Paula Ferreira | Jornal de Notícias
| opinião
Incluo-me no rol de portugueses
que olham para o pagamento de impostos como algo que faz parte das nossas
obrigações enquanto cidadãos integrados no Estado.
Cresci enquanto cidadã a
considerar essa obrigação como contributo para a construção do país onde vivo e
os meus filhos crescem. Quando os deixo na escola ou recorro a um médico, no
centro de saúde ou numa urgência hospitalar, sinto o retorno dessa prestação
cívica. Tenho consciência de que muitos, até pessoas próximas de mim, me olham
como se eu fosse uma inepta a fintar o Fisco.
Não disfarço, é verdade, a
censura aos que fogem despudoradamente à entrega da sua parte para o bolo
comum. No entanto, começo a sentir desconforto. Todos os dias deparo com
problemas nos hospitais, nas escolas, a rede ferroviária cai aos pedaços - os
comboios, os poucos a circular, são de meados do século passado, tão velhos que
perdem motores em andamento, e a ferrovia mingua.
Nas escolas, faltam auxiliares de
apoio a professores e alunos, a investigação científica vive de favores. Devo
ser mesmo inábil: então não é para financiar tudo isto que pago, sem queixumes,
impostos há pelo menos 30 anos? Eu e grande parte dos cidadãos de Portugal: a
receita fiscal, no ano de 2017, rondou os 42 mil milhões de euros.
A prioridade, afinal, passa ao
lado da escola dos nossos filhos, e dos hospitais. Estamos integrados num
espaço político que diz basear-se no bem-estar social, mas não tolera a falência
de um banco. Para evitar o "risco sistémico", argumentam. Em tal
desígnio, desde 2008, 17,8 mil milhões de euros dos nossos impostos foram
usados a salvar bancos, honradas casas onde os ricos se financiam e os pobres
perdem as poucas economias aplicadas na entrada de uma habitação. Como ouvi da
voz de uma personagem, de série televisiva portuguesa, "se deves 100 mil
euros, o problema é teu; se deves cinco milhões, o problema é do banco".
Ou seja, de todos nós.
*Editora-executiva-adjunta
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