segunda-feira, 5 de março de 2018

PORTUGAL | O CDS está onde estão os votos

Paulo Tavares | Diário de Notícias | opinião

Se há algo que podemos ter como certo na política nacional é a concorrência eleitoral entre PSD e CDS, muito mais aguerrida, aliás, do que entre o PS e os seus agora parceiros e ex-opositores à esquerda. Quando uns conseguem maioria absoluta, outros arrumam-se num táxi e o movimento contrário, muito menos acentuado, também existe.

Outra garantia, bem mais recente - tem pouco mais de uma semana -, é que Rui Rio vai ter uma tarefa muito mais pesada do que seria de esperar para arrumar a casa e ter o PSD na mão. Por muitas catarses que Negrão vá fazendo nos próximos tempos com os seus pares, o ambiente continuará pesado na bancada e a eficácia na oposição não será a ideal.

Dito isto, e lembrando que mais mês menos mês entramos em pré-campanha para as legislativas do próximo ano, e que pelo caminho há o aquecimento com as europeias, pode estar a criar-se o ecossistema ideal para assistirmos a um CDS verdadeiramente concorrencial. Na entrevista que Nuno Magalhães dá hoje ao DN, a uma semana do congresso de Lamego, é curioso ler os cuidados do líder parlamentar do CDS ao tentar definir o posicionamento ideológico do partido dele. É um partido de centro-direita, mas isso de direita e esquerda já teve melhores dias, não tem problemas em dizer que é de direita, liberal, mas também conservador, e democrata-cristão. Só lhe faltou dizer que o CDS também era de centro-esquerda... Compreende-se o cuidado. O CDS sabe que está a caminho de um ciclo eleitoral decisivo, no qual pode, talvez como nunca, capitalizar votos ao centro.

Assunção Cristas e Nuno Magalhães, claro, sabem bem que não é líquido que Rui Rio consiga recuperar, em pouco mais de ano e meio, as faixas do tradicional eleitorado do PSD que Passos-que-se-lixem-as-eleições-e-fui-expoliado-do-governo-Coelho alienou nos últimos anos. Há no mercado eleitoral um significativo conjunto de votos, de eleitores que jamais votarão PS, à mercê de Cristas se Rio não os conseguir convencer das qualidades do "novo" PSD. São esses votos que acentuam pot-pourri ideológico do CDS e que justificam a aposta em temas sociais e de soberania - permitem alargar a audiência. Esperam-nos tempos interessantes...

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