Após reunião em Berlim, chanceler
federal e Seehofer anunciam entendimento sobre questão migratória, aliviando a
crise que ameaçava derrubar o governo. Ministro, que chegou a oferecer renúncia,
diz que ficará no cargo.
O atual ministro alemão do
Interior e líder do partido União Social Cristã (CSU), Horst Seehofer, anunciou
na noite desta segunda-feira (02/07) que chegou a um acordo com a chanceler
federal Angela Merkel sobre a questão migratória e, portanto, se manterá em
ambos os cargos.
O anúncio foi feito em coletiva
de imprensa após uma reunião em Berlim entre os líderes dos dois partidos
irmãos, tida como o último
ato de uma queda de braço que vinha se estendendo há duas semanas e
ameaçava derrubar o governo. Na véspera, Seehofer
chegou a oferecer sua renúncia.
"Após intensas negociações
entre a CDU [União Social Cristã, de Merkel] e a CSU, chegamos a um acordo
sobre como podemos, no futuro, evitar a imigração ilegal na fronteira entre a
Alemanha e a Áustria", disse Seehofer ao deixar a sede da CDU. "Ficou
provado, mais uma vez, que vale a pena lutar por uma convicção."
A chefe de governo, por sua vez,
também disse estar satisfeita com as negociações. Segundo ela, os dois partidos
– que formam há décadas uma única bancada parlamentar – chegaram a
um "acordo realmente bom" depois de um "duro impasse".
"Com o acordo, respeitamos o
verdadeiro espírito de colaboração que reina na União Europeia e, ao mesmo
tempo, damos um passo decisivo para o controle da migração secundária",
disse Merkel, referindo-se aos casos em que um requerente vem de um outro país
do bloco europeu. "É exatamente isso que me pareceu e me parece mais
importante."
Durante as negociações, Merkel e
Seehofer concordaram em estabelecer um "novo regime na fronteira"
entre Alemanha e Áustria, que inclui a criação de centros de trânsito, onde
seriam alocados os requerentes de refúgio que já estão registrados em outros
países da UE.
Esses centros seriam edifícios
controlados, de onde os migrantes não poderiam sair até que sua situação seja
resolvida e seja decidido se eles podem ou não ficar na Alemanha. Em caso de
negativa, os refugiados seriam transportados dali mesmo em direção ao país
europeu por onde entraram.
O compromisso satisfaz ambas as
partes, evitando a renúncia de Seehofer e, ao mesmo tempo, a maior crise dos
quase 13 anos da era Merkel, que vinha mantendo a classe política em suspense.
Partidos reagem à crise
Ainda não está claro se o Partido
Social-Democrata (SPD), o terceiro da coalizão governista, aceitará o acordo.
Após a reunião na sede da CDU em Berlim, os líderes se dirigiram para a
chancelaria federal para um encontro com representantes social-democratas.
Mais cedo, a presidente do SPD,
Andrea Nahles, havia rejeitado o "plano mestre" sobre imigração de
Seehofer, afirmando que sua legenda se manterá firme com o que determina o
acordo de coalizão fechado com o bloco conservador.
Nahles, ao comentar sobre a crise
em Berlim em coletiva de imprensa, a descreveu como um "drama
implacável". "Minha paciência está ficando cada vez menor",
afirmou.
A maioria dos partidos da
oposição também disse reprovar a crise em torno do governo. A líder da bancada
da sigla A Esquerda no Parlamento, Sahra Wagenknecht, afirmou que projetos
importantes, como a criação de empregos seguros, estão sendo deixados de lado.
A populista de direita
Alternativa para a Alemanha (AfD), por outro lado, demonstrou satisfação com o
impasse. "Eles [CDU e CSU] estão ocupados com eles mesmo – e isso pode ser
atribuído a nós. Agora você vê como vai a caça. Nós estamos caçando",
disse Alice Weidel, líder da bancada.
A declaração da parlamentar se
referia a um comentário do copresidente da AfD, Alexander Gauland, na noite das
eleições alemãs, em setembro de 2017, quando afirmara que seu partido
"caçaria" o governo federal.
A guinada mais à direita no
discurso de Seehofer e de sua CSU se deve também a uma questão interna: o
partido perdeu espaço na Baviera para a AfD, abertamente anti-imigração, e teme
encolher ainda mais se não adotar mudanças em sua política.
Impasse sobre migração
Seehofer, um veterano político
bávaro, defende uma abordagem mais dura e mais independente de Bruxelas na
questão migratória, em confronto direto com Merkel. No domingo, ele ameaçou
renunciar, colocando em dúvida a sobrevivência do governo.
"Não me deixarei dispensar
por uma chanceler que só é chanceler por minha causa", disse o ministro do
Interior nesta segunda-feira, antes da reunião com Merkel, ao jornal Die
Süddeutsche Zeitung.
Isso porque, sem a CSU, a líder
alemã não teria mais maioria no Parlamento para governar – a CDU depende de sua
aliada bávara para manter o poder na coalizão que também inclui o SPD. A
possibilidade de novas eleições não estava descartada.
Seehofer criticara os resultados
obtidos por Merkel na cúpula da União Europeia, na semana passada, afirmando
não terem o mesmo efeito das medidas internas defendidas por ele para impedir a
chegada de requerentes de refúgio à Alemanha.
Segundo o ministro, as propostas
no nível da UE são menos eficazes do que o controle de fronteiras e a rejeição
de requerentes de refúgio já cadastrados em outros países europeus, duas
medidas que ele defende e que estão na origem da crise dentro do governo
alemão.
As últimas duas semanas
confirmaram, assim, o desgaste de Merkel, desde 2015 assombrada pela questão
migratória. A crise em Berlim é o mais recente sinal de divisão na União
Europeia sobre como lidar com a chegada de refugiados
Ainda que tenha caído
drasticamente nos último anos, o fluxo migratório continua a dar combustível a
populistas de direita na Europa, que ganham terreno do establishment político.
EK/afp/dpa/efe/dw | Deutsche
Welle
Na foto: Merkel e o nazi Seehofer,
ministro do interior da Alemanha
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