quarta-feira, 22 de agosto de 2018

São Tomé/eleições | ADI garante que vai ganhar tudo no dia 7 de Outubro

Abnildo Oliveira, deputado da nação, e porta voz do partido ADI, garantiu hoje que o seu partido tem convicção e confiança de que «ganharemos todas as câmaras distritais de São Tomé», afirmou.

O porta voz da ADI, deu tal garantia após ter depositado no Tribunal da Primeira Instância as candidaturas do seu partido às eleições autárquicas de 7 de Outubro próximo. Acompanhado pelo seu companheiro de partido Domingos Boa Morte, o porta voz da ADI, explicou que a lista de candidatos ao poder local que a ADI apresentou ao Tribunal, impõe renovação e injecção de sangue novo no poder local.

Nas eleições locais de outubro de 2014, a ADI ganhou 5 das 6 Câmaras distritais da ilha de São Tomé. Só o poder local de Caué no sul da ilha escapou ao domínio do partido do Primeiro Ministro Patrice Trovoada.

Desta vez, a injecção de sangue novo no poder autárquico, implica o afastamento do actual Presidente da Autarquia de Água Grande que envolve a capital do país. Ekneide Santos, que fez dois mandatos como Presidente do poder local em Água Grande, deve segundo a ADI partir para outros voos. «De facto o nosso Presidente Kiney não será candidato. Não faz parte da lista. Porque entendemos que acumulou experiência nos últimos 8 anos, e achamos que ele deve partir para outros voos, para servir São Tomé e Príncipe noutras funções», pontuou Abnildo Oliveira.

ADI, já não conta com Ekneide Santos, para dirigir o poder local de Água Grande, o mesmo destino é traçado aos outros Presidentes das Autarquias que o partido conquistou em 2014.

Segundo Abnildo Oliveira, só o actual Presidente da Câmara Distrital de Mé-Zochi, que exerce a função há cerca de 4 meses, e em substituição da embaixadora Isabel Domingos, merece confiança da ADI como candidato ao pelouro no segundo distrito mais populoso do país.

Também o Presidente da autarquia de Cantagalo, Paulo Bacuda, continua na lista.

Os Presidentes das Autarquias de Lembá, Lobata, e Água Grande, devem começar a preparar as suas malas para partir em novos voos, a partir de 7 de Outubro próximo.

Abel Veiga | Téla Nón

ONU espera transparência nas eleições em São Tomé e Príncipe


As Nações Unidas apelam às forças políticas são-tomenses para que as eleições marcadas para 7 de outubro decorram com "transparência e credibilidade".

Lançamos um apelo a todas as forças políticas deste país para que as eleições que terão lugar no dia 07 de outubro se desenrolem nas condições da paz, estabilidade, transparência e de credibilidade", disse o representante especial do secretário-geral da ONU para a África Central, François Fall, num comunicado emitido na sexta-feira (17.08).

O diplomata das Nações Unidas foi recebido pelo Presidente são-tomense Evaristo Carvalho, no âmbito de uma missão de auscultação junto das autoridades locais, dos partidos políticos e a sociedade civil organizada.

"Tomamos, com grande satisfação, boa nota da vontade das autoridades de convidarem observadores internacionais para assistir a estas eleições, o que denota a vontade do governo de organizar as eleições de forma transparente", disse François Fall à imprensa à saída do encontro com o chefe de Estado.

O enviado especial de António Guterres garantiu que as Nações Unidas "estão determinadas a dar todo o apoio necessário" ao processo eleitoral, razão pela qual fornece assistência para o reforço das capacidades das instituições encarregues de organizar o escrutínio.

"Vamos encontrar com os partidos políticos. Pensamos que a nossa missão será frutífera para vermos com as coisas se desenrolam no terreno. Estamos encorajados com os preparativos em curso", acrescentou.

"Como sabem, estamos nas vésperas das eleições legislativas e das eleições locais e recebemos do senhor Presidente da República a garantia quanto à boa preparação dessas eleições", explicou.

Insegurança em São Tomé

A deslocação a São Tomé do enviado especial do secretário-geral da ONU acontece cerca de 15 dias depois do governo são-tomense afirmar que impediu uma "ação terrorista" que visava o sequestro do Presidente da República, do presidente da Assembleia Nacional e a eliminação física do primeiro-ministro e chefe do Governo. 

"Nesta operação foram detidos por enquanto três indivíduos de nacionalidade espanhola e dois cidadãos nacionais", indica o Governo, num comunicado do Conselho de Ministros.

Em junho, o Governo também tinha anunciado a detenção do deputado do maior partido da oposição, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata, Gaudêncio Costa, ex-ministro da Agricultura, e de Ajax Managem, um sargento da Forças Armadas, por "tentativa de subversão da ordem constitucional".

"Aproveitamos essa oportunidade para transmitir a preocupação das Nações Unidas na sequência das informações de desestabilização contra o governo", referiu François Fall, reafirmando que a ONU "se opõe a toda a forma de violência, a toda a forma de se chegar ao poder pela força".

Agência Lusa | Deutsche Welle

Angola pede mais dinheiro à China


Luanda prepara-se para contrair mais um empréstimo chinês. O acordo deverá ser assinado em setembro, quando for realizado o Fórum de Cooperação China-África. Governo angolano também solicitou apoio financeiro ao FMI.

De 3 a 4 de setembro, Angola participa no Fórum de Cooperação China-África, com uma delegação que será chefiada pelo Presidente João Lourenço. Espera-se que sejam negociados mais de 10 mil milhões de euros. A linha de crédito servirá para construção de infraestruturas como o novo Aeroporto Internacional de Luanda.

Em declarações à DW África, o economista Francisco Paulo, do Centro de Estudos e Investigação Cientifica da Universidade Católica de Angola, espera que estes investimentos signifiquem mais benefícios para os angolanos. "É importante que este novo governo garanta que esse dinheiro que se vai obter seja aplicado exactamente nas infraestruturas que terão grandes repercussões económicas e sociais", defende.

O economista sublinha que é necessário um "retorno económico e social" deste dinheiro. "Não como aconteceu no consulado anterior, em que gastamos tanto dinheiro, ou pedimos tanto dinheiro à China, para poder fazer a reconstrução das infraestruturas e hoje quase todas elas estão degradadas e é preciso construir novas estradas e pontes, lembra Francisco Paulo. "Temos de saber que esse dinheiro é dívida", acrescenta.

Reconstrução com dinheiro chinês

As relações económicas e comerciais entre Angola e China intensificaram-se em 2002, com o fim da guerra civil. O gigante asiático desembolsou milhares de euros para reconstrução de Angola.

"A reconstrução de Angola não foi feita com dinheiro angolano, foi feita com o empréstimo chinês. Quer dizer que é a China que deteve os seus dinheiros e Angola limitava-se a solicitar destes valores aquilo que precisava reconstruir", lembra David Kissadila, especialista em políticas públicas.

Em 2017, a dívida bilateral e comercial de Angola com a China ascendia a mais de 18 mil milhões de euros.

Apoio do FMI

Por outro lado, o Ministério das Finanças anunciou que o Governo angolano também solicitou apoio financeiro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma equipa do FMI esteve em Luanda no início deste mês.

Francisco Paulo saúde a solicitação do apoio, mas diz que medida peca por tardia. Na opinião do economista, este pedido devia ter sido feito na altura em que se solicitou assistência técnica ao FMI.

Como Angola é um país membro, lembra o especialista, os empréstimos concedidos serão com a taxa mais baixa do mercado. "O FMI também poderá ajudar o Governo angolano a implementar as políticas necessárias para poder equilibrar a balança de pagamentos e poder alcançar a estabilidade macroeconómica que o país precisa", afirma.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Alemanha disponível para cooperar com Angola na defesa


De visita à Alemanha, onde foi recebido com honras militares pela chanceler Angela Merkel, o Presidente João Lourenço tem falado sobretudo de negócios para diversificar a economia angolana, mas também na área da defesa.

É a primeira vez que João Lourenço visita a Alemanha desde que foi eleito Presidente, há um ano. O Presidente angolano vem com uma grande comitiva de ministros e de empresários, e com uma mensagem: vale a pena investir em Angola.

O Presidente não está só à procura de investimentos para diversificar a economia - está também interessado em negócios no setor da defesa: "Estamos a convidar os investidores alemães a trabalharem com o Estado angolano na proteção da nossa costa", disse Lourenço, em Berlim, esta quarta-feira (22.08).

O "fornecimento de embarcações de guerra" para a marinha angolana e "outros meios electrónicos" foram alguns dos exemplos que acompanharam o convite do chefe de Estado aos investidores alemães para ajudar a "controlar melhor esta vasta fronteira marítima, que é uma parte do Golfo da Guiné, cobiçada pelos piratas e pelos terroristas".

Merkel quer ajudar apesar da polémica

Em 2011, a chanceler Angela Merkel esteve em Luanda e propôs a venda de barcos-patrulha alemães. No entanto, a oferta desencadeou uma onda de críticas da oposição na Alemanha e o negócio não avançou.

Merkel disse esta quarta-feira em Berlim que se lembra da controvérsia na altura. Ainda assim, mostrou-se disponível para ajudar Angola a defender a costa marítima. "Pode ser que, agora, sejam concretizados determinados investimentos do lado angolano, e é claro que aí também ficaremos contentes em estabelecer uma parceria se a marinha angolana tomar tais decisões de investimento", disse a chanceler.

Merkel frisou que "não há desenvolvimento sem segurança, nem segurança sem desenvolvimento". A chanceler alemã lembrou ainda o papel de Angola na pacificação da região e disse ter abordado, no encontro com João Lourenço, a situação na República Democrática do Congo (RDC).

As eleições na RDC já foram adiadas várias vezes, mas os congoleses deverão finalmente ir às urnas em dezembro, e o Presidente Joseph Kabila anunciou que não se iria recandidatar.

"Queremos e esperamos que as eleições, no final do ano, decorram de forma pacífica, mas o Presidente também deixou claro que há muitas outras coisas que são importantes para pacificar o Congo, que tem um vasto território", afirmou Merkel.

Diversificar com investimento alemão

À chanceler alemã, o Presidente angolano falou também sobre oportunidades de negócio por explorar, para diversificar a economia.

O volume de negócios entre os dois países rondou os 299 milhões de euros, no ano passado, com Angola a exportar sobretudo petróleo e gás e a Alemanha a exportar automóveis, maquinaria e tecnologia.

João Lourenço diz que Angola quer atrair investimentos privados "praticamente em todos os domínios" da economia. No 7.º Fórum Económico Alemanha-Angola, esta quarta-feira, em Berlim, Lourenço disse que há oportunidades por explorar desde os setores da agricultura e mineração, aos setores da tecnologia e dos transportes.

O Presidente angolano referiu, por exemplo, que gostaria de ver empresários alemães a ajudar a construir ferrovias ou auto-estradas. E deixou uma garantia aos investidores: o ambiente de negócios em Angola está a melhorar, por exemplo, através do combate à corrupção e à impunidade.

"Da nossa parte, temos estado a tomar todas as medidas legais, cambiais, migratórias e outras para melhorar o ambiente de negócios e tornar mais atrativas as condições para o investimento estrangeiro", garantiu o chefe de Estado.

Lourenço salientou que Angola "está a viver um processo de renovação e abertura ao exterior". A visita do Presidente angolano à Alemanha segue-se a outras deslocações, à França e à Bélgica. Esta quinta-feira, Lourenço encontrar-se-á com o homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier.

Guilherme Correia da Silva | Deutsche Welle

A estranha sociedade dos empregos de merda


E se o capitalismo, para se manter sem traumas, tiver multiplicado ocupações inúteis, normativas e autoritárias? E se esta tendência estiver associada ao rentismo, a faculdade de enriquecer sem trabalhar? E se for possível reverter tudo isso?

David Graeber, em entrevista a Chris Brooks | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho

Seu trabalho não faz sentido? Você sente que seu cargo poderia ser eliminado sem que fizesse a menor falta? Talvez, pensaria você, a sociedade pudesse ser um pouco melhor se seu trabalho nunca tivesse existido? Se sua resposta a essas perguntas é “sim”, console-se. Você não está só. Cerca de metade do trabalho a que a população trabalhadora se dedica diariamente poderia ser considerada “de merda” [bullshit jobs] – diz David Graeber, professor de antropologia na London School of Economics e autor de Bullshit Jobs: A Theory [algo como “Empregos de Merda: uma Teoria”].

Para Graeber, as mesmas políticas de livre mercado que nas últimas décadas tornaram a vida e o emprego mais difíceis para tantas pessoas das classes trabalhadoras produziram, simultaneamente, administradores, telemarqueteiros, burocratas de seguradoras, advogados e lobistas, que não fazem nada de útil o dia inteiro, com regalias. O jornalista Chris Brooks, especializado em questões de Trabalho, entrevistou David Graeber para entender como tantos empregos de merda passaram a existir e o que isso significa para as lutas laborais.

Em seu livro, você faz uma distinção entre “empregos de merda” [bullshit jobs] e as “merdas de emprego” [shit jobs]. Pode falar um pouco sobre a diferença entre os dois?

É bem simples: “merdas de emprego” são apenas trabalhos ruins. Ninguém gosta de tê-los. Pessoas que ficam com o corpo quebrado, são mal pagas, não são reconhecidas, são tratadas sem dignidade e respeito… Na maioria das vezes, “merdas de emprego” não são besteira, no sentido de irrelevantes ou despropositados — porque envolvem fazer algo que realmente precisa ser feito: levar as pessoas nos lugares, construir coisas, cuidar das pessoas, limpar sua sujeira…

O “empregos de merda” são frequentemente bem pagos e incluem muitos benefícios. Você é tratado como se fosse importante e de fato estivesse fazendo alguma coisa que deve ser feita – mas na verdade, você sabe que não. Por isso, são conceitos opostos.

Quantos desses empregos de merda você acha que poderiam ser eliminados e que tipo de impacto isso poderia ter na sociedade?

Muitos deles – e essa a questão. Trabalhos de merda são aqueles em que a pessoa que os faz acredita secretamente que, se o emprego desaparecesse (ou, às vezes, o setor econômico inteiro), não faria nenhuma diferença. Quem sabe (no caso, por exemplo, de telemarqueteiros, lobistas ou muitas empresas de direito cororativo), o mundo seria um lugar melhor.

E isso não é tudo: pense em todas as pessoas que fazem trabalho real em apoio a empregos de merda, limpando os edifícios de escritórios, fazendo a segurança ou controle de pragas para eles, correndo atrás dos danos psicológicos e sociais provocados nos seres humanos por pessoas trabalhando duro em nada. Estou certo que poderíamos facilmente eliminar metade do trabalho que estamos fazendo e que isso teria grandes efeitos positivos em tudo — de arte e cultura a mudanças climáticas.

Fiquei fascinado pela ligação que você faz entre o aumento de empregos de merda e o divórcio entre a remuneração e a produtividade do trabalhador.

Para ser honesto, não tenho certeza se é tão novo assim. A questão não era tanto sobre produtividade, no sentido econômico, mas de benefício social. Se alguém está limpando, ou cuidando de um doente, ou cozinhando, ou dirigindo um ônibus, você sabe exatamente o que eles estão fazendo e por que razão isso é importante. Isso não é absolutamente tão claro para um gerente de marca ou um consultor financeiro. Há sempre algo como uma relação inversa entre a utilidade de uma determinada forma de trabalho e a remuneração. Há algumas exceções, poucas e bem conhecidas, tais como médicos e pilotos.

O que aconteceu não foi tanto uma mudança de padrão, uma vasta inflação da quantidade de trabalhos inúteis e relativamente bem-pagos. Fala-se, enganosamente, no aumento do setor de serviços, mas a maior parte dos empregos neste setor é útil e mal paga (merda de serviço). Estou me referindo a garçonetes/criadas, motoristas de uber, barbeiros e semelhantes. Sua presença não mudou. O que realmente aumentou é o número de empregos de escritório, administrativos e gerenciais, que parecem ter triplicado na proporção geral de trabalhadores, no último século. É aí que entram os empregos de merda.

Kim Moody argumenta que o aumento da produtividade e dos baixos salários não tem tanto a ver com automação, mas com a intensificação das técnicas de gestão, tais como produção lean e Just-in-time, além das tecnologias de vigilância que policiam os trabalhadores. Se isso for verdade, é como se estivéssemos presos em um círculo vicioso de empresas que criam mais trabalhos para gerenciar e policiar os trabalhadores, tornando seus empregos mais sem sentido. O que você pensa sobre isso?

Bem, isso é certamente verdade se estivermos falando da Amazon, UPS ou Wallmart. É possível argumentar que os postos de supervisão, que aceleram o trabalho, não são na verdade sem sentido, fazem alguma coisa, ainda que não muito interessante para a sociedade. Na fábrica, os robôs realmente provocaram ganhos maciços de produtividade na maioria dos setores, porque os trabalhadores são reduzidos – embora os poucos que restam sejam melhor remunerados que os trabalhadores da maioria dos setores em geral.

Porém, em todas essas areas há a mesma tendência a acrescentar níveis inúteis de gestores entre o patrão, ou as pessoas do dinheiro, e os trabalhadores de fato. Em grande parte sua “supervisão” não acelera nada, antes diminui a velocidade. Isso se torna mais verdadeiro conforme se dirige em direção ao setor de cuidados – educação, saúde, serviços sociais ou outros muito semelhantes.

Criam-se empregos administrativos sem sentido e a concomitante besteira do trabalho real – forçando enfermeiras, médicos, professores e professores a preencher infinitos formulários durante todo o dia – (digo concomitantemente porque muito disso, embora justificado pela digitalização, está realmente lá apenas). para dar aos administradores inúteis algo para fazer), tem o efeito de reduzir a produtividade massivamente.

Daí a criação de empregos administrativos irrelevantes e a concomitante merdificação do trabalho real. Ela obriga enfermeiros, médicos ou professores a preencher incontáveis formulários o dia inteiro e tm o efeito de reduzir maciçamente a produtividade. Usei a expressão “concomitante” porque muitas destas tarefas, embora justificadas pela digitalização, existem apenas para dar o que fazer aos administradores inúteis.

Isso é o que as estatísticas mostram de fato – a produtividade disparando na indústria, e com ela os lucros, mas a produtividade em Saúde e Educação caindo. Ou seja, os preços sobem e os lucros se mantêm em grande parte pela redução dos salários. O que, por sua vez, explica a razão de haver tantas greves de professores, enfermeiras e até médicos e professores universitários em tantas partes do mundo.

Outro argumento que você usa é que a estrutura da corporação moderna recorda mais o feudalismo que o ideal e hipotético capitalismo de mercado. O que quer dizer com isso?

Quando eu estava na universidade, me ensinaram que capitalismo significa que há capitalistas, os quais detêm os meios de produção, tais como fábricas; e que eles empregam gente para fazer coisas e em seguida vendê-las. Estes capitalistas, segundo a teoria, não podem pagar muito a seus trabalhadores e ficar sem lucro, mas devem pagá-los pelo menos o suficiente para que possam comprar as coisas que a fábrica produz. Feudalismo, em contraste, é quando você obtém seus ganhos lucros diretamente — cobrando aluguel, taxas e dívidas, transformando as pessoas em devedoras, ou estorquindo-as.

Bem, atualmente a grande maioria dos lucros corporativos não vêm da produção ou venda de produtos, mas das “finanças”, o que é um eufemismo para dívidas de outras pessoas. Cobrar aluguel, taxas, juros e o que mais. É feudalismo em sua definição clássica, “extração direta-política”, como disse alguém.

Isso também significa que o papel do Estado é  muito diferente. No capitalismo clássico, ele apenas protege sua propriedade e talvez policie a força de trabalho de modo que ela não fique muito indócil. Mas no capitalismo financeiro, você está extraindo seus lucros por meio do sistema legal. Por iso, as normas e regulamentos são absolutamente cruciais, você precisa que o governo o apoio, à medida em que extorque as pessoas por causa de suas dívidas.

Isso também ajuda a explicar porque os estusiastas do mercado estão errados quando alegam que é impossível, ou improvável, um capitalismo com empregos de merda.

Exatamente. Por incrível que pareça, os ultra-liberais [libertarians, na terminologia anglófona] e os marxistas tendem a me atacar por esses motivos. Ambos ainda estão operando basicamente com uma concepção de capitalismo como existia talvez nos anos 1860: um monte de pequenas empresas competindo, produzindo e vendendo coisas. Certo, isso ainda é verdade se falamos, digamos, de restaurantes tocados pelos donos, e concordo que tais restaurantes não tendem a contratar pessoas de que não necessitem de fato.

Mas se você está falando das grandes corporações que dominam hoje a economia, elas operam por uma lógica completamente diferente. Se os lucros são extraídos por meio de tarifas, alugueis, rendas e pela criação e execução de dívidas; se o Estado está intimamente envolvido na extração do excedente, a diferença entre as esferas econômica e política tende a se dissolver Comprar a lealdade política para seus esquemas de extração rentista é, por si só, um valor econômico.

Há também raízes políticas para a criação de empregos de merda. Em seu livro, você retoma uma citação impressionante do ex-presidente dos EUA, Barack Obama. Você poderia falar sobre ela e quais suas implicações para o apoio política a empregos de merda?

Quando eu sugeri que os empregos de merda resistem também porque são politicamente convenientes para muita gente poderosa, fui acusado de ser um teórico da conspiração. Na verdade, estava de fato escrevendo fosse uma teoria anticonspiratória, investigando a razão pela qual essas pessoas poderosas não tentam reagir à situação que descrevo.

A citação do Obama foi como uma prova concreta com relação a isso. Basicamente ele disse: “Todo mundo diz que o plano de saúde pago por indivíduos seria muito mais eficiente. Talvez fosse, mas pense, temos milhões de pessoas trabalhando em todas essas empresas privadas de saúde concorrentes, por causa de toda essa redundância e ineficiência. O que vamos fazer com essas pessoas?” De modo que ele admitiu que o livre mercado era menos eficiente (na Saúde, pelo menos) e essa é precisamente a razão pela qual ele o preferia. Por manter os empregos inúteis…

Agora, é interessante que nunca se ouçam políticos falar desse modo sobre empregos industriais. Há sempre a “lei do mercado” para eliminar tantos quanto possível, ou cortar seus salários. Se eles sofrem, bem, não há nada que se possa fazer. Por exemplo, Obma não parecia ter nenhuma preocupação semelhante a respeito dos trabalhadores da indústria automobilística, que foram demitidos ou tiveram que fazer enormes sacrifícios depois do resgate do setor. Ou seja: alguns empregos importam mais que outros.

No caso de Obama, é bem claro por que: como notou recentemente Tom Frank, o Partido Democrata tomou uma decisão estratégica nos anos 1980: abandonou a classe trabalhadora como seu eleitorado principal e assumiu as classes gerenciais profissionais. Essa é sua base agora. Mas claro que é exatamente nessa área que os trabalhos de merda estão concentrados.

Em seu livro, você ressalta que não são só o Partido Democrata está institucionalmente implicado em empregos de merda, mas também os sindicatos. Pode explicar como os sindicatos estão investindo na sustentação e proliferação de empregos irrelevantes, e o que isso significa para os ativistas do setor?

Bem, eles costumavam falar em protecão [featherbedding], insistindo em contratar trabalhadores desnecessários. Nesses casos, claro: qualquer burocracia tenderá a acumular um certo número de postos de merda. Mas o que eu falava, principalmente, era simplesmente a demanda constante por “mais empregos” como a solução para todos os problemas sociais.

É sempre uma coisa que você pode exigir, à qual ninguém pode se opor, uma vez que não está reivindicando um brinde, mas algo para poder ganhar a vida. Até mesmo a famosa Marcha sobre Washington, de Martin Luther King, foi anunciada como uma marcha por “Empregos e Liberdade”. Se você tem apoio sindical, a demanda por empregos tem de estar presente. E, paradoxalmente, se as pessoas estão trabalhando de forma independente, como freelancers, ou mesmo em cooperativas, elas não estão em sindicatos, certo?

Desde os anos 60 tem havido uma linha radical que vê os sindicatos como parte do problema, por essa razão. Mas penso que precisamos perceber a questão em termos mais amplos: como os sindicatos, que no passado faziam campanha por menos trabalho, menos horas, passaram essencialmente a aceitar a estranha negociação entre puritanismo e hedonismo na qual o capitalismo de consumo está baseado. Ela sugere que o trabalho deveria ser “duro” (daí boas pessoas serem “pessoas que trabalham duro”) e que o objetivo do trabalho é a prosperidade material, que precisamos sofrer pra ganhar nosso direito de consumir brinquedos.

Você fala longamente em seu livro sobre quão errada é a concepção tradicional de classe trabalhadora. Especificamente, você argumenta que empregos da classe trabalhadora têm se parecido mais com o trabalho tipicamente associado “às mulheres do que com o trabalho associado aos homens, nas fábricas. Isso significa que trabalhadores no trânsito têm mais em comum com o trabalho de cuidado das professoras do que com o de pedreiros. Você pode falar sobre isso e como se relaciona com os empregos de merda?

Temos essa obsessão com a ideia de “produção” e “produtividade” (que por sua vez tem que “crescer”, daí “crescimento”) – que eu realmente penso ser teológica em sua origem. Deus criou o universo. Os humanos foram condenados a imitar Deus criando seu próprio alimento e vestimenta, etc, com dor e tristeza. Então pensamos no trabalho principalmente como produtivo, fazendo coisas – cada setor é definido por sua “produtividade”, até mesmo o imobiliário! Porém, até mesmo uma reflexão instantânea poderia mostrar que na maioria dos trabalhos não se trata de “produzir” nada, é limpar e polir; dar assistência e cuidar; ajudar e alimentar e consertar; ao contrário, cuidar das coisas.

Você faz um copo uma vez. Você o lava mil vezes. Isso é o que sempre foi a maior parte das ocupações da classe trabalhadora. Sempre houve mais babás, engraxates, jardineiros,  limpadores de chaminés, profissionais do sexo, lixeiros e empregadas domésticas do que operários de fábrica.

E mesmo os que trabalham nos transportes, que aparentemente nada têm para fazer, agora que as bilheterias estão sendo automatizadas, estão lá no caso de crianças se perderem, de alguém ficar doente, ou para conversar com algum bêbado que esteja atrapalhando as pessoas… (Aqui o problema é que o público foi condicionado a pensar como patrões pequeno-burgueses, que não podem aceitar pessoas cuja função é apenas estar ali, no caso de haver algum problema, e possam estar sentadas, jogando cartas o dia inteiro. Então, espera-se que finjam estar trabalhando o dia inteiro.) Ainda deixamos isso fora de nossas teorias de valor, que são todas sobre “produtividade”.

Sugiro o contrário, como sugeriram economistas feministas. Poderíamos pensar mesmo em trabalhadores de fábrica como uma extensão do trabalho de cuidar. Você só deseja fazer carros, ou pavimentar estradas, porque cuida que as pessoas possam chegar aonde querem ir. Certamente alguma coisa assim sustenta o senso de “valor social” que as pessoas têm sobre seu trabalho – ou até mais, que ele não tem nenhum valor social, se as pessoas fazem trabalhos de merda.

Mas, penso, é muito importante começar a reconsiderar o valor do nosso trabalho. Essas coisas crescerão à medida em que a automação torne mais importante o trabalho de cuidar. Não somente porque ele tem o efeito paradoxal de fazer com que esses setores sejam menos eficientes (porque cada vez mais pessoas têm de trabalhar naqueles setores, para alcançar os mesmos efeitos). Nem porque, como resultado, essas são as zonas de real conflito. Mas especialmente porque essas são as áreas que não desejamos automatizar. Não gostaríamos de ter um robô acalmando bêbados ou confortando nossas crianças. Precisamos ver valor no tipo de trabalho que de fato gostaríamos que apenas seres humanos fizessem.

Quais são as implicações da sua teoria de empregos inúteis para os ativistas dessa área? Você afirma que é difícil imaginar como pareceria uma campanha contra trabalhos de merda, mas pode apresentar algumas ideias sobre o modo como sindicatos e ativistas podem começar a enfrentar essa questão?

Gosto de falar sobre “a revolta das classes cuidadoras”. As classes trabalhadoras sempre foram as classes cuidadoras – não apenas porque fazem quase todo o trabalho de cuidar, mas também porque, talvez em parte como um resultado, elas de fato têm mais empatia do que os ricos. Estudos psicológicos mostram isso, aliás. Quanto mais rico, menos competente você é para sequer entender os sentimentos das pessoas. Então, tentar reimaginar o trabalho – não como valor ou fim em si mesmo, mas como uma extensão material do cuidar – é um bom começo.

Na verdade eu propus até que se substituam “produção” e “consumo” por “cuidado” e “liberdade” – cuidado é qualquer ação dirigida em última instância para manter ou melhorar a liberdade de outra pessoa ou outro povo, assim como mães cuidam de crianças não apenas para que tenham saúde e cresçam e floresçam, mas, mais imediatamente, para que possam brincar, que é a expressão máxima da liberdade.

Tudo isso é a longo prazo, porém. No sentido mais imediato, penso que precisamos descobrir como opor a dominância do profissional-gerencial, não apenas nas organizações de esquerda existentese assim, efetivamente, nos opor à merdificação dos empregos.

No momento desta entrevista, enfermeiras estão em greve na Nova Zelândia e uma das maiores questões é exatamente essa. Por um lado, seu salário real está caindo; por outro, elas também acham que estão gastando tanto tempo preenchendo formulários que não conseguem cuidar dos pacientes. É mais de 50%, para muitas enfermeiras.

Os dois problemas estão ligados porque, claro, todo o dinheiro que de outra forma seria para manter o valor de seus salários está sendo desviado para a contratação de novos e inúteis administradores, que então as oprimem com mais besteiras para justificar sua própria existência. Mas frequentemente esses administradores são representados pelos mesmos partidos, às vezes até mesmo pelos mesmos sindicatos.

Como elaborar um programa prático para combater esse tipo de coisa? Penso que é uma questão estratégica extremamente importante.

* David Graeber - Anarquista, antropólogo e professor no Colégio Goldsmith da Universidade de Londres . Anteriormente foi professor associado na Universidade de Yale. Graeber participa ativamente em movimentos sociais e políticos, protestanto contra o Fórum Econômico Mundial de 2002 e o movimento Occupy Wall Street. Ele é membro do Industrial Workers of the World e faz parte do comite da Organização Internacional para uma Sociedade Participativa (em inglês: International Organization for a Participatory Society)

O capitalismo mata-nos


Paul Craig Roberts

Economistas ecológicos, tais como Herman E. Daly, enfatizam que como os custos externos da poluição e da exaustão de recursos não estão incluídos no Produto Interno Bruto não podemos saber se um aumento do PIB constitui um ganho ou uma perda.

Os custos externos são enormes e cada vez maiores. Historicamente, as corporações manufactureiras e industriais, a agricultura corporativa, os sistemas de esgotos das cidades e outros possíveis culpados transferiram os custos das suas actividades para o ambiente e terceiros. Recentemente houve uma catadupa de relatórios e muitos deles a centravam-se no Roundup da Monsanto, cujo principal ingrediente – o glifosato – acredita-se ser um carcinógeno.

Uma organização de saúde pública, o Environmental Working Group, informou recentemente que os seus testes detectaram glifosato em todos os alimentos de pequeno almoço de 45 crianças excepto duas, os quais incluíam compostos de cereais, aveia e barras para comer fabricados pela Quaker, Kellogg e General Mills.www.theguardian.com/...

No Brasil, testes revelaram que 83% do leite materno contém glifosato. www.telesurtv.net/...

O Instituto Ambiental de Munique informou que 14 das cervejas alemãs mais amplamente vendidas contêm glifosato. sustainablepulse.com/...

Foi descoberto glifosato na urina de agricultores mexicanos e na água do subsolo do México. www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5486281/

A revista Scientific American informou que mesmo "ingredientes inertes do Roundup podem matar células humanas, particularmente as células embriónicas, placentais e do cordão umbilical. www.scientificamerican.com/article/weed-whacking-herbicide-p/

Um toxicólogo alemão acusou o Instituto para a Avaliação de Risco da Alemanha Federal e a European Food Safety Authority de fraude científica por aceitar a conclusão da Força Tarefa do glifosato liderada pela Monsanto de que este não é carcinogénico. gmwatch.org/...

A controvérsia acerca destas descobertas decorre do facto de que cientistas financiados pela indústria não informam acerca da ligação entre glifosato e cancro, considerando-se cientistas independentes. Isto é difícil de entender pois um cientista financiado pela indústria não tem independência e é improvável que conclua o oposto daquilo que foi contratado para concluir.

Também há controvérsia acerca de qual o nível de contaminação é necessário para que produtos adulterados com glifosato sejam classificados como perigosos. Tudo indica que as concentrações ascendem com a utilização e o tempo. Mais cedo ou mais tarde a concentração torna-se suficiente para provocar dano.

Para este artigo, a questão é que se o glifosato é carcinógeno, o custo com a perda de vida e despesas médicas não são arcados pela Monsanto/Bayer. Se estes custos não fossem externos à Monsanto, ou seja, se esta corporação tivesse de suportar estes custos, o custo do produto não seria económico para utilização. Suas vantagens seriam ultrapassadas pelos custos.

É difícil descobrir a verdade, porque políticos e autoridades regulamentares são susceptíveis a subornos e a fazer favores aos seus amigos de negócios. No Brasil, legisladores estão realmente a tentar desregulamentar a utilização de pesticidas e a proibir a venda de alimentos orgânicos em supermercados. gmwatch.org/...

No caso do glifosato, a maré pode estar a virar-se contra a Monsanto/Bayer. O Supremo Tribunal da Califórnia confirmou a autoridade do estado para acrescentar o herbicida glifosato à sua Proposição 65 com a lista dos carcinógenos. gmwatch.org/...

Na semana passada, em San Francisco, jurados concederam US$289 milhões a um antigo jardineiro de escola devido a danos provocados pelo Roundup. Há pouca dúvida de que a Monsanto recorrerá e o caso tramitará no tribunal até que o jardineiro esteja morto. Mas é um precedente e indica que jurados começam a desconfiar da ciência contratada. Há aproximadamente 1000 casos semelhantes pendentes.www.cnn.com/2018/08/10/health/monsanto-johnson-trial-verdict/index.html

É importante lembrar que se o Roundup é um carcinógeno, ele é apenas um produto de uma única companhia. Isto dá uma ideia de quão extensos podem ser os custos externos. Na verdade, os efeitos deletérios do glifosato vão muito para além daqueles cobertos neste artigo. www.thcfarmer.com/...

Alimentos geneticamente modificados (GMO) também estão a prejudicar o gado. educate-yourself.org/...

Agora considerem-se os efeitos adversos sobre o ar, água e terra da agricultura química. A Florida está a sofrer proliferação de algas devido ao escorrimento de fertilizantes químicos efectuados pela agricultura e a indústria do açúcar fez o trabalho de destruição do Lago Okeechobee. www.miamiherald.com/...

Escorrimentos de fertilizantes provocam proliferações de algas azuis-verdes que matam a vida marinha e são nocivas para seres humanos. Actualmente a água no Rio St. Lucie, na Florida, é 10 vezes mais tóxica ao toque.weather.com/...

Marés vermelhas podem ocorrer naturalmente, mas escorrimentos de fertilizantes alimentam seu crescimento e sua persistência. Além disso, as contribuições da poluição a temperaturas mais elevadas também contribuem para marés vermelhas, pois drenam pântanos para o desenvolvimento imobiliário, o que resulta em água a mover-se rapidamente sem filtragem natural. www.theguardian.com/...
www.wafb.com/story/38850029/graphic-red-tide-off-fl-gulf-coast-kills-marine-life

Quando as condições da água deterioram-se e as algas proliferaram, a resposta da Florida foi reduzir seu programa de monitorização da água. www.miamiherald.com/news/local/environment/article215993665.html

Ao considerar estes extensos custos externos da agricultura corporativa, os valores atribuídos ao açúcar e produtos agrícolas no PIB são claramente excessivos. Os preços pagos pelos consumidores são demasiado baixos e os lucros desfrutados pela agricultura corporativa são demasiado altos, porque eles não incluem os custos das mortes marinhas maciças, dos negócios turísticos perdidos e das doenças humanas causadas pelas marés de algas que dependem do escorrimento de fertilizantes químicos.

Neste artigo mal arranhei a superfície do problema dos custos externos. O Michigan acaba de saber que a sua água da torneira não é segura. Produtos químicos utilizados durante décadas em bases militares e na manufactura de milhares de ítens de consumo estão na água abastecida. www.cnn.com/...

Como exercício, pense em qualquer negócio e pense nos custos externos desse mesmo negócio. Tome-se, por exemplo, as corporações dos EUA que deslocalizaram empregos americanos para a Ásia. Os lucros das corporações subiram, mas as bases fiscais federal, estaduais e locais declinaram. A base fiscal das folhas de pagamento para a Segurança Social e o Medicaid declinaram, colocando em perigo estes importantes fundamentos da estabilidade social e política estado-unidense. A base fiscal para pensões de professores das escolas e de outros funcionários do governo declinou. Se as corporações que transferiram os empregos para fora tivessem de absorver estes custos, elas não teriam lucros. Por outras palavras, algumas pessoas ganharam ao empurrarem enormes custos sobre todos os outros.

Considere-se algo simples como uma loja de animais de estimação. Todos os proprietários e clientes de lojas de animais que venderam e compraram coloridos pitões com 46 a 61 cm, boas constritoras e anacondas nem sequer pensaram na dimensão apreciável com que estas cobras ficariam, nem tão pouco as agências regulamentares que permitiram a sua importação. Confrontadas com uma criatura capaz de devorar o animal de estimação e a criança da família e sufocar a vida de adultos grandes e fortes, as cobras foram jogadas nos Everglades, onde devastaram a fauna natural e agora são demasiado numerosas para serem controladas. Os custos externos facilmente excedem muitas vezes o preço total de todas as cobras vendidas por lojas de animais.

Economistas ecológicos enfatizam que o capitalismo funciona num "vazio económico", onde a pressão dos seres humanos sobre os recursos naturais é pequena. Mas o capitalismo não funciona em uma "economia plena", onde os recursos naturais estão no ponto de exaustão. Os custos externos associados ao crescimento económico medido pelo PIB podem ser mais caros do que o valor do produto.

Há argumentos convincentes para afirmar que esta é a situação actualmente enfrentada. O desaparecimento de espécies, o surgimento de toxinas nos alimentos, bebidas, água, leite materno, ar, terra, tentativas desesperadas de assegurar energia a partir do fracking, o que destrói águas subterrâneas e provoca tremores de terra, e assim por diante, são sinais de uma dura pressão sobre o planeta. Quando chegamos a isto, todos os lucros que o capitalismo gerou ao longo dos séculos devem-se provavelmente ao facto de que os capitalistas não tinham de cobrir o custo total da sua produção. Eles repassaram o custo para o meio ambiente e para terceiros e embolsaram as poupanças como lucro.

Actualização: Herman Daly observa que no ano passado a revista médica britânica Lancet estimou que o custo anual da poluição era de cerca de 6% da economia global, ao passo que a taxa anual de crescimento económico global era de cerca de 2%, com a diferença de cerca de 4% ao ano sendo o declínio no bem-estar, não um aumento do mesmo em 2%. Por outras palavras, já poderíamos estar na situação em que o crescimento económico é anti-económico. Ver www.usnews.com/... 

17/Agosto/2018

Ver também: 

Zélia Afonso | Viúva "surpreendida" com proposta para transladar Zeca Afonso para Panteão


A viúva de Zeca Afonso diz que foi apanhada de surpresa com a proposta da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) para que os restos mortais do músico José Afonso sejam trasladados para o Panteão Nacional.

"Fiquei bastante surpreendida", diz. "Ninguém me contactou, ninguém me disse nada".

Zélia Afonso diz que vai conversar com os filhos e só depois a família vai tomar uma posição sobre esta iniciativa.

"Estamos todos em partes do mundo e horas diferentes", por isso ainda não foi possível falar com os filhos sobre o caso, explica.

Já o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço defende que as decisões sobre quem deve ir para o Panteão não devem depender de "lóbis", mas sim de critérios precisos. Defende, por isso, um "debate profundo".


O residente da SPA disse à TSF que o objetivo é conseguir a transladação para o Panteão em 2019, ano em que se assinalam duas datas marcantes: os 90 anos do nascimento de Zeca Afonso e os 45 anos do 25 de Abril.

José Jorge Letria adianta que o pedido da SPA vai ser endereçado ao primeiro-ministro e à Assembleia da República.

No comunicado agora emitido, a SPA reclama, em nome dos autores portugueses, a trasladação dos restos mortais de José Afonso, sepultados em campa rasa no Cemitério de N. S. da Piedade, em Setúbal.

Carolina Rico | TSF

DEIXEM O ZECA AFONSO EM PAZ!


Nesta época parva, em que os jornalistas dizem que não têm “grandes notícias” e vão de férias, vamos “levar” mais uma vez com as novelas produzidas por Trump e ‘seus muchachos’. É tudo uma grande choldra mas temos de “levar” com aquilo. É disso que se alimenta o Curto de hoje (também de outros dias). Alé, alé, coirão Trump alé!

Nelson Évora aceitou ser condecorado pelo PR Marcelo. Refere o Curto. Não devia aceitar, mas Marcelo tem um jeito especial para cativar, para enganar - se isso lhe for útil. Um "querido". 

Zeca Afonso no Panteão Nacional… Bem… Já lhe perguntaram se quer? Olhem que não, olhem que não! Sim, o corpo está morto e a carne já se terá ido, mas ele, o Zeca, continua vivo e a pairar por aí. Será eterno. Além disso, agora, qualquer bicho careta vai para o Panteão, até já lá há grandes banquetes e dança cor-de-rosa. Para além de haver uns quantos que nem deviam ali estar porque em vida de sacanas nada lhes faltou. Tinham a formação toda.

É assim, condecorações à farta e Panteão ao desbarato. Tudo do grande tamanho da hipocrisia dos que nos (se) governam, de certos e incertos políticos que são deputedos em prol  do sucesso do grande capital, das grandes corporações, dos grandes salafrários, dos grandes ladrões “assertivos e de colarinho branco”.

Zeca não ia querer repousar no Panteão. Ele é mesmo muito grande por natureza. As homenagens são-lhe feitas a ouvi-lo, a recordá-lo, a passar aos mais jovens quem foi o grande antifascista e anticapitalista José Afonso, que para além disso foi das artes da música, da contestação, da resistência, das mensagens inteligentes que nos ensinaram - ou pelo menos nos recordavam - que eles comiam tudo… e continuam a comer. Deixem-se de tretas, de hipocrisias. Não se misturem, cambada de velhacaria!

Zeca, quando doente e às portes da morte até tinha de se ir tratar a Espanha porque aqui os tais “democratas” se estavam nas tintas para o grande homem que ele foi e é nas nossas memórias. Zeca é eterno. Encham o Panteão com Sá Carneiro, Mário Soares, Freitas do Amaral, Salazar e outros fascistas ou pseudo democratas, porque aquilo de Panteão vai de ano para ano perdendo a patine e adquirindo um cheiro a bedum insuportável. Fiquem na vossa. Deixem o Zeca Afonso em paz.

O Curto, para vós. Atinem, bebam muita água… Tenham cuidado com as rãs na barriga. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Diz-me com quem andas…

Cristina Peres | Expresso

Múltiplo golpe para Donald Trump: o seu ex-diretor de campanha, Paul Manafort, foi considerado culpado de fraude e evasão fiscal. E o seu ex-advogado, Michael Cohen, admitiu ter recebido instruções para pagar, em nome de Trump, pelo silêncio de duas mulheres por alegados trâmites sexuais. Manafort é culpado de oito das acusações de fraude bancária e não pagamento de impostos sobre milhões de dólares ganhos enquanto consultor de políticos apoiados pela Rússia na Ucrânia. A investigação à intervenção russa nas eleições de há um ano e meio ainda vai no adro e Donald Trump deixou claro no início desta semana que os testemunhos de Robert Mueller, ex-conselheiro especial, e do seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, poderiam resultar em “armadilhas de perjúrio”, ou seja, poderiam ser usadas contra eles, relata a Deutsche Welle. 

Desde as eleições americanas de novembro de 2016, que a alegada interferência de grupos de hackers russos está tão difícil de provar como de defender. Agora que o grupo “Fancy Bear” está de novo ao ataque, as investigações estão sob o fogo. E também da mira de Trump. 

Depois de alegadamente terem influenciado o resultado das eleições americanas, os piratas informáticos russos dirigem agora a artilharia contra os grupos conservadores dos Estados Unidos, diz a Microsoft, citada pelo New York Times. O serviço de informações militar russo que se julga ter “mexido" naquelas eleições, tem por novo alvo os think thanksconservadores que se afastaram do Presidente Trump e defendem a aplicação de sanções à Rússia, expõem os oligarcas e pressionam pela defesa dos direitos humanos. O modus operandi passa pela criação de websites falsos com… fake news. A CNN diz como, além dos think thanks, o Senado também foi visado. 

O Washington Post chama aos responsáveis “ um grupo afiliado” do Governo russo e relata a criação de seis versões falsas de seis sites, entre entidades relacionadas com políticas públicas e com o Senado. A Microsoft, que anunciou ter desativado os sites, descreve assim o objetivo da operação: atacar os computadores das pessoas que fossem engodadas a visitar os seis sites falsos. “Provocar disfunção e diminuir qualquer grupo que desafie o modo como o Presidente Putin opera em casa e no mundo”, esclareceu Eric Rosenbach, diretor do projeto da Universidade de Harvard Defendendo a Democracia Digital, citado pelo Washington Post. Vários políticos norte-americanos têm vindo a avisar que as eleições do próximo mês de novembro são um íman para a interferência destes grupos. 

Tudo isto sucede à revogação da credencial de segurança por Trump ao ex-chefe da CIA, John Brennan, um ato sem precedentes na história do país que o PR fez acompanhar da promessa de “mais atos de retaliação”. Também neste caso o próprio Donald Trump estabeleceu uma ligação direta entre a sua decisão e a investigação à alegada ingerência da Rússia no voto de 2016. Afinal, não é “caça às bruxas”… A análise no The Guardian. Já agora, o Facebook desativou 652 contas falsas ligadas à Rússia e ao Irão que tinham por objetivo influenciar a política mundial.

OUTRAS NOTÍCIAS

Por cá, a função pública reivindica aumentos entre 3% e 4%. No topo das prioridades da administração pública está o aumento dos salários, como se relata no Expresso Diário.

O chefe da diplomacia portuguesa defende Mário Centeno chamando ao vídeo que o chefe do Eurogrupo fez sobre a Grécia “perfeitamente normal” e até “simpático”. Augusto Santos Silva falou ao Expresso confirmando que “a geringonça de Costa diverge em questões fundamentais”. A ler aqui.

Os migrantes do navio Aquarius chegam a Portugal em setembro. São 50 e chegam de Itália.

Nelson Évora aceitou finalmente ser condecorado pelo Presidente português. “Ele tem um feitio muito especial, sabem que os génios são assim”, disse Marcelo.

Uma crónica de revolta com vinte perguntas para homens incoerentes, arrazoáveis e insensatos: Duarte Gomes e os dois pénaltis do Jamor para ler aqui.

Mais de uma milhão de pessoas fogem à morte trazida pela devastação das cheias de Kerala. Dirigem-se aos mais de 3000 campos de acolhimento montados para recebê-los. 
Apesar da facilidade com que o olhar ocidental relativiza os números na Índia, é avassalador o que se avalia, agora que as águas começaram a recuar depois da maior inundação num século. Há 410 mortos e muitos desaparecidos nesta província do sudoeste da Índia onde 50 mil casas foram arrasadas pelas águas das monções. 

Francisco mostra arrependimento, mas não chega. A escala que tem vindo a emergir em vários países dos abusos sexuais a crianças praticados na Igreja Católica é demasiado importante para não se virar contra os praticantes. A dias de visitar a República da Irlanda no próximo fim de semana, o Papa é pressionado a revelar pessoalmente os nomes dos implicados nestes crimes.

Depois das declarações bombásticas olho-por-olho, dente-por-dente trocadas pelos Estados Unidos e Coreia do Norte nos últimos meses, a Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA, na sigla inglesa) revelou que não há provas de que Pyongyang tenha parado os testes nucleares ou que tenha alguma vontade de abandonar o seu arsenal. O relatório produzido pelos agentes da ONU vai ser entregue no mês que vem à equipa de topo da IAEA.

Depois da expulsão de diplomatas, novas sanções norte-americanas à Rússia entram hoje em vigor. Foram impostas na sequência do ataque com gás de nervos a um ex-agente russo. As medidas prometem confusão. Verifique aqui no Wall Street Journal.

Depois de dez anos de insistências, os EUA acabam de deportar o último nazi vivo para a Alemanha. Jakiw Palij, agora com 95 anos, fez-se passar por agricultor polaco mentindo, há 70, de forma a entrar no que foi desde então a sua segunda morada, Queens, Nova Iorque. Capítulo a encerrar em breve.

O Éolo tem ADN português, nome de deus grego e está programado para prevenir furacões (e eventualmente incêndios) a partir do espaço. É um satélite que foi lançado ontem à noite para o espaço pela ESA, Agência Espacial Europeia, a partir da base de Kourou, na Guiana Francesa, à boleia de um foguetão Vega.

Há gelo de água na superfície lunar, garantem cientistas com provas irrefutáveis. Os vestígios encontram-se no pólo norte e pólo sul da lua e tudo indica que lá estão depositados há muito, muito tempo. A ciência tem esta característica temporal: os dados que revelam os depósitos de gelo foram recolhidos em missões de observação realizadas em 2008/9…

O gelo do Ártico, esse, vai sofrer. O primeiro porta-contentores da Maersk já partiu para experimentar a nova rota marítima.

A ciência permite-nos manter vivo o fascínio pela abertura de horizontes proporcionada pela utilização de novas tecnologias. Veja aqui o resultado do mapeamento da densidade estelar em imagens 3D captado pela ESA: “O segundo lançamento de dados da missão Gaia da ESA, realizado em abril, marcou um ponto de viragem no estudo da nossa casa galáctica, a Via Láctea. Com um catálogo sem precedentes de posições 3D e movimentos 2D de mais mil milhões de estrelas”.

O desperdício alimentar global pode aumentar um terço até 2030. Acredita-se nisto?

Manchetes de hoje: “Fenprof avisa que tempo de serviço será com Costa ou com o próximo”, Público; “Revolta no exército”, i; “Carta de condução só para quem souber usar desfibrilhador”, JN; “Menos descontos para a ADSE podem aumentar salários”, Negócios; “Rendas altas forçam fuga para quartos”, CM

FRASES

“[É necessária] uma varridela na Cúria, afastando pessoas, quebrando o silêncio. A Cúria precisa de uma higienização muito pofunda”, Januário Torgal Ferreira, Bispo emérito das Forças Armadas ao Público em defesa de uma “limpeza” no governo da Igreja Católica e o fim do celibato

“O Primeiro-ministro trata o assalto a Tancos como um assalto a uma casa”, Paulo Rangel, eurodeputado ao i

“O PPD/PSD é um partido personalista, que defende de forma intransigente a dignidade da pessoa humana, no respeito total pelo Estado de direito”, Pedro Santana Lopes, estatutos do PSD de 2005, agora recuperados para os da aliança.com.pt, citados pelo Público. Ler a propósito a opinião de Ricardo Costa “O maior problema de Santana”

“A luta pelo ambiente é uma das causas mais nobres de luta pela cidadania”, Carlos Pimenta, ex-secretário de Estado do Ambiente ao Público

O QUE ANDO A LER

Aproveito agosto para desbravar (bons) long reads: 

Andar na cidade: é bom que se pratique e se reflita sobre as possibilidades que as grandes metrópoles oferecem ou não aos seus habitantes de se deslocarem a pé. Este artigodo “The Guardian” é particularmente lúcido a apontar pistas, lembrando que já desde o início dos anos 2000, mais de metade (global) de nós vive em cidades. 

Boas ideias vindas da Austrália, o país que mais antidepressivos consome no mundo. Charlotte Wood escreve sobre o riso, o que nos faz rir em situações inconvenientes ou fazer graças disparatadas no velório de um ente querido que sempre se respeitou em vida. O riso diz-nos que somos humanos, que temos limites e que podemos mudar.

Sobre o assunto turismo, que dá cabo da cabeça de muita gente, sugiro estes textos do Spiegel Online (em inglês) How tourists are destroying the places they love. O fenómeno não é exclusivo de cidades como Lisboa, Porto, Veneza ou Barcelona, leia aqui como Amsterdão, uma cidade com 850 mil habitantes, tem tentado sobreviver aos 18 milhões de turistas que recebe todos os anos Amsterdam seeks to reign in tourists. Caso haja dúvidas sobre o significado da expressão “tiros nos pés”, veja esta reportagem da France Info intitulada Touristes à Lisbonne: les habitantes chassés de la ville. Tão rápido, não foi?

Rápido como este Curto. A silly season está prestes a acabar, prepare-se para a cidade intransitável à qual está prestes a regressar (rima). Entretanto, beba água, mantenha-se à sombra e siga-nos em www.expresso.pt, até à síntese de final de tarde do Expresso Diário.

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