Paula Ferreira* | Jornal de Notícias
| opinião
A crise migratória em curso é
apenas a ponta do icebergue do que se está a passar na Europa. É a face visível
de algo a emergir (ou a renascer), que a maioria de nós acreditava nunca
defrontar. A recusa em prestar apoio humanitário a homens, mulheres e crianças,
fugidos da guerra, fugidos da fome, à procura de uma vida digna, devia fazer
corar de vergonha as velhas e novas democracias europeias. Além disso, a recusa
de acolhimento contradiz a necessidade de rejuvenescimento de uma Europa
envelhecida, sem vontade de contribuir para o aumento da natalidade.
Quando vemos os barcos de socorro
das ONG a serem retidos pelas autoridades de Malta, ou a chanceler Merkel a ser
chantageada pelo seu ministro do Interior, para não falar já da lei agora
aprovada pelo regime húngaro, que condena a prisão quem auxiliar imigrantes
ilegais, devemos perguntar: o que está afinal a acontecer nesta Europa
construída a pensar no bem comum, seguindo a matriz dos Direitos do Homem, da
igualdade, da fraternidade.
Em Itália, o impensável
aconteceu. Movimentos populistas e de extrema-direita tomam o poder. E querem
lançar raízes, chegar a outras geografias. São eles que estão a condicionar a
política europeia, a sua força levou Bruxelas, para salvar a honra, após longas
horas de negociação no último Conselho Europeu, a propor a criação de campos de
imigrantes em Marrocos.
Matteo Salvini, o ministro do
Interior italiano, o mesmo que impediu o acolhimento do navio Aquarius com
centenas de imigrantes a bordo, lança agora as sementes para a criação de uma
rede europeia de partidos nacionalistas. Basta vento de feição e o fogo
propaga. E quando acordarmos, poderá ser tarde para uma reação eficaz contra a
barbárie. Dizem, a História é longa e nunca se repete. Pelos sinais que nos
chegam, é melhor duvidar da sentença. Talvez seja o momento de se criar uma
nova divisa: não deixes que a História se repita.
*Editora-executiva-adjunta
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