Sob o lema "30.500 é
muito", angolanos manifestaram-se em Luanda contra a subida do preço do
passaporte. Dizem que as políticas do Presidente João Lourenço estão a
"combater os pobres " e exigem a revogação do aumento.
Desde 21 de janeiro que um
passaporte em Angola custa 30.500 kwanzas (86 euros), um valor
equivalente a dois salários mínimos. O Estado deixou de subvencionar o preço da
aquisição do documento, obrigatório para quem pretende sair do país.
O aumento está a ser contestado
por populares e tem tido grande destaque nas redes sociais. Esta segunda-feira
(04.02), as reivindicações foram levadas até ao Largo das Heroínas, em Luanda.
Na petição pública lida pelo
ativista Pedrowski Teca, um dos organizadores da manifestação com o lema
"30.500 é muito" para um passaporte, os angolanos lembraram que nem
nos anos de governação de José Eduardo dos Santos se registou uma subida de
"1000% em gasolina, gasóleo ou noutros produtos".
"Claramente, pela governação
de Vossa Excelência João
Manuel Gonçalves Lourenço, os pobres ficarão mais pobres e os ricos ficarão
mais ricos porque vivemos um socialismo para os abastados, mas um capitalismo
selvagem para os pobres", sublinhou o ativista, perguntando ainda ao
Governo "o que realmente faz" pelo povo.
"Uma aberração de todo o
tamanho"
O jornalista Carlos Alberto, um
dos conselheiros da Entidade Reguladora da Comunicação Social angolana (ERCA),
disse que não faz sentido o governo impedir a maior parte dos cidadãos, que são
os mais pobres do país, de ter um documento como o passaporte.
"Se não temos hospitais que
têm condições de nos tratar com preços razoáveis, esses cidadãos nacionais
devem ter direito ao passaporte para poderem ir à vizinha Namíbia ou à vizinha
África do Sul, porque isso é uma realidade noss", lembrou Carlos Alberto,
sublinhando que "coartar o cidadão de ter esse documento é uma aberração
de todo o tamanho."
Tal como os outros manifestantes,
o jornalista também espera que o chefe de Estado revogue o decreto
presidencial: "Estamos aqui para dizer ao chefe do Executivo que deve
recuar na sua decisão, porque esse valor não foi baseado num dado científico,
porque para subir o preço de um documento que é público tem que se
justificar."
Salientando que "o salário
mínimo é menos de 30.500 kwanzas", Carlos Alberto diz que o aumento não
faz qualquer sentido. E se o novo Presidente da República continuar com estas
medidas, "não estamos bem servidos a nível da presidência", alertou.
"Acordo
perigoso" com o FMI
Para o ativista Benedito
Jeremias "Dito Dali", a alteração do preço é o resultado de um
"acordo perigoso" que o Presidente angolano manteve com o Fundo
Monetário Internacional (FMI). "João Lourenço tudo está a fazer para
agradar à elite estrangeira e a alguns empresários seus aqui em Angola,
deixando o povo angolano na miséria", critica.
"As políticas do FMI são
contas as políticas sociais. Não podemos admitir isso. Temos de fazer tudo para
impedirmos as políticas que estão a ser tomadas por João Lourenço",
apelou o ativista.
Borralho Ndomba (Luanda) |
Deutsche Welle
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