segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Portugal | Oh i oh ai, os Passos Montenegros vêm aí…


A novela tem pano para mangas, o que significa (esclarecendo os que se expressam bem em inglês mas não entendem expressões em português) que o caso está para durar no tempo e na comunicação social das tricas e laricas. Mas qual novela? Ora, a do PSD anti Rio e pró linha tétrica dos Passos Montenegros de Mais à Direita Volver.

Este é o assunto primeiro do Curto de hoje, ainda quentinho, pela lavra de Santos Costa, do Impresa Balsemão e Companhia Ilimitada Porque Vale Tudo. Vamos nessa.

Que uns dizem assim e outros aqueloutro do dito. Está bem. Até podem andar à trolitada que seja para aquecerem. Com este frio dará um jeitão e sempre poupam nos aquecimentos que funcionam à custa dos contribuintes papalvos e enregelados. Até mesmo dos velhotes com reformas de miséria que pagam a eletricidade dos aquecimentos dos deputados e de outros felizardos em organismos para por lá gozarem o quentinho dos ares condicionados e etc. Mas esses mesmos velhinhos, de reformas de miséria, têm de se contentar com o frio porque não têm reformas suficientes para poderem suportar as contas de eletricidade que estão apensas ao funcionamento do quentinho e bom. Coisas desta dita democracia e dita justiça social. Ops. Dito isto estamos a ver sorrisos ou  muitos milhares de esgares? Milhões? Pois.

Avançando. Dizia alguém que este governo de Costa navega à bolina e sem oposição. E é mesmo, uma vez que constatamos que nem CDS, nem PSD, são oposição válida, credível, alternativa ao governo de António Costa. E são assim porque motivo? Porque antes estiveram a governar exclusivamente para os tais 1% que eram e são DDTs (Donos Disto Tudo), os tais que atiram os lucros e as verbas dos cambalachos para os offshores. Que, como se não bastasse, debulharam os portugueses durante anos e anos, condenando-os à miséria e correspondentes ausências de abrigo. Vimos famílias destroçadas por via disso, cumprindo-se o adágio de “casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”. Boa Passos! Boa Cavaco! Boa doutores-ministros daquele governo debulhador que nem eram doutores mas sim uns intrujões. Credibilidade? Só se a memória fôr curta e desavergonhada. Credibilidade? Só se for na matéria que ainda hoje se mantém no fundo da pia dos despejos e 'obração'. Pois.

Recomende-se, para aquecer, que acabemos este arremedo de entrada do Curto cantando, rindo, batendo palmas e com os pés no chão, agitando ao máximo os membros superiores e inferiores: “Oh i oh ai os Passos Montenegros querem vir aí. Oh i oh ai já estamos fartos deles e de ti…” E por aí adiante. Pronto. Já aqueceram? Cuidado com a conta de eletricidade. É que o Mexia já está podre de rico e os das ilhargas também. Os offshores citys que revelem.

Bom dia, se conseguirem, e boa semana, se tiverem essa sorte. Abram os olhos como as mulas que carregam os donos-cavaleiros embriagados, de olhos mortiços e até fechados, mas que chegam a casa, ao destino, para se abrigarem do vento e da chuva, da intempérie que as direitas em Portugal preparam com toda a manha que caracteriza os que nos espoliam sem dó nem piedade, ou sem uma réstia de pudor.

Vejam o Curto. Vale. Inté. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Uma guerra civil em que ganham os dois?

Filipe Santos Costa | Expresso

Bom dia.

Vamos às últimas na guerra civil do PSD.

Depois de Luís Montenegro se ter disponibilizado para disputar a liderança e ter desafiado Rui Rio para que convoque eleições diretas já, o presidente do PSD não fez a vontade ao ex-líder parlamentar do partido, mas anunciou um Conselho Nacional para votar uma moção de confiança. Agora, é hora de contar espingardas e fazer apostas. Luís Marques Mendes já fez as suas.

“Eu acho que Rui Rio vai ganhar”, disse o ex-líder do PSD, e atual comentador da SIC. A razão é, tão só, a história e a estatística: “Nunca vi ao longo da história do PSD um líder perder uma votação relevante num Conselho Nacional”, explicou Mendes. “Se isso acontecer”, acrescentou, “acabam por sair ambos vencedores”. Uma guerra civil em que ganham os dois, portanto. Rui Rio, porque “sai reforçado” e não fica nenhuma dúvida de que irá a votos contra António Costa em outubro, qualquer que seja o resultado das europeias; Luís Montenegro “também ganha” porque teve a coragem de se chegar à frente e pedir a clarificação, e fica “na pole position” para a sucessão de Rio depois das legislativas de outubro.

O antigo presidente social-democrata desdramatizou o desafio feito por Luís Montenegro, distanciando-se dos que usam expressões como “golpe de Estado” ou “golpe palaciano”. “Estas coisas são normais e é sempre melhor uma clarificação”, diz Mendes, para quem o ideal seria ir para diretas já - uma vitória de Rio deixá-lo-ia “reforçadíssimo”, uma vitória de Montenegro abriria “um novo ciclo”, com “um novo elán”. Havendo primeiro o Conselho Nacional, Mendes diz que seria “preferível o voto secreto”, para que os conselheiros tivessem maior liberdade. Com os apoiantes de Rio empenhados em reduzir as motivações dos críticos à preocupação com “os lugarzinhos nas listas”, Mendes advertiu que “a história dos lugares é uma avenida com dois sentidos, há dum lado e do outro” e admitiu que “há uma parte significativa, de um lado e de outro, que vota pelos lugares”.

E dos dois lados perfilam-se apoios. Paulo Rangel colocou-se ao lado de Rio, elogiando a “coragem” e “bom senso” com que respondeu ao desafio. Francisco Pinto Balsemão, presidente do Conselho de Administração do Grupo Impresa (proprietário do Expresso), criticou o timing do desafio de Montenegro, bem como o seu “conteúdo um pouco melodramático, ou patético”. Do lado de Luís Montenegro, Maria Luís Albuquerque lamentou ontem que Rio não tenha aceitado uma clarificação imediata em diretas, e criticou a forma como o presidente do PSD recorreu a ataques pessoais para responder ao desafio político que lhe foi feito por Montenegro. Paula Teixeira da Cruz também já havia considerado a declaração de Rio “no mínimo miserável”.

O Observador fez uma análise desses ataques de Rio, que disse ou insinuou que Montenegro é irresponsável, imaturo, inconsciente, sem ética... e maçon.

Hoje, o Presidente da República recebe Luís Montenegro em Belém, depois de se ter encontrado com Rio, no Porto, na sexta-feira à noite.

A luta continua, e a balcanização do PSD também.

OUTRAS NOTÍCIAS

Não é só Rui Rio que, em clima de balcanização, quer ver a sua autoridade reforçada com uma moção de confiança. Na Grécia, Alexis Tsipras fez o mesmo, depois da demissão do ministro da Defesa, um ultranacionalista e populista. Neste caso, é literalmente uma questão balcânica - o Governo de Atenas, que resistiu às agruras da troika, pode não resistir ao novo nome da Macedónia, um dos seus vizinhos a norte. Desde a semana passada o país chama-se República da Macedónia do Norte, uma decisão que mereceu o acordo de Tsipras, o que pôs fim a uma velha disputa diplomática, mas também pode por fim ao governo grego. Desde que foi assinado o acordo de Skopje, há um ano, que os ultranacionalistas gregos ameaçavam romper com Tsipras, pois não aceitam que Macedónia, nome de uma região grega, designe também outro país.

Depois de mais um fim de semana de protestos dos coletes amarelos, Emmanuel Macron propôs um grande debate nacional em França em torno de 35 questões, com temas que abrangem a fiscalidade, a democracia, a ecologia ou a imigração. Não se sabe que consequências terá a iniciativa do presidente francês, mas uma consequência deste movimento de protesto parece iniludível: o reforço de Marine le Pen. A líder da extrema-direita francesa está bem lançada para uma vitória nas eleições europeias.

Amanhã é o dia decisivo para o Brexit, com a votação na Câmara dos Comuns do acordo entre o Reino Unido e a UE. Theresa May voltou a dramatizar as consequências de um chumbo, e deverá fazê-lo outra vez hoje, num último esforço para conseguir uma improvável maioria de apoio. Entretanto, Bruxelas poderá adiar até julho a data limite para o Brexit, de modo a evitar uma saída desordenada já no fim de março. Se assim for, o Reino Unido ainda terá de votar nas eleições europeias de maio.

António Costa deu ontem a garantia aos britânicos que vivem em Portugal de que poderão, depois do divórcio com a UE, continuar serenamente em Portugal. O secretário-geral do PS chamou ainda a atenção para a importância das eleições europeias, alertando que a Europa está a ser atacada pelo "virus do protecionismo e do nacionalismo".

Noémia Jorge, Cecília Aguiar e Miguel Magalhães não são nomes consagrados como é Fernando Pessoa, mas isso não os impediu de dar umas tesouradas na obra do poeta português mais celebrado em todo o mundo. Os três autores de “Encontros”, um manual de língua portuguesa para o 12º ano, da Porto Editora, terão achado que a mocidade portuguesa não está preparada para alguns versos com linguagem mais explícita e censuraram-nos, conforme noticiou a Marta Gonçalves.

Trata-se de três versos da “Ode Triunfal”, assinada pelo heterónimo pessoano Álvaro de Campos. Ei-los: “Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas”; “E cujas filhas aos oito anos – e eu acho isto belo e amo-o! / Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada”. Os alunos em causa têm pelo menos 17 anos. Estamos no ano da graça de 2019.

manchete do Público conta uma história tipicamente portuguesa. Em abril de 2018 juntaram-se dois ministros e representantes do Banco Central Europeu para, com a devida pompa e circunstância, lançarem o programa Casa Eficiente 2020. Trata-se de uma linha de financiamento com condições favoráveis para melhorar a eficiência energética e hídrica das habitações portuguesas. O programa, que arrancou em junho com uma dotação de 200 milhões de euros, permitiu nos primeiros seis meses empréstimos num valor total de apenas 300 mil euros. O Governo diz que a responsabilidade é da banca. E, como é possível constatar, um crédito para comprar carro é mais fácil e tem melhores condições do que um empréstimo para fazer obras em casa.

Uma semana após a estreia do novo programa de Cristina Ferreira, uma reportagem especial da SIC mostra o outro lado do fenómeno da TV que está a dominar as audiências.

Por falar em Cristina: Marcelo Rebelo de Sousa esteve de surpresa no Hot Clube para ouvir jazz. Foi no sábado à noite, em resposta a um desafio do radialista José Duarte, conta oPúblico. O Presidente da República ouviu a apresentação do terceiro disco do Vitor Pereira Quintet.

O primeiro concerto dos Xutos e Pontapés foi a 13 de janeiro de 1979. Passaram ontem 40 anos. Diz quem assistiu que"foi uma experiência fugaz, mas intensa". A banda prepara-se paralançar um novo disco, o primeiro sem o guitarrista Zé Pedro, embora inclua gravações feitas pelo músico que morreu em 2017.

O Diário de Notícias dá conta de uma nova greve dos guardas prisionais. Da próxima quarta-feira até 3 de fevereiro os reclusos ficam 22 horas por dia nas celas, terão apenas uma hora de visita por semana, e deverão faltar a tribunal e ao trabalho.

Mulher, marxista, pacifista, revolucionária, "uma das melhores cabeças do socialismo internacional" - Rosa Luxemburgo foi assassinada há cem anos. A RTP recorda a sua história aqui.

AS MANCHETES DE HOJE

Correio da Manhã: Governo corta benefícios na ADSE
Negócios: Governo faz balanço "favorável" das PPP na Saúde
Jornal de Notícias: Crianças diabéticas forçadas a picadas por falta de dispositivo
Público: Plano para tornar casas mais eficientes falhou em toda a linha
i: "Há uma justiça para ricos e uma justiça para pobres"

O QUE ANDO A LER

Não vi a série “The Handmaid’s Tale”. Não recorro à pirataria para ouvir música, ler jornais, nem ver filmes ou séries de televisão, por muito que me interessem. Tanto quanto sei, em Portugal a única via legal de ver essa série da Hulu é através de um operador de cabo de que não sou assinante, por isso, mantenho-me fora desse buzz (já agora: é impressionante a quantidade de gente razoável e bem formada que não roubaria nada… a não ser direitos de autor, e se recusa a reconhecer o quanto é errado recorrer à partilha ilegal de conteúdos, seja de entretenimento ou de informação. Adiante...)

A vantagem de não ter visto a série é o prazer com que estou a ler o livro de Margaret Atwood que lhe deu origem ("A História de uma Serva" está editado em Portugal pela Bertrand). Trata-se de uma distopia que nos apresenta a República de Gileade, nome dos Estados Unidos do futuro, transformados num regime teocrático, fundado por fundamentalistas religiosos depois de acontecimentos que para mim (que ainda estou a meio do livro) não são claros - há uma guerra em curso e há uma dramática crise de fertilidade, e ambas estão na origem de uma sociedade totalitária em que todos têm papéis perfeitamente definidos e são rigorosamente vigiados. É também uma sociedade profundamente puritana, com a Bíblia como livro fundador, e misógina até à medula: os homens governam, as mulheres obedecem, e umas obedecem mais do que outras. Não podem ler, só podem falar com quem são supostas, e, sendo uma sociedade militarizada, usam roupas pré-definidas, como se fossem fardas. O seu espaço é dentro de casa.

A protagonista, Offred (não é o seu nome, mas o que lhe foi dado pelo Estado), é uma Serva, uma das várias categorias em que estão estratificadas as mulheres. As Servas têm como único papel engravidar dos Comandantes (figuras da nomenclatura militar e política) e dar à luz crianças que devem ser entregues às Esposas dos Comandantes. No passado, Offred teve um marido, uma filha, e aquilo a que podemos chamar uma vida normal, com as grandes e pequenas coisas das quais muitas vezes nem se dá conta - aquilo que a protagonista recorda repetidamente, como forma de não se deixar afundar na existência brutal, impessoal e invisível que lhe está destinada.

Esta é a minha estreia na obra da escritora canadiana, e a primeira coisa que me cativou foi a escrita, simultaneamente direta e lírica. Há um tom onírico na narrativa que transmite ao leitor a sensação de irrealidade - diria até imaterialidade - em que a protagonista vive. A segunda coisa que me impressionou foi descobrir que o livro é de 1985. A tecnologia existente neste futuro alternativo não tem nada de futurista, e fica-se pela que existia na primeira metade dos anos 80. No entanto, as questões levantadas pela obra são tão atuais, e algumas ameaças parecem extrapoladas de perigos tão contemporâneos, que é dificil acreditar que o livro tem 34 anos. Suponho que seja isso que faz um clássico.

A autodeterminação da mulher, a violência de género, o fanatismo religioso, a recusa da ciência e da cultura, a rejeição de quem é diferente, o fim da privacidade, a reacção violenta dos ultras contra os “excessos” de liberdade ou os “excessos” do feminismo… até há um Muro que serve como símbolo do poder.

Fui à procura de críticas antigas ao livro, para perceber se este era tão pertinente quando saiu como é hoje. Encontrei poucas, mas dei com esta, publicada pelo New York Times em fevereiro de 1986. A autora aponta várias objeções à obra, e uma delas é esta: “o livro não me diz a que é que, nos nossos atuais costumes, eu devo estar atenta se não quiser que os EUA se tornem num Estado de escravos como a República de Gilead”. Talvez as ameaças de “A História de uma Serva” sejam mesmo mais atuais hoje do que quando o livro foi publicado.

Tenha uma boa segunda-feira e uma boa semana, apesar do frio que aí está e da chuva que vem aí.

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