terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

DOIS MOMENTOS TÁTICOS DECISIVOS



1- A 4 de fevereiro de 1961, o povo angolano levantou-se em armas para dar um basta à opressão colonial e, face à arrogante teimosia dum retrógrado Salazar, dar início à Luta Armada que culminou na independência nacional.

A 4 de Fevereiro de 1992, a aliança cívico-militar sob a direcção de Hugo Chavez, lançou as sementes da Luta contra o Neoliberalismo, que na conjuntura de então azotava a vida do povo venezuelano asfixiando a ânsia de liberdade e de justiça social.

Em qualquer dos casos, em épocas tão distintas, em espaços nacionais tão distintos, em conjunturas tão distintas, com um imenso oceano a separar física e geograficamente Angola da Venezuela, houve uma legítima vontade comum que se evocou e fez os homens livres levantarem-se do chão: acabar com a opressão, rebentar as amarras que prendiam ao passado e ao presente de trevas e iniciar uma longa luta pela paz, pelo desenvolvimento sustentável, pela dignidade dos povos do sul, pela lógica com sentido de vida, pela própria vida!

Qualquer um dos 4 de Fevereiro foi um momento tático historicamente incontornável, transformado em prova de vida e de amor que se repercute de geração em geração, quaisquer que sejam as conjunturas, os obstáculos e as vicissitudes!


2- Em Angola, 58 anos depois, estamos aqui, com a independência, a soberania e a democracia em nossas mãos, mas face a face a conjunturas desfavoráveis e não menos opressoras que antes, que tornam tão difíceis nossos passos na busca dum futuro melhor para todo o povo angolano, um futuro aberto ao desenvolvimento sustentável capaz duma geoestratégia mobilizadora e abrangente para os próximos séculos, um futuro que consolide a paz numa civilização com a justiça social, um futuro que contribua para colocar os povos africanos no lugar de respeito que eles merecem, em equilíbrio e harmonia com todos os outros povos do mundo!

Na Venezuela, 27 anos depois, a recuperação neoliberal dispõe duma avassaladora conjuntura coberta pela hegemonia que recorre de novo às práticas hediondas da Doutrina Monroe, que mobiliza todos os recursos e vassalagens contra o povo bolivariano, contra a pátria de Simon Bolivar e Hugo Chavez, procurando subverter, dividir e abrir brechas na direcção do caos, do terrorismo e da guerra a fim de, golpeando e golpeando, assumir o controlo das imensas riquezas naturais do país!

Se os dois momentos táticos vividos em Angola e na Venezuela, nos unem apesar do tempo e do espaço, a aspiração de liberdade justa que nos anima hoje em comum, remete-nos para uma trincheira de longa luta, respondendo às mais legítimas aspirações dos dois povos, aspirações maiores que esse oceano que nos separa!


3- Um dia, a 1 de Janeiro de 1804, os escravos do Haiti lutaram contra a opressão, venceram-na e declararam a sua independência.

Até hoje isso foi imperdoável para os poderosos da Terra e o Haiti continua reduzido às vulnerabilidades mais extremas que se podem recorrer para melhor manipular.

Deram contudo com isso início a essa longa saga que dos dois lados do Atlântico têm vindo a mobilizar os povos da América Latina e de África no seu tão justo movimento por uma harmoniosa liberdade, atravessando de geração em geração mais de dois séculos e mobilizando-nos hoje à nossa latitude planisférica para o caminho que urge em sua sequência histórica saber trilhar e trilhar!

Uma guerra psicológica constante é movida para confundir os povos, aliená-los face à sua própria história, entorpecer perante si mesmos, amedrontá-los e vencê-los perante um mar artificioso de dificuldades e obstáculos, uma guerra psicológica que é injectada intimamente associada à bárbara e labiríntica crise provocada pelo domínio de 1% sobre o resto da humanidade…

Buscar uma vez mais a energia que move montanhas numa trilha de lógica com sentido de vida, semear geoestratégias de paz para um desenvolvimento sustentável capazes de mobilizar com abrangência nossos povos em busca da dignidade e do saber, alcançar o patamar duma cultura de inteligência patriótica aberta à investigação cientificada dum conhecimento que traga renascimento respeitoso a Angola e à Venezuela, a África e à América Latina, é algo que obriga a superar qualquer conjuntura desfavorável, por que está latente, batendo no coração palpável dos povos alvo de dependência e opressão, reflecte-se no olhar das nossas crianças…

… E mesmo que as actuais gerações soçobrem perante as ondas da barbárie que ainda têm de saber vencer e vencer, mais cedo que tarde os vindouros retomarão o caminho, por que na dialética entre o oprimido e o opressor, a vontade decisiva cabe a favor da sabedoria dos povos à medida que conseguirem consolidar sua própria cultura de inteligência patriótica, numa constante busca de sabedoria, consenso, mobilização e acção, respeitando a humanidade e a Mãe Terra que é o maior e mais sensível garante e animador da própria vida!

Martinho Júnior - Luanda, 4 de Fevereiro de 2019.

Imagens: a amizade com os olhos postos no futuro, que une Angola, pátria de Agostinho Neto à Venezuela Bolivariana, pátria de Simon Bolivar e de Hugo Chavez, é maior que o oceano que nos separa!

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