quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Jornalismo | Os honestos que se iluminem. Ajam!


O sol quando nasce devia ser para todos (frase mais antiga que a prostituição). Pois. Mas não é verdade que assim aconteça, que o sol seja para todos. E aqui cabe não só especificamente o sol mas muito mais coisas, materiais e imateriais. O que se queira. Porque assim é, lá vamos nós às tais desigualdades enormes e assim-assim. Mas sempre desigualdades. E disso fala-se… de vez em quando. Pela rama. Não vão ao fundo. E nem todos os jornalistas aprofundam essa coisa de o sol, afinal, não ser para todos, ou ser esse o propósito quando nasce mas a maioria ter de ficar sempre ou quase sempre à sombra, porque o sol a eles não os abrange nem os banha. Essa é a sociedade em que vivemos. Esses são a maioria.

De verdade e em sua defesa vem por aí o Curto, da lavra de Pedro Santos Guerreiro, do burgo Bilderberg Balsemão, tio Impresa. Pois.

Essa coisa de verdade, de os jornalistas reportarem a verdade e assim e assado, tem muito que se lhe diga. Jornalistas, jornais e afins são veículo de manipulação bastas vezes. Mas qual verdade? O que é que é isso da “verdade”? Na comunicação social de Portugal a verdade de um caso é depois esticado e redunda em manipulação das mentes. A liberdade para pensar (slogan do Expresso, muito giro) nem todos a sabem usar. Infelizmente. Não por culpa dos próprios, na maior parte dos casos, mas porque acontece que as desigualdades na sociedade os condenam a que assim sejam, menos livres ou até nada livres. Menos “pensadores”. Por isso “papam” as patacoadas deste e daquele político ou de jornalistas e outros menos escrupulosos ou maus profissionais.

Mas está bem, o Pedro Santos Guerreiro vai direto ao assunto do Trump e dos jornalistas norte-americanos que aquele hostiliza e em que não acredita. Sabemos que Trump se fosse jornalista seria igual a ele próprio. Um baralhado, um mentiroso, um manipulador, um… desqualificado que não merece um pingo de consideração. Ponto. Esse é Trump. Mas afinal o que ele faz não é nada demais, relativamente ao respeito e correção que as políticas dos EUA devem a todos os cidadãos do mundo, que não têm ou raramente mostram ter. E isso os jornalistas nem sempre referem, essa é a verdade. Pelo menos para os mais atentos. Desta feita saíram os jornalistas à baila na mente e pela boca de Trump. A classe profissional do jornalismo está abespinhada e até parece ignorar que há jornalistas que realmente cabem perfeitamente naquele “retrato” feito por Trump. Só não sabe quem não quer saber.

Assim sendo, é líquido que Trump tem razão e não tem. Os jornalistas sérios têm razão e não têm e só se lembram de santa Bárbara quando faz trovões lembrando que precisam de nós. Só que os profissionais sérios não se lembram de nós, os leitores, ouvintes, telespectadores, quando deviam de nos proteger dos colegas que não prestam para a tal verdade imprescindível à profissão tantas vezes repleta de manipulação e de omissões. E agora precisam de nós?

Os jornalistas honestos sim. Os desonestos (e são muitos) não!

Os honestos que se iluminem. Ajam. Sejam livres e livrem-nos dos que na profissão são desonestos, manipuladores, ao serviço de interesses de favores e outros com mais valias.

Precisamos muito, muito, muito, é de gente honesta. E essa é cada vez mais rara. Até porque também são alguns (muitos) jornalistas que estão a formatar esta sociedade de mentiras, de escárnio e mal dizer, de desrespeito pela privacidade, pela nossa liberdade, pelos nossos direitos abusados e omitidos, pela divulgação e propagação da futilidade como um bem a adquirir…

Isto teria pano para mangas. Acabou aqui. Até outra oportunidade.

A seguir o Curto saboroso. Bom dia, boa quinta-feira, boas festas àqueles que já sabe. Saúde, sorte e dinheiro para gastos é o que precisamos nós, os na escarumba da sociedade, longe dos raios solares. Sabem que mais? O raio que os parta, a todos os desonestos, avaros, gananciosos, ladrões, vigaristas… Não sei porquê mas aqui não constam políticos, pois não? Ah, que coisa! (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Precisamos de si

Pedro Santos Guerreiro | Expresso

“Verdades auto-evidentes” é uma expressão usada na famosa declaração de independência dos Estados Unidos. São verdades que são dadas como adquiridas, incontestáveis, incluindo as de que todos os homens são criados iguais e têm direito à vida, à liberdade e à procura da felicidade. Quinze anos depois desta declaração, em 1791, foi publicada a primeira emenda da Constituição americana, que prevê a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa.

Que, em 2018, centenas jornais se juntem publicando a mensagem de que “os jornalistas não são o inimigo” é bem sinal de como verdades que pareciam evidentes têm de afinal de ser reafirmadas e defendidas contra a propaganda política que deseja esvaziar o poder de quem a escrutina. É esse o título do editorial de hoje do “The Boston Globe”, a que se juntaram quase 350 jornais norte-americanos. Incluindo o “The New York Times”, que titula o seu editorial com a frase que inspira o título deste Expresso Curto: “Uma imprensa livre precisa de si”.

“Um pilar central da política do Presidente Trump é um assalto sustentado à impressa livre”, escreve o Globe. Os jornalistas são considerados por Trump como “o inimigo do povo”, o que pode ter “consequências perigosas”: “Substituir uma imprensa livre por uma comunicação social controlada pelo Estado foi sempre um desejo primeiro para qualquer regime corrupto que tome o controlo de um país”. Trata-se de um editorial fortíssimo, quer no ataque aos ataques de Trump, quer na explicitação de que a imprensa não está a defender a sua própria corporação, mas os valores democráticos em que acredita e em cuja construção permanente participa.

O caso Trump revela o populismo levado ao extremo, mas muitos aprendizes de feiticeiro têm usado as mesmas armas para atiçar povos contra os jornalistas. “Criticar a Comunicação social – por subvalorizar ou sobrevalorizar histórias, por errarem – é inteiramente correto”, escreve o New York Times, “repórteres e editores são humanos e cometem erros. Corrigi-los é o centro do nosso trabalho. Mas insistir que verdades de que não se gosta são ‘notícias falsas’ é perigoso para a vida da democracia. E chamar jornalistas de ‘inimigo do povo’ é perigoso, ponto final”.

Usando as redes sociais como púlpitos de comícios globais, convencendo as pessoas de que a desintermediação as informa melhor - quando na verdade as manipula melhor -, amplificando erros de jornais, ateando ódios e criando perceções sobre mentiras, “factos alternativos” e “fake news”, políticos populistas têm o claro objetivo de aniquilar quem põe em causa o seu poder. Os jornalistas. Os editoriais de hoje marcam um movimento de força, de humildade perante os erros, de alerta e de apelo. Incluindo o apelo do New York Times de que assine jornais, para que os jornais sejam mais fortes, condição básica de independência e de capacidade de investimento em redações de investigação. Lá como cá.

Cá é também por isso um bom dia para ler também o editorial escrito pela nova direção do Público, liderada pelo jornalista Manuel Carvalho, onde se defendem os grandes valores do jornalismo, como “os valores da livre iniciativa, da democracia liberal, das liberdades individuais, da fiscalização e controlo dos poderes”.

Todos os dias são bons dias para ler jornais. Democracias fortes têm e precisam de jornais fortes. As notícias põem em causa os poderes que mais as pretendem descredibilizar – e esta é outra verdade auto-evidente que não devia ser preciso escrever. Mas é. Lá como cá.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Governo quer acabar com reforma obrigatória aos 70 anos na função pública, noticia o Público de hoje. A proposta tem dois anos e está perto de avançar.

Quase mais um terço. É este o aumento do número de pessoas que trabalham no governo em relação ao final de 2015, avança o Negócios hoje. “No final de Junho, estavam a trabalhar 1.170 pessoas nos gabinetes dos 61 membros que compõem o Executivo socialista”, mais 282 pessoas do que dois anos e meio antes.

Os membros do governo vão deixar de viajar sem pagar na TAP. Segundo o Negócios, a transportadora aérea está a negociar novas regras com o Executivo, que deverão passar por descontos.

O Governo contesta que haja um “colapso” nos comboios em Portugal, mas os trabalhadores ferroviários voltam a alertar: “Se nada for feito pode haver uma desgraça”

“Peritos sem regras beneficiam seguradoras à custa de lesados”, escreve o Jornal de Notícias. “A profissão de perito e regulador de sinistros não exige qualquer formação específica”.

É um exercício que o Expresso já fez para Lisboa e publica agora para o Porto: os preços das rendas em função da distância em relação ao centro da cidade nos transportes públicos. Veja aquicomo quem vive no fim da linha poupa quase metade da renda.

40 mil famílias saíram de incumprimento no primeiro semestre, informa o Eco.

“Apesar de ter acelerado, o PIB de Abril a Junho desiludiu face às previsões”, analisa o Negócios. “As exportações não melhoraram tanto quanto o esperado e o investimento cresceu menos”.

Foi a polémica dos últimos dias, que Rafael Barbosa cataloga no JN como sendo de “silly season”: a organização da Web Summit retirou o convite a Marine Le Pen. O Bloco de Esquerda reagiu apoiando a decisão.

Foi decretado estado de emergência na região de Liguria, depois da queda da ponte em Génova, que provocou até esta manhã 39 vítimas mortais, três das quais crianças, recorda a Renascença. Foi entretanto aberto um inquérito judicial.

Em Angola, o presidente João Lourenço criou uma agência de petróleos, a ANPG, pondo fim ao monopólio no sector da Sonangol, que vai transferir parte dos seus ativos.

A Tesla foi processada nos Estados Unidos pelo regulador do mercado de capitais por causa de um tweet do seu fundador, Elon Musk, noticia o Finantial Times. Em causa estão as informações sobre as quais as ações da empresa dispersas em Bolsa poderão ser recompradas.

Em Espanha, o governo está a negociar com o Podemos um aumento de impostos às empresas, avança o El Pais.

No Brasil, Lula da Silva desafiou a Justiça e avançou com a apresentação de uma candidatura às eleições presidenciais. O ex-Presidente publicou uma carta aberta aos brasileiros onde se diz vítima de uma "caçada judicial", apelando à mobilização de todos.

Em reação às barreiras impostas pelos Estados Unidos, a Turquia impôs também sanções económicas, que a Casa Branca considera “lamentáveis”. Na crise que provocou a desvalorização acelerada da lira turca, o Qatar já prometeu ajudar, investindo 15 mil milhões de dólares na Turquia.

Um ataque suicida contra estudantes em Cabul, no Afeganistão, fez 48 mortos.

Madonna faz 60 anos. Não é por agora viver em Lisboa que a estrela enorme merece destaque, é por toda a sua carreira e pelo que através dela desbravou. “Criticada e incensada, quando ela passa deixa o rasto da soberania”, escreve Clara Ferreira Alves no Expresso. “A sua influência na música pop é determinante e visível nas fotocópias que por aí abundam. Tornou-se, com a idade, e tal como se dizia no filme “Chinatown” da má arquitetura e dos gangsters, respeitável. Respeitabilíssima. Rótulo que ela tenta descolar todos os dias.”

O Benfica está a ser investigado por suspeitas envolvendo transferências de jogadores para o Desportivo das Aves, avança o JN. O Ministério Público e a Polícia Judiciária do Porto têm indícios de que as compras poderão ter sido financiadas com dinheiro do clube lisboeta, estando sob escrutínio “a eventual participação direta de Luís Filipe Vieira nesses negócios”.

O Atlético de Madrid ganhou ao Real Madrid por 4-2 vencendo a Supertaça Europeia. Como explica a Tribuna Expressosem Ronaldo a história é outra.

FRASES

“A justiça portuguesa é cara, o que afasta quem não tenha meios para financiar um processo”. Francisco Sarsfield Cabral, na Renascença.

“Há vários anos que digo que não me surpreenderia que surgisse uma novidade no sistema partidário, nomeadamente no centro-direita e não me referia a uma iniciativa minha.” Pedro Santana Lopes, no Negócios.

“Santana Lopes anda a passear pelas sedes dos partidos liberais como quem vai fazer compras num supermercado.” Pedro Sousa Carvalho, no Eco.

"Literatura é acender um fósforo na escuridão da contemporaneidade".B, no Palavra de Autor, o podcast de livros do Expresso

O QUE EU ANDO A LER

As boas reportagens de festivais de música não são nem para ferir de ausência quem não esteve, nem para confirmar a quem esteve o que ouviu, não são pois “o que você perdeu” nem “o que nós ganhámos”. São o contrário disso, porque são partilha. Servem para o contrário disso, porque levam quem não esteve. Servem para ver e ver é sempre ganhar.

As boas reportagens de festivais de música não descrevem, mostram; não listam bandas e horas de concertos, transcendem a dimensão dos factos e revelam o acontecimento. Se a crítica é má, as boas reportagens são impiedosas, porque a piedade com o mau aniquila o contraste que credibiliza o que é bom; se a crítica é boa, as boas reportagens de festivais de música não nos arrastam para o abismo cegante do deslumbramento, elevam-nos um socalco para o alumbramento. É por isso que as palavras nas boas reportagens de música que não ouvimos, dos concertos em que não dançámos e dos festivais que não vivemos são tão indispensáveis para quem gosta de ouvir, dançar e viver. É por isso que elas usam adjetivos, pois os adjetivos, escreveu Anne Carson (em “Autobiography of Red”, que também “ando a ler”), não são acrescentos inocentes, mas pequenos mecanismos “responsáveis por amarrar tudo no mundo ao seu lugar particular”.

Nos festivais de música como o de Paredes de Coura, que arrancou ontem, não se convive, vive-se. E quem não foi quer aceder e repartir a celebração, a descoberta, a revelação possíveis em cada dia na relva, em cada entardecer na encosta, em cada noite de estrelas. E se sabemos que a apoteose deste ano em Coura está agendada para sábado, com o regresso dos Arcade Fire (pode regressar quem nunca foi embora?), já antes de ontem sabíamos que, em Coura, quarta feira é sempre dia de um segredo guardado.

Nas boas reportagens de festivais de música, o exagero é pois consentido, se tiver sentido, se a sensibilidade da visão e o talento da escrita somarem em vez de substituirem o conhecimento, a experiência, o critério. Assim é com estas boas reportagens de festivais de música, as da Blitz, que desde ontem levantaram voo em Coura – e já nos contaram o segredo desta quarta feira: Marlon Williams, o neozelandês que compôs com o coração partido um dos melhores álbuns do ano, e que depois de ouvir fado no Porto e mergulhar no rio Coura, deu um concerto para “a gaveta das melhores memórias desta edição”. "O destino é tudo o que importa", disse ele, e o destino dele é cantar.

Voltar a Paredes de Coura é voltar sem medo ao sítio onde se foi feliz, porque este é um festival onde se é feliz, por ser um lugar de autenticidade, sem pose nacarada nem excesso de açúcar. Não é como os restaurantes que às refeições chamam “experiências”, é música que é mesmo música, dança que é mesmo dança, viver que é mesmo viver. Não é o melhor cartaz em Portugal (nisso nenhum bate o Nos Alive), mas será, até pela consistência das 25 edições anteriores, o melhor festival em Portugal.

Volta-se sem medo a este lugar onde se foi feliz porque, escreve May Sarton (em “Prepara-te Para a Morte e Segue-me”, que também “ando a ler”), o poder do amor “é fazer com que todas as coisas sejam novas”. E se os Arcade Fire voltam sábado ao lugar do concerto mítico de 2005 para fazer com que todas as coisas sejam novas, ontem já voltaram os King Gizzard & the Lizard Wizard, cinco álbuns depois do concerto de 2016, e mesmo “não havendo amor como o primeiro, o concerto de 2018 é uma réplica suficientemente potente para nos deixar extasiados”. E voltaram os Linda Martini, agora em horário nobre, homenageando Phil Mendrix, e com “a potência sonora e entrega ilimitada” que os apresenta “como um pequeno exército na linha da frente de uma batalha que não aceitam perder”, com Cláudia Guerreiro e Pedro Geraldes no final “a serem levados em braços num crowdsurf amigo”. Talvez um dia voltem os que se estrearam ontem, os Blaze, “bons arquitetos de música ambiente para fim de festa” que desataram nos grandes festivais europeus deste ano. E o pastor Conan Osiris, da Linha de Sintra, para o after hours de que quase ninguém arredou pé.

Isto foi só ontem, o primeiro dia de Coura, onde se cultiva a arte de "fazer parte", escreve ainda a Blitz, a grande marca portuguesa de música da família Expresso de que nos orgulhamos e não é por ontem, é por todas as vezes. Continue em Coura, continue com a Blitz, que escreve reportagens de festivais de música para que mesmo quem não pode escrever “eu estive aqui” possa sentir “eu estive lá”. Será assim de novo hoje, e amanhã, e sábado nos Arcade Fire. Como escreveu T.S. Eliot (esse estamos mais ou menos sempre a ler), “Apenas vivemos, apenas suspiramos / Consumidos ou pelo fogo ou pelo fogo”.

Acorde bem. E tenha um dia muito bom.

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