Martinho Júnior | Luanda
1- Terminou em Montego Bay, na
Jamaica, a 39ª Reunião Ordinárias dos Chefes de Estado dos países membros da
organização CARICOM (15 países que compõem a bacia do Caribe, 5 associados e
vários observadores, entre eles Cuba, que este ano foi, com o Chile, convidado
especial).
Os componentes desta organização (https://www.caricom.org/)
são na sua esmagadora maioria pequenas nações insulares que, fruto do processo
de colonização na América, receberam grandes contingentes de escravos para as
plantações e por isso têm hoje uma significativa maioria de população
afrodescendente, espalhada pelas comunidades multiculturais de toda a região.
São países pequenos, vulneráveis
e sofrendo de isolamento crónico, que procuram vários processos de integração
articulada e consensos para que a região possa responder em uníssono perante
outros interlocutores internacionais e perante as adversidades.
Em função das heranças coloniais
e do isolamento, os componentes do CARICOM procuram compensações (https://www.saberesafricanos.net/escuela/talleres-seminarios/3310-conferencia-internacional-sobre-reparaciones.html),
uma vez que com a escravatura, geração após geração, as comunidades foram
sofrendo de isolamento, de marginalização e de precariedade.
Há avanços em várias questões
comuns: desde as que se prendem ao comércio e ao turismo (grande parte das
receitas provêm do turismo), até às que se prendem à segurança ambiental numa
região que tem sido assediada por cíclicas tempestades.
Todavia, a baixa renda e a
precariedade continuam a ser determinantes, influindo no grau de isolamento,
sem se poderem abrir até hoje melhores alternativas.
A língua oficial da organização,
em contraste com esse relativo isolamento, é a mais globalmente cosmopolita: o
inglês.
Por incrível que possa parecer a
um observador internacional com o espírito minimamente crítico, o CARICOM não
manifesta interesse prioritário nos relacionamentos para com África e
reciprocamente!...
2- Ao merecer um convite especial
para a 39ª Reunião Ordinária dos Chefes de Estado do CARICOM para este ano,
Cuba, a maior das ilhas do Caribe, reflectiu sua proximidade e integração nos
consensos regionais e em matérias que vão desde a educação, a saúde, até à
segurança ambiental comum.
O Presidente Diaz-Canel
evidenciou o que advém do passado comum (http://www.cubadebate.cu/opinion/2018/07/05/diaz-canel-en-caricom-el-irrenunciable-compromiso-de-cuba-con-sus-hermanos-mas-proximos/#.Wz85XibZBjo): “Cuba
no anda de pedigüeña por el mundo: anda de hermana y obra con la autoridad de
tal. Al salvarse, salva”…
…Lembrou a digna posição de Cuba,
consolidada e comprovada face a tantos acontecimentos, uma parte deles
ocorridos em África:
“Y la Revolución cubana, que
convirtió en ley su legado, no ha dudado en compartir lo que tenemos, ofrecer
lo que conocemos; apoyar en lo que podemos, más en la hora difícil que en el
instante afortunado, pero sencillamente sempre.
Con una sola prioridad: primero
el que más sufre y si es hermano con más razón”…
…Para por fim entrar nas questões
comuns de especialidade, sem nunca perder de vista a história e a amizade
comum, forjadas em conjunturas tão similares:
“No es nuevo, aunque sí cada vez
mayor, el reto que se plantea a nuestros pequeños estados para alcanzar un
desarrollo sostenible, pues son aún mayores y más complejos los obstáculos y
los peligros derivados de un orden internacional injusto que ha durado
demasiado.
Un mundo cada vez más desigual,
en el que se obstruye el acceso de nuestros productos a los mercados, y se nos
priva de los recursos tecnológicos y financieros imprescindibles para el
desarrollo, mientras se dilapidan ríos de dinero y recursos en gastos militares
y guerras infinitas fuera de las fronteras de sus promotores, donde hay poco espacio
para las esperanzas de las naciones que perdimos siglos de progreso,
alimentando el de nuestras metrópolis.
Por eso Cuba apoyará siempre los
justos reclamos del Caribe de recibir un trato justo y diferenciado en el
acceso al comercio y las inversiones. Y respaldaremos, sin dudar, la legítima
demanda de compensación por los horrores de la esclavitud y la trata, a la vez
que rechazamos la inclusión de Estados miembros de CARICOM en listas
unilaterales de supuestas jurisdicciones no cooperativas elaboradas por los
centros del capital financiero internacional.
Ratificamos, igualmente, que es
necesario y justo el reclamo de fomentar la cooperación a partir de las
necesidades de los países en desarrollo y sobre la base de la deuda histórica
como consecuencia del colonialismo, y no por una mecánica e incompleta medición
de la renta nacional.
Como ya adelantaba, los efectos
del cambio climático y la destrucción progresiva del medio ambiente, amenazan
la supervivencia humana y hacen que los fenómenos y desastres naturales afecten
con mayor intensidad a los pequeños estados insulares. Nos urge, por tanto,
encontrar respuestas mancomunadas para enfrentarlos y reclamar un trato justo,
especial y diferenciado.
Propósitos y Principios de la
Carta de las Naciones Unidas, como la solución pacífica de controversias, la
prohibición del uso y de la amenaza del uso de la fuerza, el respeto a la libre
determinación, la integridad territorial, la igualdad soberana de los estados y
la no injerencia en sus asuntos internos, son vulnerados continuamente, lo que
constituye un real peligro que demanda nuestra más estricta observancia y la
voluntad de hacer valer la Proclama de América Latina y el Caribe como Zona de
Paz, compromiso firmado en La Habana en el 2014 por los jefes de Estado y
Gobierno de la región.
No podemos ignorar los graves y
alarmantes mensajes de arrogancia y desprecio con que autoridades de los
Estados Unidos se dirigen a nuestras naciones.
La declarada intención de retomar
la Doctrina Monroe, expresión directa de sus ambiciones de dominación, junto
con actos de intervención, que provocan violencia, crisis humanitarias e
inestabilidad, merecen un firme repudio, tanto como la aplicación de medidas
coercitivas unilaterales y las tácticas de guerra no convencional que se han
convertido en una amenaza directa a la estabilidad y la verdadera integración
de nuestras naciones”.
De certo modo, com o CARICOM,
Cuba preencheu um preâmbulo na direcção do 24º Encontro do Foro de São Paulo
que se vai realizar entre 15 e 17 de Julho, em Havana (http://www.granma.cu/foro-sao-paulo/2018-06-20/que-ocurrira-en-el-foro-de-sao-paulo-en-la-habana-20-06-2018-21-06-03)!
3- A mesma clarividência
revolucionária que Cuba tem alimentado para com África, um continente que
embora no hemisfério ocidental fica-lhe longe, tem Cuba para com os pequenos
estados vizinhos componentes das Caraíbas.
Por isso, sem merecer qualquer
solicitação ou mesmo atenção dos africanos, Cuba representou-os sem procuração
perante as nações com comunidades afrodescendentes maioritárias espalhadas por
todas as Caraíbas, como se produzisse um invisível nexo de ligação, entre os
povos sem outra voz, sem outra sensibilidade, senão a sua, com toda a dignidade
histórica que ela representa!
Já era tempo das nações insulares
das Caraíbas filiadas no CARICOM e África, nomeadamente a União Africana, as
organizações regionais africanas e pelo menos alguns dos estados africanos,
estabelecerem entre si laços que pudessem reverter para o benefício da defesa
de causas comuns que tanto têm a ver com a história, com a geografia, com a
diáspora forçada e com o sangue…
Em África resulta que é muito
mais fácil os seus estados relacionarem-se, ou mesmo ir a correr, para a
Europa, ou para a Ásia, ou mesmo para as nações dominantes da América do Norte,
do que se lembrarem que nas Caraíbas há milhões de afrodescendentes, cujo
isolamento continua a ser desde logo, com todo o vendaval de contradições que
isso implica, para com as nações, os povos e os estados do continente-berço!
Nesse aspecto, os poderes
africanos demonstram em pleno século XXI, que estão vulneráveis à assimilação
dos poderosos e suas políticas neocoloniais e por isso incapazes de tirar
partido da clarividência revolucionária cubana para darem um passo visando não
perder a oportunidade de juntar as suas preocupações, as suas inquietudes, os
seus anseios e a sua própria expressão, aos povos, nações e estados do CARICOM.
Isso seria tanto mais importante
quanto, no “ranking” anual dos Índices de Desenvolvimento Humano, são
os países do CARICOM os que mais se aproximam aos de África, na cauda da
tabela.
O argumento da divisão está a ser
dominante em África e qualquer veleidade de integração, ainda que aberta às
mais diversas articulações, é para o império da hegemonia unipolar motivo de
suspeita, de vigilância e desde logo das “profilaxias” de que
seu “soft power” está de há muito instrumentalizado e de que sua
capacidade de ingerência faz sistematicamente uso, inclusive sob os pontos de
vista de inteligência e militar!
Na Jamaica, a 39ª Reunião
Ordinária dos Chefes de Estado do CARICOM, ocorreu uma vez mais, em pleno
século XXI, sem a presença de qualquer sensibilidade africana, para além da
representatividade digna e eticamente exemplar de Cuba internacionalista,
solidária e transcontinental, que representa sem procuração a todos os que, no
mais “obscuros rincões do globo”, simplesmente não têm voz!
Martinho Júnior - Luanda, 9 de
Julho de 2018
Ilustrações:
- Símbolo do CARICOM;
- Mapa dos membros do CARICOM;
- Montego Bay, na Jamaica, onde
se realizou a 39ª Reunião Ordinárias dos Chefes de Estado dos países membros da
organização CARICOM;
- Altos dignitários dos países
membros do CARICOM, presentes na reunião da Jamaica;
- Intervenção do Presidente
cubano, Diaz-Canel, convidado especial da CARICOM na reunião da Jamaica.
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