sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Azeredo de Portugal | O ministro que primeiro caiu e depois saiu


Azeredo Lopes demitiu-se. Pronto. E agora?

Pedro Santos Guerreiro | Expresso | opinião

Demorou uma semana em lume pouco brando. Depois de o Expresso ter revelado que um investigador da PJM garantira ao juiz de instrução do caso Tancos que Azeredo Lopes soubera da farsa da recuperação de armas furtadas, o ministro continuou a sê-lo apenas mais alguns dias. Demitiu-se esta sexta-feira, entre a posse da nova PGR e o fecho do Orçamento do Estado. Vira o ministro, não vira a página.

O ministro sai porque não aguentou a pressão pública e interna. Não saiu por pressão política, que não foi demasiado intensa: o PSD mandou uns tiros para as pernas mas não para o coração, o CDS não tem munições pesadas. Não saiu por assunção de culpa, porque na carta em que explica as razões de saída reitera de nada ter tido conhecimento sobre a farsa de Tancos. Não saiu por falta de apoio do primeiro-ministro, que o defendeu ainda que sem pôr as mãos o fogo. Não saiu por razões de consciência, ou tinha-o feito mais cedo. Saiu porque a pressão pública se intensificou. Saiu por pressão silenciosa dos militares que tutela, que nunca gostaram deste civil. E saiu sem sabermos se Marcelo Rebelo de Sousa agiu.

Saiu na altura errada. Azeredo teve sempre um mandato azarado, nunca impôs a sua autoridade entre as Forças Armadas e caiu na armadilha da neutralidade, perante a sucessão de casos e de crises de que o furto das armas de Tancos foi o mais grave, degenerando ademais numa segunda crise, a do encobrimento na recuperação das armas. O ministro quis ser indiferente, inodoro e incolor nas crises, para não ser enrolado nas polémicas. Não era possível. Não foi possível.

A autoridade do Estado está de rastos. Houve um assalto a Tancos que desacreditou as Forças Armadas, a Polícia Judiciária entrou em rutura com a PJ Militar, a PJ Militar envolveu-se numa inacreditável farsa, membros da GNR colaboraram nela, há oficiais a mentir, a conspirar, a manobrar. E se o ministro está inocente no processo, não está inocente na forma como deixou, pela passividade, ver um Ministério perder a autoridade e a credibilidade.

Politicamente, o caso não morre aqui, porque só a inocência provada de Azeredo Lopes garantirá que a polémica que o matou não sobe o elevador do Governo. Depois da denúncia de Vasco Brazão, ainda nenhuma outra prova surgiu que incriminasse o ministro. Mas o que está em causa é tão grave que não é por se ter demitido que Azeredo Lopes desaparece do problema. E o problema chama-se investigação ao caso Tancos. Que não pode parar aqui, por uma questão de justiça, por uma questão de julgamento de suspeitos, e por uma questão política.

Foto: Marcos Borga, em Expresso

Portugal | Chega


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

André Ventura, vereador do PSD na Câmara de Loures, conhecido pelo seu discurso inflamado contra a comunidade cigana, vai renunciar ao mandato para criar um partido político, um tal de "Chega".

Ora, aproveitando os ares dos tempos, Ventura prepara-se assim para evitar uma nova maioria de esquerda, propondo a proibição constitucional da eutanásia, a castração química de pedófilos, o regresso da prisão perpétua ou a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo. 

A ascensão do fascismo e o sucesso de alguns movimentos ou figuras políticas dessa natureza dá força a quem recentemente procurou assaltar o poder no PSD e, perante o insucesso, resolve aproveitar o espírito dos tempos em que o fascismo voltou a ser opção para apresentar um novo partido que acabará, mais cedo ou mais tarde, de se aproximar desses ditos movimentos.

E não vale a pena desvalorizar, mesmo a mais abjecta das propostas - aquelas que deveriam arrepiar qualquer ser humano - tem os seus seguidores que, perdida a vergonha, assumem o que são e fazem campanha por quem partilha um ódio visceral pelo seu semelhante.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Brasil | FRENTE DE EVANGÉLICOS SE LEVANTA CONTRA BOLSONARO


"A Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito reafirma sua posição contra a candidatura de Bolsonaro, reconhecendo suas propostas e falas incoerentes com a mensagem de Jesus Cristo, e incoerentes com a construção de uma democracia participativa, com garantias de direitos e promoção da justiça", diz o manifesto

247 - Embora lidere entre os evangélicos, muitos líderes religiosos têm se levantado contra a candidatura de Jair Bolsonaro e o discurso de ódio do candidato de extrema-direita. Desta vez foi a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, que divulgou um comunicadocontra o deputado federal. Leia a íntegra da nota:

A Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito reafirma sua posição contra a candidatura de Bolsonaro, reconhecendo suas propostas e falas incoerentes com a mensagem de Jesus Cristo, e incoerentes com a construção de uma democracia participativa, com garantias de direitos e promoção da justiça.

As propostas de Bolsonaro representam a barbárie, onde a violência será estabelecida como ferramenta de controle. Nós, os crentes que compomos a Frente de Evangélicos, não reconhecemos nossa fé nessas bases. A nossa fé nos faz crer no amor e na transformação.

Nesta sexta-feira 12, a TV 247 publicou o segundo vídeo do Pastor Fábio Bezerril Cardoso em que ele desconstrói Bolsonaro. No primeiro, Fábio explicou por que o voto em Bolsonaro não é um voto cristão.

Brasil 247

Brasil | Bolsonaro foge para esconder programa contra o povo


Um candidato sem coragem para defender suas ideias e suas propostas. Este é Jair Bolsonaro, que desde o início da campanha eleitoral tem evitado debater com outros candidatos suas plataformas programáticas e política, para conhecimento do eleitorado. Prefere a comodidade do monólogo nas redes sociais e a complacência das entrevistas na mídia. Assim ele fala o que quer, enrola meio mundo e vai levando a candidatura sem que o povo tenha pleno conhecimento do que de fato ela representa. Não sem motivo seus pronunciamentos são pautados pela incoerência, marcados pela negação hoje do que dissera ontem.

Agora, no segundo turno, quando existia a expectativa de que haveria finalmente o confronto de ideias e propostas, mais uma vez Bolsonaro se esquiva e anuncia que prefere fugir da arena iluminada pela democracia para manter suas plataformas nas sombras, no obscurantismo. Ao anunciar que prefere não comparecer aos debates por questões de estratégia política, mesmo que seja liberado pelos médicos, ele confessa que não quer se submeter à prova dos nove e assim seguir enganando o eleitorado com sua agenda de falso moralismo para esconder seu programa de governo ultraliberal e neocolonial.

São enormes as incoerências desse candidato. Agora mesmo ele anda desdizendo praticamente tudo o que dissera. Faz isso porque seu programa de governo tem premissas claras sobre medidas que afrontam os direitos do povo, a democracia e a soberania nacional.

Ao fugir dos debates, Bolsonaro se sente desobrigado de prestar esclarecimentos ao eleitorado e com isso pretende chegar às urnas do dia 28 só passando cheque sem fundo na praça. Num debate com Fernando Haddad, ele teria de dar explicações sobre suas incoerências e as consequências das suas ideias incompatíveis com o Brasil.

Sua estratégia política na verdade é a reedição da sua condição de fujão. Depois do período de convalescência ele nunca se dispôs a um debate franco, a um diálogo honesto, a um processo de transparência para se saber se ele é o candidato do programa entreguista e de ataques aos direitos do povo e da nação ou o da demagogia eleitoreira e truculenta. Alega impedimento médico, mas isso não o impediu de conceder longas entrevistas a emissoras de TV e rádio, assim como realizar transmissões em redes sociais.

Acostumado a bravatear com monólogos estridentes e ocos, quando desafiado a sustentar o que fala prefere bater em retirada, revelando verdadeiro pavor diante da possibilidade de ser desmascarado. Esse medo do confronto de ideias se explica pela insensatez das suas propostas, uma gravíssima ameaça à nação e à democracia. Fiel ao seu estilo de duas caras, uma pública e outra privada, Bolsonaro adota essa estratégia política exatamente para esconder a gravidade das suas propostas e ideias. Não existe nenhum motivo para se acreditar que da noite para o dia ele abandonou seus conceitos truculentos e entreguistas.

Não se pode subestimar o grau de sordidez desse ardil bolsonarista. Ele quer manter o povo na obscuridade política para, no dia 28, colher o voto manipulado. Cumpre desmascarar mais essa farsa. Essa estratégia política de Bolsonaro reforça o imperativo de uma campanha de massas, próxima ao povo, da chapa Fernando Haddad-Manuela d’Ávila. A par da denúncia sobre o sentido dessa opção pela fuga dos debates e da revelação do que está por trás da sua máscara demagógica, surge a oportunidade de se fazer o contraponto programático com mais vigor para que ele tenha permeabilidade no povo. 

Vermelho | editorial

Identificar fascistas


Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

Tinha os inimigos identificados ao escrever a frase-panfleto na guitarra. "Esta máquina mata fascistas", o seu instrumento passava a balear a seis cordas em 1941. Após o auge da Grande Depressão nos anos 30, devastadora, Woody Guthrie já romantizara brilhantemente os proscritos do sistema como aqueles heróis épicos e mundanos, maiores do que a vida, migrantes, lutadores-poesia com armas de formiga a construir os seus castelos pelo bem comum. Agora, a guitarra apontava aos nazis. E era fácil identificá-los porque os fascistas nunca se souberam esconder. Cerca de oito décadas depois, o tempo que passa já relativiza o passado recente e o fascismo recrudesce em muitos dos países que o germinaram. A memória só precisa de um pequeno lapso de tempo para se esquecer de tudo. Por muito que não chegue para lhes destruir o carácter, é urgente chamá-los pelo nome. Antes como agora, fascistas são objectos políticos bem identificados. Não podemos ser cúmplices.

As urnas não são latrinas. E é por isso que é importante dizer que, com toda a probabilidade, o Brasil vai eleger um fascista a 28 de Outubro. Político com 30 anos de carreira a tiro, Bolsonaro não é um fascista qualquer. Defensor da tortura, (embora pense que "o erro da ditadura foi torturar e não matar"), misógino selectivo, defensor de salários diferentes consoante o sexo, o anunciado futuro presidente do Brasil preferia ver morrer um filho do que o ver homossexual, desejava "fuzilar a petralhada" e talvez o faça quando for eleito. Com 46% dos votos na primeira volta, alimenta-se do ódio a um PT aparelhista que tomou o Estado por conta. Com a Direita democrática brasileira em vias de extinção e incapaz de estancar a sangria do seu eleitorado para a extrema-direita, nem lhe sobra a noção do que impende sobre a liberdade à custa de não se afastarem de Bolsonaro. Compete-nos a nós, então, identificá-lo pelo seu género político.

Não há como esconder o falhanço da democracia e da esperança no Brasil. Entretanto, vende-se em Portugal a fórmula de branqueamento pelo peso da distância geográfica. Dizem esses que só quem lá está é que sabe. Foi assim com Trump ou Chávez (que, curiosamente, Bolsonaro idolatrava). Foi assim com os fascistas Le Pen, Orbán, Kurz ou Kaczynski (menos porque, ainda assim, são "europeus"). Querem-nos retirar o direito de identificar fascistas já submetidos ao teste de algodão. Querem que voltemos às reuniões de tupperware, conservando os ingredientes para um caldo a entornar. Compete-nos a nós, então, identificá-los pelo seu género policial: cúmplices.
(O autor escreve segundo a antiga ortografia.)

* Músico e jurista

No Iémen decorre uma chacina que gera lucros de milhões


A guerra esconde uma combinação mortífera de interesses: ambições geoestratégicas, domínio de recursos naturais, negócios de armas, desenvolvimento de rotas comerciais e até projectos de engenharia.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

O mundo assiste impávido, e comedidamente informado, a uma «guerra humanitária» lançada em 2015 para «proteger civis» e que, três anos depois, degenerou na «maior catástrofe humanitária» do planeta, segundo a ONU; uma tragédia que proporciona, no outro prato da balança, milhares de milhões de dólares e euros de lucros aos impérios mundiais do armamento, principalmente norte-americanos e franceses. É no Iémen, onde nosso «mundo civilizado» se revê nas atrocidades cometidas pelos exércitos das «democracias» da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, operacionalmente apoiados pelos Estados Unidos e Israel.

É um balanço cheio de dúvidas o que chega dos confins das arábias, virados ao Corno de África, ali onde os continentes asiático e africano quase se tocam. Vinte mil mortos? Setenta mil, segundo os apuramentos feitos pelas organizações não-governamentais que actuam no terreno? Talvez nunca se chegue exactamente a saber a quantos seres humanos foi tirada a vida, roubados os bens, destruídos os haveres e as casas nesta guerra lançada para «proteger civis». E que o faz através de bombardeamentos de zonas residenciais, mercados, casamentos, funerais, autocarros escolares, hospitais e outros alvos igualmente ameaçadores.

Numa terra de história, cultura e lendas, onde foram erigidos os primeiros arranha-céus da história da humanidade – como a capital, Sanaa, testemunhava até há pouco – detectou agora a ONU «a pior crise humanitária do mundo». Onde a fome é companheira de vida de nove milhões de pessoas – quase tantas como os habitantes que tem Portugal – cinco milhões das quais são crianças.

Quem se mantém informado frequentando apenas o mainstream saberá explicar esta guerra de cor e salteado: as tribos huthis chiitas, apoiadas pelo Irão, tentaram alcançar o poder em 2015 derrubando o presidente Abdrabbo Mansur Hudi, com apoio de grupos sunitas urbanos e traidores. Hudi foi forçado a exilar-se na Arábia Saudita, de onde continua a tentar reinar através dos exércitos saudita e dos Emirados Árabes Unidos, que invadiram o Iémen para abafar a «revolta iraniana». Simples, não é? Afinal, o conflito não é mais do que uma manifestação dos esforços sauditas para combater o «expansionismo iraniano», sabendo o Ocidente muito bem de que lado deve estar.

O que a guerra procura esconder

A guerra esconde, porém, uma combinação mortífera de interesses, que vão desde ambições geoestratégicas, luta pelo domínio de recursos naturais, grandes negócios de armas, desenvolvimento de rotas comerciais e até grandes projectos de engenharia.

Tudo isso cabe na velha ambição saudita de controlar, de facto, toda a região, o que significa tomar a seu cargo os exercícios de soberania de países como o Omã e o Iémen. Quem diz ambição saudita deve relacioná-la imediatamente com outros grandes interesses mundiais, como os dos Estados Unidos e de potências da União Europeia, ou regionais, como o de Israel.

O petróleo é uma razão óbvia desta guerra. Não é por acaso que um dos bastiões onde os sectores apoiados pelas tropas sauditas estão entrincheirados é o porto de Adem, a capital da região meridional do Iémen, a mais rica do país em petróleo.

Além disso, a existência independente do Iémen, tal como de Omã, são obstáculos ao domínio absoluto de Riade sobre o grande deserto do Rub-al-Khali, que terá um vasto manancial inexplorado de reservas petrolíferas.

Por outro lado, há muito que a Arábia Saudita e Israel têm um grande projecto em comum, que é a construção de uma extensa ponte entre Adem e Djibuti, ligando a Ásia a África e abrindo mais uma opção comercial entre vastas zonas petrolíferas, incluindo as do Corno de África. Não é por acaso que Israel tutela o chamado «Estado da Somalilândia1» nesta região, uma entidade apenas reconhecida por Telavive mas que funciona, de facto, como uma base militar sionista em território africano.

Além de planeada, a ponte já tem um grupo escolhido para a sua construção, por sinal o da família saudita bin Laden.

Negócio de milhares de milhões

O episódio do bombardeamento de um autocarro escolar no mês de Agosto, em que mais de 40 crianças perderam a vida por acção de um míssil norte-americano fabricado pela Lockheed Martin, elevou temporariamente a guerra do Iémen aos lugares de destaque da comunicação social norte-americana de grande consumo – e daí para a do resto do mundo, como seu subproduto.

A opinião pública percebeu que, afinal, os Estados Unidos estão envolvidos directamente no conflito, por detrás dos massacres de alvos civis cometidos pelas tropas invasoras sauditas e dos Emirados Árabes Unidos.

Não é segredo que, já na Administração de Barack Obama, o Pentágono efectuara operações no Iémen, alegadamente contra a presença de grupos da al-Qaida que eram, aliás, meramente residuais.

Ao contrário do que acontece hoje; importantes contingentes de mercenários agrupados em organizações que reivindicam filiações na al-Qaida e no Estado Islâmico actuam, de facto, ao lado das tropas sauditas invasoras.

O conhecimento destas situações começou a provocar alguma inquietação no interior do próprio Departamento de Estado norte-americano, designadamente nos departamentos do Médio Oriente e dos Assuntos Políticos – e da qual fez eco, por exemplo, o Wall Street Journal.

Foi então que o secretário de Estado de Trump, Michael Pompeo, ex-director da CIA, resolveu agir, ainda segundo relato do mesmo jornal, prometendo que a situação vai alterar-se para melhor.

Com isso não quer dizer que a guerra tenha os dias contados, nem que os Estados Unidos deixarão de continuar envolvidos operacionalmente indicando alvos, partilhando informações de espionagem com os agressores, reabastecendo esquadrilhas ou mantendo o envio de mísseis teleguiados. O que o secretário de Estado promete é que as tropas da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos «irão trabalhar para reduzir os danos civis».

No Departamento de Estado sabe-se, porém, que nada no comportamento das tropas invasoras do Iémen garante uma mudança de atitude em relação aos alvos civis – pelo menos é a única conclusão possível das investigações realizadas no terreno.

Apesar disso, Pompeo passou por cima das «inquietações» manifestadas por quadros do seu departamento e deu luz verde à concretização de outro grande negócio gerado por esta guerra: a venda de mais 120 mil mísseis teleguiados de fabrico Raytheon, no valor de dois mil milhões de dólares.

Para tal, o secretário de Estado baseou-se no parecer do Gabinete de Assuntos Legislativos, o único do seu Departamento de Estado a pronunciar-se nesse sentido. Alega este que «a falta de certificação poderia ter um impacto negativo nas transferências de armas pendentes» ou mesmo sobre «futuras vendas a governos e instituições militares estrangeiras». Daí que a mesma fonte tenha tornado a posição desde logo mais abrangente, reforçando-a com outro parecer especificando que também «a acção militar na Síria é consistente com o direito inerente à autodefesa individual e colectiva».

Os pareceres foram assinados pelo chefe do Gabinete de Assuntos Legislativos, Charles Faulkner, que foi nomeado para o cargo há pouco mais de um ano. Transitou do sector privado, onde chefiava um departamento estratégico do BGR Group.

Esta empresa funciona como uma agência de lobby, isto é, que faz pressão para defender os interesses dos clientes junto de instituições governamentais norte-americanas. Por sinal, a entidade que até há pouco empregou o actual chefe do Gabinete de Assuntos Legislativos do Departamento de Estado representa os interesses de entidades como a Airbus, a Huntington Ingalls, mas também a empresa de armamento Raytheon e governos como o da Arábia Saudita.

Quando se fala, portanto, em «guerras humanitárias» e em defesa dos direitos humanos deverá ter-se em consideração que se trata de acções susceptíveis de serem transformadas em investimentos lucrativos e adequados à dinamização do tecido económico global.

Por isso, o envolvimento norte-americano na destruição do Iémen não é um caso isolado. Nos últimos dias, a França tem sido sacudida pelo escândalo da venda de quase 400 tanques Leclerc2 aos exércitos da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, transações que envolveram «luvas» superiores a dois milhões de euros depositadas em «paraísos fiscais».

«Contrato do século», chamou-lhe a comunicação social francesa na altura da consumação do negócio, em Abril de 1993. A empresa pública GIAT, hoje Nexter, vendeu então 388 tanques, 46 veículos armados e munições no valor global de 3200 milhões de dólares numa transacção que juntou em Paris cabeças coroadas das duas casas reais e agora leva a morte a casa dos iemenitas. Um negócio que prossegue, porque hoje continuam a ser frequentes as notícias de contratos de venda de armamento francês a Riade e Abu Dhabi.

Haverá quem se preocupe com a vida das populações do Iémen e de tantos outros países flagelados por guerras, mas não serão, por certo, os que dizem proteger os direitos humanos nessas regiões e, com esse alegado objectivo, montam acções qualificadas com o mais cruel eufemismo da cultura neoliberal global: «guerras humanitárias».

Foto: Iémen. CréditosFonte: US Journal (24 de Junho de 2018)

1. Nota da redacção: as notícias sobre o Corno de África e a chamada «Somalilândia» são raras ou inexistentes nos mainstream media nacionais. Para aprofundar o tema o leitor poderá ter interesse em consultar «The Politics Of Ports In The Horn: War, Peace And Red Sea Rivalries» e «Somaliland And The Scramble For Suez: How Old Imperial Powers Are Being Sidelined In Gulf’s “Cold War”».
2. Um sítio dedicado ao armamento militar francês afirma que o Iémen se transformou no «terrain d'essai pour les chars de combat français».

A STALIN, A HISTÓRIA O ABSOLVERÁ!...


Martinho Júnior | Luanda  

Quanto mais a NATO recuperar as redes "stay behind" no leste da Europa, nos Balcãs, no Mar Negro e no Mar Báltico, mais se impõe a absolvição de Stalin!...

Quanto mais a NATO ao serviço do império da hegemonia unipolar, providenciar a partir de Camp Darby (entre Pisa e Livorno, na Itália), o armamento e o municiamento de instrumentalizados estados e organizações terroristas na Líbia, no Iraque, na Síria, no Iémen,...mais se impõe a absolvição de Stalin!...

Quanto mais as filosofias que conferem as ideologias e os argumentos do domínio de 1% sobre o resto da humanidade, as filosofias de Milton Friedman, George Soros, Gene Sharp, Francis Fukuyama, Leo Strauss, John McCain e tantos outros... mais se impõe a absolvição de Stalin!...

Quanto mais África, América Latina e uma importante parte da Ásia, estiverem sujeitas ao caos, ao terrorismo e à desagregação impostas pelo capitalismo dominante, seja ele o produtivo, seja ele o capitalismo financeiro transnacional, mais se impõe a absolvição de Stalin!...

Para que um dia fosse possível o movimento de libertação no continente africano, muito caminho houve que desbravar e Stalin foi um dos maiores obreiros desse caminho: sem a vitória da URSS sobre os nazis e os fascistas, jamais esse caminho teria existido, nos moldes em que ele se tornou possível!

Com os olhos das sensibilidades dum continente século a século sujeito à escravidão, ao colonialismo, ao "apartheid", à devassa dos abutres como se fosse um corpo inerte, aqueles que viveram e vivem a saga da libertação sabem que cada vez mais se impõe a absolvição histórica de Stalin!...

Comentário de Martinho Júnior a 30 de Setembro de 2018.

O exército de insectos do Pentágono

Manlio Dinucci*

O Pentágono explora todos os tipos de pesquisas. A Agência para os Projectos de Pesquisa Avançada da Defesa (DARPA) imagina utilizar insectos para infectar culturas, enquanto o Departamento de Pesquisa da Marinha, tem esperança de utilizar autres como sensores, capazes de detectar explosivos. Não se trata de ficção científica.

nxames de insectos, que transportam vírus infecciosos geneticamente modificados, atacam as culturas de um país destruindo a sua produção alimentar: não é um cenário de ficção científica, mas é o que está a ser preparado pela Agência do Pentágono para projectos de pesquisa científica avançada (DARPA).

Revelam-no na Science [1], uma das revistas científicas de maior prestígio, cinco cientistas de duas universidades alemãs e de uma francesa. No seu editorial publicado em 5 de Outubro, eles questionam se o programa de pesquisa da DARPA, denominado “Insectos aliados”, tenha, unicamente, o propósito declarado pela Agência: proteger a agricultura dos EUA de agentes patogénicos, usando insectos como transportadores de virus infecciosos geneticamente modificados que, transmitidos às plantas, modificam os cromossomas.”

Essa capacidade - dizem os cinco cientistas - parece “muito limitada”. Porém, há no mundo científico “a percepção generalizada de que o programa se destina a desenvolver agentes patogénicos e os seus transportadores para fins hostis” ou seja, “um novo sistema de armas biológicas”.

Isto viola a Convenção sobre Armas Biológicas, entrada em vigor em 1975, mas que permaneceu no papel, especialmente pela recusa dos EUA em aceitar inspecções aos seus laboratórios.

Os cinco cientistas especificam que “bastaria procedimentos fáceis para gerar uma nova classe de armas biológicas, armas que seriam extremamente transmissíveis a espécies agrícolas sensíveis, usando insectos como meio de transporte.

O cenário de um ataque às culturas alimentares da Rússia, da China e de outros países, efectuado pelo Pentágono com enxames de insectos que transportam vírus infeciosos geneticamente modificados, não é ficção científica.

O programa da DARPA não é o único sobre o uso de insectos com fins bélicos. O Laboratório de Pesquisa da US Navy, encomendou à Universidade Washington, em St. Louis, Missouri, uma pesquisa para transformar gafanhotos em drones biológicos. Através de um eléctrodo implantado no cérebro e de um pequeno transmissor no dorso do insecto, o operador no terreno pode compreender o que as antenas do gafanhato estão a captar [2].

Esses insectos têm uma capacidade olfactiva tal que percebem instantaneamente, os diversos tipos de produtos químicos no ar: o que permite a detectar depósitos de explosivos e outras instalações, para atingí-los com um ataque aéreo ou com mísseis.

Cenários ainda mais inquietantes surgem no editorial dos cinco cientistas na Science. O da DARPA- salientam – é o primeiro programa para o desenvolvimento de vírus geneticamente modificados para serem espalhados no ambiente, os quais poderiam infectar outros organismos “não só na agricultura”. Por outras palavras, entre os organismos a atingir com vírus infeciosos transportados por insectos poderiam estar também os humanos.

Sabe-se que, nos laboratórios dos EUA e noutros, durante a Guerra Fria, foram realizadas pesquisas sobre bactérias e vírus que, disseminados através de insectos (pulgas, moscas, carraças), podem desencadear epidemias no país inimigo. Entre estas, a bactéria Yersinia Pestis, causadora da peste bubónica (a temida “morte negra” da Idade Média) e o vírus Ebola, contagioso e letal.

Com as técnicas disponíveis hoje é possível produzir novos tipos de agentes patogénicos, disseminados por insectos, contra os quais a população a atingir não teria defesa.

As “pragas” que, na narrativa bíblica, se abateram no Egipto com imensos enxames de mosquitos, moscas e gafanhotos por vontade divina, hoje podem abater-se hoje, realmente, no mundo inteiro pela vontade humana. Não o dizem os profetas, mas aqueles cientistas que permaneceram humanos.

Manlio Dinucci | Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de Vasconcellos | Fonte Il Manifesto (Itália)

* Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016.

[1] “Agricultural research, or a new bioweapon sys-tem?. Insect-delivered horizontal genetic alteration is concerning”, by R. G. Reeves, S. Voeneky, D. Caetano-Anollés, F. Beck, C. Boëte, Science, October 5, 2018.
[2] “Engineers to use cyborg insects as biorobotic sensing machines”, Beth Miller, Washington University in Saint Louis, June 30, 2016. “Un-derstanding and Hijacking the Insect’s Sense of Smell”, Office of Naval Research.

Washington corrompe parlamentares macedónios para obter a adesão à OTAN e à UE


Os Macedónios recusaram a adesão à OTAN e à UE que o governo de Zaev lhes propunha por referendo, em 30 de Setembro de 2018 [1]. No entanto, nessa mesma noite, os Secretários-gerais da Aliança e da União apelaram para se contornar a raiva popular e para prosseguir o processo, desta vez pela via parlamentar [2].

Segundo Milenko Nedelkovski, Washington iniciou imediatamente um programa de compra de votos dos deputados, revela o Mina Report [3].

Um responsável do Departamento de Estado dos EUA, «o Agente Tesla» (nome código de Mitko Burceski) abriu um gabinete num apartamento de luxo pertencente a Sasho Mijalkov, um primo do antigo Primeiro-ministro macedónio Nikola Gruevski. Os deputados vão lá, um por um, para receber US $ 2,5 milhões de dólares cada um.

A operação é dirigida pelos Embaixadores dos EUA em Skopje, Jess L. Baily (que supervisionou a entrada na guerra da Turquia contra a Líbia e a Síria), e em Atenas, Geoffrey R. Pyatt (que organizou o golpe de Estado de 2014 na Ucrânia).

Eles conseguiram colocar na ordem do dia do Parlamento a mudança de nome do país; condição sine qua non para a adesão à OTAN e à UE. A votação foi marcada para 16 de Outubro, quer dizer o próprio dia da decisão da Justiça em relação a uma dezena de deputados nacionalistas processados por terem espiado (espionado-br) o Partido Social-Democrata [4]. O plano dos embaixadores previa fazer levantar a imunidade desses deputados de modo a que eles não pudessem votar. Dado o número de votos comprados, a maioria do Parlamento cairia então, automaticamente, a favor da proposta do Primeiro- Ministro.

Voltaire.net.org | Tradução Alva

[1] “Os Macedónios afirmam-se contra a adesão à OTAN e à UE”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 3 de Outubro de 2018.
[2] “NATO and UE Joint statement on Macedonian Referendum”, Voltaire Network, 1 October 2018.
[3] “Mitko Burcevski coordinates Cash offers to MPs – $2.5m in duffel bags”, Marija Nikolovska, Mina Report, October 8, 2018.
[4] Gravações ilegais de personalidades políticas foram feitas entre 2011 e 2014. Ninguém sabe por quem e os diferentes campos sacodem a culpa para os outros. Entretanto, o conteúdo de 33 gravações tornados públicos dá conta dos costumes de uma classe dirigente falida.

Assange revela a maior ameaça à humanidade


Último vídeo antes de lhe serem cortados os contactos com o mundo

Antes de ficar isolado de quase todos os meios de comunicação com o mundo exterior em março, Julian Assange, o fundador da WikiLeaks, que se mantém na Embaixada do Equador, em Londres, partilhou a sua opinião sobre as ameaças que a humanidade enfrenta em relação ao progresso da Inteligência Artificial e à proteção de dados.

Um dos mais famosos denunciantes do mundo, Julian Assange, procurado pelos EUA por revelar documentos confidenciais no seu site WikiLeaks, sobre a guerra do Iraque durante quase dez anos, prevê um cenário sombrio que é "muito instável quanto à civilização tecnológica", afirmando que "não durará muito" por causa da rápida competição no mundo interligado.

"Pode produzir inteligências artificiais muito robustas que podem estar alinhadas com estados. Já vemos isso nos Estados Unidos e na China… essas duas potências vão conquistar todo o mercado. A rápida competição entre elas, com o apoio dos estados por detrás delas e a exacerbação da competição comercial por intermédio da competição geopolítica conduzirão ao desejo incontrolável do crescimento da capacidade da inteligência artificial, que levará a um conflito muito grave ou estupidificante. É essa a maior ameaça", disse num vídeo, gravado antes de ser boicotado totalmente, e publicado pelos organizadores do World Ethical Data Forum , em Barcelona.

Segundo o fundador da WikiLeaks, "essa competição geopolítica, aproveitada pelas maiores empresas de inteligência artificial" está preparada "para acelerar um processo que os seres humanos já não conseguem controlar".

"As instituições [humanas] são criadas para a competição, e ao aumentarem de tamanho e de domínio do mercado, etc., agarram todas as vantagens que podem e vão continuar a acelerar a competição. Tudo o que produzem contém esse ADN. É para aí que caminhamos e é essa a grave ameaça aos seres humanos, em geral, e a todos os negócios. Talvez a resposta a essa ameaça seja as pessoas compreenderem a segurança informática, segurança informática ofensiva", disse Assange na entrevista.

A capacidade emergente de grandes entidades e empresas privadas para continuar a reunir dados maciços das pessoas, juntamente com a aplicação da Inteligência Artificial (IA) também tem desempenhado um papel significativo. Com a Google, o Baidu, o Tencent, a Amazon e o Facebook "praticamente a recolher os conhecimentos da humanidade, quando comunicamos uns com os outros", este modelo clássico, chamado "capitalismo de vigilância" é agora diferente.

"É uma mudança económica muito importante e muito grave. Ou seja, agarrar no modelo de capitalismo de vigilância e transformá-lo num modelo que ainda não tem nome, um "modelo IA" e usar este vasto reservatório para treinar inteligências artificiais de diversos tipos. Isto substituirá não só setores intermédios – a maior parte das coisas que fazemos na Internet, em certo sentido, é uma intermediação mais eficaz — mas controlará o setor dos transportes, ou criará setores totalmente novos", afirmou Assange.

Assange também alertou para a crescente vulnerabilidade dos dados pessoais, que são cada vez mais visados e roubados por criminosos. Além disso, as pessoas têm de negociar a sua relação com todas as principais potências mundiais desde tenra idade. Só "muito poucas pessoas capazes tecnicamente conseguem viver à margem", o que "cheira um pouco a totalitarismo", é a opinião de Assange.

"Esta geração está a nascer agora… é a última geração livre. Mal acabam de nascer, imediatamente, ou no prazo de um ano, ficam conhecidos a nível global. A identidade deles, de uma forma ou de outra – em consequência da idiotice dos pais, que publicam o nome e as fotos no Facebook ou em consequência das aplicações de seguros ou do passaporte – torna-se conhecida de todas as principais potências mundiais. É uma situação muito diferente da anterior", afirmou no vídeo. 


21/Setembro/2018

O original encontra-se em sputniknews.com/... . Tradução de Margarida Ferreira.

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