segunda-feira, 13 de agosto de 2018

O SOL FALOU COM A SONDA DA NASA, SEM NOVIDADES

A NASA, essa grande empresa que lança aquelas coisas parecidas com pepinos todos direitinhos para o espaço. Levam fogachos no trazeiro que até encandeiam os mirones e a fumaça é por demais. Arre, cofe, cofe. Uma intoxicação daquelas que apela à corrida a botijas de oxigénio. Livra.

Assim mesmo lá foi esse tal de pepino fumaroso e fogacheiro lançado para uma visita ao sol e o que mais der na gana aos que o conduzem. Que o programaram, melhor dizendo.

Até dá para imaginar a coisa que se separou do pepino, a sonda, a falar com o sol e questionar: Oh sol, mas porque andas a causar cancros na pele aos do planeta de onde venho? E porque é que andas a incendiar as florestas como nunca antes o fizeste?

O sol, sorrindo depois de um bafo incandescente, lá respondeu com maus modos: Porque esses habitantes do teu planeta de origem, chamada Terra, os terráqueos, autointitulados humanos, são umas bestas enormes que desprezam a natureza, o planeta e aquilo que o rodeia e lhe pode prestar estabilidade e a consequente vida causando desiquilibrios e as mais diversas e gravosas alterações climáticas. Tudo porque são fanáticos do deus dinheiro, do lucro, da ganância do desprezo pela vida da humanidade. Uns desumanos, que são imensos mas centrados nuns quantos que vivem para a exploração do homem pelo homem como não existe memória nos milhões de anos que todo este sistema planetário tem.

E mais não disse o sol. A sonda afastou-se, para trazer o recado à Terra. Estúpida, como se o que disse o sol fora novidade.

E pronto, o Curto do Expresso está já a seguir. Tem sol, sonda, Picasso, deuses pfss... e amor. Ai amor. Porra. Onde? Onde? Isso é só uma palavra das bonitinhas mas que dá em nada na maior parte dos casos, das vezes, das circunstâncias, etc., etc.

Evidentemente que para os crentes disso, do amor, esta afirmação é reprovável. Desculpem lá, mas como disse o Albino: tratem-nos bem, deixem-se de tretas e de tantas hipocrisias.

Basta. O Curto, por Joana. Em cima a cultura, a arte de Picasso. Bom. Muito bom. Joana também traça a lauda sobre isso.

Bom dia, boas festas aos animais de quatro patas que passarem por si. Os de duas patas são sempre uma grande incógnita. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Sol, Deus e o amor

Joana Pereira Bastos | Expresso

Bom dia,

Vivemos um momento histórico. Partiu há 24 horas do centro espacial Kennedy, no Cabo Canaveral (Flórida), o mais rápido objeto voador de todos os tempos, que atingirá quase 700 mil quilómetros por hora. À quarta tentativa, a NASA conseguiu finalmente lançar a sonda Parker, que se aproximará do Solmais do que qualquer outra até hoje. Com uma duração prevista de sete anos, a missão ajudará a desvendar o mistério da coroa, a camada externa da atmosfera solar.

Até agora, a Ciência não conseguiu compreender o funcionamento da coroa, nem a razão pela qual é centenas de vezes mais quente do que a superfície do Sol. Na coroa, as temperaturas ultrapassam um milhão de graus Celsius, enquanto a superfície subjacente está a cerca de 6 mil.

Batizada em homenagem ao astrofísico Eugene Parker, de 91 anos, que dedicou grande parte da vida ao estudo dos ventos solares e que ontem assistiu ao histórico lançamento, a sonda está protegida por um escudo térmico de carbono, que lhe permitirá “tocar” o Sol sem o desfecho trágico de Ícaro.

É uma das mais complexas missões espaciais de sempre, que resulta de cerca de seis décadas de investigação e requer 55 vezes mais energia do que chegar até Marte. Ao longo dos mais de 2500 dias de viagem, a sonda Parker fará 24 órbitas em torno do astro, aproximando-se mais em cada uma, de forma a reunir amostras do vento solar e a obter imagens nunca antes vistas da estrela que dá luz e vida à Terra. Um vídeo do New York Times explica tudo, em pouco menos de quatro minutos.

Visto como um Deus na generalidade das religiões politeístas, a adoração do Sol é tão antiga como a própria história da Humanidade. As principais festas pagãs em honra do Sol viriam a ser convertidas em celebrações cristãs - como o Natal, que coincide com o Solstício de Inverno. E já no século passado, foi também o Sol que levou a Igreja Católica a “validar” as aparições de Fátima.

A 13 de Maio de 1917, os pastorinhos relataram que a Virgem Maria lhes apareceu no cimo de uma azinheira, prometendo um milagre para o dia 13 de outubro desse ano, na Cova da Iria, de modo a que todos acreditassem nas suas aparições. No dia prometido, milhares de pessoas dizem ter presenciado um “milagre do Sol”, testemunhando que, depois de uma chuva torrencial, este irrompeu entre as nuvens, movendo-se em ziguezagues pelo céu e mudando de cor.

O acontecimento, que diferentes teorias atribuem a um fenómeno astronómico ou meteorológico, à sugestão coletiva ou à ilusão de ótica, foi oficialmente aceite como milagre pela Igreja Católica em 1930. Todos os anos milhares de pessoas rumam ao Santuário de Fátima. Hoje mesmo assinala-se a Peregrinação Internacional do Migrante, a que leva mais fieis a Fátima, a seguir ao 13 de Maio e ao 13 de outubro. As cerimónias serão presididas pelo cardeal cabo-verdiano D. Arlindo Gomes Furtado.

Longe vai o tempo em que a religião e a ciência ensaiaram a destruição mútua. No século do retorno das religiões, indiferente à disputa, o Sol continua a chegar para todos.

OUTRAS NOTÍCIAS

Não sendo o Sol, Nelson Évora brilhou ontem à noite, ao vencer a medalha de ouro nos Campeonatos Europeus de Berlim, com um triplo salto de 17,10 metros. Aos 34 anos, e depois de duas lesões graves, o atleta do Sporting regressou em grande, conseguindo o único título que lhe faltava e que vem juntar-se aos conquistados em 2007, nos Mundiais, e 2008, nos Jogos Olímpicos. A Tribuna Expresso conta-lhe o que leva um atleta a quem iam amputando uma perna a regressar ao sítio onde os ossos se desfizeram, uma e outra vez, e a testar os limites do seu corpo, em busca do salto perfeito.

No futebol, o Sporting venceu em Moreira de Cónegos não com um triplo salto, mas com uma tripla de golos. Começou a perder (com um golo bem cedo de Heriberto), mas deu a volta e ganhou na primeira jornada da I Liga, por 3-1. Valeram os regressados: Bas Dost marcou dois (um de penálti) e Bruno Fernandes marcou um e assistiu outro. O português fez questão de festejar o golo tapando as orelhas com as mãos, como quem diz que não quer ouvir as críticas dos adeptos mais desconfiados depois do conturbado verão do clube, que procura ainda um presidente.

Com a vitória, o Sporting, dos também regressados Sousa Cintra e José Peseiro, juntou-se a Porto, Feirense, Setúbal, Benfica, Braga, Belenenses e Marítimo, que venceram todos na primeira jornada do campeonato que arrancou na sexta-feira.

O campeonato italiano, esse, ainda não começou, mas Cristiano Ronaldo, por muitos considerado o astro Rei do futebol, teve a sua estreia ontem com a camisola da Juventus, num jogo de pré-temporada que opôs a equipa principal à equipa B da formação de Turim. Ronaldo fez aquilo a que já nos habituou. Veja o golo aqui

No ciclismo, o espanhol Raúl Alarcón (W52-FC Porto) conquistou ontem a segunda Volta a Portugal, ao ser terceiro na 10.ª e última etapa, um contrarrelógio em Fafe, ganho pelo conterrâneo Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano).

Ainda no desporto, o piloto português Miguel Oliveira foi segundo no Grande Prémio de Motociclismo da Áustria e perdeu a liderança do Mundial de Moto2 para o italiano Francesco Bagnaia. A luta entre os dois promete ser taco a taco até ao final.

Um violento acidente matou ontem duas crianças, de 10 e 13 anos, numa colisão entre três viaturas na EN 334, perto de Mira (Coimbra). Uma ultrapassagem mal calculada deverá ter estado na origem do sinistro, que fez ainda oito feridos, um em estado grave.

Depois de Monchique, um incêndio deflagrou ontem no concelho da Sertã (Castelo Branco). Combatido por cerca de 250 bombeiros, o fogo começou pouco depois das 14h, mas foi dado como dominado a meio da tarde.

Começa hoje a greve geral dos enfermeiros, que se prolonga até sexta-feira contra o impasse na negociação do acordo coletivo de trabalho. Também os trabalhadores portuários iniciam esta segunda-feira uma greve ao trabalho suplementar que afetará alguns dos principais portos do país até 10 de setembro.

Dois reclusos da prisão da Carregueira, em Sintra, tentaram fugir ontem à tarde, mas a fuga não durou muito.

A rede Multibanco teve falhas técnicas em toda a rede nacional esta noite, desde as 22h30, impedindo levantamentos de dinheiro e transferências, mas o problema ficou resolvidomenos de duas horas depois.

Lá fora, um estudo revela que a maioria dos círculos eleitorais do Reino Unido está contra o Brexit, o que sugere uma mudança na opinião dos britânicos.

A lira turca desvalorizou mais 9% esta segunda-feira, na sequência do agravamento da tensão diplomática entre a Turquia e os Estados Unidos. O euro também saiu perdedor e os investidores temem que esta crise financeira possa atingir os mercados europeus.

Em Espanha, mais de 250 pessoas ficaram feridas, das quais cinco com gravidade, em resultado do colapso de uma plataforma durante o festival O'Marisquiño, que decorre no passeio marítimo de Vigo.

Depois de em junho ter estado vários dias à deriva à espera de luz verde para atracar na Europa com centenas de migrantes a bordo, o navio "Aquarius" está novamente à procura de um porto. Desta vez, transporta 141 pessoas resgatadas do mar na sexta-feira, perto da costa líbia.

O escritor britânico de origem caribenha V.S. Naipaul, vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2001, morreu este fim de semana, aos 85 anos. Autor de mais de 30 livros, entre novelas, ensaios e diários de viagem, Naipul era um crítico fervoroso do colonialismo e viajou um pouco por todo o mundo, para tentar compreendê-lo "como ele é”.

Se não passou esta última noite a olhar para o céu, saiba que perdeu a chuva de estrelas Perseidas que todos os anos acontece no mês de agosto e que esta madrugada atingiu o pico. Para o ano, há mais.


MANCHETES

Público: “Há quase 2000 processos disciplinares contra médicos por decidir

Jornal de Notícias: "Benfica suspeito de prometer 10 mil euros para vencer F.C. Porto"

Correio da Manhã: "Crianças morrem a caminho da praia"

I: “Câmaras gastam milhões em concertos de verão”

Diário de Notícias: “Segurança Social usa precários para ajudar a despachar pedidos de pensões

Negócios: “Novos registos de alojamento local duplicam em Lisboa

FRASES

“Quando comecei, há muitos anos, era esse o meu objetivo: fazer história”
Nelson Évora, após vencer a medalha de ouro nos Europeus de Berlim

“Deus logo dirá se sim ou não”
Marcelo Rebelo de Sousa, sobre uma eventual recandidatura a Belém, nas Presidenciais de 2021

O QUE ANDO A LER 

Dora Maar - Paris in the time of Man Ray, Jean Cocteau and Picasso, de Louise Baring

Para muitos, Dora Maar é um nome quase desconhecido. Afotógrafa de origem croata, foi a quinta das sete mulheres de Picasso e manteve com o maior artista da modernidade uma intensa e conturbada relação amorosa entre 1936 e 1944. Dotada de um talento promissor, elogiado por nomes maiores da fotografia como Man Ray ou Cartier-Bresson, Dora chegou a ter fotomontagens suas exibidas, em 1936, na Exposição Internacional do Surrealismo, em Londres, ao lado de trabalhos de artistas como Salvador Dali, Max Ernst ou René Magritte. São dela alguns dos mais conhecidos retratos de Picasso e foi também ela que fotografou o processo de criação de “Guernica”. Mas Dora acabaria por abandonar a carreira, consumida pelo ciúme e destruída pelo fim do amor.

O livro, sem edição em Português, conta a triste história de Dora Maar e reúne dezenas das suas melhores fotografias, num trabalho que Cartier-Bresson disse ter sempre algo de “desafiante e misterioso”.

"Em que é que eu ousei embarcar ao entrar na tua vida?", perguntou Dora a Picasso, num telegrama de 12 de agosto de 1936. Menos de um ano depois, numa carta de 18 de abril de 1937, Dora escreveu-lhe uma das mais pungentes e auto-destrutivas declarações de amor: "Se todos os cães que alguma vez existiram fossem colocados juntos numa planície, com um único homem, um único dono, que força teria esse grande amor, a bondade e a submissão de todos esses cães ao seu dono. Amo-te e é assim que quero amar-te".

Para Dora, Picasso era o Sol. E a vida apagou-se quando ele deixou de a iluminar, trocando-a por uma nova musa, a mais jovem Françoise Gilot. Dora praticamente deixou de fotografar. O último trabalho que vendeu foi um retrato a cores de Picasso que faria a capa da revista Time em fevereiro de 1939. Quando a artista morreu, em 1997, poucas fotografias com a sua assinatura sobravam em museus e coleções particulares.

Morreu sozinha e na miséria, a poucos meses de completar 90 anos, num velho apartamento junto ao Sena, rodeada de centenas de quadros, retratos, fotografias e cartas de Picasso, que sempre recusou vender. Após a sua morte, realizaram-se seis leilões milionários com o tesouro que Maar guardou em silêncio durante mais de meio século.

Picasso imortalizou-a em dezenas de quadros, como “Dora e o Minotauro”, em que o pintor se auto-retrata como um violento animal que se impõe sobre o corpo dela. Os mais famosos são, no entanto, o conjunto de obras que batizou com o título trágico “La Femme qui Pleure”. “Nunca consegui pintar um retrato de Dora a sorrir. Para mim, ela é a mulher que chora”, confessou um dia o pintor espanhol.

A devoção a Picasso destruiu-a.

O mistério do amor pode ser tão insondável como o mistério do Sol.

Por hoje é tudo. Este Expresso Curto, que já vai bastante longo, fica por aqui. Desejo-lhe uma boa semana de trabalho ou umas ótimas férias, se for o caso. Pode sempre acompanhar toda a atualidade em www.expresso.pt e no Expresso Diário, às 18h.

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