A seguir um artigo de opinião no
JN, devidamente identificado. Tão identificado como a estação de televisão em
referência, que é “rasca”, no dito de tantos portugueses. As vedetas em causa são
Goucha e Joe Berardo, assim como o calote à Caixa Geral de Depósitos e a
impunidade que levou milhares de milhões de euros a saírem dos bolsos dos
portugueses para benefício de uns quantos senhores “da alta”, entre os quais o “acima
de qualquer suspeita” Berardo. E Goucha no lugar de “partner” a fazer o que
mais gosta e por onde começou (com valor): Corista, a dar cor e luz à vista. Encandeante. (PG)
No reino de Joe Berardo
Pedro Ivo de Carvalho | Jornal de
Notícias | opinião
O cenário é a Quinta da Bacalhoa
- o "palácio", como tão pomposamente a qualifica Manuel Luís Goucha.
Joe Berardo recebe o apresentador à porta, com o aprumo habitual.
Calça e casaco pretos e um
cachecol vermelho de grife a afagar-lhe o pescoço. Passara uma semana da
divulgação da auditoria à Caixa Geral de Depósitos (CGD). Abrir parêntesis: o
empresário madeirense é um dos principais responsáveis pelo gigantesco buraco
nas contas do banco público, entretanto tapado pelos contribuintes através de
uma recapitalização que nos custou cerca de quatro mil milhões de euros. Fechar
parêntesis.
Goucha cai nos braços do
comendador. "Porque é que decidiu comprar este palácio? Para se sentir
rei?" Berardo incha de orgulho: "Eu já nasci rei". E vai por ali
fora, num misto de autoglorificação e soberba. O auditório matinal da TVI fica
não apenas informado do talento natural de Berardo para os negócios, como ainda
recebe lições de história de arte a propósito de alguns quadros com que o
colecionador forra as paredes interiores do "palácio". E o calote na
CGD? Nem uma pergunta. Nem uma resposta. Os telespectadores da manhã iam
certamente aborrecer-se.
Vejamos: Manuel Luís Goucha pode
levar quem muito bem entender ao seu programa (vide a presença de Mário
Machado). Não lhe é exigido que faça jornalismo. Ainda que o bom senso
aconselhasse outro cuidado. Mas com Berardo é diferente. Ao homem que se recusa
há anos a demolir uma casa de banho de luxo, desrespeitando várias ordens
judiciais, tudo parece ser permitido. Brincou aos casinos com os quase 300
milhões de euros que a CGD lhe emprestou, numa guerra de poder pelo controlo do
BCP, e não lhe aconteceu nada. E agora, que o quadro negro nos foi mostrado em
toda a plenitude, ainda tem a desfaçatez de se pavonear a galope pelos montes
da impunidade, fazendo dos papalvos que lhe cobriram os dislates financeiros os
involuntários bobos da corte. Só uma República que não se dá ao respeito é
capaz de tolerar um rei que não respeita ninguém.
*Diretor-adjunto
Imagem: Retirada de vídeo da TVI
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