Inês Cardoso | Jornal de Notícias
| opinião
Cristina Tavares foi despedida na
semana passada. Pela segunda vez. A primeira foi em 2017. Depois de o tribunal
obrigar a corticeira onde trabalhava a readmiti-la, passou a ser castigada com
trabalho pesado e inútil.
Todos os dias carregava e
descarregava a mesma palete, num local com temperaturas elevadas, isolada dos
restantes funcionários. E obrigada a utilizar uma casa de banho sem
privacidade, diferente da dos colegas e com tempo de uso controlado.
A Autoridade para as Condições do
Trabalho reconheceu e documentou o assédio moral sobre Cristina e levantou três
autos, um dos quais já concluído com a aplicação de uma multa de 31 mil euros.
Nem a fiscalização das autoridades, nem a atenção pública sobre o caso impediram
a empresa de voltar a dispensar a funcionária. Que vai para tribunal. Pela
segunda vez.
Num país em que a precariedade
tem demasiada força (um quinto do emprego criado no último ano), o medo leva
muitos trabalhadores a aceitarem violações da lei sem denunciar ou reagir.
Haverá na história de Cristina muitas nuances que desconhecemos, mas uma coisa
é certa: a sua determinação tem obrigado as autoridades a olhar de frente para
a violação de direitos laborais.
Neste combate, também os
sindicatos têm sido incansáveis, preparando-se para sair à rua, no próximo
sábado, numa caminhada solidária. Para quem se entretém a fragilizar os
sindicatos considerando-os máquinas orientadas para greves e pouco atentas às pessoas,
o apoio e mobilização à volta de Cristina são um bom exemplo do que o
sindicalismo tem de mais nobre e solidário.
O espaço mediático está
atualmente dominado por tantos fogachos que vale sempre a pena ver casos como o
de Cristina ganharem espaço nos jornais e televisões. Pelo que revelam do
inferno em que pode transformar-se um local de trabalho. Mas sobretudo para nos
lembrar de todos os instrumentos que existem para o proteger.
*Diretora-adjunta
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