Volta não volta, o Serviço
Militar Obrigatório (SMO) salta para a ribalta, envolto num manto de esperança
da resolução do problema do recrutamento que atinge, de forma preocupante, as
Forças Armadas.
AbrilAbril | editorial
O tema merece hoje (10.8) chamada de
primeira página no jornal Público, cuja notícia, entre outros aspectos,
nos dá conta de opiniões sobre a matéria de praticamente todo o espectro
partidário parlamentar. Retirando o BE, que não quer entrar nesta discussão, e
o líder da JS, que parece não saber exactamente do que fala, representantes dos
restantes partidos abordaram a questão, embora sobre ângulos diversos.
O PCP, único partido que votou
contra o fim do SMO, assume a sua defesa, não num quadro de simples reposição
do modelo extinto, mas antes sustentando a sua concretização em estudos sobre
as novas realidades e as suas necessidades. Também o deputado do
PSD ouvido assume, sem equívocos, a defesa do SMO, embora clarifique que o
faz a título pessoal já que, segundo o próprio, o PSD não tem, neste
momento opinião oficial. Quanto ao CDS, para já, sem se mostrar contra o
SMO, prefere esperar para ver.
O mesmo parece acontecer com o
PS, cuja expectativa está sobretudo no que farão outros países envolvidos nas
estruturas da NATO e, eventualmente, nas orientações mais ou menos formais que
venham desta estrutura político-militar. Aliás, importa recordar que tal
posicionamento não é novo, já que PS e PSD promoveram a extinção do SMO, não
por pressão das suas juventudes partidárias como procuraram fazer crer, mas no
rescaldo de decisões e orientações supranacionais.
Assim, de forma recorrente, os
dois maiores partidos não assumem oficialmente opinião sobre a matéria,
independentemente dos seus dirigentes e deputados, de forma avulsa e ao sabor
dos interesses do momento, lançarem ou alimentarem o tema, dizendo sempre
qualquer coisinha.
Mas, a notícia fala-nos também de
afirmações do ministro da Defesa Nacional, durante uma visita ao contingente de
fuzileiros portugueses em missão da NATO na Lituânia, considerando que o
regresso do SMO é uma ideia interessante, mas que só deve ser discutida depois
de 2019.
Ora, estando o Governo a preparar
para as próximas semanas a aprovação de legislação no sentido de consagrar
novos incentivos e um contrato de longa duração para o regime de voluntariado e
de contrato, a ideia de nos próximos anos se poder abrir a discussão em torno
do SMO é admitir, desde já, o fracasso das medidas que estão a ser anunciadas. Fracasso que, aliás, diversos observadores não rejeitam, por um lado, face à
perspectiva de se manterem as baixas remunerações para os militares em regime
de voluntariado e de contrato, e por outro, devido ao facto de o regime de
incentivos criado em 2000, na sequência do fim do SMO, ser alvo de contestação
por não ter sido integralmente cumprido.
A necessária discussão em torno
do Serviço Militar Obrigatório deverá ter lugar, não devido a qualquer pressão
da envolvente internacional, tenha ela maior carácter atlantista ou europeísta,
ou por causa da falta de bombeiros e de nadadores-salvadores, mas sim no quadro
de um debate mais amplo sobre as Forças Armadas e o seu papel enquanto
instrumento de soberania nacional e factor para o reforço da coesão nacional.
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