quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Portugal | A desordem de um sistema


Ainda não refeitos do acidente de Borba, eis-nos de novo confrontados com mais uma ocorrência, que coloca em causa o sistema de proteção civil vigente no País.

Duarte Caldeira | Abril Abril | opinião

Sempre que falamos neste sistema, temos tendência de colar ao conceito «agentes»: Bombeiros, INEM, Forças de Segurança e outros. Fazendo isto, ficamo-nos pela avaliação crítica da prestação de cada agente/instituição per se, perdendo de vista a sua inserção num sistema mais vasto e complexo.

Se tivermos presente que ao longo do ano os vários agentes asseguram ao nível local, com sucesso, cerca de um milhão de serviços de emergência, no domínio do socorro de pessoas e bens, 80% dos quais garantidos por corpos de bombeiros em todo o território nacional, somos conduzidos à conclusão de que o sistema responde ao que dele se exige.

Porém, quando acontece alguma ocorrência em que os resultados de operação são marcados pela perda de vidas humanas e/ou dados materiais significativos, volta a dúvida quanto à confiança no sistema.

Deste raciocínio resulta a necessidade de não darmos por adquirida a fiabilidade do sistema tal como ele está desenhado, obrigando-nos a um exercício de reflexão serena e alicerçada em conhecimento, sobre as suas vulnerabilidades e insuficiências.

Aqui chegados, cruzamo-nos com a desordem de instituições, serviços e ministérios, numa sobreposição de competências, recursos e poderes que, nos momentos em que é necessário que respondam a uma só voz, impõem os entendimentos corporativos que têm sobre o que lhes compete, na cadeia de intervenção operacional.

No âmbito do trabalho do Observatório Técnico Independente, criado no âmbito da Assembleia da República, construímos uma infografia demonstrativa da duplicação e atropelo de competências que cerca de meia centena de estruturas e instituições evidenciam, em ocorrências mais graves. É um verdadeiro esparguete de linhas que se cruzam e sobrepõem, numa matriz funcional complexa e, como tal, difícil de gerir.

Dir-se-á que esta é a razão porque em 2007 foi criada a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), isto é, para assegurar a coordenação de todo o sistema. Mas, passado mais de uma década sobre o modelo concebido no período de 2006 e 2007, nenhuma avaliação foi feita a esta entidade, no ponto de vista do aprofundamento da sua missão, bem como à eficácia do modelo de articulação da ANPC com as já referidas mais de 50 instituições e serviços, tutelados por sete ministérios diferentes.

Em resumo, podemos concluir que é especulativo alarmar os portugueses quanto ao sistema de proteção e socorro de que o País dispõe. Mas constitui uma evidência que o sistema de proteção civil, necessário para gerir situações de acidente grave e catástrofe, revela cada vez mais fragilidades e sintomas de desordem funcional.

É por esta razão que continuo a reclamar a necessidade de, com o tempo e a serenidade que só o conhecimento especializado permite, se fazer uma auditoria funcional ao sistema nacional de proteção civil para que, numa primeira fase, se identifiquem as suas vulnerabilidades e, numa segunda fase, se proponham as medidas a adotar para lhe conferir a eficácia e eficiência que, comprovadamente, não possui.

E, para que não restem dúvidas quanto a esta matéria, acompanho os que consideram que o projeto de Lei Orgânica da ANPC aprovado pelo Governo no Conselho de Ministros do passado dia 25 de outubro, que tanta controvérsia tem gerado, só vai agravar a desordem.
Daqui a um ano o País estará já na vigência de uma nova legislatura, após as eleições de outubro de 2019. Até lá, esta é uma matéria que tem suficiente importância para integrar o debate pré-eleitoral que se desenvolverá ao longo do ano.

Este é um dos meus votos para 2019!

*O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AE90)

Bom natal e novo ano burguês, camaradas!


Bom dia para todos e em especial para os professores. Novo ano, vida nova. Será assim para todos ou só para os professores? É que eles andaram por meses e meses, por anos, a serem fintados pelos governos. O de Passos/Portas/Cavaco e depois neste governo de Costa. Vem o pai natal de Belém e dá sinal de que o governo tem de arrepiar caminho e que lei é lei, dura, mas lei. É aquilo que representa o Orçamento. O governo tem de negociar com os professores sobre o tempo que queria atirar para o caixote do lixo… O resto todos vós sabeis. Nem é preciso ser “sabão” para ter a certeza absoluta de que Marcelo, o PR, ia reagir assim e devolver a “batata quente” dos professores ao governo, não a aceitando.

É disso que também trata o Curto que publicamos a seguir. Não sem antes lembrar que o Expresso é da tal Impresa do tio Balsemão e que o Curto hoje vem com as laudas assinadas pelo Martim Silva, lá daquele burgo avançado nos odores de colónias e perfumes de qualidade exigente nos euros dispendidos. Alguns foram oferta de natal. Se telefonarem lá para o Expresso até podem experimentar os odores finaços e carotes que se conseguem via telemóvel, nos fixos e até pela internete. Odores de final de ano, porque gente fina é outra coisa.

Que os professores portugueses estão bem pagos e até mais que em alguns países da UE. Comentário saído da UE há meses… Será verdade? Pesquisemos, por via das dúvidas. Certo é que o governo falhou redondamente, foi desonesto. E agora como vai ser? Mantém-se fora da lei e teima na desonestidade? Aquele ministro dito da Educação… Não lembro o nome… Euroimbecil? Ah, não é isso, mas devo estar perto. 

Educação? Ora, a escola (depósitos) atual é uma treta terrível. E aqueles cérebros estão a moldar o quê? Uns quantos monstros de canudo e os restantes para o mercado esclavagista? Tudo isso para esta “nova” sociedade da “nova” ordem global? Pois. Decerto que é isso. Até quando? Para sempre? Oooh, não esqueçam que essa coisa de "para sempre" não bate certo, não existe!

Bom natal e novo ano burguês, camaradas!

- Isto dito com um sorriso é outra coisa. Muito mais assertivo (mé-mé). Pois. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

2A9M18D ou 9A4M2D? Confusão volta aos professores (com Marcelo à mistura)

Martim Silva | Expresso

Bom dia,

Nada se passava na aldeia gaulesa escondida junto à costa do Atlântico. Os coletes amarelos não chegaram, o Sporting voltou a derrapar, o Natal veio, o país vivia tranquilamente à espera do Ano Novo, entre rabanadas, bolo rei e resoluções para 2019. Eis senão quando, saído do seu descanso, Marcelo Rebelo de Sousa decide agitar as águas e devolver (é um eufemismo para vetar) o diploma do Governo que decidia, no caso dos professores, contabilizar apenas dois anos de congelamento das carreiras para efeitos de progressão na carreira.

Na véspera António Costa dirigiu-se aos portugueses com a sua mensagem de Natal. A 26 de Dezembro foi a vez do Presidente da República enviar o seu postal de Natal para o Executivo socialista. É o que se pode chamar um postal de poucos amigos.

E pronto, já temos assunto político para os tempos mais próximos. E, claro está, temos tema para abrir esta newsletter matinal. Cheia de cafeína.

2A9M18D ou 9A4M2D?

Entre o que o Governo dava e o que os professores exigem está a questão.

Ontem, ao final do dia, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a devolução ao Governo, sem promulgação, do decreto que permitia aos professores a contabilização de dois anos, nove meses e 18 dias (2A9M18D) do tempo de carreira que tinha sido congelado na última década. Para o chefe do Estado, este decreto colidia directamente com a norma aprovada no Orçamento do Estado para 2019, que estipula que as partes devem voltar a sentar-se à mesa para negociar.

Num tom vitorioso, Mário Nogueira, o líder da Fenprof, veio considerar adequada a decisão do Presidente da República. E anunciar que já para a semana, dia 3 de Janeiro, os professores vão bater à porta do Ministério para voltar a negociar a contabilização do tempo de serviço congelado. Também João Dias da Silva e a FNE vieram congratular-se com a decisão ontem conhecida.

Já o Governo, começou por afirmar que com esta decisão de Marcelo os professores ficam desde logo impedidos de começar a ver contabilizados já em janeiro os dois anos, nove meses e 18 dias que o Executivo tinha aceite. O Executivo deixou entretanto escapar que está disponível para voltar a sentar-se à mesa com os sindicatos.

Aqui tem seis perguntas e seis respostas para perceber o assunto.

Com o diploma que reconhecia parte do tempo vetado, agora volta-se à estaca zero. A questão é perceber se entre o tudo que exigem os professores (nove anos, quatro meses e dois dias - 9A4M2D) e o nada, que é a situação agora criada, se vai conseguir finalmente chegar a um entendimento.

Os dados estão lançados.

Ainda neste espaço de destaques da newsletter, quero aqui trazer um tema totalmente diferente:

Há anos e anos, há séculos mesmo, que os homens são discriminados face às mulheres. Não têm os melhores lugares na sociedade, não ascendem a cargos de topo, não lideram as maiores empresas e organizações. Há excepções, claro. E são muitas. Mas não deixam de ser excepções. Há que fazer algo para alterar este estado de coisas que a todos envergonha.

Este parágrafo anterior parece estúpido, não parece? Não faz mesmo qualquer sentido. Pois, é verdade, mas também esta notícia AQUI não devia fazer qualquer sentido no Planeta Terra, no ano de 2018. Mas, infelizmente, ainda faz. O título é “Serão precisos 202 anos para haver igualdade salarial”. Shame on us.

Outras notícias,

Cá dentro,

Tribunal Constitucional rejeitou o recurso de Duarte Lima, que agora deverá mesmo ter de cumprir a pena de seis anos de prisão a que foi condenado no âmbito do caso Homeland.

O Ministério Público e o juiz de instrução decidiram esconder o processo do BES.

Aqui ainda pode ler uma análise mais esmiuçada da mensagem de Natal de António Costa aos portugueses, pela pena do João Silvestre, editor de Economia do Expresso.

A operação de Natal da GNR registou 15 mortos nas estradasportuguesas.

No Expresso Diário falamos da personagem chave que liga os casos de Tancos e do roubo das armas Glock da PSP. Eis a‘fechadura’ para se perceber a história.

Ainda no Expresso Diário, quero destacar a versão completa do texto que publicámos na edição semanal do último sábado, e em que se conta como Salvador Malheiro está a montar redes de WhatsApp no PSD pelo país, de forma a disseminar a mensagem do chefe do partido.

Aos 93 anos, morreu esta quarta-feira a atriz portuguesa Manuela Cassola.

Há provavelmente muitas notícias citadas hoje aqui que são mais importantes. Para Portugal, para o mundo, para o presente e para o futuro. Mas dificilmente haverá outra com maior capacidade de captar o interesse do leitor. Aqui pode ficar a saber quais são as pontes, feriados e fins de semana prolongados em 2019.

Em altura de balanços e listas e afins, aqui ficam algumas das melhores sugestões de Dicas de Poupança do ano que agora termina.

Depois de há uns meses ter terminado com a sua edição diária em papel, passando a ser impresso apenas ao domingo, agora o Diário de Notícias, dirigido por Ferreira Fernandes, anunciouque vai passar a ter a sua edição semanal em papel ao sábado. Para nós aqui no Expresso nada como desejar boa sorte à concorrência, que é sempre muito bem vinda.

Lá fora,

A Rússia está pronta para lançar um novo míssil nuclear supersónico. O anúncio foi feito por Vladimir Putin.

Depois de ter anunciado a retirada das tropas norte-americanas da Síria, o presidente dos EUA, Donald Trump, fez uma visita supresa às tropas do país estacionadas no Iraque. Na sua primeira visita a militares que estão em zonas problemáticas, Trump garantiu que os EUA vão manter-se no Iraque.

Na política interna norte-americana, o shutdown é o assunto do momento.

Depois da morte de uma segunda criança da Guatemalaque se encontrava à guarda dos serviços de controlo fronteiriço dos Estados Unidos, as autoridades norte-americanas anunciarama realização de testes médicos aos menores que estão sob custódia das autoridades.

Em Espanha, e pela primeira vez em 36 anos, o PSOE vai ficar fora do poder na Andaluzia, graças ao acordo entre o PP e o Ciudadanos.

Há países que parecem eternamente adiados. É o caso da República Democrática do Congo, liderada por Kabila. A Cristina Peres escreve sobre este gigante país africano e a sua mais que conturbada situação política.

O governo regional da Sicília anunciou que vai declarar o estado de calamidade, depois do sismo que abalou a região.

O Japão retirou-se do acordo internacional de protecção das baleias e anunciou a intenção de voltar a caçar estes mamíferos para fins comerciais já a partir do próximo ano.

Há sete anos, o jovem tunisino Mohamed Bouazizi imolava-se pelo fogo em Tunes e dava início à Primavera Árabe. Desta vez, noutra cidade do país, um jornalista (Abderrazk Zorgui) fez o mesmo, pondo termos à vida e dando novamente início a protestos populares e a confrontos com a polícia.

Bono e outras figuras da música irlandesa juntaram-se para um concerto de Natal de apoio aos sem abrigo de Dublin.

1.600 quilómetros. 54 dias. Com skis nos pés. Assim se fez a primeira travessia da Antártida sem assistência e em versão solitária. O herói (o doido?) chama-se Colin O’Brady.

Depois de 40 minutos soterrado por uma avalanche nos Alpes franceses, uma criança foi resgatada com vida.

O Príncipe Carlos revelou ser grande fã da música de Leonard Cohen.

E como o futuro nem sempre é propriamente radioso, a Alexadeixou de funcionar no Natal.

Aqui na Tribuna fala-se de Boxing Day, ontem em Inglaterra, mas também de Cristiano Ronaldo.

LISTAS DO ANO (E PREVISÕES PARA 2019)

(Neste espaço normalmente surge no Expresso Curto a escolha das manchetes dos jornais do dia. Ou, por exemplo, algumas das melhores frases surgidas na nossa imprensa. Permitam-se este ligeiro entorse e apresentar aqui algumas das melhores listas de melhores do ano, e já com antevisões de 2019. Sim, eu sou doido por listas).

FT diz o que aconteceu de bom e de mau nos mercados de Wall Street.

mesmo jornal apresenta uma seleção das suas melhores reportagens publicadas nestes doze meses.

A Visão olha para os melhores restaurantes que abriram em Lisboa e no Porto.

Também no Expresso olhámos, por exemplo, para o melhor do ano em televisão, na música, no cinema e nos livros.

Ainda em matéria de livros, esta é a seleção da Atlantic.

Guardian apresenta uma selecção dos filmes mais aguardados de 2019.

E a Visão que hoje chega às bancas fala de 2019 como o ano dos "previstos imprevisíveis"

E o New York Times sugere como viver melhortrabalhar melhore ter melhores relações em 2019,

O QUE ANDO A LER

A quadra natalícia é propícia a iniciar leituras. Troca de prendas, etc, etc, etc. Não foi exactamente o caso, mas na véspera de Natal chegou-me às mãos “A Queda de Salazar – o princípio do fim da ditadura”. Editado pela Tinta da China, tem como marca de água de qualidade as décadas de jornalismo que os seus três autores (José Pedro Castanheira, António Caeiro e Natal Vaz) têm no currículo.

Tal como o título indica, a obra centra-se na queda que nos finais de 60 do século passado Salazar deu no Estoril e que levaria à substituição do ditador à frente do Estado Novo, e a sua posterior morte. O livro alia a investigação jornalística no que ela tem de melhor - precisa, meticulosa, profunda - com a arte narrativa que consegue agarrar o leitor página a página, parágrafo a parágrafo. Não espanta por isso que mesmo com a consoada pelo meio, rapidamente tenha devorado as primeiras 100 páginas com gosto.
Aqui fica a minha empenhada sugestão de leitura.

Tenha um grande dia. Nós vamos andar por aqui.

Humor de Pedro em Portugal, no JN


“O natal passou, nada mais resta”, diz-se na canção, o que não corresponde à realidade. De facto o natal já passou (Ary dos Santos achava que era natal todos os dias) mas ainda restam resquícios dessa quadra. Até no Jornal de Notícias pelo matraquear das teclas na autoria de Pedro Ivo Carvalho, lá da “casa” do jornal do norte. E vai daí o Pedro Ivo descobriu humor em “A lista Secreta dos políticos ao Pai Natal”, que  aqui começa com um “cheirinho” de duas personalidades conhecidas e por isso tão badaladas: O PR Marcelo e o PM Costa. Depois, no original JN pode ler de outras personalidades, entre as quais: Rui Rio, Catarina Martins, Assunção Cristas, Jerónimo de Sousa… E só esses.

Curto elenco de personagens, achamos nós. Então e a lista de Salgado, de Cavaco e dos da sua pandilha impune? E a lista de Sócrates, assim como a de Paulo Portas submarinando? E os outros? Tantos. Tantos, que seria enfadonho mencionarmos aqui.

Está bem. Vamos nessa, com o humor de Pedro Ivo Carvalho, no JN. Gratos pela bem humorada prenda... e pelo "furo". (CT | PG)

A lista secreta dos políticos ao Pai Natal

Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | humor | em 25 Dezembro 2018

Há quem já lhe chame o "Natal leaks", há quem se refira a elas como o "Pai Natal Papers". O Jornal de Notícias voltou a ter acesso às cartas que os líderes dos principais partidos escreveram ao Pai Natal. Uma lista secreta de presentes para eles e para os adversários que nem à família mostraram. Entre pedidos obtusos e irreverentes, e outros mais terrenos e fofos, fica evidente que o altruísmo que os políticos portugueses projetam de forma lustrosa durante 51 semanas não se materializa nos dias do ano em que os nossos corações deviam convergir numa morna e harmoniosa corrente subterrânea de amor.

Marcelo Rebelo de Sousa - Bom, este ano, como só completei 70 primaveras, estava a pensar em algo fora da caixa. Da caixa de ressonância mediática, claro. O que eu queria mesmo, sabes, Pai Natal, era silêncio. Há dias em que se torna penoso ouvir o presidente da República falar sobre tudo quando chego a casa à noite. Embora eu até concorde com ele. O comentador em mim diz: "Modera-te, Marcelo". Mas o presidente em mim contrapõe: "Comenta, Marcelo, Portugal está à espera que digas alguma coisa". Eis a minha lista.

Gostava de fazer uma Presidência Aberta com os portugueses que não vão votar em mim nas próximas eleições, no sentido de perceber a fundo as suas razões e tentar chamá-los à normalidade. Como cabem todos no banco de trás do meu Mercedes, podíamos ir no mesmo carro, poupando esforço ao erário público. É uma dúvida que me inquieta: será que estes três cidadãos não veem televisão, não ouvem rádio nem consultam jornais? Não só me inquieta. Consome-me o sono.

Algo que me orgulhava sobremaneira era poder ver, neste Natal, todos os partidos sentados à mesa a discutir o futuro do país. Eu ofereço o espaço, o Jerónimo podia levar as bifanas picantes da Festa do Avante, a Assunção traz os militantes da JP para pôr música, a Catarina leva as manas Mortágua para irritar a Assunção, o Rio abre a festa com um show-case de bateria e fechamos tudo com um número de biodança a solo (passe a redundância) do deputado do PAN. Numa ponta da mesa fico eu, na outra fica o António Costa. Quem conseguir aguentar mais tempo sem se rir do nosso otimismo irritante ganha um difusor com óleo de alfazema. Consta que as suas propriedades relaxantes ajudam a reduzir os níveis de ansiedade. Em 2019, com eleições legislativas, europeias e regionais, o mais provável é precisarmos todos.

Por último, e correndo o risco de soar um pouco a Miss Universo, desejo ardentemente a paz no Mundo, em particular na sede do PSD, mas também o fim de todos os populismos, os quais geram movimentos extremistas e perigosos. E quando digo isto não estou a pensar nos coletes amarelos portugueses. Até porque ficou provado que nunca deu bom resultado imitar os franceses. Veja-se o que aconteceu ao Tony Carreira.

António Costa - Está mais ou menos na cara o que eu quero, caro Pai Natal. E só tem duas letrinhas: maioria absoluta. Apenas não me atrevo a pedi-la já porque ainda há quem ache que eu realmente me aliei ao BE e ao PCP por imperativo patriótico e não porque queria dar com a porta na cara do Passos Coelho e ficar quatro anos a rir-me disso todos os dias. Mas há outras coisas que eu gostava de receber ou de dar.

Se fosse possível guardar num frasquinho o ar irrespirável que por vezes se sente nos Conselhos de Ministros quando o Centeno leva a tesoura das cativações era ótimo. É o tipo de objeto que adoraria ter numa cómoda de S. Bento. Com a seguinte inscrição: "Os magros duram mais tempo - os cidadãos e os orçamentos do Estado".

Gostava de oferecer ao meu amigo Rui Rio o álbum "O monstro precisa de amigos", dos "Ornatos Violeta". Porque ele não merece o que lhe andam a fazer. E o monstro aqui é o PSD, não ele. Ao Rui dedicava-lhe a música "Ouvi dizer", que tem aquela passagem épica na voz sussurrada do Victor Espadinha. Com uma letra adaptada à letargia em que chafurda a Assunção Cristas. Ficava assim: "A Oposição está deserta, e alguém escreveu o teu nome em toda a parte: nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas. Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura! Ora amarga! Ora doce! Para nos lembrar que a cegueira política é uma doença, quando nela julgamos ver a nossa cura!". Bonito, não é?

Por fim, era capaz de oferecer à Catarina e ao Jerónimo um álbum ilustrado de memórias da "geringonça". Não punha era fotos nossas. Usava imagens da ida do homem à Lua, da eleição de Donald Trump nos EUA, da transferência da Cristina Ferreira da TVI para a SIC e do bicampeonato do Rui Vitória. No fundo, acontecimentos que, tal como a longevidade do atual Governo, ninguém era capaz de prever.

Hungria | O princípio do fim de Viktor Orbán?

Húngaros protestam diariamente contra governo Orbán
Chamada "lei dos escravos" leva milhares de húngaros às ruas do país. A reação do governo é cada vez mais absurda, e a Hungria pode estar diante de um futuro sombrio, opina Keno Verseck.

Keno Verseck | Deutsche Welle | opinião

Consta que o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, possui um talento brilhante para farejar assuntos importantes para a população, aliado a um extraordinário instinto de poder. De fato, muitas evidências disso podem ser encontradas nos últimos anos.

A mais conhecida é a instrumentalização da crise de refugiados pelo chefe de governo húngaro. O tratamento que Orbán deu ao assunto lhe garantiu uma votação recorde na Hungria, transformando-o num fator de influência a não ser subestimado na Europa.

Mas dadas as reações do governo húngaro à atual onda de protestos no país, deve-se agora desconfiar do instinto de Orbán. Atualmente, milhares de pessoas protestam diariamente contra a chamada "lei dos escravos", segundo a qual o número de horas extras permitidas pode aumentar muito, como também contra outras leis e práticas antidemocráticas no país.

Embora o primeiro-ministro húngaro ainda não tenha comentado diretamente as manifestações, seus funcionários e amigos mais próximos, como também a mídia que lhe é favorável, se voltam de forma virulenta contra todos aqueles que atualmente tomam as ruas ou que apoiam de alguma forma os protestos.

Eles afirmam que os protestos são obra de "provocadores", de "agentes da rede Soros", de "criminosos estrangeiros", de uma "minoria agressiva" ou "inimigos do cristianismo e do Natal". Trata-se de atributos que devem ter sido aprovados por Orbán, pois na Hungria nada acontece sem o seu consentimento. E certamente as pessoas de seu entorno imediato não se expressam sem a certeza de que estão alinhados com o primeiro-ministro.

Até agora, o modo pelo qual o regime Orbán rotulou os críticos só tem ajudado a inflamar ainda mais os protestos. É estapafúrdia a forma como o governo húngaro se supera no absurdo de suas alegações. Mas isso faz simplesmente parte da lógica do sistema de Orbán. E é aí que a situação fica realmente perturbadora.

A retórica de Orbán – isso pode ser acompanhado por um bom observador – está cada vez menos preocupada com uma concorrência democrática voltada para o bem comum e a governança responsável e sustentável. Em vez disso, a suposta luta entre vida e morte, guerra e paz, bem e mal está cada vez mais em primeiro plano.

Assim, a forma tornou-se conteúdo. O primeiro-ministro da Hungria aboliu gradualmente os mecanismos de controle do poder ou, pelo menos, restringiu severamente seu funcionamento.

O filósofo Gáspár Miklós Tamás foi um dos primeiros a prever, muito tempo atrás, que Orbán não iria entregar voluntariamente o poder. Enquanto isso, muitos húngaros acreditam que o primeiro-ministro não é mais tão fácil de derrubar pelo voto, mas que seu regime só pode ser encerrado pela força.

Sinais disso podem ser observados atualmente. Na semana passada, no Parlamento húngaro, foram vistas cenas caóticas que não aconteceram em outro Parlamento na União Europeia em 2018 – assobios, ocupação do palanque do presidente da Casa pelos deputados, deslocamento de forças de manutenção da ordem para o plenário e a oposição retirando-se em protesto. As manifestações também estão se tornando cada vez mais radicais.

Não há praticamente nenhuma esperança de que Orbán detenha seu estilo de governo extremamente agressivo. O que é triste para a Hungria e seu povo: o país que há 30 anos era pioneiro do desenvolvimento democrático no Leste Europeu está diante de um futuro sombrio.

A Itália dos Três Macacos Perante o Risco de Guerra Nuclear


Manlio Dinucci*

Que reacção suscitou em Itália, a advertência do Presidente da Rússia, Putin, que o mundo subestima o perigo da guerra nuclear e que essa tendência se está a acentuar? Significativo, o comentário de ‘La Repubblica’, que fala de “tons muito alarmistas”. Eloquente, o silêncio praticamente absoluto de todo o arco parlamentar. Como se a Itália não tivesse nada a ver com a corrida armamentista nuclear que, advertiu Putin na conferência de imprensa do final deste ano, poderia levar à “destruição de toda a civilização ou, talvez, de todo o planeta." [1] Cenário não alarmista, mas esperado pelos cientistas que estudam os efeitos das armas nucleares.

Um perigo particular - sublinha Putin - é representado pela “tendência para baixar o limiar do uso das armas nucleares, criando cargas nucleares tácticas de baixo impacto que podem levar a um desastre nuclear global.” A esta categoria pertencem as novas bombas nucleares B61-12, que os USA vão começar a instalar em Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda e talvez noutros países europeus, no primeiro semestre de 2020. "A alta precisão e a possibilidade de usar ogivas menos destrutivas - adverte a Federação dos Cientistas Americanos - podem levar os comandantes militares a carregar no botão, porque, num ataque, se usarem a bomba nuclear, sabem que a chuva radioactiva e o dano colateral seria limitado ". A Itália é co-responsável pelo perigo crescente de uma guerra nuclear porque, violando o Tratado de Não-Proliferação e não aderindo ao Tratado da ONU sobre a Proibição das Armas Nucleares, fornece aos Estados Unidos, em função principalmente anti-Rússia, não só bases mas, também, aviões e pilotos para o uso de bombas nucleares. Isto acontece com o consentimento explícito ou implícito (através da renúncia a uma verdadeira oposição) de todos os membros do Parlamento.

O outro perigo – adverte Putin - é representado pela “desintegração do sistema internacional do controlo de armamentos”, iniciada com a retirada dos Estados Unidos, em 2002, do Tratado ABM. Estipulado em 1972, pelos EUA e pela URSS, proibia qualquer das partes de instalar mísseis interceptores que, neutralizando a retaliação do país atacado, favoreceria um first strike = primeiro ataque, ou seja, um ataque nuclear de surpresa. Desde então, os EUA desenvolveram o “escudo anti-míssil”, estendendo-o para a Europa, à volta da Rússia: duas instalações terrestres na Roménia e na Polónia e quatro navios de guerra, que cruzam o Mar Báltico e o Mar Negro e que estão equipados com tubos de lançamento que, além de interceptar mísseis, podem lançar mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares. Também neste caso a Itália é co-responsável: em Sigonella está instalada a JTAGS, estação de satélites USA, do “escudo anti-míssil”, uma das cinco estações no mundo. A situação também é agravada pelo facto de que os EUA querem retirar-se agora do Tratado INF de 1987 (o que eliminou os mísseis nucleares norte americanos instaladas em Comiso), para poder instalar na Europa, contra a Rússia, mísseis nucleares de médio alcance com base em terra. Também aqui, com a co-responsabilidade do governo italiano, que no Conselho do Atlântico Norte, em 4 de Dezembro, avalizou esse plano e está, seguramente, disponível para a instalação de tais mísseis em Itália. “Se os mísseis chegarem à Europa, então o Ocidente que não grite, se reagirmos”, disse Putin.

Advertência ignorada por Conte, Di Maio e Salvini que, enquanto tornam público o “decreto de segurança” anti-imigrantes, quando chegarem as bombas e mísseis nucleares USA, colocando em risco a verdadeira segurança da Itália, não vão ver, nem ouvir, nem falar.



Nota:
[1] “Vladimir Putin’s annual news conference”, by Vladimir Putin, Voltaire Network, 20 December 2018.

Fim de Ano em Macau | Concertos e festas vão animar o território


Organizados pelo Instituto Cultural e pelos Serviços de Turismo o “Concerto da Passagem de Ano – Macau 2018” e a “Festa da Passagem de Ano – Taipa 2018” terão lugar na noite de 31 de Dezembro, na Praça do Lago Sai Van e nas Casas da Taipa, respectivamente. Os eventos contam ainda com a tradicional contagem decrescente sendo que à meia noite, na Torre de Macau, o fogo de artifício tem lugar como habitualmente para assinalar a chegada do novo ano.

Este ano, o o concerto de passagem de ano em tem lugar no dia 31 de Dezembro, das 22h horas às 00h10 horas do dia seguinte, na Praça do Lago Sai Van, e conta com a actuação do grupo de Rap de Hong Kong, FAMA, do cantor Phil Lam, do grupo local MFM e dos cantores Filipe António da Silva Baptista Tou, Alex Ao Ieong, Kylamary, Lino e Elise Lei. Para levar o momento a todos os pontos da cidade serão instalados ecrãs gigantes no Largo do Senado e no Centro Náutico da Praia Grande.

Já a festa de passagem de ano da Taipa vai decorrer a partir das 21h30 do último dia de 2018. O evento conta com a presença do cantor de Hong Kong, Christopher Wong. O espectáculo inclui ainda actuações de vários artistas de Macau como Cass Lai, Bill Leong Kin Pong, EXPERIENCE, Mágico Van, Grupo de Dança Indiana Victor Kumar & Bollywood Dreams Group, Palhaços Tru & Tru, Grupo de Dança Indonesia Returned Oversea Chinese Culture and Art Friendship Association of Macao, Macau Cheerleader, Grupo de Dança da Associação dos Conterrâneos do Vietname de Macau e a Banda filipina Dreamcast. A entrada para ambos os eventos é livre.

Sofia Margarida Motta |Hoje Macau

Cultura em Hoje Macau

Polícia impede acesso a tribunal chinês onde julgam ativista dos Direitos Humanos


Pequim, 26 dez (Lusa) - Mais de vinte polícias à paisana cercaram hoje o tribunal no norte da China onde está a ser julgado um conhecido advogado dos Direitos Humanos, afastando jornalistas, diplomatas estrangeiros ou apoiantes.

Wang Quanzhang é um de mais de 200 advogados e ativistas que foram detidos, em 2015, parte de uma campanha repressiva lançada pelo Governo chinês contra defensores dos direitos humanos no país.

Wang foi acusado, em 2016, de "subversão contra o poder do Estado", uma acusação muito grave na China e cuja pena máxima é prisão perpétua. Está detido, há mais de três anos, sem acesso a familiares ou advogados.

A sociedade de advogados à qual pertence, a Fengrui, esteve envolvida em vários casos politicamente sensíveis e representou críticos do Partido Comunista. Wang representou membros do culto religioso Falun Gong, que o PCC considera um culto maligno, e que baniu do país, em 1999.

Líderes do culto de prática espiritual foram condenados a longas penas de prisão e vários seguidores detidos, por alegadamente constituírem uma ameaça.

Citada pela agência Associated Press, a esposa do advogado, Li Wenzu, afirmou, na terça-feira, que agentes do ministério chinês de Segurança do Estado impediram-na de se deslocar a Tianjin, cidade portuária onde decorre o julgamento.

Os julgamentos de ativistas na China decorrem muitas vezes durante o período de natal, quando muitos diplomatas ocidentais e jornalistas se encontram de férias.

Li e Wang Qiaoling, esposa de outro advogado de defesa dos Direitos Humanos que foi detido, descreveram na rede social Twitter o seu encontro com membros da Segurança do Estado.

Um dos funcionários ofereceu-se para as levar até Tianjin, mas acrescentou que o julgamento não é publico e que estas não poderiam assistir.

Li e Wang afirmaram terem rejeitado a proposta e tentado sair do complexo, mas que todas as seis saídas tinham polícias à porta.

Li tem feito uma campanha pela libertação do marido. No início deste mês, ela e as mulheres de outros detidos rasparam o cabelo, num ato de protesto.

Em chinês, as palavras "cabelo" e "lei" são quase homófonas. "Podemos não ter cabelo, mas temos lei", afirmaram.

Diplomatas das embaixadas dos Estados Unidos, Suíça, Reino Unido ou Alemanha esperaram nas imediações do tribunal, em Tianjin. Os diplomatas afirmaram que o acesso ao julgamento lhes foi negado.

Um apoiante gritou palavras de apoio a Wang Quanzhang, antes de ser enfiado dentro de um carro por polícias à paisana.

"Um académico debilitado, e vocês tratam-no assim", afirmou Yang Chunlin, citado pela AP.

"Wang Quanzhang é a pessoa mais fantástica na China", gritou. "Exijo reformas políticas, direitos civis. Eleições no Partido e respeito pelos direitos humanos", disse, antes de ser levado pela polícia.

JPI // FST

Indonésia | Autoridades elevam nível de alerta do vulcão Anak Krakatoa


Jacarta, 27 dez (Lusa) - As autoridades indonésias elevaram hoje o nível de alerta do vulcão Anak Krakatoa, cinco dias depois da sua erupção ter originado um tsunami que causou pelo menos 430 mortos, 159 desaparecidos e mais de 22 mil desalojados.

O porta-voz da Agência Nacional de Gestão de Desastres, Sutopo Purwo Nugroho, indicou que o alerta passou para o nível 3, o segundo mais alto numa escala de 4, e que o raio de exclusão em torno do vulcão foi estendido de dois para cinco quilómetros.

"População e turistas estão proibidos de realizar qualquer atividade num raio de cinco quilómetros" do Anak Krakatoa, disse o porta-voz em comunicado.

Por sua vez, as agências meteorológicas recomendaram a suspensão de atividades a menos de um quilómetro da costa, prevenindo a possibilidade de um novo tsunami.

As equipas de resgate operam em contrarrelógio, com pouca esperança de encontrar sobreviventes no desastre que, segundo o último balanço oficial, causou 430 mortos, 1.495 feridos e 22 mil desalojados.

Na quarta-feira, as autoridades já tinham pedido à população e aos visitantes que evitassem a costa, enquanto as erupções e as condições meteorológicas e do mar estão a ser monitorizadas para avaliar riscos de um novo tsunami.

A chefe da Agência de Meteorologia, Geofísica e Climatologia, Dwikorita Karnawati, alertou então para a possibilidade de se registarem ondas altas e fortes chuvas, num momento em que a parede da cratera do vulcão arrisca ruir.

Numa conferência de imprensa na terça-feira, a responsável disse que o clima e as contínuas erupções "podem causar deslizamentos de terra nos penhascos da cratera para o mar".

"Tememos que isso possa provocar um tsunami", acrescentou Karnawati.

A violenta erupção do vulcão Anak Krakatoa, a cerca de 50 quilómetros mar dentro desde a praia Carita, provocou na noite de sábado um deslizamento de terra que criou as ondas de dois e três metros de altura e que demoraram 25 minutos a chegar à costa.
O tsunami surpreendeu muitos visitantes nas praias deste enclave, promovido como destino turístico pelo Governo.

O pior tsunami na Indonésia aconteceu em 26 de dezembro de 2004 no norte de Samatra e causou cerca de 230 mil mortes numa dezena de países banhados pelo Oceano Índico, dos quais 168 mil em território indonésio.

FST (JMC/MP) // JMC

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