Vozes pró e contra surgem nas
redes sociais a comentar a contratação do ex-primeiro-ministro pelo ISCSP.
A notícia de que Passos Coelho,
agora fora da política ativa, vai dar aulas no ISCSP (Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas) de Lisboa tem provocado um intenso debate nas
redes sociais. Surgiram vozes criticando o estatuto docente que foi dado ao
ex-líder do PSD (professor catedrático convidado) e outras defendendo-o, bem
como o ISCSP (cujo reitor, Manuel Meirinho, foi eleito deputado pelo PSD nas
legislativas de 2011).
Uma das vozes mais críticas foi a
da historiadora Raquel Varela. No Facebook, escreveu que o ex-primeiro-ministro
e ex-líder do PSD "conseguiu, pago pelos nossos impostos, destruir os
serviços públicos, que já não existem com qualidade mas que continuamos a
pagar". Agora "acaba a dar aulas numa universidade pública, paga por
nós, onde vai ensinar a outros como continuar a destruir serviços públicos, que
continuaremos a pagar, mesmo quando já não existirem. O Estado é deles. Merece
o lugar de catedrático. Quem não o conseguiu parar é que deve lamentar".
Portanto, "Passos foi de Massamá ao Restelo a cavalo na vida política
pública."
Outro historiador, Rui Bebiano,
da Universidade de Coimbra, escreveu que "nada" tem "contra a
possibilidade de um ex-governante lecionar numa universidade" e isto
"independentemente das suas escolhas políticas". Mas "no caso
agora em apreço, sem formação, mérito ou reconhecimento não faz sentido, a não
ser por nepotismo, o convite dirigido pelo ISCSP a Passos Coelho". "É
uma desonra para uma escola pública, e uma afronta para quem, no sistema
universitário, tanto dá ao longo da vida subindo custosamente a pulso, ou nem
sequer o consegue fazer devido ao rigoroso limite de vagas".
Na polémica, Passos foi defendida
por deputados do seu partido mas também por um do PS. "A experiência de um
ex-primeiro-ministro, qualquer que seja, é única e valiosa" e "por
isso são disputados pelas melhores universidades dos seus países",
escreveu Sérgio Sousa Pinto. No caso concreto, trata-se de "testemunha
privilegiada e ator de um período crítico da vida nacional - a avaliação que
fazemos dele não é para aqui chamada" que "decidiu dar aulas"
quando "podia ter sido cooptado pelos "donos disto tudo", como
consultor, lobista ou ornamento. E assim "a pátria, chocada, vomita
insultos", com "meia dúzia de pessoal menor da Academia, devidamente
encartada de títulos e graus" a " inchar de indignação".
Já Nuno Garoupa, professor de
Direito e de Economia, começou por considerar que o ISCSP se tornou "numa
espécie do "Estoril académico" dos exilados da política. O local
preferido das vítimas da austeridade. Primeiro Seguro, agora Passos. Só falta
Portas e até parece um remake de 2013!"
Depois, acrescentou que "um ex-primeiro-ministro a colaborar numa universidade pública nem deveria ser notícia, muito menos objeto de enorme polémica". Explicando ainda que "anda por aí uma enorme confusão entre catedrático (professor doutorado, agregado e concursado) e [o caso de Passos] catedrático convidado (professor convidado com equiparação e salário de catedrático por decisão dos órgãos da escola)".
O DN tentou contactar o reitor do ISCSP. Em vão.
João Pedro Henriques | Diário de
Notícias
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