de um ambiente de paz e tranquilidade entre os dois povos.
Proibição da vigília
Na capital da Guiné-Bissau estava
agendada para esta quarta-feira (14.02) uma vigília organizada pelos Cidadãos
Inconformados frente à embaixada do Senegal para protestar contra os
assassinatos dos guineenses nas regiões da fronteira entre os dois países, mas
acabou por ser impedida pela polícia.
O porta-voz dos Inconformados,
Sumaila Mané, considera "ser lamentável” que as autoridades guineenses
tenham impedido manifestações desse género, ao mesmo tempo que não têm a
capacidade de resposta perante os ataques contra os seus cidadãos na fronteira.
"Impedir a manifestação de
guineenses no exercício livre dos seus direitos contra um ato bárbaro é uma
vergonha. Reunimo-nos à frente da embaixada do Senegal como estava
previsto. Mas, antes, informamos as autoridades competentes. De manhã, havia um
grupo de policiais a garantir segurança à vigília, mas, de repente, chegou um
outro grupo para dispersar os cidadãos que estavam preparados para uma vigília
pacífica e ordeira”, explica o porta-voz dos Cidadãos Inconformados.
Falta tomada de posição
Sumaila Mané lamenta o silêncio
das autoridades nacionais face aos sucessivos casos de assassinatos e agressões
por parte das forças de segurança de Senegal. Ele firma que, da parte
guineense, "nem sequer houve um questionamento quanto mais um
pronunciamento público”. Mas, mesmo assim, sublinha, que "as autoridades
decidem impedir que cidadãos conscientes e inconformados demonstrem a sua
revolta junto da representação diplomática senegalesa em Bissau, face ao que
aconteceu na semana passada”.
O porta-voz dos Inconformados,
movimento que já organizou várias ações de rua nos últimos dois anos, para,
entre outros, exigir ao Presidente guineense, José Mário Vaz, que
renuncie ao cargo, por ser o principal responsável pela crise política no
país, afirma que a inércia das autoridades se deve ao facto de o
Presidente do Senegal, “Macky Sall ser o principal aliado do seu homólogo
guineense” .
“Este silêncio nos
surpreende, infelizmente. Nós temos um Presidente da República que não sabe
tomar uma decisão, sem viajar para o Senegal. Ou seja, escolhemos um Presidente
que tem o seu Presidente e que para governar precisa das orientações de
Macky Sall”, afirma Sumaila Mané.
Entretando, este cidadão defende
que a Guiné-Bissau não pode estar a “reboque” de nenhum outro Estado do
mundo. E lamenta que, “quando temos um Presidente que não sabe tomar uma
decisão e não deixa os cidadãos tomarem conscientemente as suas decisões é
vergonhoso”.
Braima Darame (Bissau) | Deutsche
Welle
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