quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O encaixe dos teleguiados guaidós tugas


Martinho Júnior, Luanda 

1- Se alguém pensar que Portugal não tem um papel geoestratégico no quadro do exercício da hegemonia unipolar segundo a administração de Donald Trump e seus falcões de recurso, como em todas as outras administrações anteriores e particularmente desde Ronald Reagan, está completamente equivocado.

Os guaidós tugas têm antropológica e historicamente a lição bem estudada, “sobre carris” e sempre aptos para os jogos dispostos pela NATO, desde a velada recuperação dos interesses de sua oligarquia por via do 25 de Novembro de 1975, mas sobretudo desde o início deste século, quando foram tão “consultados” para a instalação do AFRICOM, ou seja, quando a funcionária do Departamento de Defesa, Theresa Whelan, se desdobrou em contactos para melhor definir e moldar o carácter e o perfil do braço africano do Pentágono.

O zeloso membro “transatlântico” da NATO, tirando partido de sua experiência colonial e do seu servil “soft power”assimilador, teve uma importância destacada na formação do AFRICOM, sobretudo no que aos expedientes de inteligência e ingerência diz respeito, ou seja, nos parâmetros de definição “civil” de suas capacidades “no terreno”.

Isso é de tal ordem subtil e ao mesmo tempo prático, que previamente todos os embaixadores dos Estados Unidos nomeados para África fazem estágio no AFRICOM…

Isso é de tal modo subtil ainda, quando preferencialmente os Estados Unidos passaram-se a reger pela “diferença no género” nas missões diplomáticas no continente africano, principalmente sobre alvos dilectos como o caso de Angola.

Pelo AFRICOM só falta (publicamente) passarem também os embaixadores dos guaidós tugas que forem nomeados para os seus postos no continente-berço… é um “direito adquirido”!

2- Um dependente país com regime fascista e colonialista foi fundador da NATO e com a NATO travou uma guerra em África em três frentes, aliado ao hediondo regime do “apartheid” com quem estimulou acordos ao nível do Exercício Alcora, num quadro reitor duma geoestratégia que quatro décadas depois, com apropriadas configuraçõesnpor que a NATO continua, estão na base do encaixe dos guaidós tugas face aos “impactos energéticos” distendidos na direcção das duas margens do Atlântico Sul: América Latina e África.

A revolução das novas tecnologias propiciou as moldagens mascarando os processos democráticos burgueses numa representatividade que se propiciou ao “arco de governação” e à actual mascarilha de “geringonça”, mas um atento acompanhamento entre as conexões sociopolíticas, económicas, financeiras e os “media de referência tuga”, uma parte deles até filiados no Clube Bilderberg, fornece-nos as pistas do velado carácter fascista e neocolonial que anima o actual regime oligárquico tuga, no seu encaixe entre os guaidós do momento, sincronizado com o que diz respeito ao comportamento do “loby” luso-angolano e seu reflexo conjugado para dentro da CPLP.

Na relação com a Venezuela, o regime oligárquico tuga, sustentado pela NATO, faz precisamente o jogo da parte de interesses tugas no quadro da própria oligarquia clientelista venezuelana (que integra alguns lusodescendentes), animada durante tantas décadas pelas aliciantes privadas do petróleo, pelo que não é de estranhar, na hora da radicalização do processo, que sob a égide da aristocracia financeira mundial esse regime vassalo tão facilmente alinhasse com o Guaidó de recurso.

Como contudo o assunto é sobretudo a disputa sobre o petróleo entre duas placas tectónicas de aspiração global, os guaidós tugas assumiram o seu papel integrado no golpe na Venezuela sabendo que ali a resistência bolivariana se iria fazer sentir em contramão!

Os guaidós tugas fazem-no sincronizadamente também com todos os assimiláveis sentidos postos em África, onde são parte integrante da formação duma oligarquia angolana e moçambicana e onde sabem também que, perante uma conjuntura global forjada após o choque da “1ª guerra mundial africana” do após Bicesse (31 de Maio de 1991), a terapia neoliberal está em vantagem pelos poderosos impactos que incidiram em Angola e em Moçambique, sob a égide, no caso angolano, do “loby” luso-angolano projector das contemporâneas assimilações.

Atiraram Angola e Moçambique ao charco, para no charco nutrirem-se no e do seu próprio pântano!

Ora é isso fundamentalmente o que importa ao avassalado regime oligárquico dos guaidós tugas e aos seus embaciados espelhos, como as lantejoulas antigas dos negócios de seus navegantes traga-oceanos: ao integrar a pressão da hegemonia unipolar sobre a Venezuela Socialista Bolivariana, assimilar por via da deriva neoliberal em Angola, sobretudo em Angola, procurando a todo o transe provocar a divisão no Atlântico Sul tendo como alvo o Não Alinhamento activo nos relacionamentos entre África e a América Latina, procurando cortar qualquer veleidade transatlântica do próprio movimento de libertação.

3- Quando realço o papel da revolução dos escravos no Haiti, que levou à independência daquele país a 1 de Janeiro de 1804 e seu exemplo na ignição do movimento de libertação que teve de se bater de armas na mão durante os séculos XIX e XX, primeiro na América Latina, depois em África, tenho a consciência antropológica e histórica que o regime dos guaidós tugas, em função da esteira que lhe vem detrás, tem essa projecção como um acto de “boa” vassalagem, até por que é assim que dá consistência ao seu papel no âmbito do presente exercício brutal do quadro da hegemonia unipolar.

É algo que começa a contradizer os “brandos costumes” do seu “soft power”, determinante no poder de assimilação por via do “loby” luso-angolano, mas isso faz parte dos riscos na inteligência e ingerência da manobra: radicalizar pelo contraditório em relação à Venezuela Socialista Bolivariana, para atrair Angola e Moçambique à sua própria esfera de influência e assimilação no âmbito de sua estrita vassalagem à hegemonia unipolar!

Esquecem-se que em Angola e em Moçambique, onde neste momento se trava combate contra a corrupção, a assimilação luso-angolana funcionou (e funciona) muito mais como parte integrante do problema da corrupção e poucos sinais dá de alguma vez conseguir ser parte da solução!

Sintomaticamente é isso que indicia a deriva actual do próprio Jornal de Angola, o único oficioso diário de Angola, quando publicou integral e textualmente a 26 de Janeiro de 2019, o que o Observador havia publicado dois dias antes, sob o título “Golpe de Estado, guerra civil ou transição? Seis respostas para perceber o presente e o futuro da Venezuela”.

O Jornal de Angola está já a absorver a ambiguidade, a hipocrisia e o cinismo dos guaidós tugas “em Destaque”!

Nas suas páginas não está a constar que é a guerra económica, financeira e psicológica, que é o bloqueio, que são as sanções, que é o saque das riquezas do petróleo (conforme ao caso da CITGO), que é o roubo do ouro (conforme a decisão pirata do Banco de Inglaterra), que impedem a Venezuela Socialista e Bolivariana de aprimorar as suas respostas perante seu próprio povo, no sentido de o defender da agressão, que sobretudo ele é alvo e vítima e continuar a saga de Simon Bolivar e de Hugo Chavez!

Os guaidós tugas que dominam o regime oligárquico do seu país, estendem seu caudal perverso de ambiguidades, de hipocrisias e de cinismos, para dentro de Angola, com toda a cumplicidade do assimilado “loby” luso-angolano!

Sobre a Venezuela, copia-se na íntegra textos do Observador de índole ultraconservadora, cristã-democrata (ao nível“stay behind” do Le Cercle) e coloca-se “em Destaque”!

Isso acontece ainda que em discreta nota de rodapé surjam textos “de opinião” como o de Luzia Moniz, que em “CPLP escolhe escravocrata racista para projecto juvenil” coloca justamente o dedo na questão essencial de que se nutriu a raiz do movimento de libertação transatlântico: uma revolução de oprimidos que foram escravos e colonizados, que para o deixar de ser tiveram de recorrer às armas para sacudir o jugo dos guaidós de então e de sempre, ainda que com as vestes de Fernando Pessoa, ou dum qualquer assimilado “loby” guaidó, luso-descendente!

O Jornal de Angola tem em aberto, no seu dia-a-dia, a oportunidade de corrigir o que está mal e melhorar o que está bem, o que não está a fazer pelos recuos que vai sistematicamente publicando no sentido do que está mal!

Os jogos das oligarquias vassalas continuam a ser ambíguos, hipócritas, cínicos, próprios duma escola capaz de assumir de forma contínua seus guaidós e, quando há alguma geoestratégia vocacionada em direcção ao sul, seus vectores desde logo correspondem ao princípio de procurar dividir e dividir, para melhor assimilar, reinar e neocolonizar!

Martinho Júnior - Luanda,13 de Fevereiro de 2019

A consultar:
“CPLP escolhe escravocrata racista para projecto juvenil” – http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/cplp-escolhe-escravocrata-racista-para-projecto-juvenil

Pergunta oportuna com imagem: quantos teleguiados guaidós e por onde os meche, o sargento de turno na Casa Branca?

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