terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Angolanos contestam "aumento de 1000%" do preço do passaporte


Sob o lema "30.500 é muito", angolanos manifestaram-se em Luanda contra a subida do preço do passaporte. Dizem que as políticas do Presidente João Lourenço estão a "combater os pobres " e exigem a revogação do aumento.

Desde 21 de janeiro que um passaporte em Angola custa 30.500 kwanzas (86 euros), um valor equivalente a dois salários mínimos. O Estado deixou de subvencionar o preço da aquisição do documento, obrigatório para quem pretende sair do país.

O aumento está a ser contestado por populares e tem tido grande destaque nas redes sociais. Esta segunda-feira (04.02), as reivindicações foram levadas até ao Largo das Heroínas, em Luanda.

Na petição pública lida pelo ativista Pedrowski Teca, um dos organizadores da manifestação com o lema "30.500 é muito" para um passaporte, os angolanos lembraram que nem nos anos de governação de José Eduardo dos Santos se registou uma subida de "1000% em gasolina, gasóleo ou noutros produtos".

"Claramente, pela governação de Vossa Excelência João Manuel Gonçalves Lourenço, os pobres ficarão mais pobres e os ricos ficarão mais ricos porque vivemos um socialismo para os abastados, mas um capitalismo selvagem para os pobres", sublinhou o ativista, perguntando ainda ao Governo "o que realmente faz" pelo povo.

"Uma aberração de todo o tamanho"

O jornalista Carlos Alberto, um dos conselheiros da Entidade Reguladora da Comunicação Social angolana (ERCA), disse que não faz sentido o governo impedir a maior parte dos cidadãos, que são os mais pobres do país, de ter um documento como o passaporte.

"Se não temos hospitais que têm condições de nos tratar com preços razoáveis, esses cidadãos nacionais devem ter direito ao passaporte para poderem ir à vizinha Namíbia ou à vizinha África do Sul, porque isso é uma realidade noss", lembrou Carlos Alberto, sublinhando que "coartar o cidadão de ter esse documento é uma aberração de todo o tamanho."

Tal como os outros manifestantes, o jornalista também espera que o chefe de Estado revogue o decreto presidencial: "Estamos aqui para dizer ao chefe do Executivo que deve recuar na sua decisão, porque esse valor não foi baseado num dado científico, porque para subir o preço de um documento que é público tem que se justificar."

Salientando que "o salário mínimo é menos de 30.500 kwanzas", Carlos Alberto diz que o aumento não faz qualquer sentido. E se o novo Presidente da República continuar com estas medidas, "não estamos bem servidos a nível da presidência", alertou.

"Acordo perigoso" com o FMI

Para o ativista Benedito Jeremias "Dito Dali", a alteração do preço é o resultado de um "acordo perigoso" que o Presidente angolano manteve com o Fundo Monetário Internacional (FMI). "João Lourenço tudo está a fazer para agradar à elite estrangeira e a alguns empresários seus aqui em Angola, deixando o povo angolano na miséria", critica.

"As políticas do FMI são contas as políticas sociais. Não podemos admitir isso. Temos de fazer tudo para impedirmos as políticas que estão a ser tomadas por João Lourenço", apelou o ativista.

Borralho Ndomba (Luanda) | Deutsche Welle

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