Azeredo Lopes demitiu-se. Pronto.
E agora?
Pedro Santos Guerreiro | Expresso
| opinião
Demorou uma semana em lume pouco
brando. Depois de o Expresso ter revelado que um investigador da PJM garantira
ao juiz de instrução do caso Tancos que Azeredo Lopes soubera da farsa da
recuperação de armas furtadas, o ministro continuou a sê-lo apenas mais alguns
dias. Demitiu-se esta sexta-feira, entre a posse da nova PGR e o fecho do
Orçamento do Estado. Vira o ministro, não vira a página.
O ministro sai porque não
aguentou a pressão pública e interna. Não saiu por pressão política, que não
foi demasiado intensa: o PSD mandou uns tiros para as pernas mas não para o
coração, o CDS não tem munições pesadas. Não saiu por assunção de culpa, porque
na carta em que explica as razões de saída reitera de nada ter tido
conhecimento sobre a farsa de Tancos. Não saiu por falta de apoio do
primeiro-ministro, que o defendeu ainda que sem pôr as mãos o fogo. Não saiu
por razões de consciência, ou tinha-o feito mais cedo. Saiu porque a pressão
pública se intensificou. Saiu por pressão silenciosa dos militares que tutela, que
nunca gostaram deste civil. E saiu sem sabermos se Marcelo Rebelo de Sousa agiu.
Saiu na altura errada. Azeredo
teve sempre um mandato azarado, nunca impôs a sua autoridade entre as Forças
Armadas e caiu na armadilha da neutralidade, perante a sucessão de casos e de
crises de que o furto das armas de Tancos foi o mais grave, degenerando ademais
numa segunda crise, a do encobrimento na recuperação das armas. O ministro quis
ser indiferente, inodoro e incolor nas crises, para não ser enrolado nas
polémicas. Não era possível. Não foi possível.
A autoridade do Estado está de
rastos. Houve um assalto a Tancos que desacreditou as Forças Armadas, a Polícia
Judiciária entrou em rutura com a PJ Militar, a PJ Militar envolveu-se numa
inacreditável farsa, membros da GNR colaboraram nela, há oficiais a mentir, a
conspirar, a manobrar. E se o ministro está inocente no processo, não está
inocente na forma como deixou, pela passividade, ver um Ministério perder a
autoridade e a credibilidade.
Politicamente, o caso não morre
aqui, porque só a inocência provada de Azeredo Lopes garantirá que a polémica
que o matou não sobe o elevador do Governo. Depois da denúncia de Vasco Brazão,
ainda nenhuma outra prova surgiu que incriminasse o ministro. Mas o que está em
causa é tão grave que não é por se ter demitido que Azeredo Lopes desaparece do
problema. E o problema chama-se investigação ao caso Tancos. Que não pode parar
aqui, por uma questão de justiça, por uma questão de julgamento de suspeitos, e
por uma questão política.
Foto: Marcos Borga, em Expresso
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