Sem muita resistência, bloco se
curva à vontade de Salvini, Kurz e Orbán e decide fechar suas fronteiras para
refugiados. CSU deveria pensar melhor nos riscos do que está fazendo, opina a
correspondente Barbara Wesel.
Se o resultado da cúpula vai ou
não vai salvar o mandato da chanceler federal alemã não foi decidido em
Bruxelas – os neopopulistas de Munique é que terão agora de quebrar a cabeça
com isso. Todo mundo sabe que essa briga pelo poder encenada em Berlim não tem
nada que ver com os fatos sobre a atual migração para a União Europeia (UE). É,
na verdade, uma insolência como um punhado de bávaros megalômanos tenta tomar
refém a União Europeia e manipulá-la para tomar o poder da ala mais
liberal do conservadorismo alemão, liderada por Merkel.
O destino quis que justamente a
Áustria assumisse a presidência temporária da União Europeia pelos
próximos seis meses. O chanceler Sebastian Kurz agarra com entusiasmo essa
chance de dar uma guinada à direita dentro da União Europeia, a mesma que os
conservadores, liderados por ele, já deram em Viena, por meio da aliança com a
extrema direita do FPÖ. Esta se apresenta em íntima aliança com a Liga na
Itália, onde Matteo Salvini se vê como o nove Duce, na sucessão direta de
Mussolini, e eleva a misantropia a uma nova forma de arte.
E este novo eixo de
extrema direita está unido em amizade também com o húngaro Viktor Orbán, o
pai das campanhas difamatórias, dos discursos de ódio e do populismo
desenfreado na Europa. A receita dele: basta repetir várias vezes que
estrangeiros e migrantes são o inimigo para que as pessoas passem a
acreditar nisso. E, na Hungria, isso funciona às maravilhas.
A CSU já parou para pensar que
tipo de pregadores de ódio e demagogos ela está imitando? Será que todos esses
bávaros faltaram nas aulas de história ou não entenderam os mecanismos com os
quais se estabelece o autoritarismo e se destrói as estruturas democráticas?
Isso é um atestado de ignorância política, ainda mais para alemães!
O complicado sistema chamado
União Europeia é um produto da democracia liberal na Europa. Ele se baseia em
direitos e deveres equitativos dos Estados-membros, no espírito de cooperação e
de solidariedade, esta uma qualidade que praticamente já virou palavrão. O
slogan "A Itália em primeiro lugar", porém, como ele é repetido pelo
novo governo em Roma, é o ressurgimento do nacionalismo egoísta, um veneno
mortal para a Europa. Ou vale o sistema da busca de compromissos, do equilíbrio
e do interesse conjunto, ou vale o benefício próprio nacional. Os dois ao mesmo
tempo não dá.
No momento parece que o novo
nacionalismo está em alta. Mas a assombrosa miopia de seu defensores faz com
que eles estejam cortando o galho sobre o qual todos nós estamos sentados.
Orbán só consegue criar sua autocracia particular na Hungria porque está
sentado sobre os bilhões que vêm de Bruxelas. Se ele ajudar a destruir a União
Europeia, vai cair como um pino de boliche.
Ao longo de décadas, a União
Europeia assegurou liberdade, bem-estar e paz para todos nós. Quão cegos
precisam ser esses conservadores da Baviera para ignorar que eles – junto com o
norte da Itália – se tornaram uma das regiões mais ricas do mundo
principalmente por causa da União Europeia? Só o fechamento das fronteiras
dentro do espaço de Schengen custará bilhões em curto espaço de tempo. E tudo
isso por causa de uma histeria ideológica que transforma os migrantes no pior
de todos os males.
E onde ficam, por falar nisso, os
valores humanitários? E os chamados valores cristãos? Em vez de dependurar
cruzes em repartições públicas, os bávaros deveriam cultivar a virtude da
compaixão. Mas a única que ainda ousa falar, cuidadosamente, em direitos
humanos, é Angela Merkel. Infelizmente quase ninguém mais dá ouvidos a ela.
Sem oferecer grande resistência,
a União Europeia se entrega à pressão dos populistas. E deixa de lado seus
verdadeiros problemas: a ameaçadora desmontagem da Otan, a guerra comercial com
Donald Trump, as regiões e populações negligenciadas, a economia digital
– não faltam coisas a fazer! Mas tudo indica que os democratas na Europa
deixaram escapar a hora certa de resistir. Merkel está enfraquecida, Emmanuel
Macron faz apenas cálculos de poder e, de um modo geral, falta o contrapeso
político para defender o núcleo da Europa.
E justamente os conservadores da
Baviera contribuem fortemente para essa situação desoladora. Porém, se a CSU,
em meio à sua tentativa desesperada de se apresentar como a Liga Sul na
Alemanha, der uma olhada nas pesquisas, vai ficar preocupada. Seus líderes,
Horst Seehofer e Markus Söder, estão em queda livre. Um europeu convicto não
tem outra opção que não seja desejar a eles que caiam ainda mais.
Barbara Wesel (as) | Deutsche
Welle | opinião
Na foto: Chanceler austríaco,
Sebastian Kurz, assume presidência temporária da UE
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