Cinquenta mil africanos estão no
Marrocos prontos para partir rumo ao território espanhol, afirma jornal. Com
bloqueio de rotas pelos Bálcãs e Itália, país ibérico é o mais visado por
migrantes com destino à Europa.
Uma nova onda migratória ameaça a
Espanha. Com base em informações da polícia, o jornal El Mundo noticiou
nesta sexta-feira (27/07) que 50 mil africanos se encontram no
Marrocos, prontos para atravessar de barco o Estreito de Gibraltar, a fim de
chegar à Espanha.
Na quinta-feira, mais de 600
migrantes originários do sul do Saara transpuseram
as cercas de fronteira em Ceuta, enclave espanhol no Norte da
África. Durante quase uma hora e meia, guardas espanhóis e marroquinos
tentaram contê-los.
Porém, segundo um porta-voz da
polícia, os refugiados investiram contra os agentes da lei, em desvantagem
numérica, de forma "mais brutal do que nunca", usando lança-chamas
improvisados e cal viva. Quatro guardas de fronteira foram hospitalizados com
queimaduras, corrosões, cortes e fraturas ósseas. Segundo a Cruz Vermelha,
houve um total de 132 feridos.
Nos dias anteriores, quase 900 migrantes
foram resgatados no mar. Na terça-feira, a Guarda Costeira espanhola salvou 484
pessoas no Mar de Alborão e no Estreito de Gibraltar, no Mediterrâneo
Ocidental. No dia seguinte, foram resgatadas outras 392 em 31 barcos.
Há indicações de que os fluxos
migratórios em direção à Europa voltaram a se concentrar na rota ocidental,
pela Espanha, devido ao continuado bloqueio da rota dos Bálcãs, pela Grécia, e
do fechamento dos portos italianos para os barcos de refugiados, por iniciativa
do novo governo de direita em Roma.
Poucos dias atrás, a Organização
Internacional para Migração (OIM) informou que a Espanha se transformou no
reduto principal para imigrantes ilegais. Até meados de julho, 18 mil
homens, mulheres e crianças teriam chegado à Europa pela rota ocidental do Mediterrâneo.
O número de refugiados aportados por essa via quase triplicou em relação a
2017, já superando as entradas pela Itália e Grécia.
As capacidades numéricas dos
abrigos temporários nos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla e na costa
da Andaluzia, no sul espanhol, já foram ultrapassadas ao ponto de a organização
andaluza de direitos humanos APDHA falar de "condições de acolhimento
indignas". Em reação, a Cruz Vermelha organizou três novos centros de
refugiados.
Controvérsia em torno de arame
cortante
Apesar do afluxo crescente de
migrantes, o governo espanhol mantém seus planos de eliminar o controvertido
arame laminado no alto das cercas em Ceuta e Melilla. "Não gosto de citar
datas, porque isso costuma gerar decepções, mas a retirada deve ocorrer sem
demora", prometeu o ministro do Interior Fernando Grande-Marlaska numa
entrevista radiofônica.
Madri promete que o nível de
segurança será mantido, mesmo com "métodos menos cruéis". O novo
governo anunciou a decisão de remover o arame laminado em meados de junho,
apenas uma semana após a posse do socialista Pedro Sánchez como presidente do
governo.
Em 2005, o dispositivo cortante
foi instalado pela primeira vez nos diversos quilômetros de cercas separando o
território do Marrocos dos enclaves espanhóis Ceuta e Melilla, sendo retirado
dois anos mais tarde diante das críticas crescentes.
Em 2013, o governo conservador de
Mariano Rajoy voltou a afixar o controvertido arame laminado. Refugiados que
tentam escalar as cercas de mais de seis metros de altura costumam ferir-se.
Segundo organizações de direitos humanos e médicos, já houve casos de migrantes
que acabaram morrendo em consequência dos ferimentos.
Grande-Marlaska rebateu as
afirmações da oposição de que o sistema espanhol de acolhida de refugiados estaria
diante de um colapso, em face do aumento das chegadas nos últimos meses. Em
contrapartida, ele acusou o governo anterior, conservador, de não ter tomado as
medidas necessárias para "enfrentar esse desdobramento previsível".
AV/kna/dpa/ots | Deutsche Welle
Nas fotos: 1 - Refugiados marroquinos
chegam à praia Del Canuelo, na localidade balneária de Nerja, após cruzar
Estreito de Gibraltar; 2 - Arame laminado no alto das cercas
em Ceuta e Melilla já causou mortes
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