Isabel Moreira | Expresso | opinião
Cristas, animada pelo valor
eleitoral que atribui à política securitária, depois de ouvir António Costa ao
longo do debate quinzenal condenar toda e qualquer violação da lei, perguntou
se Costa condenava mesmo, mesmo, os atos de vandalismo que ilustrava em fotos. A pergunta é
obviamente ofensiva, o seu objetivo é evidente, insere-se na cedência ocasional
do CDS ao populismo e Costa, irado, respondeu isto: “Está a olhar para mim...
Deve ser pela cor da minha pele que me pergunta se condeno ou não condeno”.
Não creio que Cristas faça a
pergunta por causa da cor da pele de Costa. Creio que a faz porque quando lhe
dá jeito. Cede, como já referi, ao populismo que ameaça o Regime. Cede à
dicotomia fácil “pela polícia/contra a polícia”.
Não creio, por outro lado, que
Costa tenha sido falso ou ávido de vitimização no desabafo. E é aqui que não
pode, quem não sabe o que é a manifestação diária do racismo, pior se associado
à pobreza, mas presente em todas as classes socais, acenar com o privilégio de
classe.
Telmo Correia acusa Costa de ter
sido um privilegiado durante toda a vida. Presume-se que na mundividência de
Telmo a discriminação com base na cor da pele não existe fora de uma favela
urbana.
Telmo Correia afirma que Costa
ofendeu todos os portugueses, talvez esquecendo que a sua ignorância ativa
tenha ofendido muitos portugueses que sabem o que nem eu nem Telmo sabemos:
sabem o que é ouvir “preto” ou “preta” na rua; sabem o que é ser tratado com
desdém em estabelecimentos públicos e privados; sabem o que é ouvir “monhé” ou
“volta para a tua terra” ou “com os nossos impostos e tal”.
Talvez Telmo Correia finja mesmo
que não saiba que o Primeiro-Ministro é alvo de comentários racistas (nunca os
ouviu?) na rua, no recanto de um táxi ou numa manifestação.
Se Telmo tem dúvidas acerca da
discriminação racial de gente privilegiada, releia a entrevista que o seu
colega de bancada, Hélder Amaral, deu, em 2015, à jornalista Fernanda Câncio, no DN, na qual afirma isto: “O meu filho está num colégio privado e, às
vezes, chega a casa a contar que lhe chamaram «preto». Até já fui à escola por
causa disso. É o único negro lá. A minha filha agora está na escola pública e
deixou de sentir isso, porque há lá mais negros”.
Ou pensará Telmo que Hélder
Amaral foi um privilegiado toda a vida?
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