António Preto, que foi deputado
do PSD entre 2002 e 2011, fez a 2 de setembro de 2016 uma apetecível mais
valia: no mesmo dia comprou um terreno na Amadora ao GES por 1,5 milhões e
revendeu-o à empresa Dekra por 2 milhões
O advogado António Silva Preto, que
foi deputado pelo Partido Social Democrata (PSD) entre 2002 e 2009, conseguiu
em 2016 tornar-se “meio milionário” numa questão de horas: a 2 de setembro de
2016 comprou um lote de terreno a um fundo do Grupo Espírito Santo (GES) por
1,5 milhões de euros e logo de seguida revendeu-o à empresa de inspeções
automóveis Dekra por 2 milhões.
O negócio foi alvo de uma queixa
que a empresa Pharol SGPS enviou ao Banco de Portugal e à Comissão do Mercado
de Valores Mobiliários (CMVM), denunciando a atuação da gestora do fundo em
causa, a Gesfimo, como
o Expresso noticia na sua edição deste sábado. A Pharol, recorde-se, é
credora da Rio Forte (braço não financeiro do GES), por ter ficado com o
crédito das aplicações de tesouraria que a antiga Portugal Telecom fez no GES,
estando há vários anos a tentar recuperar o dinheiro.
O negócio que envolveu António
Preto foi feito e escriturado num só dia, mas o advogado garante ao Expresso
que antes das duas escrituras (a da compra do terreno ao Invesfundo e a da
venda do mesmo imóvel à Dekra) houve um processo negocial que levou mais tempo.
O administrador da Dekra em
Portugal, Sérgio Vitorino, disse ao Expresso que o terreno em causa tem 14.400
metros quadrados. O gestor confirma os 2 milhões pagos pelo imóvel, mas
assegura que não sabia que António Preto o tinha adquirido por 1,5 milhões.
O interesse da Dekra no terreno,
o Lote 3 do Marconi Parque, na Venteira, na Amadora, vinha já de 2014. Nesse
ano, segundo Sérgio Vitorino, o Invesfundo pediu pelo imóvel 2,4 milhões de
euros. O Invesfundo reporta no relatório e contas de 2014 que chegou a firmar
em 2014 um contrato-promessa de compra e venda com a Dekra, mas no ano seguinte
o contrato foi resolvido, alegadamente por incumprimento da Dekra.
Ora, em 2015 já o BES tinha
colapsado: a medida de resolução do Banco de Portugal foi tomada em agosto de
2014. Segundo António Preto, isso provocou uma “alteração de circunstâncias”,
da qual a sua empresa, a Barrocas & Preto, tirou partido.
Sérgio Vitorino conta que em 2015
a Dekra não não aceitou adquirir o lote, uma vez que tinha uma avaliação
independente de 2,15 milhões de euros. O valor patrimonial tributário daquele
terreno era de 2,01 milhões.
“No verão de 2016 a Barrocas
& Preto propôs-nos a venda por 2 milhões de euros. Valor esse que
aceitámos, considerando que o lote tem 14.400 metros quadrados e que nos
permite construir um centro de inspeções e a sede da empresa com capacidade
para 500 colaboradores. Ou seja, não tínhamos conhecimento do preço a que a
Barrocas & Preto tinha comprado o mesmo”, explica o administrador da Dekra.
Já António Preto garante que o
negócio foi feito com total transparência, uma vez que na escritura de venda à
Dekra ficou referido que o imóvel tinha sido adquirido no mesmo dia pela
Barrocas & Preto ao Invesfundo. “Eu quis fazer isto com toda a clareza, não
usei nenhum tapume”, afirmou o antigo deputado ao Expresso. “Eu apareci quando
o negócio estava morto e encontrei uma oportunidade de negócio”, acrescentou.
“O DINHEIRO ESTÁ NA MINHA CONTA,
QUEM QUISER PODE VER”
Questionado sobre se o ganho de
meio milhão de euros ficou exclusivamente para si ou foi partilhado com
terceiros, António Preto garante que a mais-valia ficou para si. “O dinheiro
está na minha conta. Quem quiser ir ver vê à vontade”, declarou.
As contas da Barrocas & Preto
consultadas pelo Expresso revelam que depois do negócio de setembro de 2016 a
empresa não voltou a ter nenhum negócio daquela amplitude. A empresa de António
Preto fechou 2017 com capitais próprios de 697 mil euros.
António Preto disse ainda ao
Expresso que as mais-valias na compra e venda de imóveis são “normais” e que o
próprio ainda recentemente conseguiu alguns ganhos com a compra de imóveis de
empresas em insolvência para posterior revenda.
Segundo as contas de 2016 da
Barrocas & Preto, o resultado da empresa nesse ano foi de 536 mil euros,
sobre os quais pagou um imposto de 8.167 euros. Em 2017 a empresa teve um lucro
de 1677 euros, sobre o qual pagou IRC de 340 euros.
Miguel Prado | Expresso | Foto: António
Pedro, por João Carlos Santos
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