A dupla que se enganou em 2017
regressou em 2018 para anunciar o grande vencedor deste ano. Foi menos
divertido, é certo, mas Guillermo Del Toro não há de querer saber: venceu o
Óscar de melhor realizador e o seu “A Forma da Água” triunfou entre os melhores
filmes
É bom voltar a ver-vos outra vez”: Warren
Beaty e Faye Dunaway regressaram ao Dolby Theatre, em Los Angeles, para evitar
repetir o extraordinário erro do ano passado. E é sempre entusiasmante recordar
esse momento embaraçoso e hilariante (até porque este ano haverá pouco -– ou
mesmo nada – para nos lembrarmos daqui a um ano):
Este ano correu tudo certinho.
Warren Beaty e Faye Dunaway anunciaram “A Forma da Água” como vencedor do
Óscar mais importante – melhor filme – e ninguém teve necessidade de intervir
para corrigir a dupla. Mas quem os escolheu teve o humor e o golpe de asa que
faltou a grande parte da cerimónia. Porque o melhor deste ano acabou por ser
recordar 2017.
Aquele que talvez tenha sido o momento
ligeiramente emocionante da cerimónia aconteceu minutos antes da consagração do
filme de Guillermo Del Toro, também vencedor do Óscar de melhor realização.
Frances McDormand, que levou a estatueta de melhor atriz, conseguiu que todas
as outras mulheres nomeadas se levantassem das suas cadeiras. “Vá lá Meryl
[Streep], se te levantares todas se levantam”, apelou, antes de aproveitar o
discurso de vitória para “dizer algumas coisas”.
“Tenho três palavras para vocês
esta noite: cláusula de inclusão.” Trata-se de uma cláusula que os atores podem
incluir nos contratos para garantir a igualdade de género e racial nas equipas
dos filmes em que participam. A vitória de McDormand não foi
propriamente uma surpresa, tinha conquistado todos os grandes prémios
durante ao longo da temporada. E também dela já se esperava um
discurso à margem da previsibilidade geral.
Warren Beatty e Faye Dunaway não
foram os únicos regressos da noite. Jimmy Kimmel também voltou como anfitrião, apesar de ter
aparecido pouco ao longo da cerimónia. No monólogo de abertura
conseguiu conjugar quase na perfeição a mensagem política e social com a
comédia. Não esqueceu a questão do assédio sexual e a desigualdade de género na
indústria cinematográfica. “O Óscar é o homem mais adorado e respeitado de
Hollywood. E há boas razões para isso. Olhem para ele: mantém as mãos onde
qualquer um pode vê-las, nunca diz nada desagradável e, mais importante, não
tem um pénis. É um tipo de homem como este de que esta cidade mais precisa.” E
mais à frente concluiu este tópico do assédio sexual por via de uma referência
à história de “A Forma da Agua”: “Vamos sempre lembrar-nos que este ano os
homens falharam à grande e as mulheres tiveram de começar a namorar com peixes”.
O caso do produtor Harvey
Weinstein também não foi esquecido por Kimmel. “Não podemos deixar estes
comportamentos impunes. O mundo está a observar-nos. Precisamos de ser um
exemplo. Se formos bem-sucedidos, se formos capazes de acabar com o assédio
sexual nos locais de trabalho, as mulheres só vão ter de viver o assédio em
todos os outros locais que frequentarem. Ao longo desta noite espero que se
ouçam os muitos apoiantes corajosos de movimentos como #MeToo e Time’s Up.”
Mas os movimentos como #MeToo e
Time’s Up, que marcaram forte presença nos Globos de Ouro e nos Bafta, por
exemplo, pouco se fizeram ouvir na madrugada desta segunda-feira.
A MOTA DE ÁGUA, MÃOS A TREMER E
FINALMENTE UMA VITÓRIA
Um dos momentos mais bonitos da
noite acabou por ser a interpretação de Sufjan Stevens, cantou “Mistery Of Love”, de
“Call me by your name”. Terá sido este o melhor minuto dos Óscares deste
ano?
Com as mãos a tremer, e por isso pediu desculpa, Rachel
Shenton, protagonista e argumentista de “The silent child”, cumpriu uma
promessa durante a cerimónia. Ao subir ao palco para agradecer a vitória pela
curta-metragem que conta a história de uma criança surda de quatro anos,
Shenton recorreu à língua gestual para passar a mensagem.
“Prometi à nossa protagonista de
seis anos que faria este discurso em língua gestual, as minhas mãos estão a
tremer, por isso peço desculpa”, começou Shenton. “O filme é sobre uma criança
que nasceu num mundo de silêncio, não é um filme exagerado ou sensacionalista,
isto acontece. Milhões de crianças em todo o mundo vivem em silêncio e
enfrentam barreiras de comunicação e dificuldades no acesso à educação. A
surdez é uma deficiência silenciosa, não coloca em perigo a vida e não conseguimos
vê-la.”
“PÕE A CHALEIRA AO LUME, LEVO UM
ÓSCAR PARA CASA”
À segunda nomeação Gary Oldman
conquistou o Óscar pela interpretação como Winston Churcill, em “A Hora Mais
Negra”. “Obrigado à minha mulher por me acompanhar nesta jornada. Obrigado à minha
mãe, que é mais velha que os Óscares e está a ver a cerimónia sentada no sofá.
Põe a chaleira ao lume, levo um Óscar para casa”, disse.
Allison Janney foi distinguida como
melhor atriz secundária pelo papel como mãe de Tonya Harding, em “I, Tonya”. Já
Sam Rockwell foi galardoado como melhor ator secundário pelo policia
problemático em “Três cartazes à beira da estrada”.
Entre as categorias técnicas,
destaque para “Dunkirk”, que conquistou três estatuetas (mistura de som, edição
sonora e edição). Com duas Óscares ficaram “Três cartazes à beira da estrada”
(atriz principal e ator secundário) e “A hora mais negra” (ator principal e
caracterização), e com apenas uma vitória “Call me by your name” (argumento
adaptado), “Foge” (argumento original) e “A Linha Fantasma (guarda-roupa).
“Lady Bird” e “The Post” não foram distinguidos.
UM A UM, OS VENCEDORES DESTA NOITE
Melhor filme: “A Forma da
Água”
Melhor realizador: Guillermo del Toro, “A Forma da Água”
Melhor atriz: Frances McDormand, em “Três Cartazes à Beira da Estrada”
Melhor ator: Gary Oldman, em “A Hora Mais Negra”
Melhor atriz secundária: Allison Janney
Melhor ator secundário: Sam Rockwell, em “Três Cartazes à Beira da Estrada”
Melhor canção original: “Remember Me”, do filme de animação “Coco”
Melhor banda sonora: “A Forma da Água”
Melhor fotografia: “Blade Runner 2049”
Melhor argumento original: “Get Out” (Jordan Peele)
Melhor argumento adaptado: “Call Me By Your Name
Melhor curta-metragem: “The Silent Child”
Melhor efeito visual: “Blade Runner”
Melhor filme de animação: “Coco”
Melhor curta de animação: “Dear Basketball”
Melhor Filme Estrangeiro: “A Fantastic Woman” (Chile)
Melhor direção de arte: “A Forma da Água”
Melhor mistura de som: “Dunkirk”
Melhor edição sonora: “Dunkirk”
Melhor documentário: “Icarus”
Melhor guarda-roupa: “Linha Fantasma”
Melhor caracterização: Kazuhiro Tsuji, David Malinowski e Lucy Sibbick, “A Hora Mais Negra”
Melhor edição: “Dunkirk”
Melhor realizador: Guillermo del Toro, “A Forma da Água”
Melhor atriz: Frances McDormand, em “Três Cartazes à Beira da Estrada”
Melhor ator: Gary Oldman, em “A Hora Mais Negra”
Melhor atriz secundária: Allison Janney
Melhor ator secundário: Sam Rockwell, em “Três Cartazes à Beira da Estrada”
Melhor canção original: “Remember Me”, do filme de animação “Coco”
Melhor banda sonora: “A Forma da Água”
Melhor fotografia: “Blade Runner 2049”
Melhor argumento original: “Get Out” (Jordan Peele)
Melhor argumento adaptado: “Call Me By Your Name
Melhor curta-metragem: “The Silent Child”
Melhor efeito visual: “Blade Runner”
Melhor filme de animação: “Coco”
Melhor curta de animação: “Dear Basketball”
Melhor Filme Estrangeiro: “A Fantastic Woman” (Chile)
Melhor direção de arte: “A Forma da Água”
Melhor mistura de som: “Dunkirk”
Melhor edição sonora: “Dunkirk”
Melhor documentário: “Icarus”
Melhor guarda-roupa: “Linha Fantasma”
Melhor caracterização: Kazuhiro Tsuji, David Malinowski e Lucy Sibbick, “A Hora Mais Negra”
Melhor edição: “Dunkirk”
Marta Gonçalves | Soraia Pires | Expresso
Foto: MARK RALSTON/ GETTY IMAGES
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