segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Portugal | Hélder Amaral: um privilegiado durante toda a vida, Telmo Correia?


Isabel Moreira | Expresso | opinião

Cristas, animada pelo valor eleitoral que atribui à política securitária, depois de ouvir António Costa ao longo do debate quinzenal condenar toda e qualquer violação da lei, perguntou se Costa condenava mesmo, mesmo, os atos de vandalismo que ilustrava em fotos. A pergunta é obviamente ofensiva, o seu objetivo é evidente, insere-se na cedência ocasional do CDS ao populismo e Costa, irado, respondeu isto: “Está a olhar para mim... Deve ser pela cor da minha pele que me pergunta se condeno ou não condeno”.

Não creio que Cristas faça a pergunta por causa da cor da pele de Costa. Creio que a faz porque quando lhe dá jeito. Cede, como já referi, ao populismo que ameaça o Regime. Cede à dicotomia fácil “pela polícia/contra a polícia”.

Não creio, por outro lado, que Costa tenha sido falso ou ávido de vitimização no desabafo. E é aqui que não pode, quem não sabe o que é a manifestação diária do racismo, pior se associado à pobreza, mas presente em todas as classes socais, acenar com o privilégio de classe.

Telmo Correia acusa Costa de ter sido um privilegiado durante toda a vida. Presume-se que na mundividência de Telmo a discriminação com base na cor da pele não existe fora de uma favela urbana.

Telmo Correia afirma que Costa ofendeu todos os portugueses, talvez esquecendo que a sua ignorância ativa tenha ofendido muitos portugueses que sabem o que nem eu nem Telmo sabemos: sabem o que é ouvir “preto” ou “preta” na rua; sabem o que é ser tratado com desdém em estabelecimentos públicos e privados; sabem o que é ouvir “monhé” ou “volta para a tua terra” ou “com os nossos impostos e tal”.

Talvez Telmo Correia finja mesmo que não saiba que o Primeiro-Ministro é alvo de comentários racistas (nunca os ouviu?) na rua, no recanto de um táxi ou numa manifestação.

Se Telmo tem dúvidas acerca da discriminação racial de gente privilegiada, releia a entrevista que o seu colega de bancada, Hélder Amaral, deu, em 2015, à jornalista Fernanda Câncio, no DN, na qual afirma isto: “O meu filho está num colégio privado e, às vezes, chega a casa a contar que lhe chamaram «preto». Até já fui à escola por causa disso. É o único negro lá. A minha filha agora está na escola pública e deixou de sentir isso, porque há lá mais negros”.

Ou pensará Telmo que Hélder Amaral foi um privilegiado toda a vida?

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