Organizações da sociedade civil
na província moçambicana de Nampula criticam a fraca contribuição das empresas
multinacionais na melhoria das condições de vida das populações. O desemprego e
a precariedade continuam.
Em Nampula, no norte de
Moçambique, existem duas multinacionais que exploram areias pesadas: a
mineradora chinesa Haiyu Mozambique Mining Limitada, que opera na localidade de
Sangache, no distrito de Angoche, e a irlandesa Kenmare, que se instalou na localidade
de Topuito, no recém-criado distrito de Larde, outrora Moma.
As duas mineradoras já estão há
cerca de 10 anos a operar nestas regiões, mas os resultados em termos de benefícios
para as populações são ainda questionáveis pelas organizações da
sociedade civil que trabalham diretamente com as populações locais na defesa de
boa governação e dos recursos
naturais.
"O que é que está a ser
feito para garantir que haja capacidade local para que essas comunidades possam
prestar serviços básicos de carpintaria, serralharia, pedreira entre outros
aspectos para aquelas empresas? Zero. No caso de Angoche não existe essa
visão", responde Jordão Matimula, diretor-executivo da Associação Nacionai
de Extensão Rural (AENA).
Matimula recorda que a mineradora
chinesa Haiyu Mozambique Mining entregou, entre 2012 e 2016, cerca de um milhão
e quinhentos mil dólares ao Governo para apoiar as comunidades.
Benefício das comunidades "é
só marketing"
À semelhança da mineradora
chinesa, a Kenmare, que explora as areias pesadas em Topuito; é questionada
sobre o seu contributo paa as comunidades; tendo em conta o nível de produção e
inserção no mercado na comercialização dos seus produtos.
"Parece que se vê só um lado
que é o económico, que beneficia as próprias empresas, porque como contribuição
ao nível da receita pública é questionável, olhando para os contratos que
existem", afirma António Mutoua, diretor-executivo da Solidariedade Moçambique.
"O benefício das comunidades tem sido apenas marketing, no lugar da
responsabilidade social. Não existe contrato social", critica.
Em Moçambique, existe uma
política nacional sobre responsabilidade social empresarial, mas não tem
caráter obrigatório, segundo as organizações da sociedade civil, o que faz com
que o nível de contribuição das empresas seja ainda uma miragem.
Desenvolvimento não é para todos
Na localidade de Topuito, a DW
África conversou com Saíde Ussene, um jovem que nasceu e reside onde opera a
mineradora Kenmare. Diz que há desenvolvimento na região, mas este não é para
todos. Ele afirma que já tentou, mas ainda não consegiu arranjar emprego na
Kenmare, porque "preferem os cidadãos de Maputo aos nativos".
"A Kenmare, apesar de estar
a explorar areias pesadas e vender noutros países, faz muitas promessas que não
cumpre. Principalmente, enganou-nos na construção da ponte sobre o rio Larde e
já vão mais de três anos e não estamos a ver nada. Nós passamos muito mal para
a travessia. A empresa prometeu escolas, hospitais, e não cumpre tudo o oque
prometeu", lamentou.
A Kenmare nega que não está a
fazer nada para o desenvolvimento das comunidades, mas admite que é impossível
resolver todos os problemas, devido a dificuldades na produção e
comercialização dos minérios no mercado internacional aliada à crise que o
mundo ainda atravessa.
"Veio a energia com a
fábrica, veio comunicação e isto tudo ajuda a potenciar o desenvolvimento
local", diz Regina Macuacaua, responsável pela área social na mineradora.
"Concordamos que ainda é muito cedo e há muita coisa que tem de ser feita,
mas a verdade é uma: quem é o motor do desenvolvimento somos todos nós [as
comunidades] e cabe-nos a nós sermos a força motriz do nosso desenvolvimento",
acrescenta.
De acordo com Regina Macuacua,
tendo em conta a política de responsabilidade social, a mineradora irlandesa
criou um grupo liderado pelas próprias comunidades que têm desenhado as
prioridades juntamente com a mesma.
Sitoi Lutxeque (Nampula) |
Deutsche Welle, em 20.09.2018
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