Sociedade civil da Guiné-Bissau
preocupada com tráfico de droga e de madeira cujo benefício poderá servir para
financiamento de grupos políticos na corrida eleitoral. Mas a polícia afirma
que tudo está sob controle.
Na Guiné-Bissau existem fortes
indícios que levam as organizações da Sociedade Civil a acreditarem que o
negócio da madeira e o tráfico de droga se transformam na nova modalidade de
financiamento dos grupos políticos para a compra de lugares elegíveis no Parlamento
através de empresários que gozam de cumplicidade dos agentes da defesa e
segurança.
Segundo o engenheiro florestal
Constantino Correia, funcionário sénior do Ministério da Agricultura que tem
feito várias denúncias sobre o corte ilegal da madeira, alguns deputados,
juízes, políticos e elementos das forças de defesa e segurança estão a praticar
impunemente esta ilegalidade que apenas beneficia uma meia dúzia de guineenses.
"Há alguns deputados e
juízes. Imaginem juízes implicados e envolvidos no corte ilegal árvores....e
quem irá julgar esses casos? Também elementos das forças de defesa e segurança
estão envolvidos nessa ilegalidade. Tenhamos a coragem de denunciar e acabemos
com esta impunidade que beneficia meia dúzia de pessoas. Imaginem, alguém foi
nomeado embaixador e era dos principais infratores em termos do corte de
árvores destinadas ao tráfico ilegal da madeira. Isto não é conivência?"
Ameaças e intimidações
Ameaças e intimidações
O ativista e especialista na área
disse que tem sido alvo de ameaças e intimidações. Constantino Correia afirma
ainda que recentemente houve um caso da madeira apreendida que envolveu figuras
públicas no poder, mas que a justiça não fez nada até agora e os infratores
continuam impunes. "Só prendem quem rouba um pão na rua", disse.
Em entrevista à DW-África,
Constantino Correia, também ex-diretor da floresta da Guiné-Bissau recorda que
nas duas campanhas eleitorais para as legislativas e presidenciais de 2014 a madeira teve um papel
fundamental no financiamento das campanhas dos candidatos e afirma que há
evidências que apontam para mesma situação no período eleitoral que se
avizinha.
"Espero que não volte a
acontecer, mas os indícios levam-nos a ter estas suspeitas. Pelas informações
que tenho, algumas evidências levam a pensar que a madeira volte a jogar esse
papel que teve em 2014. Isso é do conhecimento de toda a gente. O que é que a
Procuradoria Geral da República está a fazer ao ter conhecimento desta
situação? As informações existe mas não toma uma posição porque ainda temos intocáveis
na nossa praça".
Constantino Correia cita um caso
referente a uma apreensão de contentores com madeira e que depois de algumas
semanas nas instalações da polícia em Bissau, toda a madeira desapareceu sem
que até hoje uma investigação fosse feita para o apuramento das
responsabilidades. "Quem é que ousa ir tirar madeira dos contentores
dentro das instalações da polícia? Isso leva-nos a uma reflexão muito
séria", destaca Correia
Reforçadas medidas de controle
Outra preocupação para a Polícia
Judiciária da Guiné-Bissau quando faltam pouco mais de dois meses para a
realização de eleições legislativas é como estancar o aumento de passagem de
drogas, nomeadamente da cocaína pelo território guineense.
A PJ tem feito várias apreensões
desses correios que transportam cocaína de São Paulo, no Brasil para a Europa
nomeadamente com trânsito pela Guiné-Bissau.O diretor-adjunto da Polícia
Judiciária, Domingos Correia disse que já foram reforçadas medidas de controle
nomeadamente nas fronteiras aéreas do país e admite que o que acontece neste
momento podem ser considerados casos isolados concernentes ao envolvimento
de alguns
agentes das forças de segurança que têm permitido a entrada no país
das chamadas "mulas" ou correios com alguns quilos de droga.
"É assim que funciona a rede
do crime organizado. São atos isolados deste indivíduos que abusam das suas
funções. Dentro de uma dinâmica muito mais cerrada do combate ao tráfico de
estupefacientes a PJ não tem poupado esforços neste sentido. Confirma-se que
algumas pessoas ligadas às forças de segurança foram detidas por cumplicidade
no tráfico aeroportuário".
Polícia Judiciária com falta de
meios
Segundo Domingos Correia, a PJ
depara-se com a falta considerável de meios para combater estruturas mais
robustas, que têm muito mais equipamentos e meios. O desafio é capacitar as
estruturas da Polícia Judiciária ao nível dos países da sub-região com apoios
de países e organizações parceiros bem como uma maior presença no terreno de
células aeroportuárias anti-tráfico. Essas células já funcionam no país há um
ano com o apoio financeiro da ONUDC, escritório das Nações Unidas para a droga
e crime.
O diretor-adjunto da Polícia
Judiciária diz que apesar de não ter nada em concreto sobre as movimentações do
crime organizado antes das eleições legislativas guineenses, a sua
corporação já está a trabalhar para monitorização da situação na sua globalidade,
em especial no combate à criminalidade eleitoral em coordenação com os
parceiros da Guiné-Bissau.
Reforço do apoio internacional
Recorde-se, que no passado dia 8
do corrente mês, um comunicado do Conselho
de Segurança das Nações Unidas manifestou preocupação com o tráfico de
droga e crime organizado na Guiné-Bissau tendo solicitado um reforço do apoio
internacional para o seu combate.
O comunicado foi emitido depois
de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter debatido, em agosto, a situação
na Guiné-Bissau, com a presença do primeiro-ministro guineense, Aristides
Gomes.
O Conselho de Segurança apelou
também para uma "cooperação e apoio internacional reforçados naquela
área", coordenada pelas entidades da ONU no país, e para uma maior
presença do Escritório das Nações Unidas para a Droga e Crime (UNODC) no
terreno.
Braima Darame (Bissau) | Deutsche
Welle
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