quarta-feira, 6 de junho de 2018

Angola pede adesão à Commonwealth


A decisão foi anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Boris Johnson, através da sua conta de Twitter.

Angola vai pedir a adesão à Commonwealth, a comunidade que junta os países de língua inglesa. Esta decisão foi anunciada pelo ministro britânico dos Negócios Estrangeiros.

Na sua conta de Twitter, Boris Johnson deu assim conta do facto. "É esplêndido que Angola se queira junta à família da Commonwealth. Saudamos o empenho do Presidente Lourenço em fazer reformas, no combate à corrupção e na melhoria dos direitos humanos. Esperamos saudá-lo brevemente no Reino Unido".

Numa entrevista concedida à Euronews, no âmbito da sua visita a França, João Lourenço já tinha admitido esta possibilidade. "A exemplo do que se passa com Moçambique, que está ali encravado entre países anglófonos e acabou por aderir à Commonwealth, também Angola está cercada, não por países lusófonos, mas por países francófonos e anglófonos. Portanto, não se admirem que estejamos a pedir agora a adesão à francofonia e que daqui a uns dias estejamos a pedir também a adesão à Commonwealth".

Moçambique, de expressão portuguesa, e o Ruanda, antiga colónia belga, são para já os dois únicos países membros da Commowealth que não foram antigas colónias do Reino Unido.

Angola é um dos Estados-membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e esta opção deve ser vista como uma forma de diversificar as suas parcerias, depois do esfriamento das relações com Portugal, em resultado do chamado caso Manuel Vicente.

O antigo vice-presidente de Angola foi acusado pela justiça portuguesa da prática do crime de corrupção, o que colocou a diplomacia numa situação de "mosquitos por corda". Em Maio, o Tribunal da Relação de Lisboa acabou por decidir transferir o processo para Angola, o que desanuviou as relações bilaterais, abrindo espaço para que o primeiro-ministro, António Costa, possa visitar o país.

Na referida entrevista, o chefe de Estado angolano assinalou essa circunstância. "As relações com Portugal vão bem. Estamos ansiosos em receber o primeiro-ministro, António Costa, em Luanda. A nível dos ministros das Relações Exteriores, os dois países estão a acertar datas, e isso vai acontecer a todo o momento", disse João Lourenço.

Celso Filipe | Jornal de Negócios

Angola | Detido polícia que matou suposto marginal (com vídeo da execução)

O Ministério do Interior angolano condenou a execução sumária de um suspeito pela polícia em Luanda, na semana passada em plena luz do dia, e pediu a responsabilização criminal do agente.

Em comunicado o ministério do Interior angolano condenou a execução sumária de um suspeito pela polícia em Luanda, na semana passada em plena luz do dia, e pediu responsabilização criminal do agente.

O vídeo da execução sumária de um suposto criminoso por um agente do Serviço de Investigação Criminal foi posto a circular na semana passada nas redes sociais. Nas imagens vê-se um agente a disparar contra um individuo que se encontra no chão em plena luz do dia.

O acto foi igualmente condenado pela sociedade civil que lamentou o sucedido e repudiou aquilo que considera ser um “assassínio bárbaro”.

A Polícia Nacional anunciou hoje ter detido e encaminhado para o Ministério Publico, esse agente dos serviços de Investigação Criminal que na passada sexta-feira matou à queima roupa um cidadão supostamente marginal.

´´O Caso já foi entregue ao Ministério Publico para o tratamento judicial subsequente´´ explicou Mateus Rodrigues num caso que agitou Luanda durante a semana.

A organização não governamental Human Rights Watch defendeu que as autoridades angolanas deveriam investigar com urgência a alegada execução sumária de um suspeito de roubo por um agente do Serviço de Investigação Criminal em Luanda.

No vídeo é possível ver o alegado marginal deitado no chão, visivelmente ferido e a tentar levantar-se, perante o olhar de agentes do SIC.

Ao fim de alguns minutos, e com a população a assistir, um elemento do SIC aproxima-se e realiza vários disparos na direcção do jovem, que acaba por morrer no local, na rua.

Agostinho Sikato membro da sociedade civil do centro de debates e estudos académicos , condenou a morte do referido marginal ´´ Não é isso que precisamos, tudo que tem a ver com direitos todos nos deveríamos proteger, um criminoso como este deveria já ter sido detido", afirmou em substância.

O Advogado Zola Bambi da Associaçao Mãos Livres, considera que se tratou de uma violação da constituição angolana que garante o direito à vida.

"Deve ser responsabilizado (o agente da SIC) criminalmente por respeito à Lei, estava no exercício das suas funções mas não tinha o direito de tirar a vida humana que a constituição consagra bem inviolável."

O Ministério do Interior esclareceu em comunicado que, no âmbito das operações realizadas pelas forças de segurança "no combate ao crime violento", uma brigada do SIC de Luanda esteve sexta-feira em perseguição a um grupo de marginais armados, que circulavam a bordo de uma viatura roubada no dia anterior.

Os agentes do SIC, acrescenta o comunicado, entraram "em confronto" com os criminosos, tendo um dos policiais "atingido mortalmente um marginal em circunstâncias injustificadas, uma vez que a vítima se encontrava já sob completo domínio".

"Pelo acto ignóbil praticado pelo referido agente, orientou-se o diretor-geral do SIC a tomar imediatamente todas as medidas que se impõem no sentido de proceder à responsabilização criminal e disciplinar", refere o comunicado do Ministério do Interior.

O SIC rejeitou em novembro passado a existência de "esquadrões da morte", elementos daquela polícia que percorrem Luanda com uma lista de alegados criminosos a abater, mas garantiu na altura que iria encaminhar as denúncias à Procuradoria-Geral da República.

Em causa estava uma denúncia do jornalista angolano Rafael Marques, que divulgou alegados casos desta prática extrajudicial e que já teria provocado mais de 90 mortos.

"Os esquadrões de morte, em Angola, nunca existiram. Portanto, nós também tivemos acesso a esta informação, dizer aqui que vamos solicitar junto da Procuradoria para que essas pessoas venham aos autos e dêem a informação em concreto, de forma a facilitar todos esses processos que ainda estão pendentes", afirmou na altura o director provincial de Luanda do SIC, Amaro Neto.

O jornalista Rafael Marques, que divulgou um relatório completo sobre estes casos, garantiu que já tinha levado o assunto ao ministro do Interior, Ângelo da Veiga Tavares, a 29 de maio de 2017.

Na semana passada, em entrevista à RFI, o Presidente João Lourenço disse que em Angola não há violação de direitos humanos.

Quando questionado sobre a hospitalização de um manifestante que participava numa marcha alusiva ao 27 de Maio justificou que “as cargas policiais só acontecem quando há razões para tal. Não acompanhei muito de perto, mas em princípio lamentamos o que aconteceu”.

O chefe de Estado angolano disse ainda que nas grandes democracias situações idênticas repetem-se e ninguém fala em violação de direitos humanos. ”Na chamada maior democracia do mundo, as pessoas são mortas na rua, às vezes sem razão aparente por polícias e não me recordo de haver este tipo de acusações”, concluiu.

Marco Longari/AFP | em RFI

Vídeo da execução policial (2:44)

Angola | Estará em curso o renascimento político de Manuel Vicente?


Constitucionalista angolano Albano Pedro reconhece importância estratégica de Manuel Vicente para Governo angolano e considera que se procura ilibá-lo de acusações de que é alvo no processo que teve início em Portugal.

Em Angola, a excessiva proteção por parte do Governo de João Lourenço a Manuel Vicente, ex-vice Presidente do país e antigo responsável da Sonangol, tem levantado algumas questões. Há setores que consideram que a influência de Manuel Vicente junto do Presidente é grande e crescente, considerando-o, mesmo, assessor informal de João Lourenço para assuntos de petróleo. 

A DW África conversou com o constitucionalista angolano Albano Pedro sobre o papel de Vicente na governação do país. 

DW África: Tomando em conta os processos que correm contra o ex-número um da Sonangol, as chances de vir a ser nomeado para algum cargo político seriam reduzidas?

Albano Pedro (AP): Até agora foram dados sinais evidentes que os processos que correm contra Manuel Vicente, de maneira nenhuma, põem em causa a sua importância estratégica para o Governo angolano. A prova está no engajamento do próprio Presidente da República, ao sugerir ao Governo português e à Justiça portuguesa que transferisse o processo para Angola. Existe uma certa simpatia entre o Governo e Manuel Vicente. Obviamente, isso indicia algum nível de interesses que ultrapassam as situações que envolvem Manuel Vicente e envolvem, de alguma forma, interesses de outros indivíduos, de outras pessoas ligadas à alta hierarquia do Estado, sobretudo daqueles que estão ligados ao poder.  

DW África: Está a dizer que haveria o risco de Manuel Vicente arrastar para a lama essas elites, caso o processo continuasse em Portugal? 

AP: Não há dúvida sobre isso. Não vejo outras razões que levariam o Presidente da República a fazer um apelo desse tipo. Se a vontade fosse, pura e simplesmente, querer que a justiça fosse feita e não favorecer ou criar condições para que se proteja Manuel Vicente, não vejo nenhum problema com o Presidente da República admitir que Manuel Vicente fosse julgado mas em Portugal. Deve haver interesses, claro, que envolvem mais gente e, por conseguinte, não tenho dúvida que muita gente seria arrastada para esses processos.

DW África: E acha que João Lourenço tinha algum interesse em promover oficialmente Manuel Vicente a algum cargo político?

AP: Ele não está impedido de o fazer. O Estado angolano tem estado a questionar-se se os crimes pelos quais Manuel Vicente era indiciado em Portugal estão amnistiados. Esse é um argumento que tem sido levantado. Outro argumento é de que ele goza de imunidade. Estamos perante um conjunto de argumentos que têm sido levantados, no sentido de ilibar Manuel Vicente. De modo que, se se procura ilibá-lo, é porque procura-se descriminalizar as condutas de que ele é acusado. E assim sendo, procura-se colocá-lo numa posição em que ele não tenha impedimento absolutamente nenhum de assumir qualquer cargo que seja. 

DW África: Quais seriam as consequências políticas para João Lourenço caso arriscasse promover o renascimento político de Manuel Vicente? 

AP: O único risco que haveria é se efetivamente Manuel Vicente fosse julgado e condenado pela Justiça portuguesa, com crimes provados que fossem de facto crimes que em Angola pusessem em causa a imagem dele [de João Lourenço], como corrupção, esses crimes de colarinho branco. Aí haveria um risco para o atual Presidente colocar Manuel Vicente a assumir funções, colocá-lo numa posição em que fosse de confiança do Presidente da República. Mas como há todo esse trabalho no sentido de que ele não venha a ser condenado, que não venha a ser julgado, está claro que não seria problemático para o João Lourenço nomear Manuel Vicente, porque até agora ele não foi condenado e, portanto, não é criminoso. E, claro, seria facilmente justificável que ele é um cidadão de bem, que deu tudo pela pátria, até porque é um ex-vice-Presidente, é uma pessoa de reconhecida capacidade, que esteve à frente dos destinos da Sonangol. Não seria problema se voltasse a ser indicado. 

Nádia Issufo | Deutsche Welle

Ida do líder da RENAMO para a Gorongosa é alinhamento com a liderança de Dhlakma


A ida do líder interino da RENAMO para Gorongosa lançou dúvidas em Moçambique. À DW, especialista em resolução de conflitos, Aly Jamal, fala em "surpresa", mas mantém confiança numa resolução para crise.

A decisão tomada, neste domingo, pela RENAMO, de colocar o seu líder interino na serra da Gorongosa causou alguma agitação e interrogações em Moçambique. A DW África entrevistou Aly Jamal, especialista em resolução de conflitos do ISRI (Instituto Superior de Relações Internacionais), sobre a posição do maior partido da oposição no país.

DW África: Que leitura faz da decisão da RENAMO de colocar o seu líder interino na serra da Gorongosa, principalmente neste contexto das negociações com o Governo da FRELIMO?

Aly Jamal (AJ): Tem um significado muito especial para a RENAMO. Penso que, nesta fase das negociações, tem o significado de ser o centro da coordenação militar. O símbolo da Gorongosa vem, exatamente, por ser esse centro de coordenação militar da RENAMO. Sem esse centro, a RENAMO só fica conhecida por coordenação política, que é baseada no Parlamento.  Parece-me estranho, que depois de toda esta evolução, quando esperávamos que as coisas mudassem de cenário, que a liderança da RENAMO vá para a serra da Gorongosa. Por outro lado,  isso pode ser lido à luz da concentração do poder militar da RENAMO em torno da Gorongosa. Quando se fala, por exemplo, dos grandes coronéis, dos grandes generais, eles só podem estar na Gorongosa. Pensávamos que isso tinha a ver com a faceta da figura do líder Dhlakama, mas agora estamos a ver que não, parece que tem a ver com a filosofia da RENAMO.

DW África: Esta decisão não será uma tentativa de se restabelecer o equilíbrio no processo negocial depois da morte de Afonso Dhlakama, uma vez que a força deste partido está assente na sua força militar e na força das armas?

AJ: Eu não diria exatamente restabelecer o equilíbrio. Diria que é uma forma de continuidade. É uma forma de alinhamento com a liderança de Dhlakama, uma forma de continuidade de um pensamento e de uma maneira de estar na política. De um modo geral, isso é surpreendente. Todos os analistas estavam à espera que as coisas não fossem assim. De um modo específico, posso assegurar que isto levanta receios, mas não levanta a ideia do resvalar dos falhanços dos processos negociais.  Porque isso é outra coisa. Toda a gente já mostrou que  está à espera da materialização desses processos negociais.  Eu não tenho muito receio com isso. Eu já tinha confiança, quando Dhlakama estava lá, que as coisas iam acabar a bem, e que havia um bom ponto final para a resolução de toda a crise. Mantenho essa confiança.

DW África: Um vazio na serra da Gorongosa poderia trazer alguma vantagem para o Governo durante o processo negocial?

AJ: Não me parece que isso pudesse ser uma vantagem para o Governo. Não vejo isso nesses termos. O que está em causa, na minha opinião, não é só a pressão militar. O que está em causa é que já houve concordância entre as partes, sobre os assuntos que devem ser avançados. A relevância da pressão militar reduziu um pouco. Tanto é que, desde que Afonso Dhlakama declarou o cessar fogo, nunca tivemos escaramuças. Houve sempre tempo para o pacifismo. Houve sempre tempo para organização do processo a nível político.

DW África: Há a possibilidade de ter havido algum retrocesso ou algum desentendimento neste processo que terá originado esta decisão, ou que a RENAMO se tenha sentido de alguma maneira ameaçada?

AJ: Durante muito tempo a RENAMO sentiu-se desconfortável e penso que continua a sentir-se. A questão não mudou substancialmente. Há pressão do Governo, porque existe uma pressão política para os entendimentos, e depois existe uma pressão militar. A RENAMO está confinada, de algum modo, pela presença das forças governamentais nas proximidades. E isso induz à pressão psicológica e, de algum, modo à incerteza. Quais são os resultados, nas condições desses tipos de pressão? O que é que isso vai causar para nós? Até agora. Há uma pressão permanente para a RENAMO, e essa pressão não é só do nosso Governo, mas também de outros quadrantes internacionais.

Nádia Issufo | Deutsche Welle | Na foto: Ossufo Momade (imagem de arquivo DW)

Ou EUA saem de Al-Tanf, ou Hezbollah e Irão, com Síria, libertam o sul da Síria



Rússia e Damasco (e aliados) construíram um plano para que o Exército Árabe Sírio liberte o que resta do sul da Síria – Qunietra e Daraa. O acordo será discutido essa semana entre altas autoridades (vice-ministros) dos establishments de Rússia, EUA e Jordânia, com Damasco e Teerã a louvar os esforços e o talento dos russos para a negociação. O plano é bem claro: ou os EUA saem da passagem de fronteira em Tanf, ou não haverá acordo, e o Exército Árabe Sírio requererá o apoio de seus aliados para libertar o sul. A bola foi mandada para o campo dos EUA, e Washington que resolva. Ou decide ir à guerra ao lado de Israel contra as forças de Damasco no sul, ou retira suas forças de ocupação da passagem Tanf na fronteira sírio-iraquiana.

O Exército Árabe Sírio está reunindo forças para libertar o último bolsão ao sul da capital Damasco onde o ISIS (sob o rótulo de Jaish Khaled Bin al-Waleed) e outros jihadistas e aliados ocupam a parte do sul da Síria na fronteira Israel e Jordânia. Damasco e Amã querem que o Exército Árabe Sírio retome o controle das fronteiras e reabra a passagem de Naseeb para restaurar uma das principais fontes de renda dos dois países.

Paralelamente, Israel volta-se para a Rússia – não para os EUA – pedindo garantias de que o Irã e o Hezbollah não estabelecerão bases nas fronteiras; Israel quer evitar a situação na qual as fronteiras sírias possa ser usadas como plataforma para atacar Israel no futuro.

Rússia, Síria e Irã todos concordaram quanto ao próximo passo a ser dado para libertar o sul, de modo a satisfazer todas as partes. As demandas israelenses, de que só haja o Exército Árabe Sírio em suas fronteiras, não serão atendidas ‘gratuitamente’: o preço a ser pago é a passagem de fronteira em al-Tanf atualmente ocupadas por forças dos EUA.

Forças dos EUA também ocupam parte do nordeste da Síria e a principal passagem comercial de fronteira entre Iraque e Síria (al-Tanf). Na verdade, não há benefício direto para os EUA com manter forças na Síria – exceto apoiar Israel –, e o controle da passagem só serve: (i) ou para dar passagem a milhares de militantes que o Pentágono treina para atacar territórios sírios (sem qualquer serventia estratégica); ou (ii) para criar meios para conter o andamento da economia síria.

Por isso a Rússia e seus aliados esperam que Telavive pressione Washington para que retire suas forças da passagem de al-Tanf, em troca da “paz de espírito” nas fronteiras, para Israel.

Contudo, há aqui vários cenários possíveis:

Israel aceita o trato e pede que EUA liberte a passagem de fronteira sírio-iraquiana. O Exército Árabe Sírio assumirá controle do sul, atacando jihadistas e aliados deles.

Israel recusa: o Exército Árabe Sírio atacará os jihadistas e aliados deles. Se Israel reage e bombardeia as forças atacantes, Damasco e aliados já estabeleceram nova Regra de Engajamento e retaliarão contra alvos nas colinas ocupadas do Golan e adiante. O risco de guerra entre Israel e Hezbollah-Irã é alto. O front interno em Israel estará pronto para guerra mais ampla?

Israel e EUA sobem as demandas e exigem a retirada de todas as tropas iranianas da Síria: para a Rússia, é demanda impossível de atender. O Irã tem bases na Síria desde que o falecido presidente Hafez Assad permitiu que o Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (CGRI) apoiasse a resistência libanesa contra a invasão por Israel em 1982. Além disso, a Síria pediu o apoio do Irã e aliados do Irã em 2013, mais de dois anos antes da chegada dos russos. E Teerã e Damasco – ambos membros do “Eixo da Resistência” (Síria, Irã, Hezbollah) – coordenam todas as ações e decisões relacionada à guerra na Síria: como conduzi-la e que resultado político buscar. Essa harmonia não é idêntica à que há entre Moscou e Damasco. Assim, a Rússia não está em posição de pedir ao governo sírio que imponha uma retirada dos iranianos, por um preço que o Exército Árabe Sírio pode impor, só ele, Israel concorde ou não.

Implica dizer que Israel tem espaço limitado para manobrar: partir para uma batalha de consequências imprevisíveis contra o “Eixo da Resistência” e forçar o presidente Bashar al-Assad a ação mais agressiva para realmente ferir Israel, saindo da posição defensiva, para uma posição ofensiva.

Em sua mais recente entrevista, Assad disse que sua única opção seria “melhorar a defesa aérea, é a única coisa que podemos fazer e estamos fazendo”. Para o “Eixo da Resistência” é pura atitude defensiva, que não corresponde necessariamente ao modo como Israel tem de ser enfrentado. Irã e aliados gostariam de mostrar a Israel atitude mais agressiva, levando a batalha ofensiva até muito além do ponto que Assad atualmente deseja. Nesse caso, só Israel ganha com ter só o Exército Árabe Sírio no Golan ocupado pelos israelenses e na linha de demarcação de 1974.

Há diferenças no modo como a Rússia está trabalhando o dossiê sírio com seus aliados próximos, atenta a não forçar ou agredir relacionamentos existentes. A Rússia gostaria de avançar na reconciliação política o mais rapidamente possível, pedir a Damasco que reescreva a Constituição e ver os EUA fora de Tanf, de modo que as forças de ocupação (EUA e Turquia) fiquem concentradas no norte.

Damasco não pedirá – hoje – que Irã e aliados do Irã retirem-se, a menos que já não haja qualquer perigo. O governo tem intenção de revisar (Moscou sempre fala de “reescrever”) a Constituição, buscando a retirada de todas as forças estrangeiras de ocupação.

Independente de se os israelenses ‘terão coragem’ de perguntar à Síria quais as forças que Israel poderia manter em território sírio e quais têm de sair, certo é que ambos – a Rússia e o “Eixo da Resistência” querem a libertação do sul, e podem sim pedir ao Irã e ao Hezbollah que se mantenham longe das fronteiras. O “Eixo” parece muito confortável com a ideia de deixar o sul da Síria, confiante de que as forças sírias locais estão hoje – depois de mais de sete anos de guerra –, muito bem equipadas com farta experiência de combate e ideologia firme para trilhar caminho idêntico ao do “eixo”, no que tenha a ver com a animosidade contra Israel. Mas a cabeça dos EUA em al-Tanf, numa bandeja, é a parte não negociável do preço.

*Oriente Mídia |Traduzido por Vila Vudu

CARTA DE KIM A TRUMP


A Cimeira de Singapura mantém-se sem a assinatura de um acordo formal de paz?

Michel Chossudovsky

Apesar de a cimeira de 12 de Junho em Singapura estar outra vez na ordem do dia, será que resultará num acordo de paz bilateral?

É altamente improvável que Pyongyang se dobre às exigências dos EUA, as quais requerem um processo unilateral de "desnuclearização" da parte da RDPC. Enquanto isso, Donald Trump permanece comprometido com o seu programa de 1,3 milhão de milhões de dólares de armas nucleares, o qual displicentemente apregoou ser um meio de garantir a segurança nacional da América – a expensas dos contribuintes.

Trump tem reiterado que as sanções económicas dos EUA contra a Coreia do Norte prevalecerão; ele também declarou que um novo conjunto de sanções são encaradas actualmente mas que só serão implementadas se houver uma "ruptura" nas negociações.

A Coreia do Norte estará a exigir algo em retorno, o que é improvável que os EUA aceitem.

Além disso, a menos que o acordo de armistício de 1953 seja substituído por um tratado da paz, a guerra ainda está nos planos do Pentágono.

A Coreia do Norte perdeu 30% da sua população em consequência dos bombardeamentos estado-unidenses durante a Guerra da Coreia (1950-53). Do seu ponto de vista, os EUA constituem uma ameaça à sua Segurança Nacional. Resistência permanente às ameaças dos EUA durante mais de meio século: os norte-coreanos são estrategas astutos. Eles não cederão.

O que os EUA querem alcançar é um compromisso para um processo unilateral de desnuclearização.

A carta de Kim a Trump foi entregue em mãos por um conselheiro de inteligência de topo, Kim Yong-chol , às 13h00 (ET) de sexta-feira 1 de Junho na Casa Branca.

No momento em que se escreve, o conteúdo da Carta de Kim não foi tornado público. Informações entretanto revelam que a carta (a qual constitui uma resposta à carta anterior de Trump) sugere uma recusa da parte da RDPC de entrar nesta etapa num acordo formal com a administração Trump. Ao mesmo tempo, a RDPC pode estar a avançar certas pré-condições para a condução das negociações subsquentes. 

Sem ter lido a carta, Trump no entanto confirmou que se encontraria com Kim Jong-un em Singapura a 12 de Junho.

Apesar de Trump ter sido informado pelos seus conselheiros, inclusive o secretário de Estado Mike Pompeo, quanto às negociações em curso EUA-RDPC na DMZ (zona desmilitarizada), ele no entanto admitiu que poderia haver "uma grande surpresa" ao ler a carta.

Numa declaração no Relvado Sul da Casa Branca (imagem acima) na presença do enviado norte-coreano, Kim Yong-Chol, Trump disse:

Acho que superamos isso, superamos isso totalmente, e agora vamos negociar e vamos realmente começar um processo, ... Vamos reunir com o presidente em 12 de Junho e penso que provavelmente vai ser um grande êxito – em última análise um processo com êxito".

Enquanto Trump prepara visivelmente o seu "Reality Show" em Singapura, Pyongyang também está a montar a sua própria campanha de relações públicas.

O amigo íntimo de Trump, o bilionário Sheldon Adelson , é dono do Sands Bay hotel e Casino, o qual poderá abrigar alguns dos eventos sociais da Cimeira.

Reunião secreta Kim-Xi-Putin três dias antes da Cimeira de Singapura? 

Segundo informações (não confirmadas), o presidente Kim estará em Qingdao, Província Shandong (RPC), em 9 de Junho, para a 18ª cimeira anual da Organização de Cooperação de Shangai (SCO) encabeçada pelo presidente da China, Xi Jinping. A informação (ainda a ser confirmada) citada pelos media de Formosa aponta para a possível realização de uma "reunião secreta" entre Kim Jong-un, Vladimir Putin e Xi Jinping à margem da cimeira da SCO.

A mesma informação revela que Kim poderá fazer um discurso público no plenário da SCO. Se isto se verificasse, a dinâmica do encontro de Singapura seria afectada.

Deveria ser observado que a anulação do Acordo de Armistício de 1953 exigiria a participação dos seus três estados signatários, nomeadamente os EUA, a RDPC e a China. E nem a China nem a Coreia do Sul foram convidados à Cimeira.

Também convém notar que outra cimeira importante terá lugar em Singapura, a Asian Security Conference (1 de Junho), menos de duas semanas antes da Cimeira Kim-Trump em 12/Junho/2018.

O tom foi agressivo com o secretário da Defesa, Mad Dog Mattis, a ameaçar tanto a China como a Coreia do Norte. 

Wall Street 

As declarações políticas de Trump são muitas vezes reguladas para coincidirem com a actividade da [bolsa] NYSE na Wall Street. O conteúdo da carta de Kim, bem como declarações de Trump respeitantes à mesma, provavelmente afectarão os mercados de acções quando abrirem na manhã de segunda-feira. Aqueles com conhecimento prévio podem fazer apreciáveis ganhos especulativos. 

01/Junho/2018

Ver também: 

Portugal | A chantagem do governo contra os professores

Os sindicatos foram intransigentes? Pelo contrário. Quem se recusou a sair da proposta de recuperar apenas 2 anos, 9 meses e 19 dias foi o governo

Joana Mortágua* | Jornal i | opinião

Na segunda-feira, o ministro da Educação decidiu romper negociações (informais) com os sindicatos relativamente à recuperação do tempo de serviço dos docentes durante os anos em que as carreiras estiveram congeladas, precisamente 9 anos 4 meses e 18 dias. Estava em cima da mesa a forma e o prazo para que quase uma década de trabalho não fosse apagada da carreira dos professores.

Ao fim de alguns meses de conversações, o ministro substituiu a negociação pela chantagem: ou os sindicatos aceitavam a proposta do governo ou os docentes não teriam direito a nada, nenhum dia seria contabilizado. As reações não se fizeram esperar e o tema acabou por ocupar parte do debate com o primeiro-ministro. O desafio foi feito por quase todas as bancadas, mas os milhares de professores que esperavam um desmentido de António Costa ficaram outra vez a ver navios. Costa limitou-se a repetir argumentos gastos e curtos para justificar a atitude do governo. Tentarei responder a todos.

A culpa do apagão é de quem congelou É verdade, o tempo de serviço dos docentes para efeitos de progressão na carreira está congelado desde 2011 e essa norma foi repetida em todos os Orçamentos do Estado até 2018. A redação original desta norma dá azo à interpretação de que se trata de um “apagão”, e não apenas de um “congelamento”. É um pequeno problema de semântica que dificilmente atrapalharia uma vontade política. Aliás, como se viu na proposta avançada pelo governo.

Os sindicatos foram intransigentes Pelo contrário. Quem se recusou a sair da proposta de recuperar apenas 2 anos, 9 meses e 19 dias foi o governo. Os sindicatos apresentaram várias propostas para o faseamento da recuperação, algumas com alcance temporal maior do que a legislatura, para mitigar o impacto financeiro. A solução encontrada pelos sindicatos não era muito diferente da que foi encontrada no passado para recuperar outros períodos de congelamento, como aconteceu no governo de António Guterres.

Assim há igualdade entre funcionários públicos A proposta de recuperação parcial do tempo de serviço proposta pelo governo era uma negação dessa igualdade. Porque pretendia que os professores fossem reposicionados de acordo com as regras de progressão das carreiras gerais. O primeiro-ministro terá de se esforçar muito para explicar onde está a igualdade em repor 100% da carreira a uns e apenas 30% (ou nada) a outros. O discurso sobre “privilégio” e carreiras de progressão “automática” não passa de demagogia. Cada funcionário deve progredir de acordo com a sua carreira, não da forma que mais convém aos brilharetes orçamentais de Mário Centeno.

O Governo cumpriu? Com esta decisão de não contar o tempo de serviço e romper negociações, o governo viola a Lei do Orçamento do Estado, que determina que “a expressão remuneratória do tempo de serviço nas carreiras (...) é considerada em processo negocial com vista a definir o prazo e o modo para a sua concretização, tendo em conta a sustentabilidade e compatibilização com os recursos disponíveis”. E também não respeita a resolução 1/2018 da Assembleia da República, que recomenda a contabilização integral do tempo de serviço. O facto de o PS ter dado o seu voto favorável aos dois diplomas deveria contar alguma coisa em termos de “palavra dada, palavra honrada”.

É demasiado caro A reposição de direitos tem um custo, mas o seu contrário é a austeridade que o país recusou. Dito isto, os números que o governo avança estão claramente inflacionados por ignorarem cálculos de faseamento da valorização remuneratória.

Às vezes, este debate parece ser sobre tudo menos sobre o que interessa: este debate é sobre um professor com 14 anos de serviço estar no mesmo escalão de uma docente que acabou de entrar. É sobre docentes que nunca vão poder chegar nem próximo do topo da carreira. É sobre o reconhecimento de uma década de trabalho e dedicação à escola pública em anos duríssimos, é sobre a vida de cem mil professores que o governo decidiu castigar como efeito colateral de um braço-de-ferro espúrio com os sindicatos.

Sr. ministro, que valente recuo para quem ainda há poucos meses afirmou querer lutar “radicalmente” pelos direitos dos professores.

*Deputada do Bloco de Esquerda

Portugal | Temos a certeza de que não temos população a mais?


Pedro Tadeu | Diário de Notícias | opinião

No domingo à noite o atual comentador do regime, doutor Marques Mendes, protestava na SIC contra o líder do seu partido, o PSD: "Rui Rio não tem causas próprias, não tem uma agenda alternativa, não tem propostas diferentes das do governo", disse, no Jornal da Noite. "Parece uma muleta de António Costa", protestou.

Pois logo no dia seguinte a esta acusação, "bam!", o presidente do Partido Social-Democrata respondeu à crítica do antigo líder do mesmo partido e mandou cá para fora um slogan de campanha estrepitoso: o PSD propõe que, a partir de agora, os pais portugueses recebam dez mil euros por filho.

Lendo as letras miudinhas do documento elaborado por um conselho de sábios (explicado ontem pela jornalista Paula Sá, no Diário de Notícias) percebe-se que, afinal, estes dez mil euros seriam pagos faseadamente até a criança fazer 18 anos, o que diminui um bocado o entusiasmo inicial da ideia...

Ah!, também fui fazer as contas e como, afinal, Rui Rio pretende acabar com o abono de família, a conclusão é que as famílias mais pobres com direito a esse subsídio, se esta proposta fosse para a frente, passariam a receber, ao fim de 18 anos, menos seis mil e 700 euros pelo primeiro filho do que agora recebem, enquanto as mais ricas receberão mais 5200 euros... e isto já é um verdadeiro balde de água fria despejado sobre a bondade do articulado tricotado pelo "Conselho Estratégico do PSD", dirigido por David Justino.

Mas o projeto tem outros detalhes, relevantes, que incluem apoios ao aumento de creches em empresas, um pagamento de 429 euros às grávidas, aumento da licença de maternidade para 26 semanas e algumas outras ideias avulsas.

O pressuposto é este: combater o que Rui Rio define como "hemorragia demográfica".

Não podemos dizer que o tema da demografia seja propriamente inovador: todos os partidos portugueses, há anos, abordam o assunto e ainda há poucos dias o primeiro-ministro António Costa veio defender um aumento de imigração para ajudar a resolver a questão.

Sendo assim, e aplicando os critérios de boa oposição definidos por Marques Mendes, estas propostas não podem ser catalogadas como "causas próprias" do PSD, não definem uma "agenda alternativa" às dos outros partidos mas podem ser consideradas "diferentes" das do governo. Rui Rio acerta, portanto, um em três.

Mas mais importante do que validar as estratégias da politicazinha cá de casa ou mesmo da apreciação do mérito de cada uma das propostas partidárias que venham a existir para combater a "hemorragia demográfica", gostava de perceber melhor a dimensão e a previsão de consequências que essa diminuição e envelhecimento da população podem trazer.

Não me parece rigoroso ver o que se passou na última meia dúzia de anos. Para perceber com rigor o que se passa, temos de analisar ciclos maiores. Vamos ver os últimos 30 anos.
É totalmente verdade que cada vez nascem menos crianças em Portugal: em 1987 foram 123 mil, em 2007 102 mil e no ano passado 86 mil. Mas a população não diminuiu: em 1987 éramos dez milhões, em 1997 dez milhões e cem mil e em 2017 serão dez milhões e 300 mil.

Já lemos uma explicação para isto: o aumento da esperança de vida justifica a subida populacional. Há mais idosos, muitos deles reformados e pensionistas e, como diminuem os jovens, a sustentabilidade da Segurança Social e a pressão financeira sobre o Serviço Nacional de Saúde fazem temer uma rutura desses sistemas.

Mas isto não é ver, apenas, uma parcela do problema? Não estamos a analisar o futuro com pressupostos do passado?

Por exemplo: num mundo revolucionado pela Inteligência Artificial (IA) e pela automação, que aí vêm a toda a velocidade e que vão comer milhões de empregos, de forma imediata, a motoristas, caixas de supermercado, maquinistas, bancários ou, até, cirurgiões, será melhor ter exércitos de desempregados de longa duração, muitos deles jovens, do que uma legião de idosos reformados? A contração demográfica não pode ser uma ajuda para solucionar estes novos problemas? O aumento de riqueza e do PIB que essas novas tecnologias proporcionarão não deveriam ajudar a pagar as reformas dos mais velhos, em vez de pagar a inatividade dos mais novos? Não será isso, do ponto de vista das relações sociais entre gerações, entre classes, muito mais suportável?

Imaginemos, otimistas, que essa mudança no mercado de trabalho é compensada por um aumento de qualificação da juventude de tal forma sofisticada que permite arranjar novos empregos onde a IA não atua. Esse mundo, quase ideal, será, à luz dos critérios dos nossos dias, um mundo de produtividade superlativa.

Será que, neste caso, a equação sobre a demografia portuguesa muda? Ou será que o problema da Segurança Social e da Saúde deixa de se colocar porque as contribuições e os impostos destes trabalhadores e das suas empresas, numa economia superacelerada, superprodutiva, super-rentável, pagará com facilidade esse custo, mesmo que o número de reformados suba exponencialmente?

O que vamos enfrentar no futuro não se trata, antes, de um problema clássico de divisão da riqueza criada, em vez de uma tragédia social suscitada por uma "hemorragia demográfica"? Não estamos aqui a iludir o verdadeiro problema?

Voltemos a olhar para o ciclo de 30 anos: acontece que a população ativa portuguesa, a que pode fazer descontos para a Segurança Social e pagar impostos para a Saúde, subiu, de 1987 até agora, 419 mil pessoas, enquanto a idosa, a que recebe pensões e reformas, subiu 917 mil. A diferença, numa população média de dez milhões, é de apenas 498 mil pessoas.

É assim uma diferença tão dramática que uma gestão assisada dos recursos existentes não possa acomodar?

Afinal, o PIB per capita em 1987 era de 3318 euros e agora é de 17 964 euros, quase cinco vezes e meia mais... Isto não conta para a análise do problema?

Em média as mulheres portuguesas têm 1,23 filhos. As angolanas 6,2. Prevê-se que a população portuguesa, em 2050, seja de nove milhões e cem mil pessoas, a mesma que teve em 1975. A angolana, que ronda os 30 milhões, será nessa altura de 68 milhões, um valor inimaginável na história do país. Este é um exemplo do que se passa no mundo sobre a diferença demográfica entre países ditos "desenvolvidos" e os ditos "emergentes".

O mundo tem atualmente 7600 milhões de habitantes e prevê-se que em 2100 chegue a 11 200 milhões. Os recursos do planeta Terra não estão a chegar para alimentar a população terrestre. Mesmo o aumento da produção agrícola previsto não evitará a fome que atinge, atualmente, 805 milhões de pessoas. E não sabemos claramente se todos terão acesso a água potável ou energia. Sabemos é que o planeta, desde o ano passado, entrou em défice e que gastamos mais recursos naturais do que a Terra é capaz de produzir.

E as alterações climáticas aumentam ainda mais a incerteza...

O mundo precisa de controlar o crescimento demográfico - querer aumentá-lo, aqui ou noutros países desenvolvidos, com população envelhecida, não pode ser um erro fatal?

Depois há outro aspeto que não vejo normalmente analisado, a não ser do lado avarento que ameaça com mais cortes de pensões ou com subidas de idade para reforma: com o aumento da esperança média de vida, um homem ou uma mulher de 67 anos têm ainda muito para dar.

O aproveitamento que a sociedade faz destas pessoas tem de ser outro: eles e elas têm todo o direito a reformar-se e a libertar-se de uma série de deveres que a organização formal do trabalho implica. Mas também muitos deles e muitas delas têm desejo de usufruir da reforma de uma forma produtiva, ativa, participativa na vida familiar e social, com uma intensidade que as gerações passadas não conseguiam oferecer.

Seja como consumidores, como excursionistas, como turistas, como voluntários, como conselheiros, como educadores, como trabalhadores em part-time, como diretores de clubes ou associações, como autarcas, seja como for, a participação ativa destes milhões de indivíduos na sociedade produz uma riqueza económica adicional e traduz um contributo para o equilíbrio da vida social que tem de entrar na conta na forma como vemos hoje a demografia e que, no passado, quando falávamos dos "mais velhos", não tinha, de facto, a mesma equação.

Um "velho" de hoje vale economicamente e socialmente muito mais do que um "velho" do passado e, por isso, não podemos olhar para a demografia do século XXI como analisávamos a do século passado.

Portugal teve sempre uma população inferior a nove milhões de pessoas. Só em 1995 chegou aos dez milhões. Temos a certeza de que não temos população a mais?

Portugal | O “jogo” do PS e as cumplicidades com os Donos Disto Tudo


Mário Motta, Lisboa

Francisco Louçã escreve no Expresso um manso alerta para os mais distraídos ou confiantes de que alguma coisa está a mudar no Partido Socialista e a marcha para a viragem à esquerda é imparável. Só ingénuos é que podem acreditar nisso. Entre linhas Louçã parece dizer que há muitos que se devem preparar para uma grande desilusão. O autor escreve mansamente. Nós não.

O PS é o PS, consultem o historial isento – se existir – e logo perceberão que atinge melhores e até boas eleições quando governos da direita radical (CDS) ou de pantufas (PSD) começa a esbulhar e reprimir demasiado os portugueses. Vence eleições mas raramente atinge maiorias absolutas. Logo de seguida é o PS que dá as mãos às direitas com o nefasto Bloco Central e faz que alivia as vidas dos portugueses mas pouco ou nada alivia. E por uns tempos o que prevalece é a cosmética que encobre o verdadeiro e histórico PS alinhado mais à direita que ao socialismo. 

O PS é de alguns Francisco Assis com várias caras. Baralha e volta a dar cartas viciadas… e lá vai fazendo umas coisitas positivas para baralhar as hostes. Para os ditos socialistas do topo da organização o jogo preferido é o mesmo do da direita: põe, tira, deixa, rapa. E é como os portugueses estão em quase todos os níveis das suas vidas, rapados. Mas talvez muito esperançados, apesar de saberem que as migalhas que agora caíram por “bondade” deste governo PS vão ser rapadas para sustentar os milhões das corrupções, das dádivas a banqueiros e bancos, etc. Para esses há sempre dinheiro... Muitos de nós sabemos tudo isso. Que é assim que sempre acontece… Mas quase sempre caímos na esparrela de acreditar nos bandos de intrujões que se instalaram nos poderes e por entre eles dividem pataca a ti, pataca a mim… Chuchemos no dedo, porque a cobardia é enorme para fazermos o manguito e revoltarmo-nos de facto. Agindo de acordo com o que é a democracia e não regimes de faz-de-conta, de benefícios a elites parasitárias.

No Expresso, Francisco Louçã aborda a jogada do PS neste momento e deixa perceber momentos seguintes. O que sabemos é que o PS continua desonesto, está recheado de pessoas desonestas que prevalecem nas suas políticas de direita, que não permitem que o alinhamento à esquerda se concretize. O PS sempre teve e tem cumplicidades com os mais ricos de Portugal, que o sustentam, que o compraram já lá vão muitos anos. Não merece a confiança dos que querem um Portugal equilibrado, democrático, justo, de políticas transparentes, sem pobreza extrema, sem tão flagrantes diferenças entre ricos e pobres, entre os Donos Disto Tudo e os que realmente trabalham e produzem riqueza que maioritariamente reverte só para uns quantos privilegiados, os DDT. Com esses existem cumplicidades inenarráveis. Infelizmente é este o PS. Está à vista e ainda vai estar mais. Os partidos políticos que têm dividido entre si os poderes (do arco da governação) ao longo destas quatro décadas não têm ponta por onde se lhes pegue.

Vão ao Expresso ler Louçã. Provavelmente não será fácil aceder… Aqui damos-lhe um "cheirinho". Prepare a carteira se quer ler tudo. (MM | PG)
  
Duas parece coincidência, três parece intenção

Francisco Louçã | Expresso

Se me pergunta se o Governo está a provocar crises e crispações, a resposta é sim. Está, sabe o que faz e é mesmo isso que quer. É uma estratégia e está a ser seguida meticulosamente.

Começou no congresso do PS, que foi o que foi: a festa de um partido que sonha com a maioria absoluta, um príncipe a promover o recentramento político com o ousado elogio da saudosa terceira via e o líder a prometer um programa para o regresso dos jovens emigrados, tudo inaugurado com um bandeirante espetáculo a La Feria e servido com especulações sobre as linhagens da sucessão longínqua. Acha pouco? O congresso gostou.

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Portugal | Inquilinos dizem que projeto do PS para travar despejos é "limitadíssimo"


A Associação de Inquilinos Lisbonense (AIL) afirmou hoje, no parlamento, que o projeto do PS para travar o despejo de arrendatários idosos ou com deficiência "não resolve problema nenhum", por ser "limitadíssimo", considerando que deveria abranger todos inquilinos.

"Face aos desmandos que se continuam a verificar -- despejos contínuos e em larga escala, oferta reduzida, rendas cada vez mais caras --, a AIL entende insistir na necessidade de se revogar a legislação do arrendamento", disse o presidente desta associação, Romão Lavadinho, indicando que com a proposta da PS "vai continuar a haver despejos" no arrendamento habitacional, bem como no arrendamento não habitacional.

No âmbito de uma audição parlamento no grupo de trabalho da Habitação, Reabilitação Urbana e Políticas de Cidades, o representante dos inquilinos de Lisboa defendeu que é preciso uma nova legislação do arrendamento urbano, que garanta "um maior equilíbrio entre direito e deveres dos inquilinos e dos proprietários".

Neste sentido, Romão Lavadinho apresentou como principais princípios da nova legislação que o valor das rendas seja de acordo com os rendimentos das famílias e que o Estado disponibilize, em conjunto com as autarquias, habitação pública como forma de regular o mercado e não deixar aos proprietários privados essa tarefa.

No plano administrativo, os municípios devem assegurar "o registo municipal, prévio e obrigatório, de todos os locados que se destinem ao arrendamento habitacional, sem o qual o locado não poderá ser arrendado", e "o registo obrigatório dos contratos de arrendamento, alterações ou aditamentos", propôs o presidente da AIL, referindo que existe "uma série de ilegalidades" neste âmbito.

O representante dos inquilinos de Lisboa sugeriu ainda a criação de um seguro de renda, da responsabilidade do senhorio, e de um seguro multirriscos, da responsabilidade do arrendatário, ambos obrigatórios para todos os arrendamentos.

Em termos fiscais, Romão Lavadinho destacou como medidas, em sede de IRS, para a propriedade "benefícios fiscais progressivos de modo a premiar e a incentivar a continuidade e renovação dos contratos de arrendamento", para os inquilinos "dedução de 15% de todas as rendas habitacionais pagas".

O presidente da AIL apontou ainda para a necessidade de "reduzir o IMI e o AIMI", de forma progressiva dos locados quando efetivamente arrendados pelo prazo de cinco anos, atribuindo aos municípios a competência de decidir sobre estas reduções ou, eventualmente, isenções.

Relativamente aos direitos a salvaguardar no arrendamento habitacional, o representante dos inquilinos disse que é preciso garantir a continuidade dos contratos de arrendamento celebrados antes da entrada em vigor do Regime do Arrendamento Urbano (RAU), de novembro de 1990, ou do Novo Regime do Arrendamento Urbano (NRAU), de agosto de 2012, "independentemente da idade, do grau de deficiência ou do rendimento dos inquilinos", pelo que a oposição à continuidade deve ser fundamentada e confirmada.

Neste âmbito, Romão Lavadinho advogou que é necessário "fiscalizar e intervir, a nível dos municípios, a obrigatoriedade da conservação regular do edificado e dos locados arrendados".

No caso de obras, a AIL reforçou que se deve garantir o realojamento dos inquilinos nos locados após as intervenções de reabilitação ou, em alternativa, "indemnizações no montante mínimo de 60 meses de renda no valor mínimo de 1/20 do valor patrimonial tributário (VPT) atualizado do locado".

Lusa | em Notícias ao Minuto

Adeus Sporting | Jorge Jesus confirmado no Al-Hilal


Clube da Arábia Saudita já confirmou a assinatura com o antigo treinador dos leões

Jorge Jesus já é treinador do Al-Hilal. O clube saudita confirmou a contratação do português com um vídeo em que mostra o técnico com os dirigentes do clube.

"O presidente da direção do Al Hilal, Sami Bin Abdullah Al-Jaber, assinou um contrato com o treinador português Jorge Jesus para liderar a equipa técnica do Al Hilal por um ano, com outro de opção", anunciou o clube saudita.

Ainda segundo o Al Hilal, o contrato "foi assinado numa cerimónia que teve lugar em Zurique, na Suíça".

O clube saudita já havia, antes dado as "boas-vindas" a Jorge Jesus, num vídeo também colocado no Twitter.

Ainda na sua conta no Twitter, o Al Hilal aponta Jesus como o "novo treinador da equipa principal" do clube, desejando-lhe "o melhor" e frisando que o técnico luso é "Hilali".

O currículo do técnico também é apresentado, com os seus 10 títulos pelo Benfica, a Taça Intertoto pelo Sporting de Braga e os dois troféus nos leões.

Jesus, recorde-se, viajou esta terça-feira de manhã para Zurique para ultimar as negociações com o clube saudita.

Ricardo Santos Fernandes | Notícias ao Minuto | Foto: Global Imagens

Trump suspende transferência de embaixada para Jerusalém


O Presidente norte-americano assinou um documento que suspende, durante seis meses, a transferência da embaixada dos EUA em Israel, apesar de ter inaugurado em maio uma nova instalação diplomática em Jerusalém.

A Casa Branca confirmou que Donald Trump assinou o despacho na terça-feira, que mantém suspensa a aplicação de uma lei de 1995 que ordena ao executivo de Washington a transferência da embaixada em Israel de Telavive para Jerusalém.

Esta aparente contradição de Trump com a sua própria política responde a uma exigência incluída naquela norma, que estabelece que se o Presidente não cumprir a transferência da embaixada para Jerusalém tem de dar uma explicação ao Congresso, de seis em seis meses, se não quiser perder fundos para a manutenção das embaixadas em todo o mundo.

Apesar de o Governo de Trump ter inaugurado formalmente a delegação diplomática em 14 de maio passado, teve de cumprir a determinação legal, uma vez que a residência do embaixador David Friedman continua em Telavive.

"A definição de 'embaixada norte-americana' inscrita na Lei da Embaixada, em Jerusalém inclui tanto as instalações da missão diplomática como a residência do embaixador", explicou à agência Efe uma porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

Na ordem que assinou, Trump usou a mesma justificação que tinham usado os seus três antecessores para não transferir a embaixada para Jerusalém, a saber, a necessidade de "proteger os interesses de segurança nacional dos EUA".

No documento, "o Presidente reconhece que ainda tem de se manter suspensa a restrição dos fundos incluída na lei, até que se possa resolver o caso da residência do chefe da missão", acrescentou aquela porta-voz.

Esta situação não implica que se esteja a recuar na transferência da embaixada e a Casa Branca tenciona "trabalhar com o Congresso para eliminar a necessidade" de o Presidente ter de assinar mais documentos destes, adiantou.

A Casa Branca admite que serão precisos anos -- talvez uma década -- para construir um edifício que permita transferir para Jerusalém o pessoal diplomático que está a trabalhar em Telavive.

Atualmente, são menos de 10 os funcionários que foram transferidos para Jerusalém.

Lusa | em Notícias ao Minuto

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