Reações em São Tomé sobre uma
alegada tentativa de assassinar Patrice Trovoada: Tristeza, repúdio, condenação
e distanciamento de atos contra o Estado de direito.
Os suspeitos de uma alegada
"tentativa de subversão da ordem constitucional, através do assassinato
premeditado" do primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice
Trovoada,Gaudêncio Costa, deputado e membro da direção do MLSTP/PSD e o
sargento Ajax Managem foram ouvidos na sexta-feira (22.06) em tribunal.
Entretanto, os dois detidos já foram libertados e sujeitos à medida de
coação de termo de identidade e residência. Ontem tinham sido acusados pelo
ministro da Defesa e Administração Interna, Arlindo Ramos, da autoria do plano
de golpe de Estado. Ramos mencionou ainda a existência e cúmplices
estrangeiros, sem, no entanto, avançar pormenores.
MLSTP condena
O principal partido da oposição
são-tomense emitiu um comunicado no qual "condena e distancia-se de atos
que põem em causa o Estado de direito democrático, subversão da ordem
constitucional e de atentado à vida".
O coordenador do principal
partido da oposição, Américo Barros, recordou que os governos do MLSTP/PSD
foram vítimas de vários atentados, com dois golpes de Estado consumados, e
afirmou: "O MLSTP/PSD manifesta estranheza e total desconhecimento dos
factos de que é acusado Gaudêncio Costa, razão pela qual exorta às autoridades
a respeitar o princípio de presunção de inocência e evitar julgamentos na
praça pública, e exige a exibição de provas que sustentam a acusação no
referido caso".
A ocasião foi aproveitada
para criticar a atuação do Ministério Público.
"O MLSTP/PSD lamenta
profundamente o tratamento desigual e discriminatório da Procuradoria-Geral da
República em relação a casos que dizem respeito a militantes e dirigentes do
ADI", o partido Acção Democrática no poder.
ADI manifesta "tristeza e
repúdio"
Por seu turno, o secretário-geral
do ADI, Levy Nazaré, manifestou "tristeza e repúdio" pelo
alegado "plano para assassinar o primeiro-ministro" Patrice Trovoada.
Já ontem, em declarações aos jornalistas, Levy Nazaré salientou que o MLSTP-PSD
nada tinha a ver com alegada tentativa de assassinar Patrice Trovoada.
"É bom que se diga que não é
o partido político, o MLSTP, que é uma instituição, um adversário que nós
respeitamos", frisando tratar-se de "algumas pessoas" dentro
desse partido que podem estar envolvidas na alegada conspiração.
Levy Nazaré disse esperar que
a Justiça "apure toda a verdade e que se responsabilize todas essas
pessoas", apelando ao povo, particularmente os militantes do seu partido,
para estarem "tranquilos, calmos, sereno e vigilantes, mas não deixando de
fazer a sua vida normal".
Dúvidas
A notícia da tentativa de golpe
de Estado divulgada pelo Governo foi recebida com ceticismo por analistas e
observadores, tendo em conta o contexto atual: o Governo enfrenta
várias dificuldades e a popularidade de Patrice Trovoada caiu consideravelmente.
Deodato Capela, responsável do
Centro de Integridade Pública (CIP) disse em entrevista à DW que "ao ler o
texto, fiquei em dúvida. Ontem foi dia 21 e o comunicado tinha data de 20,
pareceu-me uma confusão. O Centro de Integridade Pública, por ser uma instituição
da sociedade civil, tentou ver primeiro se a detenção do político tinha
razão de ser. Uma vez que estamos a dois meses das eleições, pode-se dizer
que isto é um bocado dúbio".
Ao referir-se às últimas medidas
tomadas pelo executivo, Capela destacou que o Governo está com muitos
problemas: "Nestes dois últimos dias houve aumento do preço de
combustível. O custo de vida está alto..."
Além disso no passado dia 21 de
junho caducou o prazo que um grupo de militares tinha dado ao primeiro-ministro
para resolver determinados problemas nos quartéis. O responsável do CIP
salienta que "tudo isso a acontecer na mesma altura. Qualquer cidadão
mais ou menos atento pode perceber que há aí indícios de criar bodes
expiatórios, para escamotear o verdadeiro problema ou desviar o foco de atenção
para outra situação".
Enquanto isso os cidadãos
continuam a fazer a sua vida normal. Não se viu qualquer reforço de segurança
em edifícios públicos ou estratégicos, como por exemplo, o gabinete do chefe do
Governo, o palácio presidencial ou as sedes dos órgãos de comunicação social
estatais.
Juvenal Rodrigues (São Tomé) |
Deutsche Welle
Na foto: Patrice Trovoada, atual PM
Na foto: Patrice Trovoada, atual PM
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