Martinho Júnior, Luanda
1- Se alguém pensar que Portugal
não tem um papel geoestratégico no quadro do exercício da hegemonia unipolar
segundo a administração de Donald Trump e seus falcões de recurso, como em
todas as outras administrações anteriores e particularmente desde Ronald
Reagan, está completamente equivocado.
Os guaidós tugas têm
antropológica e historicamente a lição bem estudada, “sobre carris” e
sempre aptos para os jogos dispostos pela NATO, desde a velada recuperação dos interesses
de sua oligarquia por via do 25 de Novembro de 1975, mas sobretudo desde o
início deste século, quando foram tão “consultados” para a instalação
do AFRICOM, ou seja, quando a funcionária do Departamento de Defesa, Theresa
Whelan, se desdobrou em contactos para melhor definir e moldar o carácter e o
perfil do braço africano do Pentágono.
O zeloso membro “transatlântico” da
NATO, tirando partido de sua experiência colonial e do seu servil “soft
power”assimilador, teve uma importância destacada na formação do AFRICOM,
sobretudo no que aos expedientes de inteligência e ingerência diz respeito, ou
seja, nos parâmetros de definição “civil” de suas capacidades “no
terreno”.
Isso é de tal ordem subtil e ao
mesmo tempo prático, que previamente todos os embaixadores dos Estados Unidos
nomeados para África fazem estágio no AFRICOM…
Isso é de tal modo subtil ainda,
quando preferencialmente os Estados Unidos passaram-se a reger pela “diferença
no género” nas missões diplomáticas no continente africano, principalmente
sobre alvos dilectos como o caso de Angola.
Pelo AFRICOM só falta
(publicamente) passarem também os embaixadores dos guaidós tugas que forem
nomeados para os seus postos no continente-berço… é um “direito adquirido”!
2- Um dependente país com regime
fascista e colonialista foi fundador da NATO e com a NATO travou uma guerra em
África em três frentes, aliado ao hediondo regime do “apartheid” com
quem estimulou acordos ao nível do Exercício Alcora, num quadro reitor duma
geoestratégia que quatro décadas depois, com apropriadas configuraçõesnpor que
a NATO continua, estão na base do encaixe dos guaidós tugas face aos “impactos
energéticos” distendidos na direcção das duas margens do Atlântico Sul:
América Latina e África.
A revolução das novas tecnologias
propiciou as moldagens mascarando os processos democráticos burgueses numa
representatividade que se propiciou ao “arco de governação” e à
actual mascarilha de “geringonça”, mas um atento acompanhamento entre as
conexões sociopolíticas, económicas, financeiras e os “media de referência
tuga”, uma parte deles até filiados no Clube Bilderberg, fornece-nos as pistas
do velado carácter fascista e neocolonial que anima o actual regime oligárquico
tuga, no seu encaixe entre os guaidós do momento, sincronizado com o que diz
respeito ao comportamento do “loby” luso-angolano e seu reflexo
conjugado para dentro da CPLP.
Na relação com a Venezuela, o
regime oligárquico tuga, sustentado pela NATO, faz precisamente o jogo da parte
de interesses tugas no quadro da própria oligarquia clientelista venezuelana
(que integra alguns lusodescendentes), animada durante tantas décadas pelas
aliciantes privadas do petróleo, pelo que não é de estranhar, na hora da
radicalização do processo, que sob a égide da aristocracia financeira mundial
esse regime vassalo tão facilmente alinhasse com o Guaidó de recurso.
Como contudo o assunto é
sobretudo a disputa sobre o petróleo entre duas placas tectónicas de aspiração
global, os guaidós tugas assumiram o seu papel integrado no golpe na Venezuela
sabendo que ali a resistência bolivariana se iria fazer sentir em contramão!
Os guaidós tugas fazem-no
sincronizadamente também com todos os assimiláveis sentidos postos em África,
onde são parte integrante da formação duma oligarquia angolana e moçambicana e
onde sabem também que, perante uma conjuntura global forjada após o choque
da “1ª guerra mundial africana” do após Bicesse (31 de Maio de 1991),
a terapia neoliberal está em vantagem pelos poderosos impactos que incidiram em
Angola e em Moçambique, sob a égide, no caso angolano, do “loby” luso-angolano
projector das contemporâneas assimilações.
Atiraram Angola e Moçambique ao
charco, para no charco nutrirem-se no e do seu próprio pântano!
Ora é isso fundamentalmente o que
importa ao avassalado regime oligárquico dos guaidós tugas e aos seus
embaciados espelhos, como as lantejoulas antigas dos negócios de seus
navegantes traga-oceanos: ao integrar a pressão da hegemonia unipolar sobre a
Venezuela Socialista Bolivariana, assimilar por via da deriva neoliberal em
Angola, sobretudo em Angola, procurando a todo o transe provocar a divisão no
Atlântico Sul tendo como alvo o Não Alinhamento activo nos relacionamentos
entre África e a América Latina, procurando cortar qualquer veleidade
transatlântica do próprio movimento de libertação.
3- Quando realço o papel da
revolução dos escravos no Haiti, que levou à independência daquele país a 1 de
Janeiro de 1804 e seu exemplo na ignição do movimento de libertação que teve de
se bater de armas na mão durante os séculos XIX e XX, primeiro na América
Latina, depois em África, tenho a consciência antropológica e histórica que o
regime dos guaidós tugas, em função da esteira que lhe vem detrás, tem essa
projecção como um acto de “boa” vassalagem, até por que é assim que
dá consistência ao seu papel no âmbito do presente exercício brutal do quadro
da hegemonia unipolar.
É algo que começa a contradizer
os “brandos costumes” do seu “soft power”, determinante no poder
de assimilação por via do “loby” luso-angolano, mas isso faz parte
dos riscos na inteligência e ingerência da manobra: radicalizar pelo
contraditório em relação à Venezuela Socialista Bolivariana, para atrair Angola
e Moçambique à sua própria esfera de influência e assimilação no âmbito de sua
estrita vassalagem à hegemonia unipolar!
Esquecem-se que em Angola e em
Moçambique, onde neste momento se trava combate contra a corrupção, a
assimilação luso-angolana funcionou (e funciona) muito mais como parte
integrante do problema da corrupção e poucos sinais dá de alguma vez conseguir
ser parte da solução!
Sintomaticamente é isso que indicia
a deriva actual do próprio Jornal de Angola, o único oficioso diário de Angola,
quando publicou integral e textualmente a 26 de Janeiro de 2019, o que o
Observador havia publicado dois dias antes, sob o título “Golpe de Estado,
guerra civil ou transição? Seis respostas para perceber o presente e o futuro
da Venezuela”.
O Jornal de Angola está já a
absorver a ambiguidade, a hipocrisia e o cinismo dos guaidós tugas “em
Destaque”!
Nas suas páginas não está a
constar que é a guerra económica, financeira e psicológica, que é o bloqueio,
que são as sanções, que é o saque das riquezas do petróleo (conforme ao caso da
CITGO), que é o roubo do ouro (conforme a decisão pirata do Banco de Inglaterra),
que impedem a Venezuela Socialista e Bolivariana de aprimorar as suas respostas
perante seu próprio povo, no sentido de o defender da agressão, que sobretudo
ele é alvo e vítima e continuar a saga de Simon Bolivar e de Hugo Chavez!
Os guaidós tugas que dominam o
regime oligárquico do seu país, estendem seu caudal perverso de ambiguidades,
de hipocrisias e de cinismos, para dentro de Angola, com toda a cumplicidade do
assimilado “loby” luso-angolano!
Sobre a Venezuela, copia-se na
íntegra textos do Observador de índole ultraconservadora, cristã-democrata (ao
nível“stay behind” do Le Cercle) e coloca-se “em Destaque”!
Isso acontece ainda que em
discreta nota de rodapé surjam textos “de opinião” como o de Luzia
Moniz, que em “CPLP escolhe escravocrata racista para projecto juvenil” coloca
justamente o dedo na questão essencial de que se nutriu a raiz do movimento de
libertação transatlântico: uma revolução de oprimidos que foram escravos e
colonizados, que para o deixar de ser tiveram de recorrer às armas para sacudir
o jugo dos guaidós de então e de sempre, ainda que com as vestes de Fernando
Pessoa, ou dum qualquer assimilado “loby” guaidó, luso-descendente!
O Jornal de Angola tem em aberto,
no seu dia-a-dia, a oportunidade de corrigir o que está mal e melhorar o que
está bem, o que não está a fazer pelos recuos que vai sistematicamente
publicando no sentido do que está mal!
Os jogos das oligarquias vassalas
continuam a ser ambíguos, hipócritas, cínicos, próprios duma escola capaz de
assumir de forma contínua seus guaidós e, quando há alguma geoestratégia
vocacionada em direcção ao sul, seus vectores desde logo correspondem ao
princípio de procurar dividir e dividir, para melhor assimilar, reinar e
neocolonizar!
Martinho Júnior - Luanda,13 de Fevereiro de 2019
A consultar:
“Golpe de Estado, guerra civil ou
transição? Seis respostas para perceber o presente e o futuro da Venezuela” – https://observador.pt/especiais/golpe-de-estado-guerra-civil-ou-transicao-seis-respostas-para-perceber-o-presente-e-o-futuro-da-venezuela/; http://jornaldeangola.sapo.ao/reportagem/golpe_de_estado__guerra_civil_ou_transicao__seis_respostas_para_perceber__o_presente_e_o_futuro__da_venezuela
“CPLP escolhe escravocrata
racista para projecto juvenil” – http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/cplp-escolhe-escravocrata-racista-para-projecto-juvenil
Pergunta oportuna com imagem:
quantos teleguiados guaidós e por onde os meche, o sargento de turno na Casa
Branca?
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