11/2: O almirante Craig, que
trabalha abertamente por uma ação militar dos EUA contra Caracas, é cumprimentado,
no Itamaray, pelo ministro Ernesto Araújo
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Quem é Craig Faller, chefe do
Comando Sul dos EUA, que visitou o país esta semana. Como trama um ataque à
Venezuela. Por que sua proposta, de integrar um general brasileiro ao
“Southcom”, fere a lei e a tradição brasileiras
Marco Weissheimer, em Sul21*
O ex-ministro das Relações
Exteriores do Brasil, Celso Amorim, considerou “imprópria e incompatível com a
Política Nacional de Defesa” a indicação de um general brasileiro para assumir,
ainda este ano, o posto de vice-comandante de interoperabilidade do Comando Sul
das Forças Armadas dos Estados Unidos. O anúncio foi
feito no dia 9 de fevereiro pelo Almirante Craig S. Faller, chefe do Comando
Sul, durante depoimento em uma comissão do Senado norte-americano. O Comando do
Sul (SOUTHCOM) integra tropas do Exército, da Força Aérea, da Marinha e da
guarda costeira dos Estados Unidos e tem com tarefa defender a política de
segurança dos EUA na América Central, América do Sul e o Caribe.
No documento que apresentou ao
Senado, o almirante destaca Colômbia, Brasil e Chile como parceiros para uma
estratégia de segurança regional e global. E cita nominalmente Rússia, China,
Irã, Venezuela, Cuba e Nicarágua como ameaças aos interesses dos Estados Unidos
na região. O documento afirma ainda que as Forças Armadas brasileiras se unirão
este ano a uma rede logística para apoiar possíveis ações militares dos EUA na
região. O Brasil se unirá ao SPMAGTF (Special Purpose Marine Air-Ground Task
Force) este ano, além de liderar nosso exercício naval multinacional UNITAS
AMPHIB (…) Isso permitirá o estabelecimento de uma força-tarefa multinacional
para apoiar a resposta humanitária, uma capacidade que não empregamos desde o
terremoto no Haiti em 2010” .
“Caso se concretize, considero
essa designação totalmente impropria e incompatível com a Política Nacional de
Defesa, a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco da Defesa Nacional,
documentos que foram aprovados pelo Congresso Nacional”, disse Celso Amorim ao Sul21.
Para Amorim, que também foi ministro da Defesa do Brasil (2011-2015), a
presença de um general brasileiro em um comando operacional do comando Sul
servirá para “legitimar uma eventual intervenção militar dos Estados Unidos na
América Latina e Caribe e conferir a uma unidade daquele país um papel similar
ao da OTAN, sem que nenhum tratado tenha sido firmado com tal objetivo”.
O diplomata considera o anúncio
ainda mais grave no momento em que há a ameaça de uma ação militar contra a
Venezuela, sob pretexto humanitário. “Não se trata aqui de um mero “estágio” (a
meu ver já seria criticável), mas de uma função militar operacional, que coloca
o nosso exército em uma posição delicada, que discrepa, a meu ver, da concepção
de independência que embasou os documentos citados”. Celso Amorim assinalou
ainda que, nas últimas décadas, oficiais brasileiros atuaram em operações da
ONU, mas o que se anuncia agora é algo totalmente diferente. Talvez seja
preciso voltar ao período da II Guerra Mundial para se encontrar algo
semelhante, observou.
Reunião do chefe do Comando Sul
no Ministério da Defesa
O almirante Craig
Faller esteve no Ministério da Defesa, em Brasília, na manhã de
segunda-feira (11). Segundo o Ministério, o objetivo da visita foi “promover a
cooperação no âmbito da defesa entre o Brasil e os EUA, além de fortalecer os
laços de amizades entre as duas nações”. O chefe do Comando Sul teve uma
audiência com o comandante da Marinha do Brasil, almirante Ilques Barbosa
Júnior, que apresentou a ele as operações desenvolvidas pela força, no Brasil e
no exterior, bem como projetos estratégicos como o Programa de Desenvolvimento
de Submarinos (Prosub).
Faller também se reuniu com o
chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, brigadeiro Raul Botelho para
debater “possíveis tratativas entre os dois países”. “Desta forma, podemos ver
o melhor jeito de fortalecer essa relação e deixa-la mais robusta. É importante
trabalharmos mais próximos”, diz o almirante em nota
publicada no site do Ministério da Defesa. Ainda na manhã de segunda, o
chefe do Comando do Sul esteve no gabinete do ministro das Relações Exteriores,
Ernesto Araújo. Algumas horas depois, Araújo
reuniu-se com Maria Belandria, representante no Brasil de Juan Guaidó
que se autoproclamou presidente interino da Venezuela.
O militar norte-americano também
fez uma palestra para oficiais do Ministério da Defesa, com o tema “Parceria
entre Brasil – EUA e Liderança Militar”. Nesta palestra, apresentou “as linhas
de ação do Southcom e o marco da estratégia, que deve estar pronto no próximo
mês”. Faller disse que apresentará esse trabalho aos demais países parceiros da
região e aguarda a avaliação brasileira sobre o mesmo. Além disso, defendeu a
importância de “manter a coesão entre as lideranças”, independentemente de
mudanças políticas que possam ocorrer.
*Extraído em Outras Palavras
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