Martinho Júnior, Luanda
1- A 4 de fevereiro de 1961, o
povo angolano levantou-se em armas para dar um basta à opressão colonial e,
face à arrogante teimosia dum retrógrado Salazar, dar início à Luta Armada que
culminou na independência nacional.
A 4 de Fevereiro de 1992, a aliança
cívico-militar sob a direcção de Hugo Chavez, lançou as sementes da Luta contra
o Neoliberalismo, que na conjuntura de então azotava a vida do povo venezuelano
asfixiando a ânsia de liberdade e de justiça social.
Em qualquer dos casos, em épocas
tão distintas, em espaços nacionais tão distintos, em conjunturas tão
distintas, com um imenso oceano a separar física e geograficamente Angola da
Venezuela, houve uma legítima vontade comum que se evocou e fez os homens livres
levantarem-se do chão: acabar com a opressão, rebentar as amarras que prendiam
ao passado e ao presente de trevas e iniciar uma longa luta pela paz, pelo
desenvolvimento sustentável, pela dignidade dos povos do sul, pela lógica com
sentido de vida, pela própria vida!
Qualquer um dos 4 de Fevereiro
foi um momento tático historicamente incontornável, transformado em prova de
vida e de amor que se repercute de geração em geração, quaisquer que sejam as
conjunturas, os obstáculos e as vicissitudes!
2- Em Angola, 58 anos depois,
estamos aqui, com a independência, a soberania e a democracia em nossas mãos,
mas face a face a conjunturas desfavoráveis e não menos opressoras que antes,
que tornam tão difíceis nossos passos na busca dum futuro melhor para todo o
povo angolano, um futuro aberto ao desenvolvimento sustentável capaz duma
geoestratégia mobilizadora e abrangente para os próximos séculos, um futuro que
consolide a paz numa civilização com a justiça social, um futuro que contribua
para colocar os povos africanos no lugar de respeito que eles merecem, em
equilíbrio e harmonia com todos os outros povos do mundo!
Na Venezuela, 27 anos depois, a
recuperação neoliberal dispõe duma avassaladora conjuntura coberta pela
hegemonia que recorre de novo às práticas hediondas da Doutrina Monroe, que
mobiliza todos os recursos e vassalagens contra o povo bolivariano, contra a
pátria de Simon Bolivar e Hugo Chavez, procurando subverter, dividir e abrir
brechas na direcção do caos, do terrorismo e da guerra a fim de, golpeando e
golpeando, assumir o controlo das imensas riquezas naturais do país!
Se os dois momentos táticos
vividos em Angola e na Venezuela, nos unem apesar do tempo e do espaço, a
aspiração de liberdade justa que nos anima hoje em comum, remete-nos para uma
trincheira de longa luta, respondendo às mais legítimas aspirações dos dois
povos, aspirações maiores que esse oceano que nos separa!
3- Um dia, a 1 de Janeiro de
1804, os escravos do Haiti lutaram contra a opressão, venceram-na e declararam
a sua independência.
Até hoje isso foi imperdoável
para os poderosos da Terra e o Haiti continua reduzido às vulnerabilidades mais
extremas que se podem recorrer para melhor manipular.
Deram contudo com isso início a
essa longa saga que dos dois lados do Atlântico têm vindo a mobilizar os povos
da América Latina e de África no seu tão justo movimento por uma harmoniosa
liberdade, atravessando de geração em geração mais de dois séculos e mobilizando-nos
hoje à nossa latitude planisférica para o caminho que urge em sua sequência
histórica saber trilhar e trilhar!
Uma guerra psicológica constante
é movida para confundir os povos, aliená-los face à sua própria história,
entorpecer perante si mesmos, amedrontá-los e vencê-los perante um mar
artificioso de dificuldades e obstáculos, uma guerra psicológica que é
injectada intimamente associada à bárbara e labiríntica crise provocada pelo
domínio de 1% sobre o resto da humanidade…
Buscar uma vez mais a energia que
move montanhas numa trilha de lógica com sentido de vida, semear geoestratégias
de paz para um desenvolvimento sustentável capazes de mobilizar com abrangência
nossos povos em busca da dignidade e do saber, alcançar o patamar duma cultura
de inteligência patriótica aberta à investigação cientificada dum conhecimento
que traga renascimento respeitoso a Angola e à Venezuela, a África e à América
Latina, é algo que obriga a superar qualquer conjuntura desfavorável, por que
está latente, batendo no coração palpável dos povos alvo de dependência e
opressão, reflecte-se no olhar das nossas crianças…
… E mesmo que as actuais gerações
soçobrem perante as ondas da barbárie que ainda têm de saber vencer e vencer,
mais cedo que tarde os vindouros retomarão o caminho, por que na dialética
entre o oprimido e o opressor, a vontade decisiva cabe a favor da sabedoria dos
povos à medida que conseguirem consolidar sua própria cultura de inteligência
patriótica, numa constante busca de sabedoria, consenso, mobilização e acção,
respeitando a humanidade e a Mãe Terra que é o maior e mais sensível garante e
animador da própria vida!
Martinho Júnior - Luanda, 4 de
Fevereiro de 2019.
Imagens: a amizade com os olhos
postos no futuro, que une Angola, pátria de Agostinho Neto à Venezuela
Bolivariana, pátria de Simon Bolivar e de Hugo Chavez, é maior que o oceano que
nos separa!
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