segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Portugal | Simplesmente Cristina


Inês Cardoso | Jornal de Notícias | opinião

Cristina Tavares foi despedida na semana passada. Pela segunda vez. A primeira foi em 2017. Depois de o tribunal obrigar a corticeira onde trabalhava a readmiti-la, passou a ser castigada com trabalho pesado e inútil.

Todos os dias carregava e descarregava a mesma palete, num local com temperaturas elevadas, isolada dos restantes funcionários. E obrigada a utilizar uma casa de banho sem privacidade, diferente da dos colegas e com tempo de uso controlado.

A Autoridade para as Condições do Trabalho reconheceu e documentou o assédio moral sobre Cristina e levantou três autos, um dos quais já concluído com a aplicação de uma multa de 31 mil euros. Nem a fiscalização das autoridades, nem a atenção pública sobre o caso impediram a empresa de voltar a dispensar a funcionária. Que vai para tribunal. Pela segunda vez.

Num país em que a precariedade tem demasiada força (um quinto do emprego criado no último ano), o medo leva muitos trabalhadores a aceitarem violações da lei sem denunciar ou reagir. Haverá na história de Cristina muitas nuances que desconhecemos, mas uma coisa é certa: a sua determinação tem obrigado as autoridades a olhar de frente para a violação de direitos laborais.

Neste combate, também os sindicatos têm sido incansáveis, preparando-se para sair à rua, no próximo sábado, numa caminhada solidária. Para quem se entretém a fragilizar os sindicatos considerando-os máquinas orientadas para greves e pouco atentas às pessoas, o apoio e mobilização à volta de Cristina são um bom exemplo do que o sindicalismo tem de mais nobre e solidário.

O espaço mediático está atualmente dominado por tantos fogachos que vale sempre a pena ver casos como o de Cristina ganharem espaço nos jornais e televisões. Pelo que revelam do inferno em que pode transformar-se um local de trabalho. Mas sobretudo para nos lembrar de todos os instrumentos que existem para o proteger.

*Diretora-adjunta

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